sábado, 18 de junho de 2011

Porque hoje é sábado, dia de faxina



A verdadeira "toca do Leão" é uma bagunçada geral


Meu escritório está para ser interditado pela Vigilância Sanitária. Paguei um mico do caralho ao levar um sujeito naquele lugar imundo a quem chamo de escritório. Lá não trato de negócios nem recebo clientes. É minha maloca de escrever e guardar meus papéis velhos, a mala com roupas, o violão e os discos. Num espaço exíguo, ainda espicho a rede velha e durmo o sono dos justos e emporcalhados.

Às vezes eu boto panos quentes na minha própria bagunça, querendo justificar, com o pensamento torto de que ser bagunceiro é uma forma de manter-se jovem, rebelde e flexível, e que só as criaturas criativas são capazes de viver nesse clima, enfrentando os desafios que nascem da desordem. Quimeras absurdas de um acomodado mandrião.

Pois o tal sujeito entrou no recinto que fazia mais de um mês sem ver faxina. Higienicamente pouco recomendável, meu cafofo anda mesmo precisando de uma limpeza geral, completa, abrangente. Sendo um cômodo que fica isolado, a dona da casa, zelosa, mas consciente dos seus limites territoriais, não ousa adentrar ao recinto do meu gabinete.
O talzinho visitante ficou olhando com ar de nojo as cuecas espalhadas pelo divã, papéis no chão, o desmantelo, os ácaros, a poeira cobrindo tudo. Ficou apurando os sentidos como quem procura mais sujeira além do que aparentava o ambiente. 

-- Desculpa aí pelo desmantelamento – disse eu, encabulado.

-- É que eu sou avesso à sujeira. Quando vejo um quadro desses, eu apuro, persigo, denuncio, processo e elimino! – respondeu o zé mané, fingidamente furioso.

Livrei logo a cara da minha cara-metade: 

--- Minha mulher não entra aqui, por isso ta uma bagunça. 

-- As mulheres não brincam em serviço, são incansáveis e incorruptíveis – disse o camarada.

--- Será que dona Dilma vai limpar o Brasil? – perguntei, para mudar de assunto.

--- Você quer dizer, faxina geral? Com todo o respeito a essa digna senhora, acredito que não. Mesmo com muita água, vassouras, panos, aspiradores de pó, enfim, toda e qualquer "arma" que bem utilizada poderia livrar o ambiente nacional em que vivemos de todo tipo de... sujeira, nosso povo sofre de rinite alérgica, condição pouco recomendável a esses movimentos faxinais. Mesmo com riscos para nossa integridade.

Depois que o mala sem alça se foi, fiquei pensando em uma determinada mulher que se ocupou de tomar conta de uma cidade. O povo votou na dita cuja pensando que ela faria uma limpeza decente que pudesse inclusive nos orgulhar de exibir a casa a amigos e vizinhos. Hoje a casa ta a maior sujeira. Se ela for candidata novamente, o mesmo povo volta a eleger a sujismunda. Prova de que não somos nem um pouco rigorosos e intransigentes com as regras para a autêntica faxina geral. A evidência maior é meu escritório.

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