domingo, 31 de maio de 2020

RÁDIO BARATA NO AR - 006 - Maio 2020




Bolsonaro preocupado com suas hemorroidas porque Sérgio Moro é dedo duro. Essa e outras manchetes infames na RÁDIO BARATA NO AR, edição 006:


sexta-feira, 29 de maio de 2020

RÁDIO BARATA NO AR - Maio 2020 - 005




Horóscopo de Madame Preciosa para a quarentena
(A figura acima simboliza o signo de Câncer. Não é posição sexual, seus pervertidos!)




quarta-feira, 27 de maio de 2020

RÁDIO BARATA NO AR - 004 - Maio 2020


BARATA UNIDA JAMAIS SERÁ VENCIDA
A Rádio Diário PB tem a coragem e o descaramento de apresentar RÁDIO BARATA NO AR.  Produção, edição, locução, apresentação, extorsão, embromação, convulsão e acareação de Fábio Mozart, o locutor da quarentena obscena. 4ª edição no RadioTube:


RÁDIO BARATA NO AR - 003 - Maio 2020


Fábio Mozart é processado no Supremo Tribunal Funeral por ouvinte bostífero da Rádio Barata no Ar
RÁDIO BARATA NO AR na Rádio DiarioPB e no RadioTube.



segunda-feira, 25 de maio de 2020

Cordel debate saúde pública na escola com humor e simpleza



Fábio Mozart e Cristine Nobre escreveram o folheto “Xarope de cloroquina serve até pra febre do rato”, publicado em plataformas de leitura na internet. O cordel “tira a terreiro” as políticas públicas de saúde implementadas no Brasil atualmente, em plena pandemia do novo coronavírus. O dito folheto se insere na linha “gracejo”, cordéis voltados para o lado do riso. Esta modalidade de folheto trata do humor simples do povo nordestino, irreverente e repleto de duplo sentido.
Quadros de notório saber na educação, pública ou particular, já perceberam o valor da literatura de cordel como ferramenta pedagógica, pela sua comunicabilidade e interatividade, pelo baixo custo e musicalidade dos seus versos, enquanto elemento motivacional e impulsivo nas ações de incentivo à leitura e escrita. A odontóloga e cordelista Cristine Nobre, de Pirpirituba, já pratica atividades didático-pedagógicas na promoção da saúde bucal através dos folhetos. Ambos somos membros efetivos da Academia de Cordel do Vale do Paraíba, onde construímos uma parceria pró-ativa no sentido de produzir cordéis em diversos gêneros. Boa parte dos criadores desta Academia é constituída de professores, atuando em suas escolas como agentes disseminadores da nossa cultura popular mais autêntica, levando o alunado a conhecer suas próprias raízes e valorizando as vocações e talentos dos jovens. Tem muito colegial escrevendo e lendo literatura de cordel nas escolas graças a mestres como Pádua Gorrion, de Itatuba, Raniery Abrantes e Annecy Venâncio, Manoel Belizário, Jota Lima da UEPB, Francisco Diniz em Santa Rita, Antonio Marcos Monteiro de Itabaiana, Claudete Gomes e Bento Júnior de João Pessoa, entre tantos outros.
Neste contexto, a Escola Estadual Renato Ribeiro Coutinho, de Alhandra, resolveu investir no desenvolvimento criativo dos alunos nessa fase de estudos à distância, utilizando o nosso folheto “Xarope de cloroquina serve até pra febre do rato”. A repercussão se deu na internet, através de portais de literatura onde leitores e escritores interagem entre si. Os alunos leram o folheto e responderam a um questionário.
Essa febre benigna dos cordéis nas escolas e suas experimentações como termômetro do nível cognitivo dos alunos e alunas, vem deixando claro que precisamos aplicar no mundo da educação altas doses de letras, poéticas ou em prosa, para despertar o prazer à leitura e à escrita, porque ainda é muito deficiente o desempenho da moçada quanto aos significados das palavras, a compreensão do texto. De forma desenvolta e informal, o folheto estimula a interpretação e reflexão. Ainda assim percebe-se significativa falta de equilíbrio entre o que se lê e o que se apreende. Interpretação inexata de um texto simples é sinal claro de analfabetismo funcional. Como bom sinal, os números de pesquisas recentes dando conta de que o analfabetismo funcional já é muito menos entre os mais jovens do que entre os mais velhos.
Na escola onde o folheto foi explorado, a maioria dos alunos e alunas responderam ao questionário com mentalidade aguda e senso de discernimento intelectual. Parte da resposta de uma aluna: “Eu entendi que esse cordel é uma crítica ao Presidente Jair Bolsonaro sobre o medicamento cloroquina, porque até hoje não foi comprovado pela ciência que a cloroquina serve para pessoas que estão com a doença Covid-19. As iniciais FM e CN nas estrofes são dos autores Fábio Mozart e Cristine Nobre”. Outro escreveu: “O folheto mostra que o Presidente é um grande babaca”.

Sobre a pergunta “o que significam as siglas FM e CN entre as estrofes?”, um aluno respondeu que se trata de FM, “a sigla de Frequency Modulation que em português significa "Modulação em Frequência" e se refere à transmissão de ondas com variação da frequência”. E as iniciais CN, para o aluno, é o código na Internet para a China. Esse escorregão nos ajuda a entender o fenômeno da internet como ferramenta de pesquisa na escola, suas extravagâncias e desvios.  




sexta-feira, 22 de maio de 2020

terça-feira, 19 de maio de 2020

Rádio Barata no Ar estreia nesta terça-feira (19/05/2020)


A rádio web DiarioPB estreia o programa “Rádio Barata no Ar”, com apresentação de Fábio Mozart. A atração estreia nesta terça-feira, 19 de maio, e vai ao ar diariamente às 10 horas, com reprise às 19 horas. O programa terá retransmissão pelas rádios Ganga, de Maceió, Zumbi e Cuiá de João Pessoa.
O objetivo do novo programa é abordar assuntos do cotidiano, comentar de maneira bem humorada, os acontecimentos da semana, de forma irreverente e leve, sempre com boas piadas.
“A ordem é resistir. A barata é mais resistente que os humanos e quase todos os outros bichos. A bichinha se vira muito bem em ambiente hostil. Se faltar comida, faz refeição de matéria em decomposição e pode viver sem cabeça por algumas semanas. O que não é nada demais, visto que o Brasil sobrevive sem cabeças pensantes há mais de um ano”, alfineta Mozart.
Fábio Mozart é jornalista, blogueiro, radialista e colunista do jornal A União. Acompanhe a Rádio DiarioPB: https://www.radio.diariopb.com.br/ 

ÁUDIO DA PRIMEIRA EDIÇÃO:

https://www.radio.diariopb.com.br/programa-radio-barata-no-ar/?fbclid=IwAR3DTQSXx2VIC7PWM3qA060oxi5-SuUSXsilRjlD7yjxJwy_Sg6YRK7GEvE




sábado, 9 de maio de 2020

POEMA DO DOMINGO




Xarope de cloroquina serve até pra febre do rato



FOLHETO A QUATRO MÃOS – POETAS FÁBIO MOZART E CRISTINE NOBRE





FM
O Presidente Bozó
Como grande patriota
Curandeiro, benzedeiro
E um autêntico idiota
Prescreveu a cloroquina
Pra curar sua patota.

Você vá tomando nota
Lambedor de cloroquina
Uma receita infalível
Para a pessoa mofina
Bozó foi o criador
É quem prescreve e assina

CN
Ele trouxe lá da China
Bom é tomar com azeite
Mas dispense o adoçante
Para ter melhor deleite
E se tiver um capim
Acrescente e aproveite!

Misture com mel e leite
Ficando bem animado
As orelhas vão crescer
Vai falar com relinchado
E todo mundo vai ver
Sua cara de abestado.

FM
Conforme fui informado
Pelo doutor Bolsonaro
Esse lenimento cura
Intelecto e tino raro
Deixa o paciente tolo
Sem raciocínio e faro

Mas ele deixa bem claro:
Tem a predisposição
O cabra precisa ser
Ignorante e babão
Palerma imbecilizado
Puxa-saco de patrão

CN
Com muita convicção
Um jumento batizado
Que sem muito amor à vida
Obedecendo ao malvado
Gado que segue seu dono
Nesse circo improvisado

O sujeito alienado
Engole até gororoba
Mulheres na contramão
Fazendo chá de taioba
Qualquer dia engolem bosta
Vestidos de carioba

FM 
Enquanto isso, o soba
Prepara sua meisinha
Que é um remédio caseiro
Pra curar a gripezinha
Cuja receita oculta
Aqui a gente esquadrinha

Você pega uma tesourinha
Corta os três fios de ouro
Do cabelo do diabo
Reza três rezas de agouro
E quatro preces perversas
Dedica ao demo vindouro

CN
Se o Demo der estouro
Por falta da cabeleira
Mesmo sendo poucos fios
Vai fazer uma sujeira
Seu corpo vai ser imune
Depois dessa brincadeira

E tu sem eira nem beira
Ficarás bem chacoalhado
Pensando: “o Diabo é bom
Estarei imunizado
Com saúde e com riqueza
Não serei um fracassado”

FM 
Olhando por outro lado
Vou prescrever a receita
O modo de se fazer
O remédio dessa seita
Dos fãs de Jair Messias
Povo da mente estreita

Primeiro faça a colheita
De duas lágrimas do cão
Misture com creolina
E três barras de sabão
Quatro quilos de enxofre
Um punhado de carvão

CN
E não será nada em vão
Toda essa misturada
Antes de ir para o fígado
Dará boa fermentada
No estômago do cabra
Pra pessoa ser curada

A receita é arretada!
E não para por aí
Tem outros ingredientes
Pra usar e repetir
Junte a baba do capeta
Vai ser bom pra digerir

FM
Se o doente grunir
É que ta fazendo efeito
Carvão de osso de sogra
É componente insuspeito
E intriga de parente
Também fará bom proveito

E sem nenhum preconceito
Acrescente a cloroquina
Com um punhado de pimenta
Dois quilos de toxina
Colhão de carneiro mocho
Suco de naftalina

CN
Para o menino ou menina
Que queira um novo sabor
Algo nunca antes visto
Que um gênio elaborou
Com um poder invasivo
Um coquetel de sabor

A patente é de doutor
Conhecido na cidade
Homem muito astucioso
Mas de pouca integridade
O seu saber destoante
Faz nascer a crueldade

FM 
Com toda sinceridade
Livre de qualquer malícia
Esse homem de patente
Tem presença fictícia
O que pensa é fantasia
Ou é caso de polícia

Com sua grande estultícia
Essa receita prescreve
Como falso esculápio
Vai derreter como neve
Tanto que já é chamado
De Bolsonaro, o breve

CN
Receita que não é leve
Fórmula proposital
Proposta por um demente
Que pensa que é o tal
Que mente mais do que tudo
Passa remédio letal

Não tem rabo, o animal!
O filho do capiroto
É um projeto de gente
Capaz de jogar esgoto
Em receita pra doente
Pois ele é um cara escroto

FM 
E se você é canhoto
Manipule com a direita
Essa é a mão ideal
Para aprontar a receita
Com muito ódio na mente
Conforme manda a seita

Precisa fazer colheita
Do chá Garra do Diabo
Misturar bem com enxofre
E temperar com o rabo
Do inimigo Cão Coxo
Aumentando o menoscabo

CN
Mistura leite e quiabo
Esse xarope acelera
Mexe com o intestino
O diabo destempera
Deixa tudo bem fedido
Pra ferrar com a galera

Pior que essa “mizéra”
Dessa receita adoidada
Mesmo dando um tremelique
Deixa gente acreditada
A ignorância impera
Nessa terra tão amada

Com a merda afrouxada
Aparece a assadura
Com plena convicção
De que o remédio cura
Só mesmo a arte do cão
Faz essa conjectura

FM
Mesmo sendo merda pura
O bolsominion acredita
Sai à rua, dá chilique,
Faz vergonha, ronca e grita
A direita no Brasil
Na sua versão xiita

Se enganam com a cor da chita
E proclamam a ditadura
Em um bailado cafona
De plena subcultura
Debocham da dor do povo
Esculacham sepultura

Mesmo sem musculatura
Esse povo nos dá medo
O horror do despotismo
Não esquecemos tão cedo
Ufanista palhaçada
Sabor de xarope azedo.




sexta-feira, 8 de maio de 2020

O dia em que seguimos a estrela



Foi no dia 9 de maio de 1981 na cidadezinha Itabaiana do Norte. No mês anterior, duas bombas explodiram em um carro no Pavilhão Rio Centro, no Rio de Janeiro. Seria o último ato de terrorismo de Estado cometido pela ditadura. O Presidente General João Figueiredo ameaçou prender e arrebentar quem sabotasse a democracia arquitetada pelos militares depois de dezessete anos de regime ditatorial. Eu e mais uns três ou quatro gatos pingados, acanhados e temerosos, mas esperançosos, criamos o Partido dos Trabalhadores em Itabaiana. Na época, falar em partido de esquerda já era uma temeridade, imagine fundar um. A ata foi assinada pelo juiz eleitoral Reginaldo Antonio de Oliveira. Já lá se vão 39 anos!

Fui eleito presidente da junta provisória do Partido dos Trabalhadores. O secretário atendia pelo nome de Joacir Avelino e o tesoureiro Roberto Palhano, que viria a ser nosso primeiro e único candidato a prefeito da cidade pelo PT, obtendo 268 votos. Éramos artistas amadores e acreditávamos que a arte tinha esse caráter pedagógico e libertador e que todo criador teria a missão de se comprometer com as causas e transformações políticas da sociedade. Fui autor de uma peça teatral intitulada “O camponês a caminho do calvário”, censurada até pelo bispo D. José Maria Pires.

Lembro que, para obter o número de assinaturas de filiados a fim de registrar o partido, apelamos para os amigos em mesas de bar, as meninas dos cabarés, familiares e namoradas. Minha namorada assinou a ficha nº 1 e veio a sofrer vicissitudes no meio familiar e pressão da mandona política da cidade.

Já naquela época a gente operava em sistema de rede, mas era rede de pescar piaba no Rio Paraíba e comer com cachaça nas reuniões do partido. Intentou-se até na formação do sindicato das profissionais do sexo e afins, sendo esse “afins” dignamente representado por Nega Tonha, uma travesti do cabaré de Topada. O debate político era feito no palco do grupo teatral, no oitão da igreja, na beira do rio e nos lupanares. Não fizemos a revolução, mas mexemos um tantinho assim no quadro geral da estrutura política e da realidade social. Depois o partido caiu na decadência ideológica e caímos fora. Continuamos anti-imperialistas, antiglobalização, anticapitalismo selvagem, antifascismo e libertários. Uns mais, outros menos. Muitos caminhos conduzem à decrepitude, à velhice. Alguns se perderam na evasão de si, no medo do diferente, no exílio em ilhas, no chamado do consumismo, na insolidariedade. Dos meus antigos companheiros, tem deles que contraíram a humanofobia e hoje defendem bandeiras ridículas de extrema direita.

De qualquer forma, o Partido dos Trabalhadores balançou as mentes de alguns rapazes de minha época numa cidadezinha do interior, na conjuntura política do país dominado por uma ditadura em agonia. Teve seu momento de significação. Esta ata será entregue ao meu compadre Renilson Bezerra, Presidente atual do partido, de forma que nossa história remota ajude a captar as lições do presente, mantendo o sonho, apreendendo as incertezas sobre nosso futuro, a grande incógnita política e social da direita radical no poder.


MULTIMISTURA - 07/05/2020




MULTIMISTURA faz “live” e consegue ser mais respeitoso do que a vídeo conferência da Câmara de João Pessoa 

BLOCO 1


BLOCO 2

BLOCO 3

BLOCO 4

quinta-feira, 7 de maio de 2020

Memorial dos meus amigos



Nessas longas tardes, noites e manhãs de apartação social, tenho pensando nos amigos e amigas que passaram pela minha vida, alguns que já morreram e que são mais do que números, outras e outros ainda presentes iluminando minha vivência com poesia, afeto, fraternidade, companheirismo, ensinamento e boas lembranças.

Hoje vi um portal chamado “Inumeráveis”, memorial dedicado a cada uma das vítimas do coronavírus no Brasil que já passam de oito mil pessoas. A ideia é registrar em poucas linhas a personalidade das vítimas da doença a partir de depoimentos das famílias, para que deixem de ser apenas números na estatística dessa tragédia. (www.inumeráveis.com.br) Definições do tipo “Adalberto, o carnaval em pessoa; Adélia generosa; Adriana dentista, criadora de sorrisos”; Afrodísia, matriarca amorosa; Aldevan, um bravo doce...”; Alexandra Popoff, imigrante russa que fazia a melhor bacalhoada; Ana que amou a vida; Anisio que amava rock and roll; Arthur Martins que foi ao encontro do seu cão amado; Augusto Octávio, o palhaço da família; Bernadete, tia Bebé tão generosa; Carlilo, seu sonho era voltar a andar; Cícero Romão, enfermeiro que cuidou de todos até seus últimos dias”, e vai por aí.

Pois eu gastei o juízo um pouquinho e fiz micro biografias de algumas pessoas do meu círculo de amizade. Nunca, entretanto, pensando em que venham a constar desse memorial das vítimas do coronavírus, mas só para exercitar minha destreza no laconismo e reafirmar a simpatia e apreço que sempre tive e terei por essas pessoas. Certos nomes ficaram de fora. Alguns porque não toleram publicidade, outros porque são tão essenciais na minha história de vida que a redundância chega a ser chocante. Meu pai, por exemplo, o que diria dele em dez palavras? “Foi quem me deu a primeira papa, o primeiro livro e o primeiro elogio”.

Da lista já constam mais de cem nomes, pela ordem alfabética. Daqui para o final do isolamento terei uns trezentos micro perfis. Eis os primeiros do inventário da dileção:

Adeildo Vieira
Cantador das benquerenças e um coração enorme.

Adiel
Meu primeiro patrão. Fui ajudante de aguadeiro, tangedor de burros do meu primo.

Agnaldo Barbosa
Ardiloso criador de estórias e um herói do populário.

Adilson Adalberto
Um biólogo que quis ser poeta e vive seu sonho.

Alves
Meu compadre maquinista de gigante simpatia e trovador das estradas de ferro.

Alcion
Morreu datilografando carta para a namorada. Primo e amigo de infância.

Albenor
Cândido menino comunista oitentão.

Almiro
O mestre do babau, o ator popular, o cantor de rua, um artista singular na sua simplicidade.

Aline
Primeira namoradinha, aos dez anos. Cachinho, ternura e meiguice em retrato desbotado na memória.

Aniceto
Vizinho decente e discreto.


Antonio de Pádua El Gorrión

Professor que fez da escola um lugar de interlocução e vivência, com seus folhetos e a força da simpatia.

Assis Firmino
Meu compadre é como bolacha: em todo canto se acha. Pitoresco filho de Mari.

Avelino
Mistura da bonomia do Sargento Garcia com a valentia do Zorro. Sargento Avelino, de quem fui escrivão improvisado, professor de português e admirador.

Arnaud Costa
“Foi quem me deu a primeira papa, o primeiro livro e o primeiro elogio”.


domingo, 3 de maio de 2020

POEMA DO DOMINGO



O poeta que virou zumbi no terror da pandemia

CORDEL A QUATRO  MÃOS - POETAS FÁBIO MOZART E BENTO JÚNIOR


FM
Um poeta enfraquecido
Meio tonto do juízo
Na Paraíba do Norte
Além de caneiro, liso,
De fiado no comércio
Não comprava nem um frizo

Foi assim, no prejuízo,
Que enfrentou a pandemia
Os dez filhos e a mulher
Lamentavam noite e dia
Precisando de ração
Em uma grande agonia

BJ
Só pensando em fantasia
Vive cheio de mistério
Andando dentro de casa
Lendo livro de adultério
Pensa no coronavírus
Que leva pro cemitério

Ele nem sabe o critério
Nem o seu metabolismo
Se sente o próprio zumbi
Dentro do capitalismo
Sentindo sua injustiça,
Seu desastre e seu sadismo

FM
E nesse imobilismo
O poeta foi ficando
Cada vez mais alterado
O seu sistema mudando
Sete semanas depois
Não dormia, só chorando

Foi aí então que quando
Ele avistou uma rata
Debaixo da sua cama
Trepando com uma barata
Percebeu que estava louco
Em existência abstrata

BJ
Caía uma chuva ingrata
Na cabeça do poeta
Pois, vendo aquela barata
Pensou na ilha de Creta
Dizendo: bicho de asa
Nunca foi a sua meta.

Apontando grande seta
Pra rata que estava em pé
Deu dois pinotes na cama
E saiu cantando “olé”
A pandemia maltrata
Muito mais que a mulher

FM
Ele engole um clister
Sentindo grande soçobro
Sem ter em casa cachaça
afirmou: “não me recobro.
Se eu soubesse que era assim
Teria bebido o dobro”.

Na boca um gosto salobro
Na cabeça uma agonia
O poeta andava à toa
Isso de noite ou de dia
Do quarto para o quintal
Do banheiro para a pia.

BJ
O cabra a graça perdia
Quando mexeu o intestino
A sonda que lavou tudo
Apontava o seu destino
Tudo não passou de um sonho
Na cabeça do menino

Assim José Constantino
Foi ficando igual zumbi
Andando dentro de casa
Cinco noites sem dormir
Ele abriu a geladeira
Pensando em dali fugir.

FM
O óbito a lhe convir
E achava até bonito
A morte sempre é gentil
Com um poeta aflito
Todo poeta que morre
Viaja ao infinito

De repente ouviu-se um grito
Era o poeta cagando
Sei que quebrei o lirismo
Do verso que ia armando
Mas o “parça” é Bento Júnior
Gaiatice no comando

BJ
Fábio Mozart, vá rimando
E deixe de ser gaiato
Você me chama de “parça”
Porque eu narro esse fato
Latindo que nem cachorro
E miando como gato

Sei que o momento é exato
De nos livrar do terror
Me agarro com o bruxo Dalmo
Que é devoto de Xangô
Gravo na Rádio Zumbi
Emissora do autor.

FM
Sem ter anel de doutor
Poeta virou fantasma
Escrevendo um cordel
Em um linguajar de plasma
Espantando a noite débil
Com seu acesso de asma

Vestindo o ectoplasma
Poeta inaugura o mundo
Transforma a realidade
Em suposto céu profundo
Criando até anticorpo
Contra o corona imundo

BJ
Nessa vai e vem profundo
Noite e dia ele sofrendo
Com tristeza no olhar
O rosto empalidecendo
Com dez filhos pra comer
A mulher aborrecendo

Pois assim eu vou vivendo
Sem ter a quem recorrer
Apelo para os amigos
Mas não posso percorrer
Os caminhos do socorro
Vendo a hora perecer.

FM
Depois de muito sofrer
O poeta se inspirou
Passou três dias e noites
Quando sorriu e chorou
De alegria envergonhada
E a vida continuou.

Seu folheto terminou
Dedicado ao bem querer
Sua nega Filomena
Deixou até de beber
Poeta que vence a morte
Precisa nem saber ler.

BJ
A Filomena quis ser
O que nunca tinha sido
Esposa do seu fiel
E dedicado marido
Que antes era devasso
Doido, bêbado e atrevido.

E mesmo desprotegido
Seu lar agora tem paz
Foi o corona quem trouxe
Mesmo sem comida e gás
Assim pensou Filomena
Com o pensar do Satanás.

FM
Na verdade, só se jaz
Quando o ciclo histórico acaba
E só quem pode saber
Quando chega essa diaba
É o próprio indivíduo
Cacique e pajé da taba

A morte chega se baba
Pra matar o poetinha
Mas o poeta não morre
Apenas recolhe a linha
E vai pescar mais além
Da tua vida e da minha.

BJ
Quer retomar a vidinha
Quando essa peste acabar
Tomar um tonel de pinga
Beber até se lascar
E comer a Filomena
Mais um filhote engendrar

Para o nervo acalmar
Liga a televisão
Só sai notícia do vírus
Que dá nó no coração
Mais uma noite sem sono
Mais um tempo de aflição.

FM
Poeta vê ilusão
Um vaga-lume com vela
Um urubu senador
Um Hippocampus de sela
Um político honesto
Olho do cu com remela.

Um bolsominion banguela
Babando feito cadela
Saiu debaixo da cama
Com blusa verde e amarela
Gritando: “Viva meu mito!”
Na caserna se aquartela

BJ
Um poeta tagarela
E pião de carrapeta
Tentando passar recado
Ligeiro feito cometa
Fique em casa! Não relaxe!
Não siga aquele capeta

Pensa que é republiqueta
Essa nação brasileira
Pior é prisão perpétua
Da estúpida cegueira
Poeta pode ser doido
Mas não é burro de viseira.