Eu e meus compadres Sander Lee e Thiago Alves criamos uma
academia para agrupar os chamados poetas de gabinete, escritores da literatura
de cordel. “Uma academia é tão inútil quanto astrologia”, garante o despeitado
Maciel Caju. Trata-se de uma entidade literária destinada a realçar a vaidade
dos seus membros e distribuir medalhinhas a troco de repercussão na imprensa
especialista na promoção de futilidades. O técnico de futebol Vanderlei
Luxemburgo e o jogador Ronaldinho Gaúcho receberam a Medalha Machado de Assis,
honraria máxima da Academia Brasileira de Letras, deduzindo-se que o “gol de
letra” anda mais apreciado do que as letras propriamente ditas na ABL.
Corrigindo aqui um erro histórico: o General paraibano Aurélio
de Lira Tavares não foi admitido na Academia Brasileira de Letras por ter
apenas escrito o Ato Institucional nº 5, cujo texto apresenta 135 erros de português.
O general Tavares é autor de sonetos e quadrinhas publicados na revista Fon Fon, sob o pseudônimo catita de “Adelita”.
Monteiro Lobato era racista e misógino. Escreveu crônica estraçalhando
uma academia de letras formada por mulheres no Rio, no começo do século vinte. Certamente
“Adelita” não teria sido aceita nessa Academia. Monteiro cita uma tal Madame
Linange: “Academia é uma sociedade cômica onde se guarda o sério”. As “damas de
letras” eram escolhidas conforme os critérios de um tal Guizot, francês da
Academia de Letras da terra de Napoleão: “Voto no senhor X porque ele possui
todas as qualidades de acadêmico. Veste-se bem, escova os dentes, conta boas
piadas, conhece vinhos, é polido e não tem nenhuma opinião. É verdade que nunca
publicou uma obra. Mas, o que querem vocês? Não há ninguém perfeito...”
Voltando à nossa academia matuta, dos quarenta membros
efetivos, seis são mulheres. Num universo machista como a literatura de cordel,
já é um avanço.
Temos apenas um critério para adoção de novos membros: não
devem ser gravibundos e meditabundos. Traduzindo: não se levam a sério e
apresentam sólida crença de que poeta de folheto de feira é um senhor de cabeça branca com chapéu de
massa, já velho e que nunca saiu da idade pueril. Seu material de trabalho
frequentemente é o riso, o motejo e os versos de escárnio. Entretanto, não queremos
ser uma instituição inerte, que só serve para promover encontros sociais e distribuir
homenagens estéreis. Desejamos ser capazes de promover projetos de valorização
do gênero cordel, defender a liberdade de expressão e procurar formar parcerias
técnicas e operacionais para editar nossos poetas, assistindo e apoiando seus
projetos artísticos. Assim pensa o novo Presidente, Marconi Araújo, eleito
neste 27 de julho de 2018. Almejo uma boa gestão, pautando projetos para
desenvolver as potencialidades dos artistas que compõem a Academia, uma espécie
de sindicato de cordelistas.