segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Áudio do "Alô comunidade"


Nesta edição, Fabio Mozart entrevista o professor e pré-candidato a reitor da UFPB, Valdiney Gouveia. O programa aborda ainda eleições para conselhos tutelares em João Pessoa e audiência pública da Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Deputados que discutiu descriminalização para comunicadores comunitários processados. Produção e apresentação de Fabio Mozart. Sonoplastia de Maurício José Mesquita.

No blog Novos Rumos:

http://novosrumosjornalistas.blogspot.com.br/2015/09/alocomunidade212-valdney-gouveia.html









Joaquim Inojosa, o advogado dos pobres de Itabaiana

Como se dizia dos juízes em Berlim, ainda há historiadores na minha terra adotiva, Itabaiana do Norte. Para eles, como subsídio para futura reflexão sobre o passado da cidade, deixo aqui breve anotação a respeito de Joaquim Inojosa, que fez parte ativa no processo de formação e informação da geração de 1920/1930 em Itabaiana, como advogado e como jornalista.

Joaquim Inojosa de Andrade nasceu em 1901 no povoado de São Vicente Ferrer, em Pernambuco. Foi figura marcante na Revolução de 30, participando ativamente nos episódios da insurreição que começou com a morte do Presidente da Parahyba do Norte, João Pessoa. Ele se moveu nos cenários da sedição na Paraíba e em Pernambuco. No seu livro República de Princesa, conta detalhes dos fatos políticos ocorridos na Paraíba naquela época, culminando com a “República Independente de Princesa”, da qual ele foi idealizador. Redigiu, a pedido do Coronel Zé Pereira, o decreto que criava a República de Princesa, fato inédito no Brasil. Depois da constituição da República Independente de Princesa, Inojosa redigiu seu jornal oficial, o “Jornal de Princesa”, que era impresso clandestinamente numa tipografia do Recife.

A ligação desse destacado vulto da Revolução de 30 com Itabaiana é similar à minha própria história de vida, em alguns aspectos. Por motivos políticos, seus pais transferiram-se para Itabaiana na década de 20, trazendo o futuro revolucionário ainda nos cueiros. Meus pais também migraram de Pernambuco na década de 50. Aqui eu cresci, amadureci e aprendi a justapor as letras e artes com engajamento ideológico e redigi meu primeiro jornal. Findam aí as analogias.

Joaquim Inojosa cresceu em meio à fase de ouro da cultura itabaianense, quando a cidade era servida de jornais diários, cinema e círculos intelectuais de alto nível. Itabaiana era considerada a Atenas da Paraíba. Atenas, a cidade grega que foi, no passador remotíssimo, um poderoso centro artístico, estudantil e filosófico da antiguidade. Adolescente, o futuro insurreto entrou para o Lyceu Paraibano. Em 1919, foi fazer o curso de Direito no Recife. Um ano depois, o prefeito de Itabaiana nomeou-o advogado dos pobres, quando ainda acadêmico. Nessa condição, Joaquim Inojosa passou a defender os desvalidos da sorte que enfrentavam a Justiça. É notório que a Justiça até hoje trata pobres, negros e pessoas sem prestígio de forma parcial e iníqua. Imaginemos no começo do século XX como seria desigual esse tratamento. Foi nessa seara que Joaquim Inojosa aprendeu a quebrar lanças pela equanimidade. Ficou experiente nas batalhas jurídicas e virou Promotor no Recife quando colou grau, nomeado pelo Governador de Pernambuco, Sérgio Loreto.  


Em depoimento para o Núcleo de Documentação e Informação Histórica e Regional da UFPb, em 1980, Joaquim Inojosa confessou que continuou ligado a Itabaiana e colaborava com os jornais editados na cidade. A cultura itabaianense operou no jovem jornalista e advogado uma transformação e lhe deu visões de mundo novas e arrojadas. O autor de “A República de Princesa” foi participante ativo da Semana de Arte Moderna de 1922. Escreveu “O Movimento Modernista em Pernambuco”, “No pomar do vizinho”, entre outras obras. Antes de tudo, foi jornalista combativo pelos ideais que abraçava. 

domingo, 27 de setembro de 2015

POEMA DO DOMINGO


Desenho de Harrelson (Portugal)


O BEIJO DE DEUS

Se Deus acordasse agora,
não reconheceria suas criaturas.
Onde estão minha vida,
certidão de nascimento,
casamento ou perdição?
Não sei onde encontrar
a certidão de minha sanidade.

Minhas crenças jazem
no bojo de algum sanitário
num palácio onde a alvorada
não penetra.

Germinemos a terra, irmãos.
Façamos orgasmos breves,
e a terra voltará à cor azul
dos poetas.

Deus, em orgásticos prazeres,
gemeu de dor, satisfeito.
E, vendo que tudo se consumava,
adormeceu, sossegado.
E a terra era azul de novo.
E Deus falou pra si mesmo:
“Quão perfeitas são minhas obras”.
 Despreocupado, o Poder Supremo foi embora,
montado no dorso de um anjo.

Nos estertores de dor e gozo,
você me morde e lambe.
Sem saber, você me conduz
À presença de Deus,
que abençoava aquela brincadeira e,
despido de todos os paramentos,
enfatizava:
“Como são belas e prazerosas
as Minhas criaturas”.

Dôra Limeira

sábado, 26 de setembro de 2015

Professor e pesquisador itabaianense será entrevistado neste sábado na Rádio Tabajara

O professor Valdiney Gouveia, de origem itabaianense, concede entrevista na tarde deste sábado, 26, às 14 horas, no programa “Alô comunidade”, ancorado por Fábio Mozart.

Valdiney Veloso Gouveia é professor do Departamento de Psicologia do CCHLA da UFPB e pré-candidato a reitor da Universidade. Gouveia possui Licenciatura e Formação em Psicologia pela Universidade Federal da Paraíba, Especialização em Psicometria e Mestrado em Psicologia Social e do Trabalho pela Universidade de Brasília e Doutorado em Psicologia Social pela Universidade Complutense de Madri.  Professor Titular de Psicologia Social na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Pesquisador 1A do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Autor da teoria funcionalista dos valores humanos, publicou dezenas de artigos, capítulos e livros sobre este tema e aspectos correlatos, como personalidade, bem-estar subjetivo, atitudes ambientais, comportamentos pró e antissociais e individualismo-coletivismo. Fundou e coordena o grupo de pesquisa Bases Normativas do Comportamento Social (BNCS).

“Alô comunidade” é um programa da Rádio Comunitária Zumbi dos Palmares em parceria com a Rádio Tabajara da Paraíba AM 1.110 KHZ – Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, Coletivo de Jornalistas Novos Rumos, Sociedade Cultural Posse Nova República.

Para ouvir em tempo real:

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Nossa luta pelos direitos das crianças e adolescentes já é história em Mari e Itabaiana


Há dezessete anos, com o Estatuto da Criança e do Adolescente, o governo anunciava à Nação que a criança passaria a ser prioridade absoluta. No entanto, em 1990, ano de montagem dessa peça, nas ruas do Brasil encontravam-se 10 milhões de crianças, entre 7 e 17 anos, sobrevivendo de esmolas, biscates ou furtos. Havia cerca de 800 mil prostitutas com menos de 17 anos.

Marinalva Dionísio
O Coletivo Dramático de Mari e o Grupo Experimental de Teatro de Itabaiana montaram o espetáculo "Cantiga de ninar na rua" para denunciar as mazelas da sociedade, na tentativa de levantar o debate para um Brasil melhor a partir da redenção da nossa juventude, onde os jovens sejam respeitados como a maior riqueza desse país.

Quinze anos depois, os avanços são mínimos.

Valeu para os jovens amadores desses coletivos cênicos. Ao realizar a magia do teatro com uma bandeira dessas durante mais de oito anos, passamos a ser o espetáculo de teatro amador que mais tempo esteve em cartaz no interior da Paraíba.

Da peça, nasceu o Ponto de Cultura Cantiga de Ninar em Itabaiana, ainda com essa preocupação de querer ser uma instância permanente de intervenção da sociedade civil nas questões relacionadas aos direitos humanos.

O Conselho Tutelar de Direitos da Infância da Juventude de Itabaiana, em 24 de maio de 2011, lançou Moção de Apoio às atividades do Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, “que trabalha com a clientela de meninos e meninas vivendo em situações de risco social, através dos seus projetos culturais e sociais, estimulando o convívio social e ajudando no combate à violência contra nossa juventude”.

Nossa monitora Marinalva Dionísio é candidata a uma vaga como conselheira tutelar na eleição do dia 4 de outubro próximo, entre outros nomes de pessoas realmente dedicadas a essa nobre causa. Para Marinalva, meu apoio e desejo de que essa parceria entre o movimento artístico e cultural e o Conselho Tutelar permaneça.

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Jornal será relançado após cinquenta anos em Itabaiana

O jornal “Evolução”, fundado em 1964 por Francisco Joaquim de Almeida Neto na cidade de Itabaiana, será relançado em 22 de outubro, na Casa de Recepções Finesse. Na ocasião, o cantor e compositor Vital Alves lançará seu CD “Vitalidade” e o poeta Lau Siqueira apresentará sua obra “Livro arbítrio”.

O jornal tem redação de Fábio Mozart e reportagem da jornalista Socorro Almeida, prima do fundador da publicação. Originalmente uma publicação combativa, que batia de frente com os poderes do regime autoritário da época, o Evolução surge com feição mais literária, voltado para temas culturais.

“Aceitamos o desafio de reeditar o EVOLUÇÃO com Socorro, agora quando vivemos outro momento político, com o objetivo de preservar a memória desse tribuno e jornalista e seus ideais generosos. Era uma figura marcante, que deixou traço indelével na geração itabaianense de 60/70”, afirmou Fábio Mozart.

O projeto tem patrocínio do Governo do Estado da Paraíba – Secretaria de Cultura – Fundo de Incentivo à Cultura Augusto dos Anjos – FIC.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Pequeno conto da ironia navegante

Wellington Costa (de branco), comigo e Tadeu Patrício, Secretário de Cultura de Cabedelo

A certeza implacável é que você vai voltar pelo mesmo caminho e encontrar as almas que você combateu, humilhou, foi rebaixado, desprezado ou vencido. A historinha me foi contada pelo meu confrade e ex-companheiro ferroviário, o agora marinheiro Wellington Costa.
Há uns vinte anos, Wellington chegou a um estágio de desconfiar seriamente da confiança e da solução dos homens. A injustiça, a dureza da vida e a debilidade psíquica bateram em sua porta, e ele abriu sua vivenda e sua vida para esses males. Desempregado, processado, vítima do desrespeito e iniquidade, andou meio que martirizado. Desvigorado pela sorte má, acalmava o infortúnio nas tabernas.
Certa noite, meu compadre vagava pelas ruas de Cabedelo onde mora. Embriagado, roupas sujas, barba por fazer, requentava suas mágoas sem saber como iniciar a vida novamente. Passando no Teatro Santa Catarina, viu a faixa anunciando o lançamento do livro de Altimar Pimentel, um teatrólogo, folclorista e escritor muito engrandecido pela sociedade paraibana.
Dizem que bêbado é como cachorro: encontrando a porta aberta, já vai entrando. Era uma festa pública. O livro foi subvencionado pela Prefeitura, falava da cidade e sua história. Wellington adentrou ao gramado, como diria aquele narrador de futebol, a perscrutar as faces das pessoas e avaliar seus próprios horizontes sociais perdidos. Duas filas: uma para se pegar o livro e a outra para receber o autógrafo do autor. Quando chegou sua vez de receber seu exemplar, a pessoa que fazia a entrega foi ríspida e cruenta:

--- O livro é pra quem sabe ler. Saia da fila.

Meu compadre velho retirou-se da cena mais acabrunhado do que cachorro que desaba do caminhão da mudança. Nascido e criado em Cabedelo, foi menino fantasiando batalhas no fortim de Santa Catarina. Filho de um dos maiores músicos da Paraíba, o mestre Wilson do Bandolim, compadre Wellington sentiu que até sua cidadania estava sendo sequestrada.
Sua barca passou pela tempestade, curtiu os tiros dos canhoneiros das fragatas inimigas, abateu os corsários e voltou ao porto seguro e sereno. A vida cedeu armistício. Limpadas as penas, contornadas as adversidades, compadre velho saiu mais forte da iminência do naufrágio. Voltou a se impor pela inteligência e espírito solidário, com a firmeza dos grandes capitães. Refez a vida, entrou na marinha mercante, publicou livros e jornais, montou banca de locutor de rádio comunitária, angariou novamente o prestígio e admiração dos conterrâneos.
Quis o destino que a Prefeitura de Cabedelo instituísse concurso para escolher a melhor redação sobre a vida e a obra de Altimar Pimentel. Wellington Costa concorreu e foi premiado com o primeiro lugar no certame. Senhor de si no tombadilho da nau da vida, Costa desviou seu galeão para as correntes calmas da modéstia que engrandece. “Eu só queria encontrar aquela pessoa que me expulsou da fila do livro de Altimar, não para desfazer da figura, mas para dedicar a ele meu trabalho sobre o grande escritor que tanto nos orgulha. Acho que foi a partir daquele momento de vexame público que eu comecei a dominar minha aflição e superar meus traumas”, acredita ele.

Até as florestas tropicais remanescentes e os verdes mares de Cabedelo sabem o que representa a figura de Wellington para a cultura local. Naqueles mangues e baías, infestados de piratas e bucaneiros, a Nau Catarineta de Wellington Costa vai singrando sem correr risco de naufrágio. 

segunda-feira, 21 de setembro de 2015



Maciel Caju terminou o noivado com uma dona chamada Elisa com a seguinte sextilha:

Minha querida Elisa
Repare no prejuízo:
Se você é assim lisa
E eu também sou bem liso
Casar não nos autoriza
Pois inda tenho juízo.


Antonio Xexéu publica folhetos de cordel com temas atuais e estórias que ele inventa. O último folheto ele escreveu em homenagem à prefeita de um lugar no agreste da Paraíba. Mas, porém, todavia, a prefeita não honrou o compromisso de pagar ao poeta, que por vingança espalhou uns versinhos maldosos:

Dona Dida e Antonio Carlos
Protagonizam novela
Ela falando mal dele
Chamando moça donzela
Ele esculhamba a prefeita
            Não presta ele nem ela.

Maciel Caju é um xarope, mas gosta de botar gosto ruim na vida dos outros. Essa quadrinha ele dedica ao velho Leão, que sou eu mesmo. Fiquei de dar uma resposta à altura daquele anão moral.

Fábio Mozart é tapado
Mas é metido a poeta
E quando o bicho encasqueta
É borra pra todo lado
Enquanto espero sentado
Sem que surja seu talento
Vou espalhando ao vento
Que sua vida é uma mina
De hemorroida a angina
De tudo tem o safado.


Antonio Xexéu cantava com Heleno Alexandre em um sítio de Sapé. Xexéu aproveitou a passagem de um casal de caprinos para cantar:

           A cabra ensinou ao bode
A demonstrar compostura
Acabar com essa frescura
De comer cu, que não pode!
Eu faço barba e bigode
Disse o bodinho tarado
Já ficando aperreado
Com o cacetinho duro
Encostou no pé do muro
Dizendo: fode ou não fode?

Meu compadre Ameba também foi vítima do veneno rimado desse Maciel Caju, sujeitinho metido a tomar na rima.

Sempre vejo todo dia
Mozart andando com Ameba
Os dois feito uma pereba
Comendo toda energia
Descendo a escadaria
Da vida como lacaio
Igual a cesta e balaio
Ambos levando cipó
Desgraça não anda só
Ta sempre em má companhia.

Ameba também exercita sua veia poética. Por sua conta, andou compondo uma reverência à nossa amiga paranormal Madame Preciosa:

Percorrendo o mundo inteiro
Ela mostrou seu valor
Demonstrando forte ardor
Em tudo que foi puteiro
Pau conhece pelo cheiro
Melhor do que lenhador
Por prazer ou por amor
Qualquer porra ela degusta
Tem um fogo que assusta
Até Corpo de Bombeiro.



domingo, 20 de setembro de 2015

POEMA DO DOMINGO





BRASILEIROS E BRASILEIRAS
Jessier Quirino

Correndo dos tiros
Correndo da peia
Correndo da chuva
Sem capa de chuva
Correndo da cheia

Correndo dos gritos
Correndo da dor
Correndo do aluno
Que molecamente
Cala o professor

Correndo da dengue
Correndo da lida
Correndo do imposto
Tão caro e crescente
Cobrado da vida

Correndo de Eva
Correndo de Adão
Correndo dos cultos
Que cobram dinheiro
Pela salvação

Correndo do crack
Correndo do pó
Correndo das drogas
Que tocam nas rádios
De mal a pior

Correndo pro pódio
Correndo pra Glória
Correndo pros braços
Mofinos, suados
Da própria vitória.

Poema publicado no livro Papel de Bodega – 2013