sábado, 30 de abril de 2011

POEMA DE DOMINGO


Trâmites finais



“A morte pousou-me na orelha e disse: viva, porque estou chegando” (Virgílio)


De manhã, o dentifrício
remete a espuma vã
oferecendo a manhã
de penoso sacrifício.


Depois, as horas pendentes
em triste melancolia
assim se passa seu dia
entre dores semoventes.


De noite, segue abismado
para formar tessitura
com fios de amargura,
malha de desesperado.


Na madrugada plangente
por circunstâncias alheias
transborda nas suas veias
amarga e acre aguardente.


Sem cigarro, sem licor,
sem contar com testemunhas,
passa roendo as unhas
a ressonância da dor


De não ir a parte alguma
executando o não-ser,
dizia: quero viver!
boiando ao sabor da espuma


Que do lábio roxo brota
escrevendo uma elegia
terna e triste como o dia
em que tornou-se idiota


Deitado ali no caixão
vendo abrirem mil janelas
e olhando em torno delas
sem ter a percepção


De sua sombra apagada
num estado e condição
de defunto em construção
matéria decapitada.


Foi sua alma penada
com infinita paciência
catar e moer a crença
em doutrina ultrapassada.


Descobriu, pois, sem alarde,
virtude teologal,
que o fim é natural.
Assim fez-se a unidade.

Fábio Mozart

Zequinha Bandeira segurava a flâmula da democracia

Em qualquer lugar ou circunstância deve-se reconhecer e espalhar o brilho da dignidade humana, nesses tempos sombrios de ascendência dos amorais. Se uma vida nada contém de excepcional ou extraordinário, só o exemplo de respeitabilidade e decência vale a pena o registro.



O eterno escrivão do registro civil José Bandeira Júnior, o Zequinha Bandeira, é um itabaianense que ficou na lembrança do meu pai Arnaud Costa, esse jovem de cabelos brancos e memória notável. Com Zequinha Bandeira, meu pai foi desportista e animador social na Itabaiana de tempos longínquos. Os dois eram apaixonados pelo União Esporte Clube, time defendido pelo zagueiro Edmilson Jurema, um atleta de certa forma indisciplinado. Ao passar dos anos, Edmilson Jurema abraçou a profissão de disciplinador, na condição de professor de educação física. Na época em que defendia o velho União, nem sempre primou pela lealdade nos combates dentro das quatro linhas.


Houve uma época em que Zequinha Bandeira acumulava os cargos de diretor do União e presidente da Junta Disciplinar Desportiva. Ocorre que a Junta reuniu-se para julgar um caso de indisciplina do atleta Edmilson. Colocado o processo em pauta, o digno alfaiate Virgílio de Assis, auditor da JDD, sugeriu pena de prisão domiciliar por oito dias ao atleta infrator. Os sete membros da Junta votaram a favor da proposta de punição esdrúxula, que não consta em nenhuma lei esportiva. O presidente da mesa julgadora, mesmo assim, acatou a decisão do colegiado e seu exótico procedimento. Zequinha Bandeira, para não turbar aquele recinto com qualquer laivo de autoritarismo, que não era do seu feitio, respeitou a decisão e mandou o atleta para a prisão domiciliar, desfalcando seu querido União contra o arqui-rival Vila Nova no domingo seguinte.


Para não melindrar a Junta Disciplinar Desportiva, Edmilson ainda fingiu se trancar em casa por um dia. Depois saiu para brincar sua pelada na beira do rio e treinar no União. Consoante se pode perceber, era Zequinha Bandeira um homem da lei, fosse ela qual fosse. Foi vice-prefeito do médico Santiago. Assumiu por alguns dias o posto de prefeito. Competente e conceituado burocrata, deu conta do recado e cuidou bem da pacata e pequena comunidade itabaianense.

Dia do ferroviário



Hoje, 30 de abril, é o Dia do Ferroviário, criado pela Lei Federal 2.061 de 13 de abril de 1953. Dois anos depois eu vim ao mundo, e 21 anos depois entrei para trabalhar na Rede Ferroviária Federal no cargo de rádio-telegrafista. Mas fiz de tudo na estrada de ferro: fui bilheteiro, chefe de estação, manobrador, maquinista, despachante de mercadorias e telefonista. 

A rede ferroviária foi extinta e com ela grande parte dos trabalhadores ferroviários. A estrada de ferro deixou museus, bibliotecas, arquivos, coleções e acervos, prédios históricos, monumentos, locomotivas, vagões, logradouros e sítios. Quase tudo está abandonado. Ajudei a salvar o prédio da estação de Mari, onde terminei meus dias como ferroviário. Hoje lá funciona uma rádio comunitária. Em Sapé, sem ter quem a defendesse, a estação foi demolida pela Prefeitura (desenho maior). Em Itabaiana, a velha estação foi criminosamente desfigurada e entregue a particulares.

No dia do ferroviário, só posso lembrar dos bons tempos dessa modalidade de transporte, e ressaltar a riqueza cultura ligada ao patrimônio imaterial do trem de ferro. O patrimônio imaterial abrange as mais variadas manifestações populares que contribuem para a formação da identidade cultural de um povo. Nem isso foi preservado. 

O Ponto de Cultura Cantiga de Ninar vai apresentar hoje o documentário “Incelência para um trem de ferro”, curta-metragem de Vladimir Carvalho, produzido em 1972. O filme conta a história do Trem de Ferro que cortava os sertões do Nordeste nos anos 50, partindo do momento em que a velha locomotiva é recolhida pelo Museu do Açúcar, no Recife, 30 anos depois. Depoimentos de Luís da Rosa Oiticica, usineiro e diretor do Museu do Açúcar, e do maquinista Joaquim Batista Ferreira.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Hoje é lembrada a morte de Gonzaguinha


Em 29 de abril de 1991, portanto há vinte anos, morria Gonzaguinha, cantor e compositor filho de Luiz Gonzaga, artista ligado ao meio universitário e um crítico da ditadura militar. Foi um artista independente.
Morreu aos 45 anos, de acidente de carro, encerrando uma carreira fascinante no mundo da música brasileira. 

Dia desses, catando discos em uma dessas raríssimas lojas que vendem produtos de qualidade do mercado fonográfico em João Pessoa, pesquei um CD de Gonzaguinha com o conteúdo de dois trabalhos: “Plano de vôo” e Caminhos do Coração”. Beleza pura! No “Caminhos do coração” tem a conhecida “O que é o que é”, rara experiência do cara no mundo do reggae. As músicas que mais gosto: “Grito de alerta”, “Comportamento Geral”, Espero por mim, morena”. “Começaria tudo outra vez”, “Lindo lago do amor”, “Mamão com mel”, “Guerreiro menino”. 

Quando eu tocava violão em mesa de bar, depois da segunda meiota de Pitu, interpretava “Guerreiro menino”: “Um homem se humilha/Se castram seu sonho/Seu sonho é sua vida/E vida é trabalho.../E sem o seu trabalho/O homem não tem honra/E sem a sua honra/Se morre, se mata...” Passional que sou, muitas vezes chorei de impotência ao cantar o drama do povo, do homem desempregado e sujeito a se meter no universo tenebroso da violência e do crime por falta de uma oportunidade de trabalho. 

No dia três de dezembro de 1990, quatro meses antes de morrer, disse Gonzaguinha em uma entrevista: “Eu acho que estou aprendendo aos poucos... né? Eu espero que agora eu agrida menos as pessoas do que há alguns anos atrás, quanto menos eu agredir as pessoas no futuro, para mim é melhor!  Isso é o que eu acho que eu devo conseguir, e que aos poucos eu vou conseguindo, eu ainda tenho muita coisa pra aprender... devagar... e tal. Mas um dia quem sabe eu chego lá, quem sabe daqui a uns vinte anos... quem sabe?... Eu tenho paciência para aprender...”

Vinte anos depois, eu olho pra trás e vejo que vou conseguindo ser mais benevolente com meus semelhantes, vou aprendendo... Quem seria Gonzaguinha hoje, se vivo fosse?

A cantiga ta no forno e já cheira bem!

Orlando Otávio (esq.) entrevistado por Fábio Mozart na Rádio Comunitária Rainha 


Meu compadre Orlando Otávio é um cara inteligente e ótimo compositor. Ele mostrou o esboço da melodia que anda compondo para um poema meu que fala do Cavalo Marinho. É para participar do 2º Festival Acauã de Música Popular na Rádio Comunitária Acauã, de Aparecida/PB. 

Gabriel Garcia Lorca um dia perguntou, de supetão: “É difícil ser poeta?” No que ele mesmo respondeu: “Ou é muito fácil, ou é impossível”. Na verdade, para fazer poesia não precisa o famoso 1% de inspiração mais 99% de transpiração. Tem que ter 100% de piração. O sujeito precisa ser muito doido para fazer poesia. Os caras que são apenas medianamente malucos, conseguem tão somente escrever uns versinhos de pé quebrado, feito esse Leão velho de guerra. O doido varrido, esse é gênio! 

Voltando à música de Orlando Otávio, ele disse que passou uma noite inteira tratando da linha melódica para o poema do Mateus e Catirina. De manhãzinha, esqueceu tudo! Gravou no celular, mas sua filha apagou o teipe. Começou tudo de novo, angustiado por ter perdido o trabalho. Mas agora achou prudente procurar o maestro e primo Luiz Carlos Otávio para escrever a música na pauta e caprichar no ritmo, que vai ser uma pancada de maracatu misturado com coco de roda. 

Mais uma sacação sobre poesia: Paulo Leminski foi um poeta fela da puta! O cara escreveu que toda linguagem tem sua função poética e todo mundo, no dia-a-dia, costuma utilizar a função poética, seja fazendo trocadilhos, ou jogos de palavras, no uso de rimas e em todas as formas de se usar a palavra não para afirmar a realidade, mas para servir ao princípio do prazer. Poesia é a liberdade da linguagem. 

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Do alto da tribuna histórica


Arnaud Costa despachando no seu gabinete, como Secretário Geral da Prefeitura de Itabaiana, em 1963


Advogados de limitada cultura e chicaneiros não gostavam do meu pai quando atuava no judiciário da região do vale do Paraíba, na condição de rábula. É que a inteligência e o saber jurídico do velho Arnaud Costa empanava o pouco brilho de bacharéis de poucas letras, muitos deles amorais. O digno rábula mantinha inviolável a consciência, mas na briga de gato e rato sempre escondia um golpe fatal, o chamado pulo do gato. Tudo de mais importante quanto viu, ouviu e viveu nesse campo vai registrado no seu livro “Memórias esparsas de um rábula”, que a Sociedade Amigos da Rainha do Vale do Paraíba faz reeditar. 

Tenho uma foto que mandei restaurar onde aparece o mestre Arnaud discursando na tribuna do Fórum da Comarca de Itabaiana, defendendo um sujeito que matou a esposa com sete facadas, por questões de ciúme. Os hipócritas intolerantes hão de bradar que isso não é causa que se defenda, distanciados da lógica cultural, dos condicionamentos históricos e esquecidos do direito que tem todo homem ou mulher de ser defendido por um intercessor, seja qual for o crime que tenha cometido. No caso, o homem das sete facadas era um pobre cidadão do povo, e meu pai ficou conhecido como o advogado dos pobres. O rábula Arnaud Costa também defendeu a mulher que matou o marido cozinhando seus miolos com uma chaleira de água fervente, depois de sofrer agressões da vítima por muitos anos.  

No púlpito, volumes da obra de Nelson Hungria, Aníbal Bruno e outros conceituados jurisconsultos. A tribuna de onde discursa o advogado é obra de Luiz Martins de Carvalho, pai do cineasta Vladimir de Carvalho, ex-vereador e músico de Itabaiana. Luiz Martins tocava trombone na banda 24 de Maio e foi um dos maiores artistas da madeira em nossa terra. O Presidente desse Júri foi o juiz Gilson Guedes Cavalcante de Albuquerque, primo do ex-Presidente da Paraíba, João Pessoa. Convocada uma testemunha de defesa, mulher simples do povo, o Juiz interpelou:

--- Jura dizer a verdade, somente a verdade, nada mais do que a verdade?

E a mulher, inocente:

--- O senhor quer a verdade mesmo ou a história que o Dr. Arnaud mandou eu dizer?

Quase que me esqueço de dizer que o réu foi absolvido. Após a sessão do Júri, Dr. Gilson chamou meu pai à parte e recriminou:

--- Arnaud, quando for instruir as tuas testemunhas, vê se explica direitinho como é que funciona este circo!

QUEM LÊ MEU LIVRO



Minha comadre Gil Costa é leitora do livro de crônicas itabaianenses “A Voz de Itabaiana e outras vozes”. Ela é jornalista e radialista, natural de Serra Branca no cariri paraibano. Está no rádio desde os dezessete anos de idade. Começou na Rádio Serra Branca FM.

Gil Costa é apresentadora do programa Jornal Correio da Manhã, na Rádio Itabaiana FM. Paralelamente, faz assessoria nas prefeituras de Pilar e Mogeiro.

Gil tem muitos títulos, mas não quero nem citá-los. Isso fica para currículo ou para necrológico. O título que mais lhe agrada é ser amiga dos amigos. Uma pessoa que conquistou Itabaiana e foi aceita como itabaianense por merecimento. Tem um compadre que diz: "Paris é uma festa, Amsterdan é um carnaval e Itabaiana é uma mãe de leite." A gente dedica estima a quem chega para fazer parte da nossa comunidade. Conheço matrona que veio de Alagoas para cá, e daqui só pretende sair quando mamar a última gota dos peitos generosos da “Rainha”.

Conhecer uma figura como Gil é ter uma sensação de leveza, de encantamento, como receber uma carga de energia positiva emanada pelos bons fluídos que essa caririzeira consegue passar para o seu interlocutor.

Ela gosta de ler no seu programa as crônicas aqui publicadas. Sim, a comadre Gil Costa é sócia do Clube dos Amigos do Ponto de Cultura Cantiga de Ninar. Um beijo pra ela.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Igreja Universal manda o Leão para a fogueira santa para tirar os pecados e limpar os bolsos

Meu leitor Áureo Marins tem 71 anos de idade, é de Rio Grande, no Rio Grande do Sul. Ele é o autor do texto  abaixo.


"Incrédulo, aqui quem escreve é o bispo Mais Cedo da IURD (Igreja Universal Recolhedora de Dindim). Por este texto profano de tua autoria, serás abduzido para nosso TEMPLO CELESTIAL onde passarás por três sessões de descarrego por estares com o diabo no corpo. Terás, também, que participar por duas semanas consecutivas, como castigo, do Movimento Carismático Coisinhas de Satanás. Também passarás pelos seguintes rituais:


NÓ EM CAMISA - Levarás uma camisa de vênus usada, virada do avesso com um nó, entregarás ao bispo Romu e receberás uma oração milagrosa, que afastará todos teus maus pensamentos.


FOGUEIRA SANTA DE ISRAEL - Entregarás o teu pedido de arrependimento pelo texto publicado, solicitando que o mesmo seja queimado em ISRAEL numa grande fogueira em algum ponto histórico da terra santa, como o Monte Sinai. Porém, isto não é gratuito; terás que vender o carro, esvaziar a poupança para que doa no teu bolso e se mostre como sacrifício a Deus.


CORRENTE DOS REVOLTADOS - Escreverás mil vezes, numa folha benta e que custa apenas uma contribuição em dinheiro, "SOU REVOLTADO", que visa expulsar os encostos que em ti habitam, e por fim:


MURAL DA SAGRADA FAMÍLIA - Neste mural, será colocada tua foto de cabeça para baixo, pastores e bispos graduados em velhacarias e patifarias, com as participações especiais do Missionário R.R. Soares, amigo íntimo de DEUS e do esdrúxulo pastor Malafaia, o dócil, primeiro e único, estarão orando em redor dela, para que as maldições que te acompanham caiam por terra. Não te esqueças, meu filho, que Deus é o caminho e eu sou o pedágio. Que a paz esteja convosco. Um grande abraço."

A mão sangrenta de Deus


O judeu americano David Plotz escreveu um livro sobre “as coisas bizarras, hilárias, perturbadoras e maravilhosas da Bíblia”. Ele disse que teve a ideia de escrever o livro depois de ler o capítulo 34 do Gênesis que conta a história de Diná, filha de Jacó, um dos manda-chuvas de Israel do Velho Testamento. A menina sai para passear e é estuprada. Os filhos de Jacó massacram a tribo do homem que a estuprou. Não deixam ninguém vivo. 

Para David, o Deus do Velho Testamento é perverso, mata muita gente sem razão, não é misericordioso nem amoroso, não tem compaixão. “É muito perturbador pensar que esse Deus está cuidando de nós. Fiquei muito bravo depois de ler e passei a desejar que exista algo melhor”, afirma o escritor.

Sobre fatos engraçados da Bíblia, Plotz cita o fato de Deus ter uma obsessão por homens carecas. Ele afirma que homens carecas são puros e diz várias vezes para rasparem a cabeça e o corpo. “Há até um episódio em que um grupo de garotos caçoa do profeta Eliseu chamando-o de careca. Em seguida, aparece um urso enorme e mata 42 crianças por causa disso”, relata David. É improvável que um careca doido saia por aí matando crianças, inspirado nesse fato bíblico?

A Bíblia influenciaria matadores como o anjo da morte em Realengo, no Rio? Pessoas debilitadas mentalmente seriam levadas a atos extremos de violência por fanatismo religioso ou interpretação equivocada de livros como a Bíblia ou o Alcorão? Perguntas que especialistas tentam dar respostas, mas nada é definitivo. 

Conheci um cidadão que andava com uma Bíblia na sacola para demonstrar, onde chegasse, que o livro sagrado dos cristãos é um compêndio de lendas antigas, narrativas poéticas e até obscenas, “mas nunca uma obra inspirada por um Deus onipotente, criador perfeito e virtuoso.”
O fato é que a Bíblia não é literatura para inocentes, pessoas em formação ou debilóides. Tem muitas histórias obscenas, libertinagens, incestos, execuções cruéis, torturas, vinganças terríveis.
Abaixo, algumas citações nesse nível:
***
"Então eu os calquei com cólera, esmaguei-os com fúria; o sangue deles espirrou sobre meu vestuário, manchei todas as minhas roupas." Isaías 63:3
***
"Quanto ao povo que lá se encontrava, fê-lo sair, e colocou-o em trabalhos de serra, de picaretas de ferro e de machados. Fez o mesmo com todas as cidades dos amonitas. Em seguida, Davi voltou para Jerusalém com todo o seu exército." 1 Crônicas 20:3
***
"Despacharei contra ela a peste, inundarei de sangue as suas ruas, onde sucumbirão feridos, golpeados por uma espada, que surgirá de toda parte; assim, saberão que sou eu o Senhor." Ezequiel 28:23
***
"[...] Minha cólera se inflamará e vos farei perecer pela espada; vossas mulheres ficarão viúvas e vossos filhos, órfãos." Êxodo 22:
***
"Eis a praga com que o Senhor vai ferir todos os povos que atacaram Jerusalém: apodrecerá sua carne, estando eles ainda de pé; seus olhos apodrecerão dentro de suas órbitas, e apodrecer-lhes-á a língua dentro da boca." Zacarias 14:
***
"Faze sair do acampamento o blasfemo, e todos aqueles que o ouviram ponham a mão sobre a sua cabeça, e toda a assembléia o apedreje." Levítico 24:14
***
"Acumularei desgraças sobre eles, contra eles esgotarei minhas flechas.
Serão extenuados pela fome, devorados pela febre e pela peste mortal. Incitarei contra eles o dente das feras e o veneno dos animais que rastejam pelo chão. Fora, a espada a semear a orfandade; dentro, um pavor de estarrecer tanto o adolescente como a jovem, tanto o menino de peito como o ancião."
Deuteronômio 32:23~25
***
"Sabei, pois, que morrereis pela espada, fome e peste nessa terra onde quereis ir estabelecer-vos." Jeremias 42:22
***
"Os olhos de quem zomba do pai, de quem se recusa obedecer sua mãe: os corvos da torrente o arrebatarão, os filhos da águia o devorarão." Provérbios 30:17

terça-feira, 26 de abril de 2011

A vida sexual das amebas


Leitora da Toca do Leão solicitou a retirada da gravura que ilustrava a matéria sobre prostituição histórica. Trata-se de uma cena de sexo. Atendi ao pedido da madame, mas não por ter me sensibilizado com seus argumentos de que o blog é acessado por crianças e adolescentes e a tal gravura ofendia a moral e os bons costumes. Mesmo porque, sexo é bom costume desde que o mundo é mundo. 

Mas me diga aí o que faz um sujeito como esse que vos fala humildemente retirar uma reprodução de gravura da idade média, porque foi censurado pelos leitores? Será assexuada essa madame escandalizada? Ia escrever “assexuada que nem uma ameba”, ocasião em que fui criticado pelo meu assessor Ameba. “Epa, esbarra aí! Ameba também tem sexo!”, gritou o safado.

Ameba explicou que a ameba é um dos seres vivos mais simples e primitivos, viventes  há cerca de um bilhão de anos no planeta. Elas são conhecidas pela maneira como se movem lentamente. Talvez a preguiça de Ameba tenha originado seu apelido.

Recentemente, os cientistas descobriram que as amebas também são chegadas a um sexozinho. Antes consideradas criaturas castas, as amebas foram flagradas molhando o biscoito, e não se trata de um comportamento recente. O coito dos amebóides sempre existiu, só que de forma bem discreta. Eles não são chegados a um exibicionismo, diferente de Madame Preciosa que quando está furunfando com Sonsinho, todo o quarteirão fica sabendo pelos seus uivos e guinchos em altos decibéis.  

“Quando se discute o sexo dos protistas ameboides, a evidência existente não nos faz lembrar de castidade, mas sim do Kama Sutra”, compara o cientista Daniel Lahr em seu relatório publicado na edição de março da revista Procedimentos da Sociedade Real B: Ciências Biológicas. As amebas são seres altamente evoluídos no quesito safadeza. 

Mas o que tem a ver o sexo das amebas com a censura consentida ao blog? Confesso que não sei ao certo. Talvez porque não evoluímos o bastante para encarar o sexo com toda a sua carga de humanismo e de ato essencial da vida. A assexualidade, dizem os cientistas, é um jogo perdedor a longo prazo, porque os erros se acumulam no genoma e, transmitidos de geração para geração, podem acabar matando os indivíduos mais novos. Essa teoria é chamada de “catraca de Muller”, e é tradicionalmente usada para explicar porque o sexo evoluiu. O que não evoluiu muito foi nossa cabeça quadrada, por isso a censura a uma obra de arte que tem como tema o ato sexual. Portanto, nesse ângulo continuamos amebas fingindo ser assexuados.

Os elogios eu publico; as ofensas, mando para meu advogado



Prezado Fábio:

Recebi meu exemplar de assinante do “Tribuna do vale”. Gostei muito, principalmente do seu desprendimento em realizar um trabalho desses. Meu Deus! Que alívio ao saber que ainda existe gente da sua espécie neste mundo. Parabéns pela excelente produção, seu Arnaud!
Erasmo Souto – Recife/PE

-----------------------------------------------------------------------------
Parabens glorioso Fábio! Espero que continue crescendo.
O que é bom é para ser visto, admirado e consumido. Mande Pacatuba pra Paris!

Depois lhe solicito o livro.

Abraços.

Marcos Freitas – João Pessoa/PB

----------------------------------------------------------------------------------------
Caro Fábio,

Em minha busca frenética por notícias, textos, vida e obra do poeta Zé da Luz, encontrei a Sociedade Cultural Poeta Zé da Luz em Itabaiana, Paraíba. Te confesso que foi como achar uma luz no fim do túnel. Sou professor de Literatura e me apaixonei pelos textos de Zé da Luz. Tenho dois poemas e mais nada. Queria poder ter mais material e algo sobre sua vida. Sou de Sete Lagoas MG, mas minha mãe é paraibana de Campina Grande, daí este desejo de conhecer mais a cultura do Nordeste. Tá no sangue. Será que pode me ajudar?

Paz e bem!
Luciano Lyra

------------------------------------------------------------------------------------------
Grande poeta Fábio,

Você é merecedor de aplausos e vai poder ir sim à França, se não der para ir em 2012, poderá ser o próximo ano de 2013, o convite está feito. Daqui pra lá dá tempo de procurar um meio de poder publicar seu livro lá. Vi seu empenho, seu interesse e o artista que é. Você tem que voar para o mundo. E divulgar a cultura regional e difundi-la, é o que faço com amor. Precisamos mostrar o que está sendo feito pelos escritores e poetas do nosso país para o mundo e esse é o meu objetivo. Siga em frente que seu momento de brilhar não é só hoje, é para sempre!

Um abraço fraterno!

Jô Mendonça Alcoforado

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Estudantes disseminam literatura em projeto do Ponto de Cultura Cantiga de Ninar





Membros do Conselho Tutelar da Criança e do Adolescente, parceiros do projeto de literatura nas escolas. Ao centro, de vermelho, o autor do livro.

O Ponto de Cultura Cantiga de Ninar realiza a Gincana Cultural Emir Nunes, e uma das tarefas da competição, que envolve seis escolas públicas de Itabaiana, é estimular o gosto pela leitura entre alunos e a população da cidade. O livro “A Voz de Itabaiana e outras vozes”, que conta a história do Município através da literatura de cordel, é utilizado para despertar o interesse pela leitura e pela memória local. Mais de 400 exemplares do livro estão sendo espalhados pelas equipes da Gincana.
Para Débora Lins, coordenadora do projeto e Presidente do Conselho Tutelar da Criança e do Adolescente, a leitura aumenta o poder de criticidade dos alunos. “É fundamental para a aprendizagem do ser humano, pois através da leitura enriquecemos nosso vocabulário e dinamizamos o raciocínio”, disse ela, acrescentando que o gosto pela leitura e o amor à terra natal devem ser estimulados na infância e adolescência.
O autor do livro, Fábio Mozart, disse que espera a adoção da obra na grade curricular pela rede municipal de ensino, como recomenda projeto de lei de um vereador local. “Isso vai contribuir muito para que os estudantes itabaianenses conheçam de forma lúdica e poética a história e a formação de nossa cidade através da poesia de cordel”. O livro “A Voz de Itabaiana e outras vozes” traça o perfil de Itabaiana, conhecida como a “Rainha do vale do Paraíba”, obedecendo a uma cronologia histórica. Contando a história de Itabaiana em versos, o autor também introduz o leitor no universo da poesia narrativa e da literatura de cordel nordestina. “Pode ser uma ferramenta importante tanto para professores e alunos em sala de aula, quanto para leitores de qualquer idade”, declarou Mozart.

O ator Francisco Hernandes lê meu livro




Francisco Hernandes é ator de teatro e capitão do Ponto de Cultura Arte para todos, de Cajazeiras. Esse meu compadre conheço de longas datas. Já foi presidente da Federação Paraibana de Teatro Amador, cargo que passou pra Balula e aí terminou essa aventura de tentativa de organização dos teatristas paraibanos. 

Hernandes é também membro da Associação Cajazeirense de Teatro, animador cultural, cabra bom de brigar a boa briga pela nossa cultura. Atualmente dirige a peça “Uma mulher para dois homens”, espetáculo que pretendo trazer para apresentação no Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, de Itabaiana. 

Na foto, Hernandes posa com meu livro “A Voz de Itabaiana e outras vozes” na frente da Assembléia Legislativa da Paraíba, no dia 28 de abril, data em que fomos ao parlamento para buscar apoio para a continuidade das políticas públicas de cultura no país, notadamente para os pontos de cultura que insistem em sobreviver. 

Ele me contou um episódio de constrangimento da cultura em sua terra. O teatro Íracles Pires virou um bar. Bloquearam as portas para os artistas locais, impedem a participação democrática nesse equipamento público. O cantador e agora gestor público Chico César precisa saber disso. 

Lá como aqui, a Prefeitura menospreza o Ponto de Cultura. Os equipamentos do Ponto de Cultura de Cajazeiras estão na casa de Hernandes que adaptou seu quintal para servir como auditório. O prefeito de lá segue uma tendência de pensamento já consolidado em lugares atrasados gerenciados por pessoas de mentes primárias: cultura é um risco e é também supérfluo.

domingo, 24 de abril de 2011

Adiado relançamento de livro de escritor itabaianense


Será no dia 28 de maio, na Câmara Municipal de Itabaiana, o relançamento do livro “Confissões esparsas de um rábula”, do jornalista e escritor itabaianense Arnaud Costa. O evento estava marcado para 30 de abril, mas foi adiado devido a um problema em uma das máquinas da gráfica responsável pela impressão, em João Pessoa. Por isso, a finalização dos exemplares ficou comprometida.

A obra é o primeiro título das “Edições SARVAP”, selo criado pela Sociedade Amigos da Rainha do Vale do Paraíba para publicar trabalhos de autores itabaianenses. O livro tem cem páginas e conta a trajetória de Arnaud Costa no mundo jurídico, nas décadas de 60/70 em Itabaiana, atuando como rábula, isto é, exercendo a advocacia sem diploma de bacharel.

Por ocasião do lançamento do livro, o grupo de danças “Meninas do rio” executará novos números do seu repertório e será exibido vídeo com depoimentos sobre o autor, Arnaud Costa. Na mesma ocasião, será entregue o Prêmio Leonilla Almeida à jornalista Fabiana Veloso, líder comunitária dona Vilma, nutricionista Patrícia Marsicano e à educadora Rosane Almeida.


POEMA DE DOMINGO


                                                           Adeildo Vieira e Escurinho

Em busca de parceria

Mandei dizer ao mestre Adeildo Vieira: conversando com Laercinho, da Rádio Comunitária Acauã, de Aparecida, ele me convidou para participar do II FAMUP, Festival Acauã de Música Popular, para tentar abocanhar o Prêmio Manoel Ferreira Damião. Será no dia 17 de junho, lá na terra do pássaro que come cobra. Eu fiquei bem balançado. Imediatamente escrevi uma toada que te mando agora, na esperança de que coloques melodia na letra, para uma parceria inédita com vistas ao Festival de Laercinho, que sou doido pra conhecer a Rádio Comunitária Acauã e o Ponto de Cultura Casa de Antonio Nóbrega. 

Adeildo respostou: Eita desafio bacana, Fabio!
A letra é maravilhosa, como, aliás, é tudo que você escreve.
Eu tô num momento de muita agitação por causa de um show que farei com Escurinho no dia 13 de maio e também por causa de um trabalho que faço com o pessoal do Vale do Gramame. São trabalhos de criação e concentração.
Mas a tua letra é realmente algo inspirador. Eu quero, sim, me debruçar sobre ela, mas preciso saber dos prazos. Além do mais, trabalhar numa música dessas requer responsabilidade pra não estragar tão bela letra.

Há braços!

ADEILDO VIEIRA

Fiz o mesmo apelo ao compadre Orlando Otávio, forrozeiro de Itabaiana, que também ficou de esquentar os miolos atrás de uma melodia xoxoteira (de xote!) ou baiãozística para a letra. Se o ritmo é binário ou quaternário, não quero saber. Mas tem que ter sustança vocacional e variedade nas sete notas, se é que me entendem. 

Eis o poema:

Toada de terreiro

Esse cavalo-marinho
De Mateus e Catirina
Imaginária menina
De amor e de carinho
Brinquedo do burburinho
Do eito de cana fina
No Nordeste brasileiro
Dê licença o rabequeiro
Meu mestre Biu da Rabeca
Esse negrinho sapeca
Que me ensinou pastoril
Folguedo do meu Brasil
Parte da geocultura
Semente de plasma pura
Nas tuas veias centrais
Que os tempos não voltam mais
Nem se acende vela ao boi
O folgazão já se foi
Vive tradicionalmente
Longe dos canaviais.

REFRÃO:

Levanta, meu boi, levanta,
Que chegou a tua hora.
O Bastião se espanta
E a Catarina chora.

Um viva para o Mateus
O brincante mascarado
Interagindo animado
Com o diabo e com Deus
Pode ser que eu com os meus
Escape desse estandarte
Pois temos de nossa parte
Nosso mestre Capitão
Junto com o Bastião
Matuto e Pisa-Pilão
Véio Frio e o Vaqueiro
A burra e o boi ligeiro
E o Caboclo de Arubá
Baixando no arraiá
Da bodega de Pereira
Com toada verdadeira
Do mestre Chico do Doce
Se de novo moço eu fosse
Montado na Burra Nova
Já cavaram tua cova
Meu aclamado Saldanha
Tu hoje aqui tu apanha
Até a gata miar
Pois o patrão vai chamar
Mestre senhor de engenho
Para encerrar a função
Através do Valentão
A mão vil do opressor
Portanto, com muita dor,
Digo adeus ao Bastião.

sábado, 23 de abril de 2011

Uma campeã lê meu livro


Ela é Djanete Menezes, itabaianense da gema, campeã de judô na categoria peso-pesado no Norte/Nordeste por várias vezes, 2º lugar no JUBS em Florianópolis em 1989, e mesma colocação no Maranhão no ano seguinte. Hoje é vice-presidente da Federação Paraibana de Judô e árbitra deste esporte. 

Minha amiga de infância mora hoje em João Pessoa, mas está sempre em Itabaiana, envolvida em projetos ligados ao esporte para a juventude. 

Tantas vezes caiu e levantou, tantas vezes perdeu e chorou, ganhou e sorriu diante das dores primárias, que Djan hoje é uma atleta completa dessa arte do judô que ensina a derrubar, mas também instrui nos mistérios do tombo e da nossa capacidade de recomposição a cada queda. 

Djan considera que o judô é, acima de tudo, uma escola de valores, onde se procura ensinar os atletas a serem cidadãos vivendo em harmonia com a sociedade, sempre com respeito pelo próximo.

Homem não vale nada


                                            Chefe Zulu e suas esposas

Quem quiser se iniciar no conhecimento da moderna literatura africana faça como eu, comece ouvindo as palestras da professora Rosilda Alves, da UEPB, e lendo os autores José Eduardo Agualuza, de Angola, e Paulina Chiziane, de Moçambique, mediadores em suas obras desse encontro cultural entre africanos e brasileiros. É a África portuguesa que não conhecemos.

Na palestra que fez durante o lançamento do meu livro “Biu Pacatuba – um herói do nosso tempo”, em Sapé, contou a professora que faz parte dos seus estudos o livro “As mulheres do meu pai”, de Agualuza, narração da história de Laurentina, cineasta moçambicana que reside há muito tempo em Portugal. Ela descobriu que seu pai era um músico angolano, famoso pelo seu talento e por ter 20 filhos com diversas namoradas e esposas. Laurentina percorreu Angola, Namíbia, África do Sul e Moçambique à procura de suas origens.

O outro livro tem o título de Niketche: uma história de poligamia (2005), de Paulina Chiziane. “Conta a história de Tony, um funcionário da
polícia, e sua mulher Rami, casados há vinte anos. Com a descoberta da poligamia do esposo,  Rami  decide  procurar  as  mulheres  do  marido  em  vários  lugares  de  Moçambique: em Maputo, Inhambane, na Zambúzia, na Nampula e em Cabo Delgado.

“Niketche” é uma das danças do norte de Moçambique, extremo oposto de onde mora  Rami.  Ritual de  amor  e  erotismo,  a  dança  é  desempenhada  pelas  meninas  durante  cerimônias  de  iniciação  sexual.  O romance retrata  a  busca  de  Rami  como  uma  incursão  pelo  desconhecido  e  uma  tentativa  de  lidar  com  a  diferença,  simbolizada  pelas amantes do marido. O objetivo desse trabalho é destacar nos dois romances de que forma ocorre a  (des)construção  do  universo  masculino  e  feminino,  a  visão  destruidora da imagem mitificada do herói, o questionamento quanto às identidades, a
partir das referências identitárias e da sexualidade que enveredam na construção do ser humano.” (Rosilda Alves Bezerra)

A mulher do polígamo encontra uma de suas mulheres. Entre as duas trava-se o diálogo:

-- Você sabia que ele era casado comigo? Por que você ficou com ele, sabendo que tem tantas mulheres?

-- Não vejo nada demais. Até tenho outro amante além do seu marido, que passa muito tempo sem aparecer. Esse outro meu amante é um homem bom, atencioso, sabe tratar uma mulher. Quer experimentar esse meu amante por uma noite?

A mulher ficou horrorizada:

-- Como é que você tem coragem de emprestar seu amante a outra mulher?

-- Minha filha, a gente empresta uma colher de pau, que tem tanta utilidade, quanto mais um homem!

A moça não era possessiva.  Vinha de uma terra onde a solidariedade não tem  fronteiras.  “Sou de um lugar onde se empresta o marido à melhor amiga para fazer um filho, com a mesma facilidade que se empresta uma colher de pau”. (CHIZIANE, 2004, p. 82).

O homem que engoliu uma baleia no Sábado de Aleluia



 
O título deste post lembra os letreiros dos folhetos de feira. É para fazer refletir sobre um poeta chamado de “gabinete”, talvez um dos dois maiores do universo. Poeta de “gabinete” é o cara que escreve versos populares. Já o “gabinete” também pode ser um estilo de cantoria de repente. 

Completou cento e vinte anos de nascimento do poeta popular João Martins de Athayde. Nasceu em Ingá do Bacamarte, no dia de São João, e morreu no Recife, em 59. Na capital de Pernambuco, montou gráfica e saiu escrevendo folhetos sobre os ocorridos do dia. Era o repórter do povo, mostrando a notícia com ironia e críticas aos costumes da época, nas sextilhas do cordel. Os romances de João Martins de Athayde ainda hoje são publicados. 

O poeta escrevia, imprimia suas obras e cantava no meio das feiras livres, nas fazendas e onde fosse chamado. Gostava também de improvisar nas pelejas memoráveis. Conta-se que um dia se pegou com um cantador chamado Raimundo Pelado. Em certo momento, Pelado cantou:
Eu sozinho amarrei uma baleia/em um dia de Sábado de Aleluia/Desgotei o mar negro com uma cuia/me alegrando com o canto da sereia/o mar todo ficou seco na areia/fui forneiro na tenda de Vulcano/viajei por detrás do oceano/tudo isso eu faço sem trabalho/como é que agora me atrapalho/com esse pobre cantor paraibano.

JOÃO MARTINS DE ATHAYDE:

Lá no meio do túnel de Russinha/trem da serra descia em desfilada/com o tombo que dei na retaguarda/rebolei todo o trem fora da linha/atendendo um amigo que ali vinha/porque ele não podia ter demora/de um cardeiro eu peguei, fiz uma escora/fiz alavanca de dois cambões de milho/novamente botei o trem no trilho/maquinista apitou e foi embora.

João Martins de Athayde e Leandro Gomes de Barros são considerados os maiores poetas populares do Brasil em todos os tempos. Sua obra, calculada em mais de 300 folhetos, já vendeu mais de dois milhões de exemplares. Ariano Suassuna bebeu na fonte desses monstros sagrados da poética popular. “São legítimos representantes do Brasil em estado puro”, disse deles Carlos Drummond de Andrade. Perto da imensa fogueira do talento e da produtividade de João Martins, Zé da Luz é um vagalume na mata.  

Em Sapé, a cidade faz festa o ano todo para lembrar Augusto dos Anjos. Ingá deveria pegar o nome de João Martins de Athayde e fazer dele cavalo de batalha para alavancar o turismo cultural. Mas falta mentalidade aos próceres ingaenses. Lá também tem pra mostrar um dos mais importantes monumentos arqueológicos do mundo, a Itacoatiara de Ingá. Com essas duas incomensuráveis pedras no jogo do turismo, qualquer cidade com um mínimo de estrutura, mas com tino e discernimento gerencial, estaria feita. Contando com a indulgência dos amigos ingaenses, tenho que afirmar que a renda per capita desse município só não aumenta significativamente por falta de vontade política ou capacidade gestora. Mas pano para as mangas Ingá tem, e muito. Meu compadre Vavá da Luz sabe disso.

Aqui em Itabaiana, somos berços de artistas do naipe de Sivuca e Zé da Luz. Pergunte onde é o memorial de Sivuca na sua terra. Onde está o museu da cidade? Cadê a estrutura para receber um mísero turista? A doença é geral e o remédio é mentalidade moderna para botar sangue novo na anemia do atraso.  
       

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Há controvérsias...

No dia 22 de abril de 1.500, chega ao Brasil a esquadra de Pedro Álvares Cabral, considerado o primeiro europeu a pisar nesta terra. Há controvérsias.

No dia 22 de abril de 1769, Madame du Barry torna-se a concubina oficial de Luiz XV. Hoje, Madame Preciosa diz que é a concubina oficial de Sonsinho, “muito mais gostosinho do que o Rei francês, com o mesmo apego à coroa.” Há controvérsias.

No dia 22 de abril de 2011, sexta-feira, a Igreja Católica Apostólica Romana celebra a morte de Jesus. “Podemos afirmar, à luz dos evangelhos, que Jesus morreu numa quarta-feira”. (Celso Guerche). Há controvérsias. 

O filme A paixão de Cristo, de Mel Gibson, teve o orçamento de 25 milhões de dólares e rendeu mundialmente em torno de 611 milhões de dólares. “O auto da paixão de Cristo” encenado pelo Grupo Experimental de Teatro de Itabaiana em 1976, rendeu na bilheteria cento e trinta cruzeiros, dinheiro suficiente para duas garrafas de Pitu, dezoito cervejas, seis salsichas e dois galetos para o elenco, além de duas carteiras de cigarro Continental sem filtro. Há controvérsias. 

Dizem que os versos abaixo foram cantados por Zé Limeira, um poeta repentista paraibano analfabeto. Há controvérsias.

Sara casou com Abraão
num dia de santo rei.
Três dia após o casório,
Gandhi recebeu um e-mêi,
onde Agar comunicava
que a patroa emprenhada
deu a luz naquele mês.
Adicionar imagem
Três reis magos lá chegaram
montando uma bicicleta
e entoando a marselhesa
sua canção predileta.
Quando avistaram Abraão
entregaram a saudação
do Saci, príncipe de Creta.

O rei D. Pedro levou
pra criança um banzai,
pra Sara um espartilho
e de presente pro pai
uma maquete da bastilha
que ele comprou em Brasília
na feira do Paraguai.

A criança era Jesus,
virtuoso e ativista.
Aos treze fugiu pra Cuba
pra se tornar comunista.
Transformava gato e boi,
e vinte anos depois
foi fichado na polícia.

Mas fugiu para o Brasil
no lombo quente d'um burro,
disfarçado de judeu,
cabelo grande e barbudo.
Quando apeou no sertão
botou pra correr o cão
dos arredó de Canudos.

Graduou-se à distância
em Oratória Funesta.
Perseguindo a vocação
fez um curso pra Profeta,
botou um roupão de 'nhagem
sem jóia, sem maquiagem,
sem riqueza e sem cueca.

Fez fama nas redondezas
pelas coisas que falava
dentro da mente de todos
seu perfil se agigantava.
E em sua prosa segura
o povo viu a figura
do Messias que esperava.

No sermão em Chorrochó,
mais de mil gente se aninha
ao redor do santo Cristo,
entoando ladainha,
pra ouvir que a terra dura
há de virar rapadura
e o pó virar farinha.

Falava ao povo pobre
que o mundo se escafedia,
que sobre o Cocorobó
a lua despencaria,
e a cabeça do pagão
entre as meada dum pão
o diabo comeria.

Um cangaceiro chorava
Abraçado ao seu fuzil
numa emoção tão grande
que chega a fome fugiu.
Nesse dia um aleijado
levantou emocionado,
mas o coitado caiu.

E a fama de milagreiro
Pelo sertão se espalhou.
Diziam que em plena seca
no céu azul trovejou,
e que apareceu nos galho
das árvores um orvalho
quando o santo espirrou.

Alguns levavam nas costas
uma grande cruz de enfeite,
outros cingiam na testa
um pouquinho de azeite.
Nesses dias de emoção
foi tanta fé no sertão
que choveu café-com-leite.

[Fragmentos extraídos do cordel O Evangelho Segundo Zé Limeira, de Salatiel Ribeiro]

FRASES


Frases imortais de Ameba e outros poetas
(Com licença poética e plagiática de Irene Carbaliddo)
  • "Quanto mais vazia a vida, mais ela pesa"
  •  "Tem dia que você é o pombo. Tem dia que é a estátua"
  •  
  •  "Se Sonsinho é burro? O elevador dele não vai até o último andar não"
  •  
  • Como diz Biu Penca Preta: “Não gosto de água, bebo ela socialmente...”
  •  
  • “Meu estômago me embrulha o presente...”
  •  
  • “O amor é cego. O casamento é que lhe devolve a visão"
  •  
  • Como diz Platão: "O pensamento é o discurso silencioso da alma"
  •  
  • Como diz Sonsinho: “"Vamos arrumar isso aqui: verdura com verdura, podruto de limpeza com podruto de limpeza, latrocínio com latrocínio”
  •  
  • Como diz Mario Quintana: "O passado não reconhece o seu lugar: está sempre presente." 
  •  
  • Como diz Joel Silveira: "O mal do Brasil é que o país é brasileiro demais"
  •  
  • “Eu não sei se Deus é brasileiro, mas com certeza ele não é haitiano”
  •  
  • Como diz Oscar Wilde: "Se você não demorar muito, posso esperá-lo por toda a minha vida."
  •  
  • Como diz Sonsinho: "Esse óculos é bom contra raios ultra violentos"
  •  
  • "No trânsito, se eu estiver com dor de barriga, a preferência é sempre minha"
  •  
  • Como diz Madame Preciosa: " Se você não é bonito nem rico, pelo menos tem que ser cheiroso"
  •  
  • "Papai Noel existe, o que não existe é aquela roupa dele"
  •  
  • Como diz Sonsinho: "Como é o nome do cachorro do Skooby Doo?"
  •  
  • "Só tem duas coisas certas no mundo: a morte e a matemática"
  •  
  • " Aeromoça é uma garçonete que voa."
  •  
  • Como diz Sonsinho: "Eu quero internet manga larga"
  •  
  • Como diz Wood Allen: "Deus está morto, Freud está morto e eu mesmo não me sinto lá muito bem"
  •  
  • Como diz Sonsinho: "Sou um cara tipo assim BBB: bom, bonito e gostoso"
  •  
  • "Quem não quer ser humilhado não mija perto de jumento"
  •  
  • "Dinheiro pouco eu tenho muito"
  •  
  • "Eu não acredito em ETs, eles são mentirosos"
  •  
  • Como diz Sonsinho: “"Um beijo pra você e ostensivo a toda sua família"
  •  
  • Como diz Biu Penca Preta: "Aquele que não tem medo da verdade coça o cu e cheira o dedo"
  •   
  • “Que o mel é doce eu não posso afirmar, mas que parece doce eu afirmo plenamente” -  Raul Seixas