quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Folheto de Fábio Mozart recebe prêmio da Prefeitura em Bananeiras

 


O cordelista Fábio Mozart foi contemplado no Edital Mestra Dona Terezinha, da Secretaria de Cultura em Bananeiras, com vídeo-biografia onde ressalta a produção do folheto “Cordel para Bananeiras”. A Comissão de avaliação reconheceu que a produção do cordelista e escritor pernambucano, radicado na Paraíba, “contribui para identidade cultural de Bananeiras nos diversos segmentos, especificamente na cultura popular”. O Edital Mestra Dona Terezinha faz parte da Lei Aldir Blanc, tendo como princípio a valorização do trabalho dos artistas no intuito de promover a diversidade artística e cultural de Bananeiras.

O Edital homenageia a “Mestra Dona Terezinha”, contadora de história residente no sitio Goiamunduba no Município de Bananeiras, uma referência do patrimônio imaterial, que no seu terreiro possibilita a preservação da memória com suas lendas e fatos de várias épocas. Nascida em 1932, no Sítio Goiamunduba, em Bananeiras, Paraíba, Mestra Teresinha é contadora de história. Nessa localidade ela nasceu, cresceu, casou e teve os seus nove filhos.

Fábio Mozart é membro efetivo e fundador da Academia de Cordel do Vale do Paraíba, atualmente radicado em Bananeiras. Autor de mais de três dezenas de folhetos de cordel, tem como referência neste gênero o Prêmio Patativa do Assaré de Literatura de Cordel do Ministério da Cultura. Conforme a Comissão do Prêmio “Mestra Dona Terezinha”, o trabalho de Mozart “tem caráter inovador como integração entre culturais de tradição oral com a educação formal e as novas tecnologias sociais e culturais, além de fortalecer as identidades culturais e contribuir para a difusão e promoção do patrimônio cultural material e imaterial”.

 

terça-feira, 28 de dezembro de 2021

RÁDIO BARATA 247

 


Cobras militares invadem Ilha das Cobras e perseguem baratas satânicas comunistas – Programa Rádio Barata no Ar – Edição nº 247

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segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

RÁDIO BARATA 245

 


Madame Preciosa indica a cor da sua calcinha para o réveillon

Rádio Barata no Ar – Edição nº 245

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Poeticídio

 


A gente se mata todos os dias. De sustos, de vício, amor, desamor, doses conta-gotas de suicídios não violentos. Poetas são mortos silenciosamente, sem deixar sinais. Crime perfeito, sem glosa e sem suspeito. Kaio Bruno Dias poetizou que a gente morre todo dia por deixar de ser quem gostaríamos, por não ter pernas pra ir àquele seu destino sonhado, por silenciar nossas verdades e quando os vícios se tornam nossos melhores momentos. Outro poeta anônimo, Pedro Salomão, suplica: “se você me entende, por favor, me explica!”. 

Percebo que, se matarem todos os poetas, a população mundial sofrerá um abalo considerável. Todo bichinho de orelha se declara poeta. Cito outro poeta de blog, Sérgio Vaz: “Se todo mundo que fala que é, fosse, a gente não estaria nesta fossa”. Poeta é um escritor que compõe poesia. Ou um cronista, romancista, cujos escritos se encharcam de poesia. Redigir poesia é um troço tão forte em alguns indivíduos que é assim: escrever ou morrer. Muitos escrevem e morrem. A escritora americana Sylvia Plath se suicidou em 1963, aos 30 anos. Outra americana, Virginia Woolf, a portuguesa Florbela Espanca e a brasileira Ana Cristina Cesar se mataram. O ofício de escrever tem a função de dar uma arranjada no discernimento da pessoa que escreve, porém, corre-se o risco de desatinar.

O poeta moderno é poetisa, negra, 38 anos, mulher da Umbanda, periférica, pansexual e chegada ao poliamor. Por ser gorda, negra, mulher e lésbica, e falar em coisas eróticas nos seus poemas afrocentrados, a poeta sofre carradas de discriminação. A implicância e o preconceito levam a poeta, cujo nome é Joaninha Dias, a se esconder do rótulo de poetisa, que ela odeia essa forma “correta” do feminino da palavra poeta. As histórias ancestrais que rolam na sua poesia carregam o lema ressaltado por Conceição Evaristo: “‘minha escrita é contaminada pela condição de mulher negra”.

Há, entretanto, o poeta chato. Ele veste uma camisa com a legenda “Poeta fulano de tal” e sai declamando seus versos, diria até que impondo sua produção. Conheço uma figura extravagante nessa linha. Vai ao passeio toda manhã com seus poemas debaixo do braço. Em rigorosa abstinência de senso do ridículo, detém a primeira pessoa que encontra e lê os tais poemas de patas espedaçadas. Constrangedor ver as pessoas evitando dar de cara com o vate.

Escrevo versos desde os quinze anos, publiquei alguns livros, mas não me considero poeta. Fujo poeticamente do rótulo. Pelas mesmas razões do professor Arturo Gouveia: “Não posso aceitar que a sociedade me veja como escritor. Sim, já publiquei poemas, uns sonetos retrógrados, publiquei livros, mas tudo por mero prazer e pra não deixar que minha cabeça oca seja tentada por maus espíritos. Dá pra entender? Me chamar de escritor faz parte dos exageros de interpretação que a sociedade, às vezes, para o bem ou para o mal, nos impõe”. Alguém acusou o poeta Arturo de escrever para uma elite. Ele se defende. Garante que não escreve pra ninguém, as pessoas é que procuram seus textos para ler. “Não tenho culpa do mal gosto dessa gente”, diz Arturo, para quem o maior sonho é cair na obscuridade e jamais ser reconhecido como escrevinhador do que quer que seja.

Protegido pela madrugada, o poeta cai na clandestinidade dos becos e vielas, mete-se entre cangaceiros urbanos e se transforma em poeta marginal de bar suspeito. Como todo delinquente, o poeta fora da lei tem sua cabeça a prêmio. Na Colômbia, matam-se poetas “a domicílio”, conforme li em um blog. Pobres confrades colombianos! Seria o poeticídio a solução final para esse desajustamento literário? É crime mal traçar e pior parir excrementícios bolos de tolos poetaços? Por via das dúvidas, deixo registrado que não sou nem serei inventor dessa coisa “complexa, feita de tristeza, nostalgia e sentimentos confusos a que o vulgo denomina poesia”, no conceito do não poeta Paulo Mendes Campos.  

 

domingo, 12 de dezembro de 2021

POEMA DO DOMINGO

 


TRITURADOR DE PALAVRAS NUAS

 

Mano, na moral

não vete o verso indecente

chocantemente imoral.

 

Foi mal.

tanto que a adoçamos

a trova veio com sal.

Imoral.

 

O indecoroso verbete

qual transparente boquete

libertino sexual.

Foi mal.

 

Contra a conduta vigente

a palavra nua e quente

assombrou o pessoal.

Animal.

 

Vergonhoso palavrório

o material censório

deleita-se no dormitório

da escrita sensual.

Bestial.

 

Mano, na moral.

Língua própria da ralé

vernáculo de cabaré

talvez ministerial

em reunião formal.

Subnormal.


F.M. 

 

terça-feira, 16 de novembro de 2021

sábado, 13 de novembro de 2021

RÁDIO BARATA 232

 


Presidente vence impotência e deixa Brasil amedrontado com possibilidade de um novo Bolsonaro no mundo

Rádio Barata no Ar – Edição nº 232

https://www.radio.diariopb.com.br/presidente-vence-impotencia-e-deixa-brasil-amedrontado-com-possibilidade-de-um-novo-bolsonaro-no-mundo-programa-radio-barata-no-ar-de-no-231/

 

quarta-feira, 10 de novembro de 2021

RÁDIO BARATA 231



Barata resiste à radioatividade, mas sucumbe sob o flagelo Bolsonaro – Rádio Barata no Ar, nº 231

Rádio Barata no Ar – Edição nº 231

https://www.radio.diariopb.com.br/barata-resiste-a-radioatividade-mas-sucumbe-sob-o-flagelo-bolsonaro-programa-radio-barata-no-ar-de-no-231/?fbclid=IwAR3K4OUcGSJ76e_5YAQ0yPfPOAD85J3MLy-YYlkX4_x4Zk_gE2ZQDryzBUg

 

A intocável beleza do feio


Hoje o cronista incorpora a entidade Exu que atua sobre a dualidade do homem. E da mulher também, conforme Oxum, orixá das águas doces e das cachoeiras, deusa da união e da variedade. À guisa de explicação, como se escrevia antigamente nos posfácios, o colunista sonhou reunir microcontos com historietas diversas, interligadas pela ideia central das energias opostas, o yin-yang chinês, forças antagônicas e complementares dando caldo a contos banais saídos de um mundo ácido. As narrativas estão aí, situações da vida real pedindo para se adequar ao microconto, só falta a competência.

 

Na tela do meu PC, meu quase único universo nessa pandemia, foram nascendo as histórias, como esta de Dezinho: “criado pela mãe (não conheceu o pai), morava na periferia. Quando se instalou no centro, virou filme de suspense. Era o bandido que morreu no assalto ao buzão”. Diferente de Ramiro, a parte sacana e cínica da cidade. ”Se passava por intelectual para filar bebida e comida nos bares da moda”. Cada um com sua solidão e seu anjo da guarda torto. João Pessoa poética e marginal, com seus cantores de rap e seus candidatos a forrozeiros fuleragem. E suas figuras fragmentadas e espatifadas pelas ruas do Valentina e Mangabeira, como é fiel retrato a poética do rapper Cassiano Pedra: “deixei os meus pedaços pelas ruas / o SAMU recolhe as tripas sujas / ainda tenho a língua e a cabeça / o guarda quer matar as ditas cujas”.

 

Em outro insólito momento de mal gosto, outro conto fala do cafetão no fim da noite abrindo o sigilo bancário e o supercílio da mundana, e depois conserta o ventilador, rasga o calendário vencido e espalha lixeira com uma barata extraviada sem regra alguma, perdida. Três perdidos numa noite suja, Plínio marcando aquela monstruosidade banal. A anti poesia da vida e do tempo. Você é um ser humano ou uma ameba? Amebas são sociáveis. Outra ideia para outro microconto: “Entrando no quarto minguante, a feia deixou lá fora sua meia idade, no sinal de trânsito. É uma mulher penosamente mal-apanhada. Seus olhos estrábicos, entretanto, vazam alguma coisa de imponência, um afeto exótico. Frequenta o local desde que um motorista a chamou de ‘bela’.  Ouve o eco do enaltecimento toda hora, embarrigou com o sêmen panegírico do sujeito incógnito. Se tiver título, será “A intocável beleza do feio”.

 

No mesmo sinal, o bacana parou o carro, aparece o moleque tentando malabares com três tristes laranjas. Possibilidades imediatas: fechar os vidros, olhar para os pés, se ligar na canção imbecil do rádio ou recitar de memória frases de grandes líderes. “As questões sociais devem ser tratadas pelas pessoas diretamente envolvidas nelas.” Quem disse isso? O sinal abriu o verde. O ódio é o de sempre. O segregacionismo, eterno. E o Brasil, acima de tudo”.

 

As nossas vidinhas podem ser resumidas em apenas alguns contos pequenos. Nesse apanhado de contos resumidos, o contista desvigorado parte para alguns relatos reflexivos sobre as paisagens, as pessoas, o pandemônio e as desigualdades dessa João Pessoa multifacetada. No muro do Zé Américo, poesia sem afetação salienta-se: “"A vida é uma dádiva, a vida é uma dúvida, a vida é uma dívida". Parece com Lau Siqueira, mas não tenho certeza. Um olhar haikai sobre o nosso mundo imediato. Matéria-prima, mesmo, está é nas “camadas inferiores”, no proletariado periférico e cangaceiro. Gente doida, com antipsicótico correndo nas veias, agindo no sistema nervoso central, controlando as neuras com coca e fumo. O isolamento dessas criaturas, com seus encontros com Deus e o Diabo em plena pandemia. Os sobreviventes e suas escuridões, também suas bem-aventuranças eventuais. Como diz o poeta Miró: "O que é mesmo estar vivo? Quando amanhece o dia, eu digo: Tá, Deus, eu ganhei mais uma manhã. O que vou fazer nessa manhã? Amanhã você não sabe se vai ter outro amanhã. Tô sem a bebida, tomando um cafezinho, porque não quero ir embora agora do quintal de Deus”.

 

 

sexta-feira, 5 de novembro de 2021

quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Como era brejeiro meu brejo

 

 


Com o vasto universo inteiro à sua disposição, o cronista optou por viver no planalto da Borborema entre as cidades de Bananeiras e Solânea. Vales e serras verdes, banhados por rios históricos e inextinguíveis, sob o domínio do rio Curimataú que recebe as águas dos rios Dantas e Picadas e os riachos Carubeba e Sombrio.  O aspecto sombrio da atualidade: esses rios e córregos inconstantes não estão dando conta de suprir os viventes desse mais elementar líquido para a vida humana. Os rios e barragens do brejo não atendem mais aos aglomerados urbanos da região. A barragem de Canafístula perece no mormaço sertanejo, em pleno brejo. Essa represa atende as cidades de Solânea, Bananeiras, Araruna, Cacimba de Dentro e Tacima. De regime de racionamento passou ao modo fornecimento zero. A empresa fornecedora de água já comunicou às populações e administradores que adotem suas providências, porque se trata de colapso geral do abastecimento d’água na região. Quem tem cisterna pode assegurar o mínimo de água para o consumo por alguns meses. Depois, é apelar para os caminhões pipa.

Ao lado de minha casa tem um córrego onde os carros pipa vão abastecer. Logo cedinho, longas filas de caminhões assustam o tetéu e o caboré com o ronco dos motores e o falatório dos motoristas. Sem o frio do sereno que só o brejo possuía nos invernos de antigamente. E esse “antigamente” é coisa de poucos meses. Quando cheguei aqui no ano da peste de 2020, ainda se usava calça, bota e casaco nos dias gélidos. Hoje não tem mais frio, nem água. Em plena serra no brejo paraibano, a beleza extraordinária ainda persiste, mas o clima degringolou. Até as rãs abandonaram seu habitat, percebendo mudança na umidade. As veredas brejeiras vivendo a agressão da estiagem. “Não sei se o sertão vai virar mar, como disse o profeta, mas o brejo tá virando sertão”, deplora o brejeiro Ofinho. Ele se queixa do efeito estufa, mas bota um pedaço da culpa no desmatamento e a construção desordenada de poços artesianos, danificando o lençol freático, para atender às dezenas de condomínios erguidos ultimamente na região. “É a tragédia do capitalismo selvagem acabando com a biosfera, ameaçando a natureza e modificando até o clima”, lastima. “Não sou contra o progresso, mas a forma de lidar com a ocupação urbana é que deveria ser revista”, esclarece o engenheiro Ofinho.   

Nos grandes sertões das estiagens sem fim, alguns políticos aproveitavam a tragédia da seca para ganhar dinheiro. Desconfio que a tal “indústria da seca” vem tirando proveito dos problemas ambientais por essas bandas e já se instala. Talvez ressignificando ou adaptando os torpes esquemas. Outro dia ouvi de um pipeiro: “Eu assino documento de cinquenta mil, mas não recebo isso”. Ele fornece água para prefeituras da região.

O ser humano sempre buscou adaptar-se ao meio em que vive. Vou tentando me acertar com os novos cenários, pessoas e desafios, depois que acabei por dar essa reviravolta na minha vida. Vim para uma temporada provisória e já se vão quase dois anos. Ainda não me habituei com certas coisas desse novo chão, incluindo o cântico dos pássaros. Ao amanhecer, quem me acorda não é mais o bem-te-vi urbano nem as rolinhas e pardais. É o “espanta boiada” passando aos berros no fim da madrugada, que na minha terra essa pequena codorna se chama tetéu, cantador das antemanhãs da Paraíba. Depois chega o sabiá, e dos açudes e lagoas se levanta o socozinho com seu cinza azulado para fazer seu ninho no meu pé de cajá, ao lado do ribeirinho. Sonoridades inauditas como a curicaca, passando com seu grito grave e monótono. Outra ave que me apareceu, fazia tempos que não via, essa não me deu muita satisfação. O urubu de carniça, acatingado, feio, deselegante, desarmonioso e portador de mau presságio, conforme a crendice do povaréu. Voou sobre a casa, pousou no pau Brasil. Sinal de decadência e ruína, conforme a superstição. Nesse brejo a caminho de se tornar sertão, o urubu aparece como o anjo anunciador da vingança, porque durante milhares de anos o Planalto da Borborema impediu a umidade do oceano de chegar naquelas regiões, provocando as estiagens. O urubu espera pacientemente que a carne apodreça para melhor digeri-la.