domingo, 1 de abril de 2012

POEMA DO DOMINGO


Cidade despaginada

F. Mozart

Minha cidade é uma cidade diferente
Não tem fundo nem tem frente, não tem estrada nem mapa
O povo anda à socapa
Vivendo de fantasia
Dentro da alegoria
Nem o vigário escapa.

Minha cidade não revive sua História
Mas sua glória é consagrar picareta
Mutilar arte e retreta
Em paredões de ruína
Configurando a sina
De um viver sem etiqueta

Minha cidade é uma rainha esmaecida
Que se perdeu pela vida como puta de tostão
Não falo da convulsão
Dos modos tradicionais
Que os tempos não voltam mais
Fincados na escuridão

Minha cidade é burgo despaginado
É hiato esclerosado, cada casa um mausoléu
Sétimo céu
De conhecidas figuras
De mente e ação impuras
Pedindo banco de réu

Minha cidade é um sitio solitário
Que salafrário quer transformar em boiada
Em massa simplificada
Sem vontade ou sintonia
Sofrendo com arritmia
Esquiva, torpe e parada

Minha cidade no embalo de um som triste
Dolente assiste os seus fantasmas queridos
Solitários, abatidos
A colher flores funestas
Restos de antigas festas
Escombros, faustos falidos


Um comentário:

  1. Muito bom,minha primeira leitura do 1° de abril, não é mentira não.

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