sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Nas asas do medo


Luiz Augusto Crispim dizia que quem viaja de avião é um contraventor da lei da gravidade, “a mais grave de todas as legislações quando se voa a mil quilômetros da terra”. Fui convidado a violar essa lei. Provavelmente irei a Brasília no final do ano, para um simpósio de rádios comunitárias.

Estou apreensivo porque fim de ano desenha-se geralmente o caos nos aeroportos. Todo mundo vai viajar, as empresas aéreas vendem mais passagens do que existem vagas nos aviões, a confusão se estabelece. Desde que o pobre passou a ter condições de viajar de avião, o serviço caiu de qualidade. A classe média fica muito irritada, porque eles adoram falar de democracia, mas não gostam de se misturar com o zé povinho. Democracia continua sendo uma utopia, palavra grega que significa “um lugar que não existe”. Já eu digo com Jorge Luis Borges: “A riqueza é a forma mais incômoda da vulgaridade”.

Mas o problema é o avião e seus aeroportos. Confesso que não me agrada voar. É preciso ter a alma muito no lugar para enfrentar esses perigos. E eu nem sei se tenho alma. Ignoro também se o avião fez a inspeção de rotina, se o piloto está num dia bom, se a pista vai estar livre, se os empregados aeroviários não irão começar a greve tartaruga, enfim são tantos condicionantes que me prendem ao chão!

Leio que cerca de 40% dos brasileiros têm medo de voar. Há pessoas que, só de pensar em voar de avião são invadidas por uma ansiedade imensa e por pensamentos recorrentes que causam muito mal-estar. Outras nem sequer conseguem se imaginar entrando em uma aeronave. Meio pânico é intermediário. Consigo embarcar, mas não durmo nem tenho sossego enquanto o “asa dura” está no ar.

Segundo as estatísticas, o avião é o mais seguro meio de transporte que o homem já inventou. Seria preciso viajar todos os dias, durante 712 anos, para que alguém se envolvesse com certeza em um acidente aéreo. O normal é tudo dar certo. O problema é que, na minha cabeça, viajar de avião é uma experiência excepcional, como uma viagem ao fim do mundo, ao último pedaço de matéria do universo. Uma aventura imprevisível sob todos os aspectos.

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