quinta-feira, 12 de abril de 2012

ESTAÇÃO SAUDADE


Meu amigo e conterrâneo Moacir de Timbaúba me enviou esta foto da velha estação ferroviária de nossa cidade Princesa da Serra. Quem nunca saiu de sua terra não vai me entender. E quem não viveu Timbaúba dos anos sessenta é que jamais poderá me compreender. Por isso escrevo para Moacir, meu conterrâneo e contemporâneo, filho do grande poeta Cassiano, este que foi um dos maiores amigos do meu pai, jornalista Arnaud Costa que por sua vez foi tipógrafico, redator e gerente do “Timbaúba Jornal” onde mestre Cassiano publicava seus sonetos e crônicas.

A estação ferroviária ficava isolada em um canto da cidade, depois cercada pela expansão imobiliária. Era o centro das atenções da cidadezinha, como toda estação de trem nas cidadezinhas do interior naqueles tempos remotos. Moleque, eu ficava olhando o serviço do telegrafista da estação, transmitindo e recebendo mensagens. No meio do silêncio entre as passagens dos trens, ficava ouvindo o barulhinho do telégrafo e sonhando usar aquele quepe e aquela farda azul do telegrafista. Queria ser telegrafista, e por um capricho dessa irônica senhora chamada história, foi essa minha profissão, meu ganha pão durante a vida toda, até a aposentadoria.

Egocêntrico que sou, procuro reduzir o mundo à minha medida. Fiquei preso a essas lembranças do meu passado, esperando obter o alvará de soltura só quando bater a biela. Meu sonho recorrente é trabalhando em velhas estações ferroviárias, transmitindo mensagens para destinatários fantasmas. Outro dia tive um pesadelo: o trem na estação seguinte aguardava licença para avançar, e meu trem também esperava cruzamento, só que falhava a transmissão em radiotelegrafia, prenunciando um desastre iminente. O telegrafista é o responsável pela segurança nos trilhos, evitando o choque de trens em sentido contrário. E agora? Pânico na estação! Foi daí que o velho Fabinho descobriu que era gênio, pelo menos nos sonhos. Passei a transmitir em código morse usando a estática do rádio como “carrier”, já que o rádio não conseguia transmitir em SSB, AM ou radiotelegrafia pura. O truque estático radiotelegráfico salvou os passageiros dos trens entre duas estações que ficam no meio do nada e do lugar nenhum.

Ao lado da estação ficava o velho cinema Alvorada, onde a gente assistia às matinês ouvindo o apito da locomotiva a vapor manobrando no pátio.  Com grande esforço metálico, o trem subia em direção a Rosa e Silva para embicar no rumo de Itabaiana, estação onde desembarquei e onde reti as rédeas do cavalo do destino que não me levou a lugar nenhum.
 


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