Você vai rodando pelo interior da Paraíba, sintonizando as
estações de rádio das cidadezinhas. A rádio poderosa da capital dá o tom. Isso
na música que se toca, no radiojornalismo que se tenta fazer, até no sotaque e
tom de voz dos locutores. A rádio famosa da capital, por sua vez, tem nas
grandes redes nacionais seu paradigma.
Quando comecei a fazer rádio livre, na década de 70, a gente não
imitava modelo de programação das rádios comerciais porque, simplesmente, na
cidade não sintonizava nenhuma emissora, a não ser a poderosa Rádio Clube de
Pernambuco em amplitude modulada, que naqueles tempos não havia a FM. Daí que a
nossa estaçãozinha era uma usina de ideias. A criatividade rolava solta nas
cabeças do pessoal que lidava com aqueles equipamentos toscos, mas não existia
padrão nem patrão. A cultura local era a base de tudo. Fomos criando nossa
forma de locução, nosso jeito de entrevistar, de atender ao ouvinte.
Com o advento das grandes redes com base no sudeste, as rádios
ficaram todas parecidas. As vinhetas são padronizadas, o modo de fazer um
programa foi ficando igual, a locutora das brenhas da Paraíba imita o sotaque
sulista das vozes invasoras. Mas, e daí? Como fazer diferente se você só conhece
um modelo? Por que procurar inovar se existe o risco do ouvinte estranhar e
deixar de ouvir a rádio? Até a propaganda leva o jeitão das rádios comerciais
dos grandes centros.
Essa questão de conteúdo é o grande nó das rádios comunitárias.
Poucas emissoras que operam com outorga de comunitária preenchem os requsitos
de uma autêntica radcom. E dessas, raras são as que ousaram fazer rádio
diferente mesmo, com sua própria cara, desenvolvendo um estilo próprio. E deveria
ser por aí, porque rádio comunitária é diferente de comercial, e isso tem que
ficar claro assim que a gente sintonizar na frequência e ouvir um “apoio
cultural”, uma chamada de grade de programação, uma música. Ser original,
criativo, é mesmo difícil. Mas é fundamental que as rádios comunitárias parem e
repensem seu jeito, e procurem fazer uma programação de qualidade. Jamais
iremos trabalhar com o padrão técnico e com os profissionais das estações de
rádio que cobram fortunas para veicular anúncios. Mas podemos fazer o
diferencial com uma forma nova de fazer rádio.
No ano passado, a Sociedade Cultural Posse Nova República criou
um Prêmio para a melhor rádio comunitária da Paraíba. Deixamos de entregar o
Prêmio por falta de ganhador. O rádio que se faz aqui é ruim, e as nossas
comunitárias imitam esse padrão desgastado.
Fábio Mozart
Postado em
www.mari_fuxico.blogspot.com
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