domingo, 18 de dezembro de 2016

POEMA DO DOMINGO


A palavra lavra
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Josafá de Orós
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“Que tempo enorme uma palavra encerra!”
W. Shakespeare (1564-1616)
Ricardo II, Ato I. Trad. Carlos Alberto Nunes)
“Dize a tua palavra e segue o teu caminho, deixando que a roam até o osso”.
Miguel de Unamuno (1864-1936)

A palavra
Por si mesma
É trabalho.
A palavra também é ócio, e
Por si mesma
É cio.
A palavra é til
Assento agudo
A palavra é grave.
A palavra
É suada
Molha a língua.
A palavra é suave
No pentagrama
Não da a mínima: pausa de tempo infindo.
A palavra
É obtusa
Se se mastiga
É oclusa.
A palavra é reclusa
Entre dentes
Enamora língua e silencia.
A palavra recusa
Entre lábios
Outras línguas.
Entre 'dentros'
A palavra
Só se mostra no escuro.
A palavra
É lavra desconhecida
Aventura dizeres
A pá
(Lavra) a terra
Encerra o código.
A palavra é alimento
Que sai da boca
Cimento e verbo.
A palavra é livro
A palavra é espelho ambíguo
De imagem e transparência
De abismo!
A palavra é buraco
Buraco no vazio
De autor desconhecido.
A palavra
Lavra e trava.
A palavra é brava
Não tem limite
Não tem cava.
A palavra escrava
Se aperta incisiva
Entre um amor canino e uma mordida.
A palavra induz
Ela flexiona
Avessa a língua, traduz.
A palavra engendra
Aficciona-se hermafrodita
Seduz.
A palavra
individualiza...
Dar forma. Deforma.
A palavra fala
A palavra falo: como filha de Zeus, como filha de mnemósine
É estátua de lira e rosas: É Érato.
A palavra é poderosa!
A palavra excita...
A palavra goza.
Palavra é arma!
Combate! Salva argumentos
Molda. Estica. Erística.

A palavra sai!
Da boca, de bonde...
Vai pra onde?

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