domingo, 30 de novembro de 2014

POEMA DO DOMINGO


A poesia de Paulo Leminski


Bem no fundo

No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto
a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo
extinto por lei todo o remorso,
maldito seja quem olhar pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais
mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos
saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.

Dor elegante

Um homem com uma dor
É muito mais elegante
Caminha assim de lado
Com se chegando atrasado
Chegasse mais adiante
Carrega o peso da dor
Como se portasse medalhas
Uma coroa, um milhão de dólares
Ou coisa que os valha
Ópios, édens, analgésicos
Não me toquem nesse dor
Ela é tudo o que me sobra
Sofrer vai ser a minha última obra

sábado, 29 de novembro de 2014

Bem aventurados os alegres e sinceros amigos, porque deles é o Reino de Vavá

Vavá, de bigode branco, com amigos

Vavá da Luz é um piadista, gozador e bon-vivant que mora em Ingá do Bacamarte, figura a quem tive o prazer de conhecer ano passado em uma entrevista no nosso programa radiofônico Alô Comunidade. Hoje, ele está brindando aos seus setenta e poucos anos. Sendo um sujeito dócil, quando bem alimentado, Vavá gosta de reunir os amigos em sua fazenda Senzala para, entre outras coisas, exercitar a masturbação afetiva, que é a prática do amor próprio. Falar dele, de sua vida que é um livro aberto e escandalosamente cínico, cheio de lances hilariantes, erros grosseiros, acertos fenomenais, cagadas homéricas e farras idem. O homem é adepto da filosofia do velho Ameba: “Tente outra vez. Erre outra vez. Erre melhor”.

Meu compadre Vavá da Luz é um desses caras que espantam a morte com cacetadas de humor. Se a gente não se defender da vida, ela nos matará. Defendo a tese de que temos um santo em cada esquina. Resta saber quem se digna a ser uma pessoa humana sem culpa, sem frescura e disposto a enfrentar o espelho todos os dias e rir da própria cara. Esses santos são os que se sobressaem.

Na Senzala de Vavá da Luz cabe todos nós, humanos, simples, cordatos, bem humorados, bêbados e filósofos, tarados e assexuados, loucos e sérios, azedos e animados, bestas e vesgos de idiotice. Enfim, Vavá é um homem que tem um coração universal, acolhedor dos amigos e implacável com os inimigos. Esses, ele traça com sua poesia ferina. Enquanto a turma luta por mais dinheiro e mais poder, Vavá mostra suas bundas sujas e rotas. É assim o humor em geral. Vavá da Luz é um humorista enfraquecedor do poder dos cínicos e vis, como deve se comportar todo palhaço que se leve a sério. (Levar a sério é força de expressão, se me entendem...)

A picareta e falsa bruxa Madame Preciosa tentou, sem sucesso, manter um caso amoroso com Vavá da Luz, prometendo mundos e fundos e, no fim, dando só o que tem. Essa divindade do panteão moderno da picaretagem mística foi quem ensinou Malafalha a meter a mão santa nos bolsos do proletariado abestado, mas, com Vavá da Luz ela se deu mal. Queria porque queria fundar com Vavá uma seita cultuando a vida no Paraíso, todo mundo nu e solto, soltando a franga no pomar primordial, pregando a liberação da mulher e a sociedade do matriarcado, onde ela teria autoridade sobre os homens, que passariam a comer em sua mão e beber em sua buça. Em determinado trecho do catecismo de Preciosa, teria a foto dela com Vavá, os dois despidos de roupa e de vergonha nas fuças, com a legenda: “Eva e Adão.”

--- Viadão é o caray! – disse Vavá da Luz, abandonando a megera em sua mata, fundando em seguida uma nova seita islâmica, bundista e trocista, cujo sacerdote será Tião Lucena, prometendo salvar as almas depenadas e encher os copos vazios na grande festa de iniciação na fazenda Senzala.

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Itabaiana estuda revitalização do pátio da antiga rede ferroviária

Estação de Itabaiana (Foto: Sindicato dos Trabalhadores Ferroviários da Paraíba)

Este prédio abrigava a estação ferroviária de Triângulo, em Itabaiana, o maior entroncamento ferroviário do Nordeste até ser privatizado no governo de Fernando Henrique Cardoso. Em 1999, a Rede Ferroviária do Nordeste é encampada por uma empresa ligada à Vale do Rio Doce, que paulatinamente fechou quase todos os ramais.

“Nossa memória ferroviária foi irremediavelmente ferida, sem contar com a degradação econômica e cultural. Todos os trens de passageiro no Brasil foram extintos, ficando apenas o Trem de Prata que ligava o Rio a São Paulo, esse também acabou em 1998. O processo de desestatização das ferrovias foi mais um grande engodo no Governo FHC”, disse Fábio Mozart, ferroviário aposentado, radiotelegrafista da Estação Triângulo na década de 1970.  

Segundo sindicalistas ferroviários, a privatização foi desastrosa. As operadoras não cumpriram as metas de produção, não pagam o arrendamento dos bens da rede ferroviária, dispensaram centenas de empregados, cerca de 65% dos antigos funcionários, fecharam ramais e abandonaram o patrimônio histórico.

Em Itabaiana, o pátio da ferrovia está completamente abandonado. A Prefeitura local está tentando assumir as edificações, constantes de um amplo galpão onde funcionou a oficina de vagões, prédios da estação e via permanente, além de casas operacionais onde residiam os agentes chefes.

O Secretário de Turismo de Ingá, Walter da Luz, disse que a estação ferroviária da cidade também está abandonada. Em muitas cidades, a estações foram demolidas, como em Sapé. Outras conseguiram preservar a memória ferroviária paraibana, com tombamento das estações que atualmente servem como espaços culturais, a exemplo de Mari onde a antiga estação é atualmente sede de uma rádio comunitária e ponto de cultura.

Fontes da Prefeitura de Itabaiana informam que existe um estudo técnico para instalar um centro cultural e outros equipamentos públicos no pátio da antiga estação ferroviária, a definir com setores ligados ao patrimônio público federal. 

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

ALMANAQUE


ARNAUD NETO (sax alto, tenor, flauta, clarinete, violão, teclado e vocal), e ROBERTO MUNIZ (violões, acordeom, teclado, percussão e vocal) fazem a trilha sonora do espetáculo "Papel de bodega" que Jessier Quirino apresenta nos dias 28, 29 e 30 de Novembro, no Teatro Santa Isabel, no Recife.


Está marcada para o dia 4 de dezembro a reunião para discutir e aprovar o estatuto da Associação Paraibana de Comunicação Comunitária, Alternativa e Popular – APARTE, para a qual estão sendo convocados representantes de rádios comunitárias, rádio-web, rádios a cabo, jornais de bairro, difusoras e outros projetos de comunicação alternativa. O encontro será realizado às 14 horas na Livraria Sebo Cultural, na Avenida Tabajaras, em João Pessoa, Paraíba.



Nabor Nunes Filho é músico desde os oito anos de idade, quando tocava requinta na banda de música de Itabaiana, juntamente com o saxofonista Xaréu e outros grandes músicos itabaianenses daquela época. Além de músico, Nabor Nunes Filho é escritor e poeta, ensaísta, pesquisador, cordelista, memorialista, pensador, ativista e produtor cultural, pianista e compositor.
Este livro de Nabor (...porque não sei ficar quieto), encontra-se na Biblioteca Comunitária Arnaud Costa, do Ponto de Cultura Cantiga de Ninar.






O Núcleo de Comunicação do Ponto de Cultura Cantiga de Ninar realiza oficinas de comunicação, de onde nasceu o “Jornal do Ponto”. O jornal será lançado em 20 de dezembro, durante o lançamento dos livros de Tião Gomes e Efigênio Moura.

O objetivo das oficinas de comunicação do Ponto de Cultura Cantiga de Ninar é oferecer as técnicas e os conhecimentos básicos para produzir seu próprio jornal, e transformá-lo num instrumento de documentação e divulgação das ações e do valioso trabalho do Ponto de Cultura. A coordenação é de Jacy Mendes, com apoio do jornalista Fábio Mozart.



quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Cartinha para o doutor Penico Branco


Varei, doutor Penico Branco! Que marmota é essa, tu com os ói aboticado, empaxado de orgulho besta, junto com essas catráias dando pipoco pelo meio do mundo, comendo brebote, arrochado que só parreco de sapo. Infitete, toma tino, seu menino!

Oxe, doutor Penico Branco, então tu ta levando catabi nas estradinhas da realidade nua e crua, cheio de pantim, pegando bigu na carruagem da nobreza que arripuna até rato de esgoto, mói de gente ruim dando goipada de orgulho, com istopô de besta, magote de fuleira com o cu fruviando de verme aristocrático, túia de cabra da peste disunerando o leite da população.

Ô trepeça! Doutor Penico Branco, deixa de munganga, deixa de dar cangapé no rio da malandragem, deixa de arisia, larga de imbuança, que tu ta enturido de orgulho por isso fica com esse muído. Tu não passa de um azilado elitista burocrático.

É de torar o cu da cigana! Iapôi! O portador dessa é Mateus Embaixador, presepeiro, Benedito do Babau, Maria Timbufu, Estrela do Dia, Invocado, Lírio Branco e Boi Bonito.





terça-feira, 25 de novembro de 2014

Antonio Carlos abre o Caminho das Letras no agreste da Paraíba

Jornalista Nonano Nunes, dono da revista "Afinal"

Não sei se ainda circula na Paraíba uma revista chamada “Afinal”, editada pelo jornalista Nonato Nunes. Encontrei na Biblioteca Comunitária Arnaud Costa, do Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, em Itabaiana, um exemplar da revista com 26 páginas em cor total. Detalhe: esqueceram de informar data e nº da edição. Das 26 páginas, sete são dedicadas a Itabaiana, com matérias sobre a implantação do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia, reportagem sobre o goleiro Lula, “o homem dos mil gols de Pelé” e um editorial assinado pelo dono da revista dando conta de um projeto do prefeito Antonio Carlos Júnior que encantou o jornalista.
O projeto prevê a formação de uma espécie de “circuito cultural” envolvendo cidades como Pilar, onde nasceu José Lins do Rego, Sapé de Augusto dos Anjos e Itabaiana de Sivuca e Zé da Luz. O prefeito explicou a Nonato que a coisa vai funcionar nos moldes do circuito do frio, que rola no brejo paraibano, com visitas aos locais de nascimento de escritores, poetas, músicos, e culminando com eventos culturais destinados a lembrar as atividades às quais cada um deles estava ligado. “A ideia é muito original no que diz respeito ao resgate da história e da obra de cada um desses homens e mulheres que escreveram livros, compuseram músicas e deram sua contribuição para a grandeza cultural do ambiente no qual foram forjados”, raciocina Nonato Nunes.
Na contracapa, propaganda institucional da Prefeitura da cidade, com fotos do famoso coreto, da igreja matriz e uma velha imagem da feira de panelas, dos anos 80. Além do slogan oficial, a frase: “É tempo de reconstruir”.
Em outra página, a revista informa que “educação é a palavra chave do plano de reconstrução e desenvolvimento posto em ação pelo prefeito Antonio Carlos, para quem o professor, que ele chama educador, e o aluno são peças importantes do processo educacional. ‘Em nosso município é proibido criança fora da escola e o vale do Paraíba vai se transformar no Caminho das Letras”, finalizou o prefeito. 
O feito midiático culminou com lançamento do livro do dono da revista em Itabaiana, no dia 27 de setembro. A obra sobre João Pedro Teixeira contou com “o total e irrestrito apoio do prefeito Antonio Carlos e marca o início dessa nova fase cultural vivenciada por Itabaiana,” ainda conforme o articulista.
Como esse blog é interativo, vou abrir aqui o espaço para que as pessoas razoavelmente bem informadas comentem sobre esse importante projeto cultural de Antonio Carlos.


domingo, 23 de novembro de 2014

sexta-feira, 30 de março de 2012

Notícias de Hugo Saraiva


Hugo Saraiva assinando termo de posse na Prefeitura de Itabaiana em 1963, ao lado do seu secretário Arnaud Costa (Foto Wilson)

Outro dia, uma paciente no consultório psiquiátrico perguntou de onde eu sou. “De Itabaiana”, respondi sem muito interesse em conversar. “Meus pais são de lá”, disse a moça. Surpreso, descubro que ela é neta do ex-prefeito de Itabaiana, Hugo Saraiva, cujo mandato foi cortado pelos militares em 1964. No meu livro “A Voz de Itabaiana e outras vozes” falo da bravura desse itabaianense que ainda está neste mundo, um dos poucos prefeitos que resistiram ao golpe militar. Meu pai foi seu secretário e redator da nota de repúdio contra o golpe.

A moça gostou de saber que seu avô era reconhecido em sua terra pela fortaleza moral, inteireza cidadã e retidão cívica. Pediu um livro que levei depois. Ela leu e fez elogios sinceros. Desculpem se pareço pedante, mas coisas assim mexem com o lado sentimental de um velho memorialista. Pediu para autografar um exemplar. Mandar para Mato Grosso, onde vive seu avô.

Possivelmente o velho Hugo vai se emocionar ao ler as crônicas que contam suas peripécias na política de Itabaiana. Comoveram até às lágrimas a sua neta. Pois é, minha cidade não merece os governantes insensíveis que tem. Nossa História virou uma sucessão de estupidez desde quando homens do quilate de Hugo Saraiva, Josué Dias, João Quirino Neto e Arnaud Costa abandonaram o barco da política local.

Fico pensando no milagre do livro. Daqui a cem anos, alguém vai ler meu livro e conhecer a história desse Hugo Saraiva. As coisas andam mudando de rumo aqui, tenho enfrentado ventos de frente, ventos ressentidos, até não tenho coragem de ajustar as velas e tocar o barco, como um velho almirante que perdeu o tesão pelo mar. Entretanto, encontrar uma leitora assim tão íntima do meu mundo me deixou orgulhoso e menos contrariado com a vida.

Somos mesquinhos e o que nos move é a necessidade de sermos reconhecidos, seja lá como for. Para mim, valeu a pena escrever o livrinho que emocionou alguém. Sim, ia esquecendo: a médica entrou no papo, pediu um livro, encantou-se com nossas histórias de conterrâneos. Sabe como é: médicos psiquiatras são como decoradores que adoram uma beleza interior.

POEMA DO DOMINGO





Ao dia

E a alvorada me encantou em saber
Que num fitar castanho perdido na cor da aurora
Precedeu o sobressalto cada vez mais alto
De quem se debate ou se entrega a submersão,
E mais fácil fosse ouvir cantar o vento,
Entre lamentos que não se acha cura,
E mais difícil quando não se procura,
O que guardado ficou num instante,
E mais simples do que descreveu Dante,
Quando vê que o paraíso parece perto,
Pois antes dele mede-se o deserto
De um inferno a purgatório seguir
De quem escolhe não ver o sol surgir,
E lentamente ali se encontra a arte
De cada instante e de toda parte
Que se permita deslumbrar o amanhecer
Como se não soubesse o que se faz saber
Como se tudo não fosse tão complexo
Como se a vida fosse um doce amplexo
Quando num sorriso se fez o calar o mar
E numa janela de alma veio a se afogar.

Renaly Oliveira

sábado, 22 de novembro de 2014

Saudações aos músicos

Hoje, sendo dia do músico, por acaso amanheci o dia revolvendo velhos recortes de jornais e encontrei uma edição do jornal O Norte, de17 de fevereiro de 2008, com reportagem sobre esse músico que “encanta visitantes na praia de Jacaré com o Bolero de Ravel ao pôr-do-sol”.
“Arnaud Silva Costa Neto nasceu há 24 anos no município de Itabaiana, localizado a exatos 80 quilômetros da capital paraibana. Ele anima turistas do mundo inteiro e paraibanos, executando a melodia do Bolero de Ravel ao som afinado do seu saxofone no point turístico mais visitado da Paraíba, que é o Jacaré.
Mas Arnaud não é apenas do sax. Ele toca guitarra, baixo, teclados, gaitas, flautas doce e transversa, cavaquinho, sanfona e até zabumba, além de se aventurar a cantar algumas músicas.”
Segue-se uma página inteira do extinto jornal pessoense sobre a carreira do Arnaud do Sax que é meu filho. A gente tem elevado sentimento de satisfação por ver que nosso filho atendeu ao chamado da vida e foi cumprir seu destino de poeta do som com dignidade e capacidade. O outro, Max Mozart, também segue a mesma profissão.
É assim: quando a gente põe em movimento as engrenagens da vida, as coisas assumem seu ritmo fora do nosso controle e compreensão. É sorte quando o produto final chega a nos orgulhar.

Hoje já falei com dois músicos de minha estima: o major maestro Edmundo e o guitarrista Zé Maria Almeida. Em nome deles e dos meus filhos músicos, mando minha saudação aos que se dedicam a essa nobre arte.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

A peleja de Heleno Alexandre com Antonio Xexéu

Poeta Heleno Alexandre

Registro em ata minha admiração pelos poetas repentistas. A sabedoria cósmica e o humor arretado desses caras os tornam artistas excepcionais. Hoje quero falar de dois poetas desse naipe, Heleno Alexandre e Antonio Xexéu. Heleno é de Sapé, tem 36 anos, diretor de programação da Rádio Comunitária Sapé, produtor e apresentador do programa “Violas e Violeiros”. Já cantou até no Ceará, no programa da TV Diário “Ao Som da Viola”. Na Paraíba, de vez em quando aparece no “Cantos e Contos” da TV O Norte. Mas o que gosta de fazer é apresentar-se em escolas públicas e comunidades carentes, levando a cultura popular para as novas gerações.

Antonio Xexéu é de Itabaiana, tem 53 anos, poeta de rua, como gosta de dizer. Pega a viola e sai cantando pelas feiras do Nordeste, com ou sem parceiro, com público ou sem, com dinheiro ou sem nenhuma grana. Admirador do grande Manoel Xudu, Xexéu um dia encontrou-se com Heleno em uma venda, na fazenda Taumatá. Depois de engolidas algumas lapadas de mel de abelha com cachaça de cabeça, os dois vates começaram a cantar safadeza, aqueles versos fesceninos, um bocado licenciosos. Heleno Alexandre é um sujeito erudito, escolado, longe do padrão dos poetas repentistas analfabetos do Nordeste. Ele faz questão de esclarecer que na Roma antiga que falava latim, os versos fesceninos eram populares, porque se acreditava que a obscenidade tinha o poder de afastar o mau-olhado.

Antonio Xexéu é também cantor da trova libidinosa, mas sem a erudição do companheiro. Afinal, “só terminou a cartilha do ABC e a tabuada”. Começaram a cantar um “trocado”, quando Heleno falou de suas façanhas masturbatórias:

Eu trabalho atualmente
Na Fazenda Santa Esther
Meu patrão tem uma mulher
Que é o satanás em gente
Quando ele está ausente
Ela chega no terreiro
Passa a mão no corpo inteiro
Aumentando o meu tesão
Eu vou me acabar na mão
Feito colher de pedreiro.

Xexéu aproveitou a passagem de um casal de caprinos para cantar:

           A cabra ensinou ao bode
A demonstrar compostura
Acabar com essa frescura
De comer cu, que não pode!
Eu faço barba e bigode
Disse o bodinho tarado
Já ficando aperreado
Com o cacetinho duro
Encostou no pé do muro
Dizendo: fode ou não fode?

Heleno tem dez anos que canta repente. Até escreveu um livro por nome “De repente... Dez anos”, que pretende lançar em breve. Antonio Xexéu publica folhetos de cordel com temas atuais e estórias que ele inventa. O último folheto ele escreveu em homenagem à prefeita de Itabaiana, dona Dida. Foi na última campanha política. O folheto começava assim:

Até quem não é daqui
Conhece a nossa prefeita
Uma mulher competente
Honesta e muito direita
Que plantou dignidade
E agora faz colheita.

Assim o poeta canta
Nessa nossa louvação
O mister de dona Dida
Na sua administração
Chamada “Um Novo Tempo”
De competência e ação.

Mas, porém, todavia, a prefeita não honrou o compromisso de pagar ao poeta, que por vingança espalhou uns versinhos maldosos:

Dona Dida e Antonio Carlos
Protagonizam novela
Ela falando mal dele
Chamando moça donzela
Ele esculhamba a prefeita

Não presta ele nem ela.

quinta-feira, 20 de novembro de 2014


RUI VIEIRA

Natural da cidade de Remígio, radicado em Campina Grande desde a década de 50, funcionário do Banco do Brasil aposentado, jornalista, escritor, pesquisador de literatura popular e membro da ACI (Associação Campinense de Imprensa) e sócio da casa do poeta de Campina Grande. Hoje tem como atividade principal a pesquisa em poesia popular, causos e muito humor. O trabalho de Rui Vieira é considerado de muita valia para pesquisadores da poesia popular nordestina. Lançou o  “Dicionário temático da poesia popular do Nordeste”. O dicionário contém mais de mil temas poéticos, mais de três mil estrofes e amostras poéticas de mais de 400 poetas e cantadores, entre os quais o cordelista Fábio Mozart, de Itabaiana. 

Rui Vieira foi convidado para participar da Academia Paraibana de Literatura de Cordel que vamos fundar em janeiro de 2015. Será uma honra ter o nobre poeta como parceiro neste projeto de difusão do cordel.

“Levantei cedo pra procurar emprego, mas não achei nenhum classificado no jornal escrito: precisa-se de gênio.” – Ameba, o indefecável.

Não adianta nada ser brasileiro, se eu não posso ficar deitado eternamente em berço esplêndido, ao som do mar e à luz do céu profundo.

"Quem nunca foi pobre não sabe a delícia que é pão com ovo." - Ameba, o gastrônomo das quebradas.

Você que está com sintomas de saudades da ditadura, deve ser virose.

Já no mercado, cartões de Natal "Made in China" para mensagens falsas.

52% dos partos no Brasil são cesáreas, bem acima dos 15% recomendados pela OMS. Alguma coisa a ver com a tabela de procedimentos médicos?

Melhor slongan político que já vi: “Não deixe sua cidade ao léu”, da campanha de um adversário de um certo Leo, candidato a prefeito de Sapé. 

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Hoje é Dia da Bandeira e Dia do Cordelista

Portanto, hoje é dia de levantar a bandeira do cordel, anunciando para janeiro a fundação da Academia Paraibana de Literatura de Cordel que vai funcionar no Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, em Itabaiana. Já temos uns 12 acadêmicos inscritos, entre eles uma mulher, a esposa do nosso confrade Sander Lee, que é a poeta Luciene Soares. Ela ocupará a cadeira cuja patronesse é Neuma Fechine Borges, a grande dama do cordel, uma pesquisadora da Universidade Federal da Paraíba que levou o cordel nordestino até os países de onde se originou esse tipo de literatura, Portugal, Espanha e França. Portanto, essa criação poética popular deve muito à professora Neuma, homenageada em nossa futura Academia.

Sobre a bandeira,“Ó Pátria amada, idolatrada, salve, salve...” Minha idolatria vai para Manuel Bandeira, o poeta. Permitam-me essa atitude de respeito à bandeira de Pedro Bandeira, um dos maiores poetas repentistas do mundo. Sob a bandeira da Petrobras, reina o reino dos ratos. E mais não direi para não insuflar a turba ignara.


terça-feira, 18 de novembro de 2014

Maestro Josino no Ponto de Cultura

Eu com Orlando Otávio e o maestro Josino Mendes

Você sabe que numa guerra, há várias frentes de batalha. É preciso ter uma tática para cada uma delas. Na guerra contra a estupidez humana, você tem a música, a leitura e o bom cinema. Há forte declínio de leitura de bons livros por parte da juventude, em razão também do uso elevado do leque de mídias eletrônicas pela moçada. Hoje, garoto de 9 anos não larga seu tablet, o que se deduz que em meio século o livro desaparecerá como modalidade de lazer. Lutando contra a desleitura, venho tentando promover encontros de estudantes com os livros em nossa biblioteca comunitária, a muito custo mantida pelo Ponto de Cultura Cantiga de Ninar.
Na música, é manter nossa escola de violão, agora com o reforço do maestro regente Josino Mendes. A proposta é ensinar canto coral a meninos e meninas, além de teclado e flauta doce, outro atributo artístico do compadre Josino. Uma escola infantil, El Shaday, vai levar grupo de crianças para aprender a cantar músicas de Natal no Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, com o maestro Josino.
No mais, é reinventar cada dia uma nova forma de sobreviver, sempre no clima de otimismo daquele cara que desabou do 20º andar e, ao passar pelo 15º pavimento, observa: “Até agora, está tudo correndo bem”. E aqui vai uma aposta: em 2015, nosso núcleo de cultura em Itabaiana vai continuar, porque o projeto ficaria até envergonhado se abandonasse o campo de luta, depois de receber como reforço um rapaz tão sonhador e humanista feito esse Josino Mendes, que reflete a consciência de nossa gente, porque não se engane: o povo brasileiro é generoso, virtuoso e decente. Nossas elites dirigentes é que não valem o que o gato enterra de manhãzinha.  
Seja como for, com artes e manhas vamos tocando nosso barquinho no Cantiga de Ninar. Sobreviver é uma arte, como tudo o mais.




segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Rock pop saudosista no rádio

Eu com os rapazes do The Ze's: Zé Maria, Zé Orlando, Zé Gonçalves (Brasinha) e Saulo
No dia da República, 15 de novembro, conseguimos reunir um grupo de amigos que formavam uma banda de rock na minha cidade, nos idos de 1960/1970. No programa “Alô comunidade”, da Rádio Tabajara da Paraíba, os rapazes, agora cinquentões e sessentões saudosos da Jovem Guarda, contaram sobre a aventura de montar uma banda numa cidade do interior da Paraíba naqueles recuados tempos, embebidos de Bleatlemania, inspirados nas versões dos sucessos dos caras de Liverpool gravadas por conjuntos como Renato e seus Blue Caps e Os Incríveis. José Maria Filho, o líder da banda, agora é militante católico, mas não deixou de lado a paixão pela música. Formou um grupo gospel com os antigos parceiros. Nas horas vagas, se reúnem para relembrar os velhos tempos de Jovem Guarda e tocar o repertório do conjunto itabaianense “Os brasas”, banda que repercutia o carisma desse movimento musical pioneiro da cultura pop no Brasil.
Zé Maria, Zé Ronaldo e Zé Gonçalves, o Brasinha, agora são componentes da banda The Ze’s, que ainda conta com o baterista Saulo e o tecladista Vilinho, com a missão de passar para as novas gerações o que foi musicalmente aquela época da Jovem Guarda, e também bebemorar o prazer de estarem vivos, com amizades consolidadas, sem esquecer os grandes ícones do velho rock romântico, a partir do estouro dos Beatles em 1964 no Brasil.
Gostei de ver que o tempo passa e os tremendões, já em meia idade, ainda têm muito gás para fazer rock and roll. Os Brasas, ou The Ze’s, cantaram e tocaram algumas músicas ao vivo no estúdio da Rádio Tabajara, sobressaindo-se, logicamente, as canções de Roberto Carlos e Erasmo Carlos, considerados os Lennon & McCartney brasileiros daquela época.
Foi uma tarde especial, onde revi conterrâneos que há muito tempo não encontrava nas quebradas desse mundaréu, apesar de vivermos na mesma cidade, João Pessoa. Gosto de fazer este programa por causa disso. A gente se diverte, ouve boa música, bons papos, e ainda debate temas ligados à cultura e à cena da comunicação comunitária. Nesse pé, já caminhamos para o quarto ano que estamos no ar, sempre aos sábados às 14 horas. 

domingo, 16 de novembro de 2014

POEMA DO DOMINGO



RETRATO NU
Mulher, fonte bela,
de delícia entre as coisas,
terna, suave púbis, singela,
mulher nua, um dia
terei de te ver
e verás que te verei completa
sem estes assombrados olhos meus,
que completavam tua beleza plena,
que só um espiar não sacia, só me desperta!
Orlando Otávio


sábado, 15 de novembro de 2014

HOJE TEM “ALÔ COMUNIDADE” COM REMINISCÊNCIA MUSICAL DE ITABAIANA



José Maria de Almeida Filho e os rapazes da banda “Os brasas” conversam conosco sobre rock genuinamente itabaianense dos anos 60/70, relembrando os antigos sucessos da jovem guarda. 

O programa começa às 14h, pela Rádio Tabajara da Paraíba AM, em tempo real também pela Rádio Web Comunitária Porto do Capim. Retransmitido por 12 rádios comunitárias e outros sites da internet.

Apresentação de Fábio Mozart e Marcos Veloso.