Esse camarada conheço desde a mocidade. Nossa estima mútua vem desde os anos 70, quando Zé Ramos chegou de seu sítio Linda Flor para estudar em Itabaiana. Colegas de escola, descobrimo-nos com aspirações idênticas, como parelhas eram nossas datas de nascimento. Vim ao mundo no mesmo dia, mês e ano do compadre Zé Ramos, por isso somos gêmeos postiços. Esse negócio de gêmeo postiço, inventei agora, mas cola.
O destino daquele rapaz era certo como o amém na igreja. Estava escrito nas estrelas cadentes de nossa cultura familiar: passar algum tempo na escola para aprender as quatro operações aritméticas e redação de uma carta, depois voltar para o sítio e tomar conta da incipiente produção agrícola de subsistência, substituir o pai na luta inglória de praticar a dura arte de cultivar campos secos, num esforço quase inútil do lavradio sem futuro. Nisso de sair para o cotidiano da cidade, conhecer novos amigos, Zé Ramos assumiu sua personalidade, relacionou-se com ideias novas e saiu para a alegria do abraço, a tristeza da constatação da miséria social, o esforço e a coragem da solidariedade, o encantamento das artes, o êxtase da descoberta da leitura e o progresso intelectual.
Lutou pela sua gente, fez-se vereador, ajudou a fundar associações culturais e hoje está intacto em sua essência humana. Sua história tem muito para dizer aos conterrâneos das novas gerações. Fez parte de um momento que se evidenciou como um dos mais ricos culturalmente na terra de Abelardo Jurema, que foi a geração getiana, daquele pessoal que fundou o Grupo Experimental de Teatro de Itabaiana, a Sociedade Cultural Poeta Zé da Luz e o Jornal Alvorada, num tempo em que vivíamos sufocados pela opressão política, e, até por isso mesmo, nadando de braçada em fértil criatividade e devoção ao interesse coletivo.
Recebo notícias do trabalho desse advogado e líder político, a sua luta em defesa da cultura, do progresso e da educação. Em um dos estados mais atrasados do Brasil em direitos civis e em compreensão democrática, meu compadre Zé tem uma atitude típica dos que são predestinados a grandes missões: quer voltar à sua terra e lutar pelo comando político, para desencadear um processo de desenvolvimento sustentável que garanta algum futuro ao município. Essa nova frente de batalha do companheiro traduz seu amor ao berço, o pensamento e atitude de um líder.
Esse é o compadre Zé, por quem tenho o maior apreço pela dedicação com que sempre abraçou as causas nobres, essa figura que adquiriu direito à estima e gratidão dos seus colegas e conterrâneos. Boa sorte e longa vida ao compadre Zé, meu irmão postiço.
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