10 MINUTOS NO CONFESSIONÁRIO – Episódio 28
DIA DAS
BRUXAS
10 MINUTOS NO CONFESSIONÁRIO – Episódio 28
DIA DAS
BRUXAS
PELEJA DE MADAME PRECIOSA
COM VAVÁ DA LUZ NO TERREIRO DA SENZALA
Rádio Barata no Ar – Edição nº 227
Com
o vasto universo inteiro à sua disposição, o cronista optou por viver no
planalto da Borborema entre as cidades de Bananeiras e Solânea. Vales e serras
verdes, banhados por rios históricos e inextinguíveis, sob o domínio do rio
Curimataú que recebe as águas dos rios Dantas e Picadas e os riachos Carubeba e
Sombrio. O aspecto sombrio da
atualidade: esses rios e córregos inconstantes não estão dando conta de suprir
os viventes desse mais elementar líquido para a vida humana. Os rios e
barragens do brejo não atendem mais aos aglomerados urbanos da região. A
barragem de Canafístula perece no mormaço sertanejo, em pleno brejo. Essa
represa atende as cidades de Solânea,
Bananeiras, Araruna, Cacimba de Dentro e Tacima. De regime de racionamento
passou ao modo fornecimento zero. A empresa fornecedora de água já comunicou às
populações e administradores que adotem suas providências, porque se trata de
colapso geral do abastecimento d’água na região. Quem tem cisterna pode
assegurar o mínimo de água para o consumo por alguns meses. Depois, é apelar
para os caminhões pipa.
Ao lado de minha casa
tem um córrego onde os carros pipa vão abastecer. Logo cedinho, longas filas de
caminhões assustam o tetéu e o caboré com o ronco dos motores e o falatório dos
motoristas. Sem o frio do sereno que só o brejo possuía nos invernos de
antigamente. E esse “antigamente” é coisa de poucos meses. Quando cheguei aqui
no ano da peste de 2020, ainda se usava calça, bota e casaco nos dias gélidos.
Hoje não tem mais frio, nem água. Em plena serra no brejo paraibano, a beleza
extraordinária ainda persiste, mas o clima degringolou. Até as rãs abandonaram
seu habitat, percebendo mudança na umidade. As veredas brejeiras vivendo a
agressão da estiagem. “Não sei se o sertão vai virar mar, como disse o profeta,
mas o brejo tá virando sertão”, deplora o brejeiro Ofinho. Ele se queixa do efeito
estufa, mas bota um pedaço da culpa no desmatamento e a construção desordenada
de poços artesianos, danificando o lençol freático, para atender às dezenas de
condomínios erguidos ultimamente na região. “É a tragédia do capitalismo
selvagem acabando com a biosfera, ameaçando a natureza e modificando até o
clima”, lastima. “Não sou contra o progresso, mas a forma de lidar com a
ocupação urbana é que deveria ser revista”, esclarece o engenheiro Ofinho.
Nos grandes sertões das estiagens sem fim, alguns
políticos aproveitavam a tragédia da seca para ganhar dinheiro. Desconfio que a
tal “indústria da seca” vem tirando proveito dos problemas ambientais por essas
bandas e já se instala. Talvez ressignificando ou adaptando os torpes esquemas.
Outro dia ouvi de um pipeiro: “Eu assino documento de cinquenta mil, mas não
recebo isso”. Ele fornece água para prefeituras da região.
O ser humano sempre buscou adaptar-se ao meio em
que vive. Vou tentando me acertar com os novos cenários, pessoas e desafios,
depois que acabei por dar essa reviravolta na minha vida. Vim para uma
temporada provisória e já se vão quase dois anos. Ainda não me habituei com
certas coisas desse novo chão, incluindo o cântico dos pássaros. Ao amanhecer,
quem me acorda não é mais o bem-te-vi urbano nem as rolinhas e pardais. É o
“espanta boiada” passando aos berros no fim da madrugada, que na minha terra
essa pequena codorna se chama tetéu, cantador das antemanhãs da Paraíba. Depois
chega o sabiá, e dos açudes e lagoas se levanta o socozinho com seu cinza
azulado para fazer seu ninho no meu pé de cajá, ao lado do ribeirinho.
Sonoridades inauditas como a curicaca, passando com seu grito grave e monótono.
Outra ave que me apareceu, fazia tempos que não via, essa não me deu muita
satisfação. O urubu de carniça, acatingado, feio, deselegante, desarmonioso e
portador de mau presságio, conforme a crendice do povaréu. Voou sobre a casa,
pousou no pau Brasil. Sinal de decadência e ruína, conforme a superstição.
Nesse brejo a caminho de se tornar sertão, o urubu aparece como o anjo
anunciador da vingança, porque durante milhares de anos o Planalto da Borborema
impediu a umidade do oceano de chegar naquelas regiões, provocando as estiagens.
O urubu espera pacientemente que a carne apodreça para melhor digeri-la.
O Deus mercado nos salvará
do venal pecado? – 10 MINUTOS NO CONFESSIONÁRIO – Podcast com Fábio Mozart –
Episódio 26
https://www.radio.diariopb.com.br/deus-do-capitalismo-podcast-com-fabio-mozart-episodio-26/
BARATA ELETRÔNICA ROMPE A BARREIRA DA IMBECILIDADE E SE
TORNA A PRIMEIRA BARATA VACINADA
Rádio
Barata no Ar – Edição nº 223
BARATA MISÓGINA DEBATE CRISE DO TAMPAZ E RECLAMA DA MULHER SEMPRE LIVRE
Rádio Barata no Ar – Edição nº 221
A banana é uma fruta tropical rica
em carboidratos, vitaminas e minerais, fonte de energia, previne doenças
cardíacas, é boa para digestão e se converteu em melhor amiga do homem de meia
idade, a partir do fenômeno observado em um camarada chamado Jejé, natural de Bananeiras,
brejo da Paraíba, ocorrência contada pelo jornalista e memorialista Rubens
Nóbrega, no seu livro “Histórias da gente” que acabei de ler neste domingo. A
partir da narrativa do sexólogo frugívero, passei a compor imediatamente o
folheto “Viagra natural de Bananeiras foi estudado até na Europa”. Acredito que
noventa por cento dos meus leitores já sabe o que significa o vocábulo
“frugívero”. Mas, em respeito à minoria, obrigo-me a esclarecer que frugívero é
a pessoa que tem as frutas como base de sua dieta, regime alimentar do tal Jejé
de Bananeiras. Esse caboclo com mais de setenta anos se mantinha sexualmente
dinâmico, diariamente assíduo e aplicado na cama com sua esposa, dona Ciça,
feliz testemunha ocular e vaginal da banana de Jejé e suas potencialidades.
Conforme o memorialista Nóbrega, a
banana cultivada no sítio de Jejé e por ele consumida em doses cavalares e
muares foi estudada em todos os seus fatores biológicos, psicológicos, sociais
e culturais por técnicos e cientistas da Universidade Federal da Paraíba e do
Colégio Agrícola Vidal de Negreiros, chegando-se à conclusão de que “a banana
de Jejé tinha mais potássio e mais vitamina A e E do que qualquer outra no
planeta, apresentando-se bem maior e mais grossa do que todas as outras
variedades”. A prefeita, dona Martha Ramalho, apressou-se em fixar oficialmente
os direitos de produção e uso da marca, porque a fama da banana de Jejé correu
o mundo e foi parar nos grandes laboratórios farmacêuticos da Europa e Estados
Unidos, interessados em industrializar o “viagra natural” de Bananeiras. O
próprio Jejé foi objeto de pesquisas e testes científicos internacionais, onde
se confirmaram as virtualidades da vigorosa banana.
O cavalheiro ou a dama que quiser saber
sobre a conclusão desse episódio gastronômico sexual que adquira o livro de
Rubens Nóbrega ou espere o lançamento do folheto “Viagra natural de
Bananeiras foi estudado até na Europa”, onde eu começo afirmando que o caju é o
melhor amigo do homem que bebe e a banana é a melhor amiga do varão que gosta
de “fazer amor”, como diria a senhorita recatada e romântica, ou do macho que
aprecia copular, conforme definição do canalha Ameba, comentarista também
presente no citado folheto. Aliás, essa brochura (nada a ver com falta de
ereção), pode ser classificada no gênero cordel de gracejo, ou seja, o folheto
voltado para o mundo do riso, onde se escancara a ironia e a espirituosidade do
povo nordestino por meio dessas histórias rimadas e picantes da literatura de
cordel. Sendo que este cordelista, reconhecido profissionalmente por força de
lei federal, não se detém apenas no campo do cordel de gracejo. Sou orgulhoso
autor, por exemplo, do folheto “A verdadeira história das pedras de Ingá”, onde
misturo arqueologia com putaria, acompanhado desse mestre das ciências ocultas
e apagadas, o poeta Vavá da Luz, xerife do Ingá do Bacamarte e pessoa altamente
astuta, desse povo que dá beliscão em fumaça. Diferente dos estudos clássicos
das civilizações antigas, em geral chatíssimos, meu folheto permite até
comentários desairosos sobre a imemorial rivalidade entre as cidades de João
Pessoa e Campina Grande:
Veja bem o
estratagema
De Campina e João Pessoa
Pra saber quem é mais besta,
Quem mais lorota apregoa.
Um chama o outro “matuto”,
Pra deixar o outro “puto”
Diz que tem mar e lagoa.
Campina Grande entoa
Ser “Rainha do Nordeste”
Quanto à tecnologia.
Diz ser cidade da peste
No comércio de cigano
E ainda todo ano
Faz a sua apologia
Ao baião reverencia
No “maior São João do mundo”.
Com mania de grandeza,
Afirma ser oriundo
De enraizada matriz
E esmerados ardis
Quer ser chamada de alteza.
Essa parte foi inspiração do indecente
Ameba, elemento mais mascarado de que Rubens Nóbrega quando o Vasco é campeão.
https://www.radio.diariopb.com.br/misoginia-podcast-com-fabio-mozart-episodio-24/
“Pois Deus me é testemunha de que tenho saudades de todos vós, na terna misericórdia de Cristo Jesus”. Filipenses 1:8
A reforma tributária do governo pode aumentar em 20% o
preço dos livros. No caso do contista Ofinho, seu livro me saiu a custo zero,
mas sua lembrança de me surpreender no meu recanto no cocuruto da serra não se
estima o valor, porque muito auxiliou na evolução de me reconciliar com o
processo da vida, isolado que estou desde o começo da pandemia. Foi a primeira
visita que recebi em mais de um ano, mesmo porque não conheço ninguém na região
onde moro atualmente.
Ofinho é natural de Solânea, onde reside, e no seu livro
de contos a cidade aparece em retratos rápidos, bem humorados e zombeteiros, mas
dominados por aquela comoção das lembranças do passado. Gostei de cara, li
desembestado as 110 páginas cheias de ironia e fino trato da forma. Ofinho me
surpreende pelo talento de escritor. Eu diria que, para estar ao nível do humor
do livro, Ofinho se apresenta à altura da alta literatura, mesmo porque
Solânea, antiga vila Moreno, está a mil metros acima do nível do mar.
Rachel de Queiroz acredita que “essa capacidade de morrer
de saudades só afeta a quem não cresceu direito, feito uma cobra que se
sentisse melhor na pele antiga, não se acomodando nunca à pele nova”. Mais
lírico, o poeta Moacyr Félix: “Não tenho mais em mim a vida que levei, mas
sinto o mundo caminhar em minha memória”. E é de saudade que fala o livro de
Ofinho, nostalgia que às vezes é pura literatura fantástica, como observou o
prefaciador Rangel Júnior, descambando em alguns contos para delírios
criativos, que “o isolamento da pandemia perturbou o juízo de Wolhfagon Costa”,
ainda conforme o apresentador da obra. Não se define o livro de Ofinho. Às
vezes é crônica ligeira, às vezes contos, outras ocasiões ganha status de poesia,
construída de retalhos de infância nos contrafortes do planalto da Borborema.
As pequenas coisas e loisas do banal dia a dia em uma cidade do interior, com
suas figuras simples e passagens dessa vida besta que encanta, enternece e
surpreende.
Sobre meu compadre Bebé de Natércio, amigo e colega de
trabalho de Ofinho, deu-se a história no ano dois mil, quando o novel escritor
decidiu que seria candidato a vereador em Solânea e precisou dos préstimos do
poeta e compositor Bebé para a feitura de um jingle de campanha. Passados
muitos dias e a eleição às portas, nada de Bebé preparar o trabalho. Ofinho
encontrou Bebé por acaso em mesa de bar, com seu violão criativo. Bebé pegou o
instrumento e cantou o jingle. “Fiz agorinha mesmo, gostou?” Resultado: Ofinho
ganhou a eleição com meio milheiro de votos e Bebé de Natércio ganhou mais um
admirador de sua arte enquanto inserida no contexto social e político do seu
tempo.
Rádio Barata no Ar – Edição nº 219
ABC DE JOÃO
THEOTÔNIO, O POETA GENTILEZA
Agora
vou relatar
A vivência de um bardo
Nascido no Rio Tinto
Esse cidadão galhardo
Por noventa e três bons anos
Feliz, carregou o fardo
Bebendo
a água da vida
Com elegância e gentileza
Respeitando a humanidade
Proletária ou burguesa
De modo fino e educado
Essa foi sua nobreza
Conheça
João Theotônio
Que é da família Carvalho
Em 22 de janeiro
Neste cordel eu detalho
Nascia o nobre poeta
Da sua história me valho
Dentro
da literatura
Para fazer o folheto
Enaltecendo seu Theo
Neste humilde livreto
Aos nobres da Academia
O trabalho submeto
Ele
foi radialista
Foi atleta e foi ator
Grande líder operário
Cordelista de valor
Autor de versos gentis
Sonetista e trovador
Filhos,
ele deixou oito
Com mais dezessete netos
Antes de fechar os olhos
Conheceu cinco bisnetos
Deixou também a saudade
Nos seus amigos diletos
Gerando
vida e exemplo
João Theotônio viveu
Simples, humilde e correto
Grande lição ele deu:
A pessoa cordial
Parte e não envelheceu
Há
noventa e três janeiros
Nascia um homem gentil
Gente fina, de bons modos
Nesse mundo tão hostil
Ardente amante das artes
Com a alma juvenil
Inimigos,
João não tinha
Líder no bairro Bancário
Todo mundo respeitava
O citadino lendário
Recebendo até diploma
De cidadão honorário
João
Theotônio era ouvinte
Assíduo da Tabajara
Rádio que ele viu nascer
Como uma joia rara
Na usina São João
Teve uma vivência rara
Lá
ele botou no ar
No ano 45
Uma emissora AM
E trabalhou com afinco
Pela comunicação
Abrindo do rádio o trinco
Meu
contato com seu Theo
Na Tabajara se deu
Ele sendo entrevistado
A alma fosforesceu
O apreço e simpatia
Logo se estabeleceu
Na
nossa Academia
Seu Theo foi bem recebido
Se fez amigos de todos
Com amor foi acolhido
E sua doce figura
Jamais sofrerá olvido
Outra
faceta de Theo
Acrescento como aporte
Neste modesto trabalho
Como singular recorte:
Seu Theo foi um bom atleta
Do glorioso Auto Esporte
Pelo
Autinho do Amor
Foi seu Theo um campeão
Ganhando do Botafogo
Em distinta ocasião
Isso nos anos cinquenta
Quando o Auto era um timão
Quero
ainda ressaltar
Theotônio escritor
Foi autor de três bons livros
Com sonetos de valor
“Esta chama não se apaga”
Foi esta a última flor
Regada
no seu jardim
De poeta gentileza
Sendo este dote gentil
A sua maior riqueza
Construiu a trova e verso
Com toda delicadeza
Seu
Theo nos deu o exemplo
Que ser cortês não é patente
Não te faz um ser melhor
Nem mais bondoso ou valente
Apenas se sobressai
De muitos faz diferente
Theo,
receba dos confrades
O mais carinhoso abraço
Valeu por ter amarrado
Em nós o mais forte laço
De apreço e amizade
Ocupando o mesmo espaço
Uma
vida dedicada
À arte e urbanidade
João Theotônio nos deixa
Transvazando de saudade
Irrigando a flor da dor
No jardim da amizade
Viver
saudade é melhor
Do que caminhar vazio
Diz o poeta Peninha
Enfrentando o mar bravio
Da solidão dos amigos
Nesse viver arredio
Xodó
dos seus companheiros
E companheiras também
Partiu o amigo Theo
Para o Éden no além
Sempre humilde e educado
Porque assim lhe convém
Zelaremos
pelo nome
Do nosso nobre confrade
Tão simples de coração
Feito de pura bondade
Seu Theo, receba esses versos
Coroados de saudade!