Conto de Natal
Começou a decorar a árvore de Natal em novembro, junto com o presépio. Luzinhas, tamborzinhos, bolinhas, sininhos, cornetinhas e algodão, muito algodão imitando neve. Pesquisou no Google como enfeitar a árvore de natal, depois pesquisou como fazer uma lareira, dessas de filmes estrangeiros, de tijolo aparente, queimando acho que mogno ou cerejeira, ou outra madeira qualquer dos gringos.
Fez um buraco no telhado, meteu a porrada nas paredes, quebrou tudo e começou a construir sua lareira. Pegou o machado e foi cortar sua lenha para a lareira. Não tinha neve nem gelo, era tudo um negrume, clima fuliginoso, coisa de terceiro mundo. Ele ficou puto, mas encontrou um resto de madeira compensada. Servia.
Na véspera de Natal, apressou-se para arranjar a lareira, os últimos detalhes. Acendeu o fogo, encheu o copo de plástico de vinho Sangue de Boi e ficou olhando o fogo queimar a madeira compensada, calor da porra! Mas ele tranquilão, sossegado, esperando a hora de Papai Noel descer pela chaminé com seu saco de presentes. Ho, ho, ho! Que calor!
Quando deu as doze badaladas da meia-noite, Mané Manichula vestido de Papai Noel subiu no telhado e desceu com tudo pela chaminé meia boca. Meteu o rabo na fogueira de madeira compensada e saiu esfregando a bunda no chão, com a roupa vermelha em chamas, com a barba branca sendo queimada pelo fogo, com presentes que se espalhavam pelo chão e eram comidos por vermelhas labaredas carbonizando bonecas carecas, apitos, bolas de plástico, carrinhos idem, kits-maquiagem e celulares de plástico fabricados na China.
O dono da lareira pegou calmamente uma sapatilha de bailarina salvada do incêndio e foi dançar no quintal “O lago dos cisnes”, balé dramático em quatro atos do compositor russo Tchaikovsky.
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