Procissão da Aurora no Sábado de Aleluia em 1918 na Igreja Matriz de Santos |
O escritor Carlos Felipe escreveu um livro com o título de “Mitos e lendas da Semana Santa”. Sobre o Sábado de Aleluia:
“O sábado de Aleluia era comemorado cedo. Até meio-dia, ainda o luto pelo Cristo continuava em todas as casas. Ninguém falava. Mas quando chegava o meio-dia, era a hora das aleluias. Neste exato momento, segundo a tradição popular, do lado aberto de Cristo saía três gotas de sangue.
O Cristo ainda não ressuscitara e as gotas de sangue caíam dentro do sepulcro. Mesmo assim, contudo, era hora da Aleluia. Marido batia na mulher. Mulher batia no marido. E os dois juntos corriam atrás dos meninos. Era o desconto das molequices do ano todo, das desobediências, que deveriam ser pagas naquele momento, em desagravo do sangue de Cristo derramado. E os meninos que tratassem de correr, “porque a coça era mesmo pra valer”.
Também na rua, quem se encontrava ia tratando logo de “tirar as Aleluias” em cima dos amigos e conhecidos. E não adiantava discutir. A Aleluia, porém, só durava uma hora. A uma da tarde, o luto voltava a imperar e que ninguém viesse tirar a Aleluia, porque “estaria batendo no corpo de Cristo”. O luto ia até a missa da meia-noite. Missa solene. Com o povo acendendo velas na Grande Vela da Páscoa. Era o fogo novo, sinal de que Cristo tinha ressuscitado. Na missa da meia-noite também os homens, mulheres e crianças comungavam, fazendo a Páscoa.”
Diga aí, meu compadre e minha comadre: em quem você tiraria a Aleluia nessa hora da malhação? Confesso que eu não sabia dessa tradição. É morrendo e aprendendo...
Diga aí, meu compadre e minha comadre: em quem você tiraria a Aleluia nessa hora da malhação? Confesso que eu não sabia dessa tradição. É morrendo e aprendendo...
Oi Fábio, bom dia: As datas da cristandade Natal e Semana Santa se incorporam às minhas lembranças, desde a primeira idade. Depois vieram as festas natalinas e da padroeira de Areia - Nossa Senhora da Conceição. Quando havia inverno não deixávamos de ir para a fazenda de meus avós paternos Julio Caetano Ferreira de Luna e Maria Carolina Leitão F. de Luna, em Barra de Santa Rosa. Quando fui crescendo, adorava ouvir minha bisa Alexandrina do Amor Divino,embora na certidão de batismo fosse do ramo Leitão, do Rio Grande do Norte. Ela não se conformava com o estilo pagão de sua filha Maria Carolina que contrariava o dos seus antepassados e fazia comida para os familiares e quem chegasse. Lógico que não se comia doce no dia da Crucificação. Dizia mãe Dondon (Alexandrina) que no seu tempo de jovem em casa de seus pais, na 6ª-feira da Paixão não se tomava banho, não se penteava o cabelo, não se acendia o fogo (lenha), nem se fazia comida, nenhuma vaca ordenhada. Passavam o dia de jejum e orando. A abstinência total era em pesar pela morte do Senhor. Ela botou luto pelo marido da hora em que ele morreu até seus 104 anos e de preto foi sepultada. Morreu lúcida, feliz porque ia encontrar Leitão... (seu esposo). As pessoas tinham fé e seus dogmas eram respeitados.
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