OS MENINOS E O VELHO
Fábio Mozart
A meninada joga futebol.
Ele é apenas um sujeito errante.
A meninada joga futebol.
Ele foi, apenas relativamente.
A meninada não tem nem doze anos.
Ele, de acordo com o livro A-2,
Não deve por o pé na bola.
A meninada segue a enxurrada.
Ele se juntará à corrente da história,
Ao fim do dia, no pé do muro,
Discretamente.
A meninada joga futebol.
E um personagem de Poe lhe atrapalha.
A meninada joga futebol.
E ele insiste na sua integridade,
Intolerável na marcação cerrada.
A meninada joga futebol.
A vida, germinando, joga.
Ele se despede, num último arranco
De força abandonada.
A meninada, ante a pesada porta
De cedro que o esconde,
Onde soluça a opressão das coisas
Paralisadas e subtraídas,
Joga futebol.
Ele, com superioridade subalterna,
Reza a um deus vago e impreciso
Pela força da raça
Num reflexo de bondade.
Um poema reflexivo que cala o coração e nos faz pensar na vida do homem, como começa e como termina. Um poema bem construido com com cenas do cotidiano que às vezes passam despercebidas aos olhos humanos. "A meninada joga futebol", o velho não joga mais... Só deseja paz.
ResponderExcluirUm texto rico para ser estudado pelos jovens e absorvido pelos adultos que, em breve, serão velhos também.
Parabéns, nobre poeta, o poema é antológico!