quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Feijoada nunca mais


Fui procurar um médico porque estava sentindo uma pontada no coração, urticária, dores nas articulações, arroto choco, gases nobres, bucho grande e o pinto, outrora point movimentado, transformado em um “arquivo morto”. Diante desse meu estado lastimável, qualquer doutor daria prioridade para atendimento. Mas, e sempre tem um porém nessa terra de ninguém, mandaram o quase defunto voltar depois de alguns dias, se por acaso não pegar descendo para as profundezas dessa terra brasilis.
Voltei. A doutora, com o maior descaramento, perguntou se eu ainda botava a mão e outros instrumentos pra valer num objeto direto e intransitivo. Ou seja: se eu ainda andava atrás de uma perereca. Fiz ver à curandeira vestida de branco que sim, que atualmente ando atrás do livro “Grandes mulheres que eu não comi, entre elas minha mãe, as que sim, e as que ainda comerei”, do escritor Palmério Dória, obra que ostenta em sua capa o retrato de uma vistosa perereca dos rios do Pará, terra natal desse ilustre canalha.
No fim, a doutora fez um teste para saber o que me provoca alergia. Fiquei com cara de jumento sem mãe contemplando a esfinge quando soube que quase tudo o que eu consumo esculhamba geral meu sistema imunológico. Essa coceira e vermelhidão vem do leite, carne, ovos, verduras, frutas e tudo o mais digerível. Só não sou alérgico a macaxeira, clara de ovo, carne de porco, uva e chá mate. Abacaxi, ainda posso comer uma rodelinha. Sim, e perereca só ao molho, pra sorver o caldinho, porque “quem não come bebe o caldo”, conforme costuma dizer meu compadre Geraldo Caranguejo.
Portanto, estou em pleno regime, sonhando com feijão, bife e doces no almoço, no jantar e na merenda. Ontem mesmo saboreei um chá mate com uva e clara de ovo. Quase tive uma congestão, mas não tive sequelas. Hoje, pensando em comer abacaxi com macaxeira, sempre tomando a providência de utilidade pública de evitar arrotos e bufas que os doutores chamam flatos. Quem digere uma porcaria dessas pode causar poluição interessante e comprometer a camada de ozônio. 



Pedras na lua e pelejas no planalto

trajetória do documentarista Vladimir Carvalho é iluminada pelo crítico de cinema Carlos Alberto Mattos em "Pedras na lua e pelejas no Planalto". Logo no início, Mattos descreve como Carvalho foi precursor de dois momentos importantes da cinematografia brasileira: o Cinema Novo e, após sua mudança para a capital federal, o florescimento de um cinema tido como legitimamente brasiliense. No livro, pela própria voz de Carvalho, entende-se como ele procurou equilibrar suas origens nordestinas com o concreto armado do Distrito Federal em uma trajetória artística única.

Estou lendo esse livro que tem 300 páginas, anotando os trechos mais interessantes que passarei aqui para os meus seis leitores, à medida em que for avançando na leitura.

CARNAVAL DE ITABAIANA – “Eu me lembro, e essa é uma das minhas primeiras lembranças, do carnaval de 1939 que assisti em plongé, do alto dos ombros do primo Jonjoca. Entre pavor e excitação, vi os primeiros mascarados, palhaços, um famoso folião que se fantasiava de urso, tudo recendendo a lança-perfume. O carnaval de Itabaiana, dizia-se, rivalizava com o do Recife. Do Alto dos Currais, vi o bloco do Zé Pereira saindo na boca da noite, o volumoso séquito de foliões portando balões coloridos e iluminados. No futuro, eu haveria de exteriorizar essa forte impressão através de um guache que pintei e guardo comigo”.

FEIRA DE ITABAIANA – “Na feira de Itabaiana, chamava minha atenção o simulacro em miniatura de uma casa de farinha, que era exibida dentro de uma grande caixa, através de pequenos visores. À medida que o operador girava uma manivela, víamos os bonecos reproduzirem em detalhes a atividade do cevador, o abastecimento do forno etc. Era uma espécie de realejo visual, ou arte cinética matuta.”

BUMBA-MEU-BOI NA BAHIA – “Na boemia fajuta de jovem sem dinheiro, eu perambulava pela Canela, o Campo Grande, a Vitória, a Baixa do Sapateiro, o Taboão. Conheci Gilberto Gil estudando Administração de Empresas e cantando nos bares da orla. Frequentei as festinhas na casa de Gracinha (Gal Costa), os shows de Tom Zé e Caetano na boate O’Clock, as atividades do CPC baiano, para o qual fui convocado por Geraldo Sarno para assisti-lo na área de cinema. Numa das ações do CPC, Tom Zé conduziu um bumba-meu-boi alegórico pela Avenida Sete, até a Praça da Sé, contando a história da exploração do povo brasileiro.”

O MAÇOM – “Como se não bastasse tanto ecletismo, meu pai ainda aceitou um convite para entrar para a Maçonaria. Na sequência, com cerca de 12 anos, fui iniciado como lowton numa cerimônia belíssima, em que desfilei sob o túnel de espadas erguidas e tomei ritualisticamente o vinho, o pão, o mel e o sal.”

“Depois da morte do meu pai, determinado a ajudar no sustento da família, vali-me da solidariedade maçom para conseguir um emprego de vendedor de estampas de santos a domicílio. Foi quando desencantei-me com a Maçonaria, pois o velho não pretendia me ajudar, mas simplesmente ser meu patrão.”

IDEOLOGIA – “Não posso negar que esse período de estudos e atividades, com o aprofundamento contínuo dos conceitos disseminados pelo Partido, teve uma enorme importância na minha formação. Na minha e na de muita gente neste país. Descontados alguns sectarismos e equívocos, a escola do Partido – como era chamada no jargão próprio – estruturou-me moralmente para a vida. A insistência na esperança é um dos traços que dela herdei. Por isso é que, entre Beckett e Brecht, fico com Brecht. O homem tem saída, sim.”

MEMÓRIA FERROVIÁRIA DE ITABAIANA – “No Triângulo, um muro de frágeis tijolos aparentes separava nossa casa de uma vila de moradias mais humildes, numa das quais morava a família do maquinista Chico Félix, a quem minha mãe costumava presentear com cestas de gêneros alimentícios. Eu me aproximei de Erasmo, o filho do maquinista.”
“O trem sempre foi um elemento marcante na paisagem da minha memória. Não exatamente esses trenzinhos quase de brinquedo, mas os dragões metálicos e baforentos que faziam o transporte de gado e gente na ferrovia então arrendada à Great Western Railway do Brasil.

Itabaiana ficava a meio caminho entre Campina Grande, João Pessoa e Recife. Na minha época de garoto, a cidade era margeada, de um lado, pelo rio Paraíba, e de outro lado pela grande ferrovia. As boiadas trazidas das regiões próximas e do alto sertão embarcavam nesse trem rumo aos matadouros. À margem da estação ficava o curral ´para facilitar o embarque. Nosso bairro era chamado Triângulo, em virtude de uma importante bifurcação ferroviária. As casas da famílias, separadas por quintais, formavam uma espécie de vila à margem da estrada de ferro.

O trem pontuava o cotidiano da cidade. Havia a hora de passar o Bacurau ou o Subúrbio, conforme os apelidos de cada comboio. Maquinistas silvavam apitos característicos ao cruzar seus bairros, notificando os familiares e amigos de sua passagem. Quem precisasse acordar muito cedo guiava-se pelo resfolegar do trem das madrugada, em sua lenta subida de um aclive à saída de Itabaiana.

Os trilhos cortavam a cidade e assumiam relevo na sociologia local. Em certo ponto, a ferrovia separava os bairros familiares da chamada Mandchúria, a zona do meretrício. Assim, quando um jovem era iniciado nas aventuras da Rua do Carretel, dizia-se que o sujeito atravessou a linha do trem.


quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

ARTISTAS DE ITABAIANA - Zuza Ferreira

José Tertuliano Ferreira de Melo, ou Zuza Ferreira para os seus contemporâneos, nasceu no dia 26 de abril de 1888, numa época em que Pedra Lavrada era um arruado pertencente a Picuí. Aos onze anos foi residir em Itabaiana. Nesta cidade, aprendeu a ler e adquiriu a profissão de alfaiate, um ofício muito rentável e respeitável numa época em que não existiam as roupas prontas. Mas ao longo deste período, além da atividade de alfaiate, ele desempenhou outras tantas como a de cortador de carne verde, músico, poeta, jornalista, professor, político, folião animador dos carnavais, mantenedor da banda, fundador de sociedade beneficente.
        
Zuza Ferreira, em pé à esquerda
Zuza Ferreira ensinou sua profissão ao famoso poeta popular Zé da Luz. Durante o tempo em que ele residiu em Itabaiana, foi o centro irradiador de quase toda a movimentação da cidade, a ponto de o historiador Sabianiano Maia afirmar que ele foi a própria vida da cidade.

Depois de viver 28 anos em Itabaiana, ele transferiu-se para João Pessoa (1927) e foi trabalhar na conhecida Alfaiataria do Norte.
Zuza Ferreira, como todas as mentes lúcidas da época, apoiava as reivindicações do movimento tenentista que defendia o voto secreto, reformas sociais e econômicas. Alistado na revolução de 30, tornou-se oficial com a patente de tenente. Foi interventor em Araruna e Guarabira.

Depois de cumprir a sua missão como administrador de cidades, ele transferiu-se para o Rio de Janeiro onde ficou até o ano da sua morte (1956). Foi o terceiro papel deste grande homem, que optou pela tranquilidade de um cargo no INSS. Deixou sete filhos no mundo.

Obras de Zuza Ferreira: Fagulha D’Alma, Vinte e Quatro Horas, Em Lá Menor, A História de Ágaba, Relato da morte de Sady e Suicídio de Ágaba (este último causou muita emoção e sucesso nos anos 20, por ser um forte drama emocional, bem ao gosto da época).


Do texto de Alisson Pinheiro




No escurinho do Cine Ideal


As mentes libidinosas que pensaram que eu iria escrever sobre namoricos e galinhagens nas sessões do velho Cine Ideal de Itabaiana, estão redondamente e quadradamente enganados. Aqui se tem respeito e seriedade.
Mas antes, pra descontrair os nervos e intestinos, vou contar uma do velho Ameba que foi assistir à sessão dupla no Cine Ideal, dia de terça-feira, o cinema lotado, calor dos infernos, e o casal sentado na primeira fila de cadeiras vendo a série “O califa de Bagdá”. Em dado e certo momento, a namorada do verme, empanzinada de gases, deixou escapulir um peido daqueles de estrondar, mesmo na hora em que o bandido da série disparou seu mosquetão. A operação disfarce foi quase perfeita, mas Ameba não engoliu:
--- É, a zuada foi a mesma, agora quero ver a catinga!
Dito isso em alto e bom som, a cachorrada que atendia pelo nome de plateia caiu na risadagem, que o povo que ia ao cinema nos dias de terça-feira era chegado a uma canalhice. Um senhor que estava ao lado do casal parasita amebiano mostrou-se indignado:
--- A sua namorada peidou na frente de minha mulher!
Ameba, educado:
--- Perdão, eu não sabia que ela queria peidar primeiro.
Nelson Soldado, que era um misto de segurança e “lanterninha” do cinema, já se preparava para botar o casal pra fora, no intuito de pôr ordem na esculhambação que já se formava. Uma das missões de Nelson era empatar namoros muito salientes no escurinho, a bem da disciplina e da moral, conforme explicava um cartaz na entrada: “Não faça do seu namorado um tarado; a vítima pode ser você”. Voltando ao caso do peido sincronizado, Ameba foi aconselhado a se retirar com sua namorada intestinalmente indecorosa. Nisso, ouviu-se a chacota de Zé Amâncio, conhecido trocista frequentador do cinema e eterno candidato a receber cartão vermelho do soldado Nelson:
--- Tem duas classes sem prestígio: soldado de polícia e rapariga.
Nelson Soldado esqueceu de Ameba e correu pra expulsar Zé Amâncio do recinto, sob vaias e apupos gerais da geral e da arquibancada. Quando a situação ficou preta, verde e amarela, o filme foi interrompido e as luzes acesas para botar ordem na casa.
Chegando na última fila de cadeiras, Nelson vê um sujeito sentado, com uma perna na cadeira da frente e a outra na cadeira do lado, a cabeça jogada pra trás atrapalhando os que tentavam se acomodar.
Nelson, irônico, para o rapaz:
--- Amigo, você ta muito folgado. Não quer uma cachacinha, uma cervejinha? Ou, quem sabe, mais cadeira pra se espichar um pouco mais?
E o esparramado:
- Olha! Querer eu até quero, mas primeiro chama uma ambulância porque desde a primeira sessão que eu cai lá de cima do balcão...

* * * 
Agora, falando sério: o livro tem o título de “Pedras na lua e pelejas no Planalto”, de Carlos Alberto Matos, com a biografia de Vladimir Carvalho. Estou lendo esta obra, e nada do que está escrito aí em cima faz parte do trabalho. É um material de alto nível, onde Vladimir conta desde sua infância em Itabaiana, passando pelas aventuras durante o regime militar, até suas produções no audiovisual, sempre com um viés na sua região, na sua terra natal, Itabaiana do Norte.
Este livro estará à disposição para empréstimo na Biblioteca Comunitária Arnaud Costa, que vai armar barraca na feira de Itabaiana no dia 4 de fevereiro, pelo projeto “Troca-troca”.


terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Professor Bilunga para secretário de educação

Bilunga dando aula com novas turmas de concurseiros de Itabaiana 

Não se pode mudar a realidade do mundo, mas deve-se fazer um esforço. Esse pensamento serve de leitmotiv para a vida de muita gente, incluindo meu compadre Severino Lourenço, uma vida que ele tem aplicado não em desenvolver teses ou criticar A ou B, mas à prática de realmente educar, aquele que “aprende ao ensinar e ensina enquanto aprende”, conforme Paulo Freire, e mais ainda, é aquele que ensina sem querer nada em troca, a não ser a satisfação de ver seu aluno progredindo na vida. Lição clara de uma vida de educador que utiliza seus domingos para ensinar matemática, física e português para turmas de jovens que se preparam para concursos públicos, sem cobrar nada. Já ajudou muita gente a conseguir seu emprego, abrindo perspectivas divinas numa cidade que não oferece quase nenhuma oportunidade de sobrevivência digna para seus moradores jovens.

Esse professor Bilunga, como é mais conhecido, vive na cidade Itabaiana do Norte, onde a Prefeitura local pretende gastar oito milhões e meio de reais neste ano de 2014, dotação orçamentária da Secretaria de Educação. Imaginem vocês essa bolada nas mãos de um cara como Bilunga. Porque, sem nenhum tostão, ele já emprega sua rara energia de mestre na difusão do conhecimento em ambientes emprestados e escolas particulares, com oito milhões eu tenho absoluta certeza de que ele iria animar de tal forma a equipe pedagógica local, os professores e funcionários da rede pública, com a bandeira de seu ideal, e procuraria atender com a maior eficiência e cuidados possíveis as metas de ensino, a fim de dignificar a pessoa humana que merece que seus direitos sejam assegurados e atendidos. Para isso, dinheiro oficial não falta.

Eu no cargo de prefeito da cidade, nomeava professor Bilunga como Secretário de Educação. Ele tem uma visão de educação que é fundamental para uma cidade pobre e sem perspectiva para sua juventude. É um dos que acreditam que o ensino deve correr paralelo com lições de sobrevivência, aquilo que modernamente chamam de desenvolvimento humano sustentável, ensinando novas atitudes e contribuindo para modificar positivamente as condições de vida, trabalho e renda das pessoas que convivem nessa comunidade.


segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

ETC & ETC

Esta notícia não deu no rádio
 O Ministério Público Federal recomendou que todas as rádios comerciais do país sejam fiscalizadas imediatamente. Em São Paulo, 16 rádios comerciais foram fiscalizadas e, destas, 12 estavam em situação irregular. Vai pegar gente grande: há emissoras com licença para operar em cidades pequenas que instalaram suas antenas na Avenida Paulista, em São Paulo; há emissoras instaladas em área de preservação permanente e operando de forma clandestina. Briga boa: são grandes grupos. Na Paraíba, o que tem de maracutaia no ar, não ta no mapa da máfia do microfone.

PROMOÇÃO

“A minha honestidade, a minha dignidade e a minha fidelidade não vendo por dinheiro nenhum, porque não têm preço! Já a minha vergonha, a minha seriedade e a minha discrição estou fazendo um precinho bem camarada, só este mês, que é pra inteirar o valor do IPTU.” – Gustavo Arruda.

DITADURA

“Felizmente, não há espaço para ditaduras num mundo cada vez mais moldado pela liberdade das redes sociais. Que triste destino teriam, num regime ditatorial, os líderes dos movimentos de junho de 2013, e, mesmo agora, dos “rolezinhos”? Prisão, tortura e morte, sem dúvida!” – Sergio Botelho

PALHAÇADA FÚNEBRE

Idosos devem provar ao INSS que estão vivos. Sou aposentado e para provar ao INSS que ainda não bati a caçuleta, penso numa prezepada: vou num caixão de defuntos carregado por quatro compadres. O cortejo chega na frente do gerente, eu me levanto de repente e grito:

--- Tou vivo!!

VLADIMIR CARVALHO

Estou lendo a biografia do documentarista itabaianense Vladimir Carvalho. O livro “Pedras na lua e pelejas no Planalto” é de autoria do jornalista Carlos Alberto Matos. Eu indico para quem gosta de cinema e de Itabaiana. Ele dá depoimentos importantes e comoventes sobre nossa cidade.

CABARÉ DE ITABAIANA

De Vladimir Carvalho, sobre o cabaré: “Eu me lembro que o eixo central da licenciosidade em Itabaiana era a rua do Carretel, frequentada pelos homens que lidavam com o gado durante o dia e ali farreavam à noite. Gilberto Freyre em Casa-Grande e Senzala, quando traçava paralelas entre civilização e sifilização sertanejas, atribui a disseminação da sífilis naquela área, em boa parte, aos bordéis de Itabaiana e Campina Grande. Frequentemente, aquilo virava uma festa. Os pastoris era uma espécie de teatro de revista ao ar livre, protagonizado pelas raparigas e comandado por um palhaço. No meio da zona, encenava-se também o bumba-meu-boi, localmente chamado de cavalo marinho.”

ORADOR

Hoje, 27 de janeiro, é Dia do Orador. Em Itabaiana, o maior orador de comício foi João Dantas, que matava e morria pelo velho PSD do líder populista Zé Silveira. Morreu de parada cardíaca numa passeata do partido, subindo a ladeira do Alto dos Currais. Detalhe: era analfabeto e só discursava de paletó e gravata.

FRASE DE MADAME PRECIOSA

“Homem é igual cachorro: você pode comprar e dar a melhor ração do mundo, mas o bruto tá sempre fuçando o lixo e fazendo merda”.

MAIS UMA DE SONSINHO

Sonsinho levou mais uma surra da Madame Preciosa. Errou, mas com as melhores das intenções. É que a Preciosa deu um chute na bunda do rapaz, e ele, para reconquista-la (que aquilo é amor doentio feito 50 tons de não sei o que), comprou um arranjo de flores com uma faixa dizendo “Saudades eternas”. “Toda mulher se derrete quando ganha flores”, pensou o babaca. Quando Madame Preciosa viu a coroa de flores amarelas, daquelas que se manda para velórios, convocou Sonsinho para uma sessão de descarrego. Quem quase acabava no caixão foi o pobre do abestalhado. Em casa que mulher manda, até o galo canta fino. Na casa de Sonsinho, o galo é soprano.

MISOGINIA

Por falar em galo, meu compadre Efigênio Moura chamou meu Treze da Borborema de Franga Assanhada. Isso é misoginia pura, querer desqualificar as fêmeas. No Recife tem um time chamado Cachorra de Peruca, outra forma de enxovalhar o gênero feminino. Se a comadre não sabe o que significa misoginia, me dê a satisfação de consultar o dicionário.





domingo, 26 de janeiro de 2014

POEMA DO DOMINGO

MEMÓRIAS DE UM ESQUECIDO

Saudade do sorriso
do brilho nos olhos
da força de vontade
dos sonhos e desejos
coragem e teimosia.

Saudade das cores
odores e sabores
do entusiasmo
dos objetivos
e da alegria.

Saudade de mim...
 
Jandira Lucena

sábado, 25 de janeiro de 2014

Radialista de Guarabira está no “Alô comunidade” no dia do aniversário da Rádio Tabajara AM

Hoje, 25 de janeiro, a Rádio Tabajara AM completa 77 anos de existência, e para marcar a efeméride, a programação está recheada de depoimentos de ex-comunicadores e artistas que passaram pela emissora. O programa “Alô comunidade”, da Rádio Comunitária Zumbi dos Palmares, que ocupa a faixa das 14 às 15 horas aos sábados, homenageia a Tabajara conversando com um locutor de rádio vindo do brejo, que iniciou sua carreira influenciado pela Tabajara.

Trata-se de Pedro Graciano, da Rádio Rural de Guarabira, que vai falar sobre cultura e comunicação alternativa.

O “Alô comunidade” é produzido e apresentado por Dalmo Oliveira, Fábio Mozart, Marcos Veloso e Beto Palhano, em nome do Coletivo de Jornalistas Novos Rumos, Ponto de Cultura Cantiga de Ninar e Sociedade Cultural Posse Nova República.

O programa tem parceria com 11 rádios comunitárias paraibanas e diversos sites e blogs na Rede Mundial de Computadores, que retransmitem as edições semanais.

Para ouvir em tempo real, pelo site da rádio:



QUEM LÊ MEU LIVRO


Ana de Lourdes

Essa minha amiga diz que nasceu em Óbidos, no Pará, mas há controvérsias. Há quatro décadas conheço Ana de Lourdes em Itabaiana do Norte, sempre sorridente, uma moça inteligente que escolheu terminar seus dias no interior, fazendo parte da história cultural e social itabaianense.

Gostaria de registar aqui que Ana de Lourdes é minha leitora, tem todos os meus livros destacados em sua estante, o que muito me envaidece. Este texto, por assim dizer, é um depoimento singelo escrito por um itabaianense adotado, mas legítimo, que tem a honra de ser lido pelos seus patrícios. Meu livro “A Voz de Itabaiana e outras vozes” foi comprado por mais de 400 pessoas em Itabaiana, fora os exemplares que doei em escolas e aos amigos do peito, como Ana de Lourdes.

Em fevereiro, estarei lançando “Artistas de Itabaiana”, com renda revertida para o Ponto de Cultura Cantiga de Ninar financiar o trabalho de construção da cobertura externa. Certamente, Ana de Lourdes estará presente, ela que sempre prestigia minhas veleidades culturais.


Obrigado, Aninha, por estimular minha fé e teimosia nesses caminhos áridos da cultura e da arte em nossa terra.   

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Um aposentado uivando para a lua


24 de janeiro – Dia dos aposentados

Não vou chorar pitangas, não. Nem espere que eu não vou me queixar do roubo que o governo comete contra os miseráveis aposentados, do desrespeito geral da sociedade em relação a quem chegou na meia-idade ou está na fase do famoso “pé-na-cova”. “Não adianta chorar que a dor não passa”, diz a canção do Chico.

Sou um velho que ainda tem o diabo no corpo. Neste momento da vida, a maioria dos trabalhadores aposentados está na praça jogando dominó, deitado na cadeira do papai gemendo com a dor nas costas ou conversando besteiras com outros velhotes na pracinha. Eu, ao contrário, estou gemendo, mas é com a dor nos joelhos atacados com artrose. Não jogo mais dominó por falta de parceiros e a conversa fiada é aqui, neste blog. Se eu ainda sou de luta? Já cumpri com minhas obrigações guerrilheiras, não servi ao Exército, o que é um bom handicap, dei minhas pauladas no sistema, levei minhas bordoadas do dito cujo e tudo isso eu conheço porque fui caminhante ativo e consciente da História. Hoje, tou vendo a banda passar, mas sabendo que não é assim que a banda toca.

Olho pra mim, o bucho crescendo, o pinto apático, um caco. Minha vida descendo pelo ralo como água suja, mas isso não é hora de auto-crítica. Ainda tenho muito o que fazer. As forças do mal não me derrotarão. Que mal? Mal-estar, mau hálito, mal hábito, enfim, vida mal levada. Tenho tempo de serviço em vida mundana. Quando vocês iam pro rolezinho no shopping, eu já vinha do rolezinho da guerra de Alagamar, do inferno de Serra Pelada e das maleitas na selva amazônica. Já fui hippie, mochileiro, poeta maluco beleza e contestador do regime. Atualmente, o único regime contra o qual teço lanças é aquele de só comer frutas e verduras, não beber, dormir cedo e observar as limitações de mobilidade.

Enquanto preparo uma vitamina de kiwi com gérmem de trigo e mel, já tou pensando no carnaval. A fantasia de aposentado compulsório que não tem onde cair morto ficou folgada, mas deu. Queriam que eu contasse uma anedota de velho decrépito e sozinho, né? Pois lá vai:

O aposentado tava no fim da linha, resolveu se suicidar. No último momento, desistiu, ligou pra um amigo.

--- Alô Zeca, eu estive à beira de um suicídio. Vida sem sentido, solidão, sabe como é... Mas desisti.

--- E você desistiu por que? Lembrou-se de Deus, não é?


--- Nada! Lembrei foi de um restinho de vodca numa garrafa!

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Prenderam a ambulância e o paciente encontra-se foragido



A Ambulância do Hospital Regional de Itabaiana do Norte ainda está presa na Polícia Rodoviária Federal. Foi detida para averiguações, como se diz no jargão policial. Estava sem documentação em dia, entre outras ilicitudes. A ambulância pertence ao Governo do Estado da Paraíba. Quem você acha que deveria estar preso no lugar da ambulância? O Secretário de  Saúde do Estado? O Governador?

Meu amiguinho Sonsinho levou um tabefe de uma moça balconista, por pura estupidez. Da parte dele, que fique claro. É que Sonsinho é muito sincero, além de ter um QI de galinha de granja. Foi passando numa loja de roupas femininas, tava lá o cartaz: “Não trocamos roupas íntimas”. Daí que Sonsinho dirigiu-se à vendedora:

--- Oxente, vocês são porcas mesmo, né? Desde quando não trocam a calcinha?

Levou um tapa-olho pra deixar de ser burro e inconveniente.

A piada não tem nada a ver com a ambulância. Entrou aqui para ilustrar a falta de senso, necedade e estupidez do poder público neste país. Imaginem vocês que a ex-prefeita dona Dida não quis assinar o pacto de Desenvolvimento Social proposto pelo Governo do Estado, porque não queria, talvez, se envolver com a política do senhor Ricardo Coutinho. Resultado: deixou a população sem ambulância, porque esse equipamento só está sendo distribuído nas cidades que rezam pela cartilha do atual mandatário da Paraíba.

Entrou o atual prefeito, senhor Antonio Carlos Melo Júnior, e logo viu que a cidade precisava de uma ambulância. Ou não viu, não sei. Só sei que, em vez de comprar uma, mandou botar na lei orçamentária o valor de R$ 150 mil reais para cuidar da sua própria casa. Priorizou a manutenção da “residência oficial” em detrimento da aquisição, por exemplo, de uma ambulância que custa R$ 125 mil, toda equipada. Ainda sobrava dinheiro para reformar as creches, que estão caindo aos pedaços, todas fechadas.


Agora me digam: não seria melhor um doido como Sonsinho dirigindo a coisa pública? 

Itabaiana: creche em ruínas

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Semeadores de luz

 
Folclorista Tenente Lucena, um dos itabaianenses biografados no livro de Fábio Mozart

Regatar o passado é manter vivo o sentimento fraterno pelos seus patrícios. Havemos de reverenciar iniciativas de pessoas que trazem consigo o ímpeto arraigado do resgate da cultura popular. Contar as histórias de pessoas que fizeram ou fazem história num determinado espaço de tempo dentro de sua própria realidade, resgatando valores não menos importante por serem, digamos, "anônimos" para aqueles que não enxergam o verdadeiro valor de quem fez pela sua comunidade. Não conhecemos suas trajetórias nem fizemos parte do seu cotidiano, mas somos a continuidade dos passos dos nossos conterrâneos do passado na construção do enredo da vida comunitária.

Contar o universo particular de cada personagem desses é missão de historiador comprometido com sua própria história. Em uma sociedade que já não quer lembrar do seu passado, dos seus heróis e artistas, Fábio Mozart pede passagem para nos contar, através de seu livro “Artistas de Itabaiana”, sobre o rico universo dos itabaianenses que deixaram sua marca na história da cidade onde nasceu Sivuca. Havemos de reverenciar as pessoas que se dedicam a resgatar suas próprias raízes, de forma singular e até poética, a exemplo do grande poeta Antonio Costta, meu conterrâneo, rimando com doçura e clareza as belezas do nosso Pilar. Este também terá mais uma obra lançada brevemente, para o bem de nossa literatura.

Mas voltando ao mote dessa matéria, pouca gente atenta para essa verdade: os frutos colhidos hoje são consequência de sementes plantadas no passado por gente que merece estar inscrita nos livros de História para que as novas gerações possam usufruir de safras do mais autêntico sabor regionalista, porque novas sementes férteis estão sendo semeadas diariamente por esses artistas para quem dedico essa humilde crônica: Fábio Mozart e Antonio Costta.

Evanio Teixeira


“Belíssima crônica, nobre amigo e poeta Evanio Teixeira. Fábio Mozart, para mim, além de grande poeta, é o maior incentivador da cultura neste vale do rio Paraíba. Merece o nosso reconhecimento, admiração e aplausos.” – Antonio Costta

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

O ídolo das multidões anda meio decadente


Este é o nosso Nilson Reis, o famoso Nilson Tanajura, cantor da terra. Nilson imita o poeta do cravo branco, o saudoso Maurício Reis. Influenciado por este cantor breguíssimo, Nilson não perde concurso de calouro. Já é um calouro veterano, com mais de 20 anos de estrada.
Nilson é um continuador da nossa tradição de produzir malucos belezas que acabam por levar a sério seus sonhos de gravar um disco, vestir roupas espalhafatosas, tocar uma guitarra e cantar para os fãs. Conheci um rapaz que imitava um famoso cantor brega, o Evaldo Braga, que já passou, há muito tempo, para o andar de cima. O maluco se chamava Pedrinho Frequência Zero. Troquei muitas ideias com Frequência em mesas de bar. Chegamos à conclusão de que ele deveria produzir e apresentar um show. Tava maduro para ser lançado. Pedrinho assim fez: comprou roupas de artista, um óculos de sol na feira, uns anéis, colares e sapato “Cavalo de Aço”. No dia do show, marcado para a Sociedade dos Trabalhadores de Nicó, Pedrinho alugou um carro de praça e saltou na frente do clube. Não havia ninguém na rua, mesmo assim ele entrou voando de porta a dentro, como se corresse de fãs alucinados para pegar no bico do paletó do astro. No palco, soltou a voz, agradeceu a presença do público e mandou ver. O público: eu e Caveirinha, além de Biu Penca Preta, já meio bêbado. Aliás, Biu era o empresário do cantor.
Esse bicho ficou na minha cola, querendo que eu levasse o peste pra cantar ao vivo na Rádio Difusora Nazaré do meu conterrâneo Ivo Severo, que me ameaçou de demissão sumária e esculacho geral se cometesse a loucura de levar o louco para o estúdio de sua rádio, que aliás nem era rádio e sim uma difusora de poste.
O grande cantor Evaldo Braga fazia sucesso com a canção intitulada “Eu não sou lixo”, onde garantia que “nem tudo se joga fora, pois nem tudo é lixo”. A arte imita a vida ou vice-versa: Nilson não joga fora os descartes da sociedade de consumo. Guarda tudo. Onde mora não cabem mais os caixotes de resíduos que se amontoam no outrora bem cuidado jardim da casa dos pais. É o retrato de antigo fausto, de passadas riquezas, velhos sonhos de insanos e “normais”, alienados e sensatos que um dia construíram fantasias dos seus desejos mais íntimos. Tudo vira lixo, mesmo que a gente guarde com gesto afetivo de quem não acredita no triturar constante do tempo e vive sua fantasia a vida toda. “Só os doidos são felizes”, filosofava o maquinista e especialista etílico, meu compadre Bertoldo, do alto de sua barriga imensa onde nadavam peixinhos fritos em um mar de cachaça.
Sim, e hoje é dia de São Tomé, o cara que só acreditava vendo. Não tem nada a ver com a história dos astros imaginários. Ou tem, já que, para os verdadeiros sonhadores, a realidade é só um detalhe. No íntimo, eu mesmo sou uma mistura de “Pedrinho Frequência Zero” com Nilson Tanajura.


segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Nada como incentivo para o povo se empoderar e levantar voo

As meninas cirandeiras de João Pessoa querem fazer oficina no Ponto de Cultura Cantiga de Ninar

É natural que assim seja. Um certo dia, o rapazinho drogado descobriu o Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, deixou a droga para se dedicar à música. A dona de casa passou a fazer voluntariado no Ponto, revelou-se uma ritmista, gostou da arte e quer mais. Quer aprender mesmo, faz oficina de percussão em João Pessoa, diz que vai passar a técnica para outras pessoas em Itabaiana. A irmã de dona Cassiana Roque participa de um grupo de moças que gostam de bater na lata, tirar som do bombo e do ganzá, e ela já se engajou, depois de ter feito oficina com o “Ganzá de Ouro”, nosso conjunto de música regional.

Chamam isso de democratização e acesso à cultura, nessas iniciativas que cruzam o Brasil de ponta a ponta. A ideia é criar meios para que o povo fale, cante, grite, desenhe seus sonhos e suas vontades, como bem disse Emir Sade no posfácio de um livro generoso que explica o que é e para que serve o Ponto de Cultura, escrito por Célio Turino, o quase inventor dessas entidades que quase revolucionaram a cultura do Brasil. Eu digo quase porque, depois que o Ministro Gilberto Gil saiu do Governo, a coisa desandou, mas isso é outra história.

Essa nova militância cultural que vai surgindo com as atividades do Ponto de Cultura é que dá fermento para que a gente prossiga. Uma coisa com base social, vindo de baixo para cima, sem burocracia nem pedantismo oficial, sem barreiras ideológicas. Certo dia, um professor achou que poderia usar o espaço do Ponto para ensinar às pessoas os segredos da matemática e da robótica. Pronto, mais uma participação militante. Lá se incentiva o poeta novo, o ator que quer desabrochar, o compositor, o cantor e outros artistas iniciantes, e tudo isso tem reflexo na produção, circulação e consumo da cultura numa cidade sem quase nenhuma opção de lazer e ambiente social sadio.

“Empoderamento”, essa palavra que está na moda se aplica bem ao que se faz naquele espaço. O povo se assumindo como “agente”.  

domingo, 19 de janeiro de 2014

MENSAGEM NO CORREIO ELETRÔNICO



Senhor Fábio Mozart:

Após ter lido um pouco sobre a tragédia de Mari, gostaria de saber mais sobre o assunto. Já procurei em muitos sites mais não encontro o livro, o senhor o tem? seria possível obter uma cópia? Moro aqui na cidade e nunca havia ouvido falar sobre o assunto. Agora com os 50 anos de resistência de Mari, uma bela homenagem aos grandes guerreiros e a seus familiares, fiquei bastante interessada em conhecer um pouco mais da história a de minha cidade. Desde já agradeço.

Maria Clyvia – Mari/PB


Prezada Maria Clyvia:

Esse fato que pertence à história de Mari e da Paraíba encontra-se registrado no meu livro “Mari, Araçá e outras árvores do paraíso”, obra que foi considerada como integrante do conteúdo pedagógico nas escolas municipais, conforme lei aprovada na Câmara dessa cidade. Infelizmente, a Prefeitura local não fez publicar edição da obra para distribuição nas escolas.
Ainda tenho exemplares do livro. Envie seu endereço físico para remessa pelo correio.


Fábio Mozart 

POEMA DO DOMINGO


Música

A música é um eco de um mundo distante
Como os enigmas de sonhos mais improváveis
Esse dom misterioso e intranquilo de ouvir
E chorar com o último disco dos Smith
Tocando jazz, soul, samba, valsa e xote
Da mais fina procedência como
Todos os sinos, atabaques, tambores e tantãs
Todos os ritmos profundos e insondáveis
Da voz humana e os segredos do seu coração.

Todo músico é uma mulher grávida
Em processo de gestação viva e dignificante
Em seu infinito desprendimento
Num campo de saberes onde não é preciso
Saber nada além de tatear a beleza
Da poesia feita de sons que derretem
O chumbo mais persistente daquilo
Que se convencionou chamar-se alma.

F. Mozart


sábado, 18 de janeiro de 2014

ARTISTAS DE ITABAIANA – Arlinda Cirandeira

Arlinda Agostinho Narciso, Arlinda Cirandeira, nasceu em 8 de março de 1935 na cidade de Itabaiana e faleceu em 31 de setembro de 1999. Foi mestra do pastoril ou lapinha. Comandou os cordões azul e encarnado nas ruas da velha Itabaiana durante a época de Natal. No restante do ano, Arlinda cantava ciranda e sambava na ala das baianas da Escola de Samba Imperatriz.

Arlinda tinha uma voz forte, criava suas próprias toadas na ciranda, fazia repentes no coco de roda e preparava com carinho as roupas do anjinho, da contra mestra, camponesa, borboleta, Diana e demais personagens da lapinha. Ganhava a vida comercializando verduras na feira livre. Foi uma das mais autênticas e talentosas do panteão dos nossos artistas populares.

Pelos cálculos do folclorista Altimar de Alencar Pimentel, no seu livro “Ciranda de adultos”, a dança da ciranda surgiu em Pernambuco nos anos 1950 e só posteriormente passou à Paraíba. Itabaiana, que fica na fronteira dos dois estados, recebia muita influência cultural de Pernambuco. Deduzimos, então, que Arlinda foi a primeira mestra cirandeira paraibana, já que começou a cantar, dançar e tocar o ganzá da ciranda por volta da década de 1950.

(Do livro ARTISTAS DE ITABAIANA)


Já é carnaval no Ponto de Cultura



O grupo “Ganzá de Ouro” começou os ensaios do ano, visando a folia de 2014. Muita gente sai fantasiada antes do carnaval, e neste ano tem eleição que é um carnaval fora de época, então tudo é carná, vamos dar um rolê pelas vias do samba e da marcha, neste artigo sem pé nem cabeça como é do feitio das festas de Momo.

“Bom dia, povo da folia!”, exclama o carnavalesco Orlando Otávio, mestre de harmonia do Ganzá, autor do hino do grupo e gerente do Bloco da Saudade. O ator e arte-educador Ed Gonchá pegou o cavaquinho, doação do amigo José Mário Pacheco, trancou-se num quarto e passou três dias aprendendo os rudimentos do instrumento só pra acompanhar as toadas e sambas do conjunto. Eu ignorei os sinais doloridos da artrose nos dedos e sapequei no ritmo do pastoril e do fandango no meu violão velho de guerra. A linda voz de Nataline, sobrinha de Arlinda Cirandeira, artista já falecida, faz a modulação do Ganzá de Ouro, no intuito de preservar as riquezas da música regional brasileira.