A naturalidade com que a nossa imprensa banaliza assassinatos violentos apenas porque as vítimas são adolescentes infratores infelizmente não surpreende. É a lógica da sociedade que eles reproduzem.
Andando pelas ruas nas manhãs de caminhada, eu observo os caras da subcidadania. Eles estão a postos cedinho, os meninos do crak, que passam as noites feito zumbis, andando sem parar. Os “homens cavalo”, aqueles que furam as noites catando lixo, puxando uma carroça, juntando material reciclável. As meninas da prostituição infantil estão na Lagoa, terminando as farras nas barracas, negociando o sexo precoce. O cara que ganha menos de um salário mínimo está desde as três da manhã no entorno do mercado Central, carregando mercadorias nos seus carrinhos. Os moradores de rua acordam cedo também, esperando que alguém lhes pague um copo de cachaça.
Na Alemanha, a parcela mais rica da população está apresentando ao Congresso projeto de lei para criação de imposto sobre as grandes fortunas, destinado a investimento maciço para extinção dos bolsões de pobreza que ainda existem por lá, se bem que muito mais amenos do que por aqui. Eles, os ricos, querem ceder um pouco de seu patrimônio para garantir segurança. Menos pobreza, mais estabilidade social. Essa equação simples diminui os perigos e incertezas de uma sociedade dividida entre poucos com muito e muitos sem nada. Quem me contou isso foi o compadre Normando Reis, sem citar a fonte. Aqui, no “país de todos”, os áulicos do poder petista garantem que é real a ascensão das classes D e E, a golpes de “bolsa esmola”. Sei não, acho que a gente perdeu definitivamente o rumo.
O Imposto sobre grandes fortunas tem sua previsão constitucional no artigo 153, inciso VII da Constituição Federal de 1988, mas até a presente data não está instituído em nosso ordenamento jurídico. E vejam que o imposto seria sobre as grandes fortunas e não sobre a fortuna em geral. Este imposto foi e é utilizado em alguns países com várias justificativas, entre elas a de tornar o sistema tributário justo com a incidência de um tributo que atinja os mais afortunados cidadãos. No Brasil, só pobre paga imposto e tem como retorno um serviço público mais do que ordinário.
Enquanto isso, a subcidadania te olha do fundo do poço. Por enquanto ela se esconde nas sombras da noite e pode ser morta e esquartejada nos jardins dos bacanas de classe média alta. Qualquer dia vai começar a ranger os dentes. Aliás, já começou. Os neo-escravos, mantidos pela coação do Estado, um dia vão derrubar os muros.
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