sábado, 30 de abril de 2016

POEMA DO DOMINGO

BRECHT EM 1946

PERGUNTAS DE UM TRABALHADOR QUE LÊ

Bertolt Brecht  
Quem construiu a Tebas de sete portas?
Nos livros estão nomes de reis:
Arrastaram eles os blocos de pedra?
E a Babilônia várias vezes destruída
Quem a reconstruiu tantas vezes?
Em que casas da Lima dourada moravam os construtores?
Para onde foram os pedreiros, na noite em que a Muralha da China ficou pronta?
A grande Roma está cheia de arcos do triunfo:
Quem os ergueu?
Sobre quem triunfaram os Césares?
A decantada Bizâncio
Tinha somente palácios para os seus habitantes?
Mesmo na lendária Atlântida
Os que se afogavam
gritaram por seus escravos
Na noite em que o mar a tragou?
O jovem Alexandre conquistou a Índia.
Sozinho?
César bateu os gauleses.
Não levava sequer um cozinheiro?
Filipe da Espanha chorou,
quando sua Armada naufragou.
Ninguém mais chorou?
Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos.
Quem venceu além dele?
Cada página uma vitória.
Quem cozinhava o banquete?
A cada dez anos um grande Homem.
Quem pagava a conta?

Tantas histórias.
Tantas questões.

quinta-feira, 28 de abril de 2016

ENCONTRO DE REGOZIJO


"Registro como de intensa alegria ter encontrado, ontem, na FUNDAÇÃO CASA DE JOSÉ AMÉRICO, o radialista, escritor e cordelista FÁBIO MOZART. Mantemos uma constante correspondência pelos meios de comunicação virtual, mas não nos conhecíamos mutuamente. Anoto a aproximação como um fato de muita importância em minha vida. Fábio é um intelectual dedicado às coisas do espirito e tudo o que faz é perfeito. Aposentado, dedica-se à literatura e a arte, uma maneira de contento pessoal que transfere para os que o leem". 

Cordialmente

Lourdinha Luna

quarta-feira, 27 de abril de 2016

Foi bonita a festa!


Numa segunda-feira, 25 de abril, a Academia de Cordel do Vale do Paraíba e a Sociedade Amigos da Rainha do Vale do Paraíba se reúnem para comemorar o primeiro aniversário da entidade dos poetas. Foi na Fundação Casa de José Américo, em João Pessoa. 

Na programação, lançamento do livro "O ego arrebatado", do poeta Thiago Alves, e exposição dos seus quadros, ao lado de Otto Cavalcanti e sua obra com a visão cosmopolita de quem vive entre a Europa e o Brasil.

Tivemos entrega de diplomas de honra ao mérito cultural para as professoras Beth Baltar e Bernardina Freitas, além da atriz Zezita Matos. O Prêmio Leonilla Almeida foi entregue a mulheres de Pilar e Itabaiana. A quadrilha Coronel Zé Lins esteve presente, apresentado um breve número. Depois, foi servido coquetel ao som do violão de Magno Carvalho. Noite pela arte e pelo reconhecimento do trabalho de ativistas sociais e culturais. 


Auditório da Fundação Casa de José Américo recebeu grande público para prestigiar a noite de festa da Academia de Cordel do Vale do Paraíba, em seu primeiro aniversário
Dalmo Oliveira dirige o ato de entrega do Prêmio Leonilla Almeida
Mesa formada para entrega dos diplomas de honra ao mérito cultural, tendo ao centro o poeta Damião Ramos Cavalcanti, Presidente da Fundação Casa de José Américo
Xaxado da quadrilha junina Coronel Zé Lins de Pilar



Thiago Alves ao lado de um dos seus quadros







segunda-feira, 25 de abril de 2016

domingo, 24 de abril de 2016

POEMA DO DOMINGO


As arvores são como os peixes


As árvores são como os peixes.

O desfile das árvores nuas
Ninguém escuta as raízes acoturnadas
Os membros decepados expõem olhos cegos, caiados
Vigiando centenas de autos.
Seus dedos virando cortiças: tão leves
São os seus necrológios anônimos.

Mantos em cinza bem escuro
Tapando poros: as árvores anti-gregárias em suas cores
Vestidas no peso plúmbeo impenetrável.

É o desfile das árvores inertes nas cidades.
Árvores armadas como tropas russas. Os seus uniformes de fuligem.
Prisões nos asfaltos e calçadas
Sob a vigilância dos muros pichados
Entoando a poética dos silêncios.

Mata-fome, Cacau bravo, Craibeira, Moringa, Mororó...
Ipês, Sombreiros, gliricídias...
Controladas, solitárias, imóveis!

Só se mexem nas tardes de outono
Quando os ventos singram as ruas e varrem memórias
Roubando folhas alaranjadas: em sangue.

Movem-se ainda as quase-árvores
Com os pássaros nas alturas
Se apertando com suas cloacas quentes
Para enganar, em silêncio – a guarda da alma das florestas -
O drible da dormência das sementes duras.

As árvores são como os peixes.

Josafá de Orós


sexta-feira, 22 de abril de 2016

Poeta de Guarabira concede entrevista ao 

programa “Alô comunidade” neste sábado



O poeta e artista plástico Márcio Bizerril (foto) estará ao vivo no estúdio da Rádio Tabajara da Paraíba AM neste sábado, 23 de abril, às 14 horas, em João pessoa, participando do programa “Alô comunidade”, o único no Brasil com temática sobre comunicação alternativa transmitido por uma rádio pública. Bizerril será sabatinado pelos radialistas Fábio Mozart e Dalmo Oliveira, da Rádio Comunitária Zumbi dos Palmares, âncoras do programa.

Márcio Bizerril, “o poeta das cores”, participou da vida cultural de sua cidade, Guarabira, em sua fase mais efervescente. Atualmente reside em João Pessoa. Ele leva sua arte como poeta de cordel para escolas, dando palestras em praça pública e onde tiver espaço para um artista popular mostrar seu talento e seu amor pela cultura.

O programa é retransmitido por um “pool” de emissoras comunitárias e rádio-postes, além de blogs e sites na internet, como forma de diminuir o descompasso entre o receptor (a sociedade) e sua realidade, já que a mídia tradicional “não atende aos interesses comunicacionais das pequenas comunidades”, segundo Dalmo Oliveira. 
“Alô comunidade” é um programa da Rádio Comunitária Zumbi dos Palmares em parceria com a Rádio Tabajara da Paraíba AM – Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, Coletivo de Jornalistas Novos Rumos, Sociedade Cultural Posse Nova República.
Produção e apresentação de Dalmo Oliveira, Fábio Mozart, Beto Palhano e Marcos Veloso. Sonoplastia de Maurício Mesquita.

Ouça em tempo real a partir das 14 horas pela Rádio Tabajara da Paraíba AM (1.110) ou na internet pela Comunitária Zumbi dos Palmares:


Ou pelo site da Rádio Tabajara da Paraíba AM (1.110 KHZ):


Pode ser ouvido nos blogs

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Caminhando e cantando e seguindo a cultura da violência

Mais de dois mil rapazes caminham pelas ruas do Recife, cantando refrão de exaltação a um time de futebol. Rostos tensos de quem vai para uma guerra. É a torcida organizada “Inferno coral”, do Santa Cruz. A ideologia dessa galera é a violência. Saem de casa não para torcer pelo seu clube, mas para brigar com outros torcedores dos times rivais. Eles têm uma hierarquia. Eu vi em documentário no canal Sportv. Para subir na hierarquia, tem que se mostrar agressivo ao extremo com a torcida rival e enfrentar a polícia com a ira de um cão de guerra. Quem odeia mais, sobe no conceito da turma. Os mais traquejados não combatem apenas com socos e pontapés. Usam armas de fogo, facas, emboscadas, porretes.
No documentário, não se aprofunda o tema da violência dessas torcidas. Mostram as “organizadas” como torcedores fanáticos, mas nem insinuam sobre o rastro de destruição e selvageria que eles deixam por onde passam. Eu fiquei pensando aqui com meus dois pacatos neurônios: essa motivação toda desses jovens canalizada para a afirmação do poder popular e pela demanda de direitos básicos! Na segunda-feira, o cara vai trabalhar duro para o patrão, pegar pesado e ser explorado. Não percebem a força sutil de dominação, o que inclui a permissão de se sentirem supermachões nas torcidas organizadas, desde que voltem ao aprisco. A fúria que extravasa a insatisfação pessoal e o desencanto com a vida. Se o time ganha, bebem, cantam e trocam porradas. Se perde, também bebem, urram, quebram vidraças, batem nos rivais e desfilam com sua matilha.
A “organizada” do Santinha, um time popular e que tem a maior torcida do Nordeste, entoava um refrão: “Acabou o caô, o general chegou!” Geralmente, as torcidas organizadas se utilizam de termos militares. Afinal de contas, não é divertimento, é guerra! Todo time profissional tem uma torcida que se refere a si mesma como “esquadrão”, “comando” e outros termos beligerantes. Os “soldados” estabelecem entre si uma firme relação de unidade e afinidade, em modelo militarista.
Quando ouvi o “grito de guerra” dos beligerantes corais, anunciando que “o general chegou”, encadeei logo com as falas dos exaltados “coxinhas” de Facebook que pedem a volta dos militares. Seria a divisão “pé rapado” da direita mais hidrófoba.

O plácido torcedor do Santa Cruz, aquele que sai com amigos e família para ver seu time e acaba envolvido em batalhas campais, esse talvez jamais vai entender  e avaliar os aspectos políticos, socioculturais e econômicos que fizeram com que esses batalhões fossem gerados. A maioria está deixando de ir a campo. Quem vai, torce para não dar de cara com essas milícias e ser confundido com o inimigo. 

terça-feira, 19 de abril de 2016

PERFIS



PERFIS PERVERSOS

O Deputado Bolsonaro agrediu a consciência democrática de uma nação. Quando jovem, tramou atentados terroristas nos quartéis. “O mundo estaria salvo se os homens de bem tivessem a mesma ousadia dos canalhas” (Nelson Rodrigues)
Deixa os degenerados de lado. No fundo, é um babaca tamanho família armado com uma pistola automática do Exército. Nada valem e pensam que são eternos. É o lado asqueroso da humanidade.


PERFIS HONRADOS

Da minha corriola é o professor Ivaldo Gomes, sujeito decente e um tanto sonhador. Desses que querem mudar o mundo e já começam dando o exemplo. Ivaldo não cospe no capitão fela da gaita porque é um homem educado, mas não se nega a dar uma cagada na cabeça desse imbecil nazistão.


PERFIS AFETIVOS

Outro da minha patotinha é o compadre Josafá de Orós, cearense morador de Campina Grande, mestre da gravura e poeta cordelista. Ele fez o desenho daí de cima, para um trabalho que estamos tramando, sobre cordel. Confesso que não consigo sintonizar na mesma frequência intelectual do Orós. Sua dinâmica é coisa de outra dimensão. É um quadro de extremo valor da Academia de Cordel do Vale do Paraíba. Um sujeito operacional, como se diz nos papos de RP (Relações Públicas).


PERFIS INCORRUPTÍVEIS

Dilma Roussef vai cair porque é uma mulher íntegra. Duvidam? Só uma notícia, que a grande imprensa não comentou:  Em 2012, foi descoberta fraude na Força Aérea Brasileira de mais de R$ 3 bilhões. Um dos maiores escândalos de desvio de verbas naquela Força. A mutreta: cerca de oito mil militares que foram demitidos nos últimos dez anos continuavam ativos no cadastro interno da FAB e de órgãos federais como a Previdência. Dilma ordenou uma devassa nas contas da Aeronáutica.  FONTE: http://www.istoe.com.br/reportagens/paginar/179743_A+FARRA+DA+FAB/2)


PERFIS BABACAS

Tem maloqueiro por aí falando mais do que suportam seus cérebros acanhados. É mais fácil um sapo cagar um coco do que sair algo de relevante de mentes tacanhas como desse pessoal que vive nas redes sociais pedindo “volta dos militares” e outras baboseiras do tipo.


PERFIS COÇANTES

Por questão de foro íntimo, Madame Preciosa se recusa a ir para o pau-de-arara de Bolsonaro. “Para mim, que conheço um hipócrita de longe, aquele que critica homoafetivos vive com a rabichola coçando”, disse a dama do tabaco de ferro, tese confirmada pelo professor Ivaldo Gomes.


domingo, 17 de abril de 2016

POEMA DO DOMINGO


TRANSGRESSÕES
Todo mandato é minucioso e cruel
Eu gosto 
Das frugais transgressões 
Por exemplo inventar o bom amor
Aprender nos corpos e em seu corpo
Ouvir a noite e não dizer amém
Traçar
Cada um o mapa de sua audácia
Mesmo que esqueçamos de esquecer 
É certo
Que que a recordação nos esquece
Obedecer cegamente deixa cego
Crescemos somente na ousadia
Só quando transgrido uma ordem
O futuro se torna respirável
Todo mandato é minucioso e cruel
Eu gosto das frugais transgressões.

Mario Benedetti, poeta uruguaio


sexta-feira, 15 de abril de 2016

MAIS UMA OBRA PARA O PATRIMÔNIO POÉTICO DA ACADEMIA DE CORDEL DO VALE DO PARAÍBA


A cultura poética popular nordestina e a escrita ideológica ganham mais um registro na Paraíba, com o lançamento do folheto “Chico Veneno, o homem que intoxicou a burguesia”, do cordelista Fábio Mozart. Natural de Pernambuco, foi na Paraíba que Mozart construiu sua biografia de escritor irreverente e irônico como no livro de crônicas de humor “Aventuras de Biu Penca Preta no reino da fuleragem”, mostrando também seu compromisso sério com a descrição das lutas populares em sua terra, como na versificação da vida de Biu Pacatuba, “um herói do povo paraibano”, líder camponês de Sapé, obra ganhadora do Prêmio Patativa do Assaré do Ministério da Cultura.

No cordel “Chico Veneno, o homem que intoxicou a burguesia” se faz presente o discurso ideológico como ingrediente natural, numa perspectiva histórica, denunciando as mazelas do regime autoritário de 64 e os caminhos de Francisco Almeida na arte, no jornalismo e no combate político.

Os dados biográficos são insuficientes, comum nessa prática poética narrativa. “O que nos levou a escrever o folheto foi a intenção de assinalar a passagem desse fenômeno histórico que se chama Chico Veneno por minha terra, de onde partiu para levar adiante uma guerra necessária, ‘porém já perdida’”, assinala Mozart.

O trabalho de Fábio Mozart sobre o ativista político de Itabaiana, materializado neste folheto e no relançamento do jornal “Evolução”, fundado por Chico, assume, em certo sentido, um caráter educativo, levando ao leitor trechos da memória itabaianense, naquilo que ela contém de mais representativo no campo da luta política e da cultura na história moderna da terra de Pedro Fazendeiro e Leonilla Almeida, dois emblemas da revolução que jamais houve, mas que permanece na consciência social dos povos, em sua dimensão utópica.

O folheto “Chico Veneno, o homem que intoxicou a burguesia” será lançado no dia 5 de maio, na Galeria Archidy Picado, no Espaço Cultural José Lins do Rego, em João Pessoa, juntamente com meu livro Uma homenagem a Violeta Formiga e outros escritos, além do livro de poemas Laranja Romã, do mesmo Mozart. 


Jandira Lucena

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Agradável e proveitosa visita ao Espaço Cultural

 
Eu, Luiz Carlos, Sander Lee e Thiago Alves na Funesc

Dadas as condições físicas e mentais de time cansado aos quarenta do segundo tempo, é legal a gente driblar criativamente as agruras e mazelas da idade, dando o desconto da pouca mobilidade por causa da chikungunya que me atacou as articulações. Mesmo assim, saio pela tarde com meus compadres poetas Sander Lee e Thiago Alves, resolvendo os muitos detalhes da festa de abertura da exposição de Otto Cavalcanti e Thiago Alves, dia 25 de abril na Fundação Casa de José Américo, em João Pessoa.

Na Fundação Espaço Cultural, saudades aos píncaros. Encontramos com o teatrista Luiz Carlos Cândido, uma pérola de pessoa, e ficamos relembrando os tempos de empreitadas teatrais na velha Itabaiana do Norte, onde Lula deu oficinas, montou espetáculos e fez muitos amigos.  

Depois, fomos fazer visitação na Biblioteca da Funesc, onde nos recebeu a Tatiana, chefe do setor, pessoa muito educada e gentil. Provavelmente é furada essa teoria segundo a qual o serviço público é mal feito e defectivo. Pelo menos naquele setor de cultura, os seres são felicíssimos em dar atenção e apoio aos artistas que ali transitam em busca de esteio. As pessoas tratam a gente com gentileza e polidez. Outro que nos recebeu com urbanidade foi o Edilson, do setor de artes plásticas, que vai emprestar os cavaletes para a exposição de pinturas.

Quanto ao Luiz Carlos Cândido, eu levantaria uma estátua para esse rapaz, pelo muito que fez e faz pelas artes cênicas da Paraíba. Enfim, todos estão ajudando para a realização da festa da Academia de Cordel do Vale do Paraíba. Somos uma entidade sem grana, sem sede e sem muita história. Vamos comemorar um ano de existência. Vai ter até lançamento de selo comemorativo. Mas, é como se diz que a gente acha que não pode fazer as coisas, e de repente descobre que pode. Por isso, alguns malucos pensam um lance, correm atrás e acabam realizando. No nosso caso, somos três malucos.


segunda-feira, 11 de abril de 2016

Abram alas para o trovador de Pilar

Ainda existem trovadores neste país de altos negócios escusos e altas politicagens. Ainda temos corações e mentes que trabalham o lirismo na arte de poetizar. Um deles é o trovador Antonio Costta, produtivo vate pilarense que nos presenteia com seu livro de quadrinhas. Cheio de emoção, entusiasmo e ardor, Costta reverencia a trova popular em seu mais novo trabalho literário.

As quadrinhas nos remetem aos primeiros devaneios poéticos na adolescência. Para as meninas, as quadrinhas circulavam como mimosas formas de mensagens amorosas. Os garotos, esses gostavam mesmo era das quadrinhas licenciosas, agressoras das normas sociais, subversivas em seu discurso pornográfico. As que tratavam das relações de namoro viviam nos cadernos cor de rosa das mocinhas, muitas copiadas de livros didáticos, ilustradas por coraçõezinhos e inocentes cupidos. As quadrinhas “pervertidas” eram nervosamente escritas nas paredes dos banheiros ou passavam de mão em mão, clandestinamente.

Nas nossas ruas de então, cedinho da noite, as meninas se juntavam em rodas para cantar e fazer aquelas danças circulares tão próprias de uma época onde as pessoas gostavam de se relacionar, as crianças brincavam dizendo versos. Quem não soubesse de uma quadrinha de cor, ou criasse na hora, sairia da brincadeira. Nessa história de jogar versos, muitas meninas dedicavam às companheiras suas quadrinhas decoradas. As mais afoitas se inspiravam nos namoradinhos.

Diz que a quadrinha nasceu com a língua portuguesa no século XII, para prestar culto aos santos. A produção de Antonio Costta remete muito ao sacro, com muitas quadrinhas dirigidas à sua divindade, cristão fervoroso que é. Mas, como é da tradição das quadrinhas, o lírico é a tônica. No geral, o trabalho de Costta enfatiza sua identidade enquanto cidadão, sua visão de mundo, crenças e valores, com forte influência de seu território sagrado, a velha Pilar de Zé Lins e Manoel Xudu:

Quem nunca escreveu um verso
Em Pilar fica inspirado,
Contemplando o universo
De Zé Lins com seu passado.

Com esse DNA cultural, Antonio Costta passeia no mundo da trova ou quadrinha, poema de quatro versos e sete sílabas em redondilha maior que tem um nome feio: poema monostrófico. As quadrinhas não têm títulos. À coleção de Antonio Costta, que ele publica agora, eu daria o título de “Cantigas de amor e fé de um nobre cavalheiro e menestrel da paz”.

sábado, 9 de abril de 2016

POEMA DO DOMINGO


Ainda sobre Francisco Almeida

Meu compadre poeta Antonio de Pádua Gorrión está editando o folheto “Chico Veneno, o homem que intoxicou a burguesia”, pequeno relato sobre um homem valente que sonhou com um mundo mais humano e teve devassado seu corpo por torturadores profissionais. Gorrión deu-me a ordem de produzir mais 12 estrofes para completar a edição. Segue então aqui o trabalho. A linguagem da infâmia deveria ser inepta para a poesia ou para produzir canções. Mas, antes que o silêncio nos corrompa também, é essencial que a gente registre esses fatos. 

Chico Veneno, o homem que intoxicou a burguesia

Autor: Fábio Mozart

Deixou semente na terra
Dois netos italianos
Tem Iuri e tem o Victor
Sucessores carcamanos
Que devem ter ufania
Do avô e seus bons planos

De lutar pela justiça
Com o próprio sangue aduba
Essa semente de fé
Vide o Biu Pacatuba
Cuja história escrevi
Credo que ninguém derruba.

“Quando o feroz latifúndio
Matou João Pedro Teixeira
O grande Raimundo Asfora
Fez uma frase altaneira:
Disse que matar o homem
Foi uma grande besteira

Porque heróis do seu porte
Vivem de toda maneira,
São vidas imorredouras
Lutando pela bandeira
De justiça e pão na mesa
Nesta nação brasileira.

Eles baterão nas portas
Como uma assombração
De casa grande e engenho
Para sempre viverão
Exigindo mais respeito
Para o camponês irmão.”

A sua morte ainda hoje
Nunca foi esclarecida
A versão do suicídio
Por muitos foi rebatida
Pelas circunstâncias dadas
A tese não revalida

O jornalista Alarico
De nome Correia Neto
Que conheceu o Francisco
Tendo por ele afeto
Acha que o autoextermínio
Não é pretexto correto

Para se enunciar
Que Francisco se matou
Por angústia pessoal
Como disso se tratou.
“Esse fato é um mistério
Que a história não desvendou”.

A própria Lourdinha Almeida
Com muita propriedade
Lembra que sua família
Não teve oportunidade
De fornecer uma oitiva
À Comissão da Verdade.

A Comissão investiga
As graves violações
Cometidas por agentes
A mando dos figurões
Contra muitos ativistas
Nos regimes de exceções.

Lourdinha, que é irmã
De Francisco, seu herói,
Acha que o tempo passou
E nada se reconstrói.
“A nós, só resta saudade,
E o mal por si se destrói”.

O fato é que Chico de Almeida
Foi um defensor do povo
Protagonista da História
Perseguidor de algo novo
Chamado revolução
Com o seu grande corcovo.

F I M

“Alô comunidade” recebe a visita de Eudo Jansen Neto, especialista em comunicação

O programa “Alô comunidade” entrevista neste sábado, 9 de abril, o pesquisador Eudo Jansen Neto, especialista em comunicação em mídias digitais e mestrando em Extensão Rural e Desenvolvimento Local pela Universidade Federal Rural de Pernambuco.

Durante o programa, tocaremos música das Afro-Nordestinas, duo de rapperes criado no ano de 2003 na cidade de João Pessoa, capital do Estado da Paraíba, integrado pelas MCs Kalyne Lima e Juliana Terto, na sessão “Música Popular Paraibana de Qualidade”.

“Alô comunidade” é um programa da Rádio Comunitária Zumbi dos Palmares em parceria com a Rádio Tabajara da Paraíba AM – Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, Coletivo de Jornalistas Novos Rumos, Sociedade Cultural Posse Nova República.
Produção e apresentação de Dalmo Oliveira, Fábio Mozart, Beto Palhano e Marcos Veloso. Sonoplastia de Maurício Mesquita, com assistência de estúdio de Nina Correia.

Ouça em tempo real a partir das 14 horas pela Rádio Comunitária Zumbi dos Palmares:

Ou pelo site da Rádio Tabajara da Paraíba AM (1.110 KHZ):

Pode ser ouvido nos blogs

quinta-feira, 7 de abril de 2016

A briga de Jacó com um anjo e outras figuras estranhas

(Tela do francês Alexander Louis Leloir, 1865)


Conheci figuras invulgares. Umas na vida real, outras na fantasia. Gostava de ouvir minha mãe contar a história de Jacó, que brigou três dias e três noites com um anjo e acabou ganhando por pontos essa luta desigual. Jacó teve algumas avarias, saiu da luta puxando de uma perna, mas sobreviveu para contar a bravata, imortalizada no Velho Testamento.

Outra figura singular era Sili, batizada como Maria Auxiliadora. Minha vizinha em Itabaiana do Norte. Bonita, cabelos longos, olhar enigmático. Não falava com ninguém. Tímida, não tinha namorado. Certo dia, apareceu um grupo de hippies e Sili iluminou-se toda por dentro e por fora com a possibilidade de viver outra vida, independente e louca. Dispensou despedidas da família, derrubou as barreiras do preconceito daquela comunidade em relação aos andarilhos e foi viver sua vida itinerante. Meses depois, voltou. Ainda com os cabelos longos, vestida com bata colorida e longa, flor na crina preta e mais solta. “Paz e amor,” era seu breve discurso. Ao seu lado, um rapaz barbudo, o que fez a cabeça de Sili. Deveria ser uma espécie de guru da menina introvertida que carregava uma natureza enigmática. Agora era “prafrentex”, psicodélica.

Eu na feira, fazendo locução para uma difusora. Sili me pede dinheiro. “Podes crer, cara”, disse ela, quando perguntei se era ela mesma. Pedia donativos para comer com o bicho grilo, seu companheiro. Depois, sumiu de novo.

Uns dois anos depois, volta Sili. Agora sem o bicho grilo e sem as pulseiras, anéis e colares, objetos símbolos daquele movimento da contra cultura. Regressou sem falar a linguagem dos mochileiros. Parecia que não havia escancarado sua vidinha simples ao pensamento novo, às tentativas de ser outra pessoa no meio da desarranjada família dos humanos. Jamais falou com quem quer que seja para onde foi, onde viveu todo o tempo, o que fez e porque voltou.

“Somos todos esquisitos em alguma coisa”, garante um sujeito que entende da natureza humana. “Esquisito é viver sem originalidade”, saca a moça esperta. Outro jura que esquisito é quem se acha normal.

E o que é que tem o anjo que perdeu a luta com essa história de Sili? Você não acha fora do comum uma entidade espiritual, mensageiro de Deus, levar uma surra de um simples mortal? Sim, meu anjo da guarda é da classe dos serafins e atende pelo nome de Veruian. Quem nasce sob a influência desse anjo é dotado de grande inteligência e muito senso de liberdade. Não é um sujeito muito paciente. Bizarro, singular e estapafúrdio, esse camarada nascido sob a proteção de Veruian precisa ser controlado para não virar um “bicho grilo”. O planeta é Marte e a pedra preciosa é Rubi.


quarta-feira, 6 de abril de 2016

O folhetista Fabinho tem até editor. É o fraco!

El Gorrión levando música em sala de aula 

Meu compadre poeta Gorrión, de Itatuba, está trabalhando na diagramação e arte final do folheto “Chico Veneno, o homem que intoxicou a burguesia”. Quero agradecer publicamente ao poeta, cabra que, por um golpe feliz, encontrei nas quebradas da poesia popular, um sujeito robusto e reforçado na sua natureza de boa gente e melhor amigo.

Gorrión faz parte de uma nova e importante experiência de convívio deste velho Leão, na Academia de Cordel do Vale do Paraíba. Estou na meia idade, mas ainda prosseguindo na busca permanente de caminhos de harmonia e camaradagem.
Gorrión é um artista performático, professor e violonista, declamador que traz a visão de que a arte é essencial à educação. E cumpre seu papel de professor criador e operário da palavra escrita, cantada e falada, com a consciência de que a monotonia das aulas deve ser quebrada pela agitação e o requinte das manifestações do espírito.

Vou lançar o folheto sobre a vida de um revolucionário de minha terra no dia 25 de abril, durante a exposição de Otto Cavalcanti e Thiago Alves. Quebraremos o tédio da solenidade com a dança dos cangaceiros da quadrilha junina “Coronel Zé Lins” e o verso mestiço do mestre Gorrión. A festa será na Fundação Casa de José Américo, às 19h, na praia de Cabo Branco em João Pessoa, com entrada franca.

Os meus compadres e as comadres, leitores e leitoras da Toca estão convidados. Bora?



segunda-feira, 4 de abril de 2016

Sobre blogues, avanços e recuos da humanidade


Este blog Toca do Leão nasceu em 2007. Tem, portanto, nove anos de informação e opinião, humor, literatura e o que eu achar que deve ser publicado. Ultimamente, a Toca tem sofrido queda brutal de leitores. Acho que é por causa das redes sociais. Leitores de blogues estão migrando para o Facebook, Twitter, Instagram e outras paradas do mundo cibernético. Isso não tem importância, porque não vivo de audiência. Faço por satisfação pessoal e, em regra, utilizo essa ferramenta como uma terapia.

Agradecendo mais uma vez aos que visitam diariamente esta Toca, quero compartilhar um lance comunicacional que achei meio mágico, eu que sou da geração das cartas postais e dos telefonemas inaudíveis. Seguinte: escrevia um folheto sobre o ativista político e cultural Chico Veneno, da minha cidade Itabaiana do Norte. No momento mesmo em que estava compondo os versos do cordel, fiz contato via internet com a viúva do Chico, na Holanda, e suas irmãs na Paraíba. Foi fascinante trabalhar com as informações que me chegavam, de fontes mais do que fidedignas, no mesmo tempo em que compunha o trabalho. As meninas corrigiam alguma informação em tempo real, davam suporte na hora feito caldo de cana. E eu fiquei pensando em quanto a gente evoluiu nesse quesito comunicação. Só pessoas como eu, que cheguei a operar um decodificador de aparelho de telegrafia do século dezenove no começo de minha carreira na estrada de ferro, podem avaliar a evolução da comunicabilidade humana. Em contrapartida, o pensamento político retrocede, a estupidez humana vira posts nas redes sociais, com métodos de guerra civil.

Isso é outra história que prefiro não comentar muito. E pausa para refletir: a quem serve realmente esses avanços tecnológicos? Em princípio, aos poetas, divulgadores de arte, escrevinhadores, sonhadores e para quem quisesse falar com o mundo inteiro a partir do seu computador Seria a tão sonhada democratização da comunicação. Entretanto, e sempre tem um porém, a internet serve mesmo ao grande capital, às corporações que mandam no mundo. E isso é assustador sob todos os aspectos. O jornalista Plínio Bortolotti resume: a internet é um instrumento - não uma panaceia - e quem determina como ela vai funcionar e a quem vai servir, são os de sempre - os que mandam: no mundo atual, as grandes corporações.