sábado, 31 de outubro de 2015

Compadre Semeão, da confraria do Fogão

 


Outro trabalhador que encontrei em Itabaiana foi o compadre Semeão Rodrigues, borracheiro que virou vereador, gente fina, sempre disposto a colaborar nas ações do Ponto de Cultura Cantiga de Ninar.

Assim como não existe mais shampoo para cabelos “normais”, noto que é raríssimo achar uma pessoa que esteja no cargo de vereador e não seja um vereador profissional, desses carreiristas que tomam gosto pela mamata de ganhar um ótimo salário para comparecer a uma sessão semanal na Câmara. Semeão até já me disse que se decepcionou com a política e com a vereança. Pensava que iria ajudar a melhorar alguma coisa na sua comunidade, mas aí é onde a porca da burocracia e dos interesses mesquinhos dos seus pares e ímpares torce o rabo.

Eu digo que Semeão é um cara legal porque, entre outras coisas, é torcedor devoto do “glorioso”. Quem é admirador do Fogão não pode ser uma pessoa má. Pelo menos fica naquela aceitável linha da decência e dignidade. Mesmo que conviva com toda carga negativa do cargo. O político, como um todo, é mal visto pela população. E eles concorrem pra isso. O vereador Odilon Rocha, de Parauapebas, no Pará, disse na internet com todas as letras: “Vereador ganha ruim e se não se corromper, mal se sustenta”. Meu compadre Semeão não vive disso, é um trabalhador que ganha seu sustento da sua atividade de borracheiro com dignidade e coragem. Não vai fazer carreira na Câmara e nem deixar de amar o nosso Botafogo Futebol e Regatas.

Botafoguense é solidário. Botafoguense não sofre, se purifica. Um torcedor anônimo escreveu no muro: “Eu não sou Botafogo doente. Doente é quem não torce pelo Botafogo”.  O poeta Vinicius de Moraes cravou: “Ser Botafogo não se trata de uma paixão, mas de uma senha para a cidadania”. Outra, de Paulo Mendes Campos: “Botafogo é um menino de rua perdido na poética dramaticidade do futebol.” E o eterno cronista Armando Nogueira definiu: “O Botafogo é bem mais que um clube – é uma predestinação celestial.”

“Feliz daquele que tem por guia e emblema uma estrela apontando o caminho da luz”, arremata Armando. Eu e Semeão somos dessa confraria. Por isso tive a satisfação de doar uma camisa do Fogão ao compadre Semeão, tudo na rima do ão que é rima pobre, mas é sobre a rica torcida desse time que aceita provocação e sabe se superar.

 

 


 

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Tula garante que foi ele quem fundou Itabaiana, depois de expulsar os índios cariris



O tempo passa para tudo e para todos, menos para Tula. Esse é eterno. Pelo menos sua arte simples vai ficar aqui quase para sempre, porque ele trabalha com ferro e solda. Com sucatas de aço, flandres e ferro, constrói seus carrinhos, suas locomotivas e brinquedos, entre outras criações. Aprendeu o artesanato de reciclagem trabalhando na sua oficina de serralheiro. Jamais foi reconhecido e nem liga pra isso. Sempre sujo de fuligem, vestígio de sua arte de soldar e esmerilhar lâminas de aço, Tula é um trabalhador de Itabaiana do Norte com mãos machucadas e grossas, olhos quase cegos de trabalhar com solda elétrica sem usar óculos, mas com uma leveza de alma que só vendo!

 

Tula parece uma criança que nunca deixou de ser. De riso fácil e alegria leve, enfrenta a brutalidade do ferro e da vida com a maior descontração. Diz que tem mais de cem anos, mas parece que beira os oitenta. “Eu fundei Itabaiana”, diz com um sorriso. Cresceu ajudando nos serviços de solda, onde aprendeu a fazer peças metálicas. Brincando, construiu um boneco feito de porcas e parafusos. Achou bacana e foi amadurecendo sua arte.

 

Meu compadre Tula é um artista popular que mereceria recompensa e galardão pelo trabalho que faz, coisa que está tão longe quanto a terra do sol numa terra onde um pintor como Otto Cavalcanti jamais teve apoio para mostrar seu trabalho internacional, mestre que é do universo das artes visuais da Europa. Aqui fica meu registro dessa pessoa singela e inocente, o velho Tula que encontrei pelas ruas da velha Itabaiana do Norte nesta tarde de quarta-feira, 28 de outubro.


Um dia, quem sabe, serei o marchand que divulgará o trabalho de Tula. Se eu pudesse, cuidaria pessoalmente para que o trabalho de artistas como Tula pudesse ganhar cada vez mais o respeito dos seus conterrâneos. 

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

VAQUINHA CULTURAL

Eu entrevistando Otto Cavalcanti em 2010 em João Pessoa

Até o final de 2015, nós estaremos promovendo a 1ª exposição do artista plástico Otto Cavalcanti na Paraíba. Servirá como um caminho não só para a difusão da obra desse grande mestre itabaianense, reconhecido na Europa, mas como um meio para levar a informação para uma audiência mais ampla sobre questões relativas à preservação dos nossos bens históricos materiais e imateriais.

Nós adoraríamos convidar você para contribuir com qualquer valor para terminar os trabalhos de emolduramento das 20 telas do artista. Já desembolsei R$ 200 reais do meu magro orçamento de aposentado, e espero contar com a ajuda dos compadres e comadres que comungam com a proposta desse projeto para terminar de colocar os arcos de armação das telas.

Para contribuir com fundo para essa campanha, mande mensagem in box no meu Facebook ou pelo e-mail (mozartpe.gmail.com)

(Seu nome, ou de sua empresa, serão citados no folder da exposição)

Familiares de Chico Veneno prestigiam relançamento de jornal após 50 anos em Itabaiana


Familiares de Chico, entre eles sua filha, Tabira, a 4ª da direita para a esquerda (Foto: Michel Melo)

Consumado o golpe militar de 1964  no Brasil, dominado o Congresso Nacional, através da cassação de mandatos parlamentares, exiladas as principais lideranças do país, reprimido com violência o movimento estudantil, presos políticos abarrotando penitenciárias em todo o país. Eis o cenário imposto pelos militares no poder. Cerceada a oposição legal, através de extinção dos partidos políticos tradicionais e com o bipartidarismo imposto pela força, emergiram lideranças corajosas entre os estudantes, profissionais liberais e até religiosos no combate à ditadura. Uns optaram pela luta armada, outros fizeram da imprensa independente sua trincheira de luta. Um desses foi o agitador cultural e político Francisco Joaquim de Almeida Neto, o Chico Veneno, de Itabaiana, cujo jornal “Evolução” foi um marco na imprensa combativa dessa cidade nos anos de chumbo, entre 1964 e 1968.

O jornal de Chico foi reeditado pelos jornalistas Fábio Mozart e Socorro Almeida, cujo número inicial desta nova etapa da publicação foi lançado nesta quarta-feira, 28, no Maison Finesse em Itabaiana, com presença de ex-companheiros de Chico, como o professor Israel Elídio de Carvalho Filho, e familiares do jornalista homenageado. A irmã, Lourdinha Almeida, fez um breve relato de sua trajetória política e artística. Chico foi também cineasta e escritor. 

O jornal será distribuído gratuitamente na comunidade, e servirá de laboratório para estudantes de comunicação e outros agentes sociais e culturais da cidade. 

Na mesma noite, foi lançado o CD Vitalidade, do compositor Vital Alves, que ofereceu ao público presente uma mostra do seu trabalho.

O jornal “Evolução” tem patrocínio do Fundo de Incentivo à Cultura Augusto dos Anjos, da Secult/PB.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Confirmado lançamento de CD e jornal de cultura nesta quarta-feira em Itabaiana



Nesta quarta-feira, 28, às 20 horas, na Casa de Recepções Maison Finesse, a jornalista Socorro Almeida promoverá o relançamento do jornal “Evolução”, fundando em 1964 por Francisco Joaquim de Almeida Neto. Na ocasião, o cantor e compositor Vital Alves também apresentará seu mais novo trabalho, o CD “Vitalidade”.

Confirmaram presença o Presidente da Academia de Letras da  Paraíba, poeta Damião Ramos Cavalcante, o Secretário de Cultura de Itabaiana, empresário Luciano Marinho e o Presidente da Academia de Cordel do Vale do Paraíba, Sander Lee, que também lançará o folheto “A peleja de Fábio Mozart e Sander Lee na feira de Itabaiana”.
O jornal Evolução é editado pela jornalista Socorro Almeida, prima de Chico Veneno, como era conhecido o fundador da publicação. “O jornalista Chico foi um importante líder cultural e político de Itabaiana que, em plena ditadura, procurava com seu jornal organizar a sociedade civil, dando visibilidade aos tradicionalmente excluídos em nossa cidade”, esclareceu Socorro.
O jornal tem como um dos objetivos trabalhar com estudantes, artistas e lideranças populares, “sem atrelamento político ou de grupo”, divulgando a produção e os eventos locais e preservando a memória cultural da cidade.
O projeto tem patrocínio do Fundo de Incentivo à Cultura Augusto dos Anjos, da Secult/PB.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Mais fuleragem de Biu Penca Preta




Quando eu falo que esse Biu Penca Preta é um maluco doideira mala, a galera não acredita. Estava eu na aprazível e abandonada cidade Itabaiana do Norte quando encontro esse Biu no beco da merda, atual Rua Meira de Vasconcelos. O bicho vinha com jeitão de gambá: fedendo e avinhado.
--- Tou procurando Didi do Correio – disse o maluco.
--- Procurando o carteiro num dia de domingo, com a cuca cheia de mé de tubiba? Pra que?
--- É porque, com essa cachaça que ta dentro de minha cabecinha, só chego em casa pelo correio – respondeu o pinguço.

* * *

Penca Preta foi funcionário do Departamento de Estradas de Rodagem. Ficou nos anais da repartição como um dos mais inativos, indolentes e negligentes do quadro de servidores da autarquia. Num determinado dia, o engenheiro pediu a transferência de Severino Penca para outro distrito. O outro chefe, sabendo da malandragem do servidor Biu Penca Preta, respondeu por telegrama: “Aqui só tinha uma vaga para um vagabundo vg e essa eu mesmo ocupei PT Saudações”.

 * * *

Eu e minha turma dos anos 70 fomos fregueses de carteirinha da pensão de Madrinha Nevinha Rica, um prostíbulo respeitável onde reinava mais gentileza e ética do que na Câmara dos Vereadores.  Em troca de meia garrafa de Pitu e um prato de feijão verde, Nevinha Rica mandou Biu Penca Preta pintar um cartaz para colocar na sala de visitas: “Embora não pareça, o ambiente é familiar”.

* * *
Estava compadre Biu Penca tomando sua refeição de caldo da caridade, primeiro lugar contra ressacas em geral, quando adentra ao gramado de Nevinha Rica o vistoso e basbaque elemento alcunhado por Tiá.
--- Vamos almoçar, Tiá?
Tiá já foi puxando a cadeira e se abancando.
--- Ôxe, agorinha mesmo! Tou com uma fome de anteontem!
E Biu, colérico:
--- Tiá, deixa de ser ignorante e mal educado. Quando a gente convida pra almoçar, é pro cabra dizer: “Não, muito obrigado!”. Desapareça da minha frente e vá aprender a ser um cavalheiro, seu desgraça!

* * *

Deu-se que Biu se deu mal com alguns condimentos da sopa de Nevinha, foi parar no Hospital. A primeira visita que recebeu foi de uma irmã de caridade, a freira Mocinha de Jesus, uma santa mulher que gostava de fazer filantropia. A freirinha chegou na enfermaria, aproximou-se da cama de Biu com uma sacola na mão.
--- Seu Severino, eu trouxe uma coisa que o senhor gosta muito e que faz tempo que não come. Adivinhe o que é?
E Biu, safado:
--- Irmã, uma coisa que eu gosto e que nunca mais comi... só se for priquito!

* * *

João Corninho era zelador da rodoviária. Irmão de Biu Penca Preta, o famoso cabeça de navio. Apareceu um senhor do Recife, com algumas malas. João ajudou o viajante, que em troca lhe deu dez cruzeiros. Antes, observou:
--- Rapaz, tu és feio que só a necessidade. Este cabra foi feito na forma de fazer marmota! Vou te dar cinco pela ajuda e cinco pela feiúra.
João recebe o pagamento e avalia:
--- Se o senhor visse meu irmão Biu Penca Preta, dava era vinte!

* * *

Essa quem contou foi Marcos Veloso Vovô, acontecido com Walter Munganga, locutor da Rádio Difusora Nazaré, do meu compadre e conterrâneo Ivo Severo. Walter arranjou uma namorada em Recife, por correspondência. Carta vai, carta vem, com o detalhe: quem escrevia as cartas de Walter era o próprio Veloso, já que o locutor não tinha muita paciência com as letras.
Depois de muita troca de cartas, Walter indaga de Marcos:
--- Veloso, e meu namoro, como vai? Nunca mais recebi carta da namorada do Recife.
--- Seu namoro? Acabei, faz tempo!
--- Acabou? Por que?
--- Ela veio com uma historinha de casamento, e como sei que tu não se amarra nesse negócio, resolvi dar por encerrado o namoro antes que virasse noivado.

* * *

Biu Penca Preta nunca foi de acompanhar eleição, mas aconteceu uma briga feia na cidade. Campanha pra prefeito. De um lado, Josué Urubu Rei e do outro, o Padre João. Biu torcia pelo Padre.
No dia da eleição, começou a apuração na Câmara. O povão no sol quente, torcendo pelos seus candidatos. Biu tomava sua caninha, descontando o tempo da lei seca que a Justiça Eleitoral decretava. O padre começou a perder nos votos. Biu perde as esperanças e se manda pra rua da Palha, onde morava, curtir a derrota do seu candidato. Passando na Rua Floriano Peixoto, o locutor Raminho do Bode pergunta:
--- Biu, quem vai na frente?
E Biu, arretado e já avinhado:
--- É minha pica quem vai na frente!

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

domingo, 25 de outubro de 2015

POEMA DO DOMINGO


SESSENTA ANOS DO VELHO LEÃO

Rapaz, fui ali no brejo e quando voltei já estava com sessenta anos!
Devo comemorar ou lastimar? 
Idoso - idade igual ou superior a 60 anos (Estatuto do idoso).

Minha idade atual: 60 anos. Mas, minha jovialidade disso não toma conhecimento. Estacionei em trinta. Continuo fazendo as mesmas besteiras da mocidade. 
Velhice é como a morte: você sabe que vai acontecer, mas não tem como evitar. E nunca está preparado.
Para marcar esse 25 de outubro, escolhi esse poema de James Tade:



O DIAGNÓSTICO

Lincoln tinha sessenta anos de idade quando
o médico lhe disse que só viveria mais quarenta
anos. Ele não contou para sua esposa, com quem
dividia tudo, nem para os amigos,
porque essa nova revelação o fazia sentir-se
sozinho como nunca havia se sentido antes.
Ele e Rachel sempre foram muito
unidos, e se ela soubesse
o diagnóstico se sentiria sozinha
também. Mas Rachel percebeu sua mudança
e em poucos dias entendeu
tudo. "Você está morrendo', ela disse, "não
está?" "Sim, estou morrendo", Lincoln respondeu, "Eu só tenho
mais quarenta anos". "Sinto você se afastando
de mim desde já" ela disse. 'E é isso
que te mata", Lincoln sussurrou.

[James Tate, trad. Bruno Brum - SuplementG] 


sábado, 24 de outubro de 2015

Programa radiofônico discute patrimônio histórico de Itabaiana neste sábado

Unhandeijara Lisboa, mestre das artes visuais

O programa “Alô comunidade” recebe hoje, sábado, 24, o mestre em artes visuais Unhandeijara Lisboa e o sindicalista Valdo Almeida para debate sobre preservação dopatrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico da cidade de Itabaiana, com a participação da poetisa Renaly Oliveira, do Núcleo de Patrimônio Histórico do Ponto de Cultura Cantiga de Ninar. Tem início às 14 horas pela Rádio Tabajara da Paraíba AM, na frequência 1.110 KHZ. 
“Alô comunidade” é um programa da Rádio Comunitária Zumbi dos Palmares em parceria com a Rádio Tabajara da Paraíba AM – Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, Coletivo de Jornalistas Novos Rumos, Sociedade Cultural Posse Nova República.

Ouça em tempo real pela Rádio Comunitária Zumbi dos Palmares:

Ou pelo site da Rádio Tabajara da Paraíba AM (1.110 KHZ):

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Empreste seus ouvidos pra gente despejar multimistura de titica


Informações tardias, piadas de amadores, música ao vivo, discussão inútil, futebol, teatro, política, impeachment, ratos de esgotos e parlamentos, teses idiotas, crise de fígado e outras crises menos votadas, situação político-econômica complicada dos debatedores, palpites geralmente infelizes e meio bêbados, corruptos e corruptores sendo julgados por uma equipe mais ou menos suspeita de desviar a grana de pagar o mercadinho para comprar água que sabiá não bebe, tudo dentro de um cenário surreal, um estúdio de rádio improvisado nos fundos da casa de um desses papangus de novena.

Isso é o programa “Multimistura”, que será transmitido neste domingo, 25 de outubro, no bairro do Cuiá, na Rádio Comunitária Zumbi dos Palmares, na cidade Parahyba do Norte. Na primeira edição dessa tentativa de fazer um programa de debate sem pauta e com peita, apresentam-se como âncoras o locutor que humildemente vos tecla, o médium mediador baiano Dalmo Oliveira, o Glauber Rocha da periferia que atende pelo nome de Marcos Veloso e o doutor Beto Palhano, encarregado de apontar as falhas coletivas e encher os copos vazios.

Se terá ouvintes? Certamente, o bebinho que mora na casa ao lado estará a postos, contribuindo com algumas reflexões pornográficas para o conteúdo do Multimistura, concorrendo, mesmo sem ser convidado, para o enfrentamento da crise de disfunção eréctil-econômica-intelectual dos mediadores.

Essa fuleragem pode vazar na rede graças ao comando técnico de Jacinto Moreno, engenheiro de som da Rádio Web Zumbi. Trata-se de um programa autoral sem compromisso com a moral, uma viagem divagando pelos espaços do idiotismo em seu estado puro.

O esquema é mais ou menos parecido com aquelas mesas redondas sobre futebol, frequentes nos canais esportivos, onde se reúnem quatro ou cinco patetas para falar, todos ao mesmo tempo, sobre abobrinhas, cretinices, maluquices e leseiras.
Por que as pessoas gastam seu tempo com babugens desse tipo? Eu, por exemplo, que não me limito ao possível, ao prático, ao rendável, ao gosto comum, ao legítimo, ao permitido, enfim. Eu, que gosto de me divertir com as inconsequências da vida besta.

Se você quiser me ouvir nessa Multimistura, é só captar o som no blog da Rádio Comunitária Zumbi dos Palmares:

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Como olhar para trás e ver novos horizontes


Chico Veneno viveu nesta Itabaiana do Norte nos anos 60/70, e aqui construiu fama de revolucionário corajoso, questionador das malandragens, da falta de caráter, do oportunismo de certas figuras que “comandavam” a bela cidade onde nasceram Vladimir Carvalho e Zé da Luz.  Em 1964, lançou o jornal EVOLUÇÃO. Igual a muita gente boa, caiu no arrastão da ditadura, foi preso, perseguido, torturado. Deixou um legado de idealismo e bravura na luta por um mundo melhor.

No dia 28 de outubro, próxima quarta-feira, estaremos relançando seu jornal EVOLUÇÃO, como uma forma de deixar para as novas gerações as ideias políticas e culturais de Francisco Joaquim de Almeida Neto. Vida é transposição, continuidade. Hoje, temos figuras humanas com a mesma coragem cívica e o mesmo talento de Chico. Falta a revelação. É para isso, também, que estamos relançando o EVOLUÇÃO, para dar espaço a novos talentos e oferecer guarida para ideias e lutas revolucionárias. Fora desses objetivos, o jornal seria apenas um projeto gratuito e superficial. Não sei se alcançaremos os fins. Mas, pelo menos resgataremos essa personalidade extraordinária que fez história em Itabaiana do Norte.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Som da feira

A feira continua rendendo produção cultural. Depois do lançamento do meu folheto a quatro mãos, “A peleja de Sander Lee com Fábio Mozart na feira de Itabaiana”, surge o CD “Som da feira”, do Arnaud Neto, que se queixa de que é neto do meu pai Arnaud e filho meu.


O CD é composto de 10 cantigas nordestinas, aliás, nove. A outra é Ave Maria de um cabra chamado Johann Sebastian Bach, com a voz de Arnaud Neto e solos do seu saxofone tenor já famoso na praia do Jacaré em Cabedelo, onde toca o Bolero de Ravel diariamente, ao cair das tardes.

Som da Feira é um produto fora do mercado, com uma tiragem pequena, só para os fãs do músico. Quem quiser um exemplar, pode me pedir pelo e-mail mozartpe@gmail.com

Uma enxurrada de CDs de músicos da terra estão disponíveis nas prateleiras das lojas especializadas, as raras que ainda insistem em permanecer na praça. Os caras disputam o mercado com as bandas picaretas do forró de plástico e os pagodes da vida. Claro que, sem trabalho de divulgação e sem uma produção decente, ótimos trabalhos ficam ignorados pelo público. No rádio, só toca se pagar jabá, caríssimo.
O público de Arnaud Neto é muito específico: os turistas que assistem seu show todas as tardes nos bares do Jacaré e em outros eventos. Os CDs dele não encalham na prateleira porque não existe prateleira para eles. São vendidos para os gringos principalmente, que vêm curtir nossas belezas e acabam esbarrando nos nossos talentos. O disco vende quando se passa o chapéu, em bares e outros locais públicos como os ambientes de feira. Por isso o nome, “Som de feira”. No contrabaixo, outro garoto de minha prole, o Maximilien Mozart, também músico profissional.

Não é por carregar meu DNA, mas Arnaud Neto é um músico completo. Toca sax tenor, soprano e alto. Toca flauta, cavaquinho, violão, teclado e percussão. Vive profissionalmente de música. Não vive bem, porque não basta ter talento. O mercado é restrito e cruel. Toca-se uma noite inteira por um cachê ridículo. É preciso ser apaixonado pelo som, ter sensibilidade e disciplina.

O sonho dele é sair do Brasil, tocar nas ruas das grandes cidades dos Estados Unidos. Ganha em dólar, muito mais do que se ganha aqui em ambientes luxuosos de casas de recepção onde os músicos entram pela porta de serviço e são tratados como os garçons, com todo respeito que merece o garçom.


segunda-feira, 19 de outubro de 2015

ETC & ETC



Compadre velho Edglês Gonchá ganhou prêmio de melhor ator no Festival Farinha com Cinema, em Patos. A indiscutível estadualização do talento desse caboclo que vai virar federalização já já. Guardem bem o nome desse cara perseverante e talentoso.

Hipocondríaco não bebe cerveja, faz tratamento com gelo via oral.

Só entro no Mcdonalds no dia em que tiver caldo de cana e pão doce.

“Amiga Preciosa, esse aquecimento global é tudo culpa do seu fogo no rabo.” – Maciel Caju, o misógino.

Botei as coordenadas de minha casa no GPS, fui parar no Bar de Zé...

Tenho dito que todo ingrato é mau caráter. E é! O ingrato é monstro: não olha para o retrovisor da vida e só pensa em si.

E pra você, canalha, que anda me ameaçando: se eu tivesse medo de cara feia não comia cabeça de porco!

E pra você, madame falsa que se acha sabidona, seu chá ta se coando...

As doidices de Sonsinho: “são seis horas no horário de verão e cinco horas no horário que Jesus deixou.”

Seguinte: o clima ta legal, mas acho que vou cair fora. Sempre chega a hora de você pegar o boné.

A coluna social repleta de cocô-boys e xixi-girls, além de velhas porra-loucas e malandros radicais. Povo legal.

Meu déficit de atenção não me deixa escutar o que a mídia escrota tenta me dizer com sua boca suja de ressentimento.

“Assalta-se de banco a posto de gasolina. Até hoje, nenhuma livraria foi assaltada. Total desprestígio da cultura nacional.” – Millôr Fernandes.

“Política é saber a hora de puxar o gatilho”. Não sei onde li isso.

Não é fácil aceitar a crueldade do tempo e perceber que temos um prazo curto de validade. Não ando mais com firmeza, não faço mais uma porção de coisas. Mais limitado do que cheque de funcionário público de terceiro escalão. E ainda tem gente que pergunta se vou comemorar sessenta anos.

É uma luta fazer esse povo se levantar. E quando se levanta é pra tomar cachaça, ouvir música merdinha e torcer por time vagabundo do sul/sudeste.

Hoje é dia de se lastimar. Lembrar de quem você já foi e reconhecer quem está hoje diante do espelho. Não falo de cabelos brancos ou rugas. Talvez de energia. A mente pedir e corpo não obedecer. Ou pior: a mente nem se lembrar mais dos antigos prazeres.

“Eu já tive um gato, mas joguei fora”, disse tranquilamente o canalha do Ameba.


No fim, o final de sempre numa versão remix. E a morte é punk.