domingo, 31 de janeiro de 2010
Combatendo o bom combate e revendo amigos
Arnaud Costa (à esquerda), com sua esposa Iraci e o genro Dr. Joaquim, na biblioteca comunitária que leva seu nome
Foi assim na inauguração da Biblioteca jornalista Arnaud Costa no Ponto de Cultura Cantiga de Ninar em Itabaiana, cidade que a cada dia que passa está mais provinciana. Minha cidade vem perdendo a elegância e sofisticação de outrora. A nova geração está perdida num mar de mediocridade. O que resta de lazer para a juventude são os bares e barracas no meio da rua onde se bebe e se ouve música de péssimo gosto. O modo de pensar ou agir de nossos conterrâneos indica a falta de elevação moral da nossa gente. Sem querer afrontar ninguém, que aqui não falo do geral, mas da maioria, o que se convencionou chamar de imaginário coletivo.
É porque nos faltam formação e desenvolvimento intelectual. Com isso também se vão a delicadeza e a urbanidade. Propagar som em altos decibéis no meio da rua, urinar nas portas das pessoas, avacalhar com o que temos de rico e tradicional, ignorar as boas maneiras e o respeito entre os cidadãos, tudo isso é resultado da falta de educação, a doméstica e a formal.
O que fazer? Ignorar essa tragédia que põe em risco nosso futuro? Perder o ânimo diante da inércia oficial e da falta de vontade dos educadores para superar essa tragédia? Ou acreditar até o último minuto que alguma coisa pode ser feita, e que você deve fazer a sua parte?
Nem tudo está perdido. Eles se chamam Joelda, Maria das Dores, Edglês, Rose, Débora, Joseildo e outros jovens que se colocaram como voluntários para organizar uma biblioteca comunitária. São estudantes que estão aprendendo a gostar de livros e de arte. Isso é uma das razões para que pessoas como este velho guerreiro continuem na batalha, remando contra uma maré braba no sentido de levar conhecimento e ilustração principalmente para a juventude.
No dia 29 de janeiro, inauguramos a Biblioteca Comunitária Arnaud Costa. Opotunidade para rever velhos amigos de antigas lutas etílicas, políticas e culturais de Itabaiana. Figuras que hoje moram em outros lugares e atenderam ao convite do Ponto de Cultura Cantiga de Ninar. Meus professores Idalmo da Silva, Zenito Oliveira e Irene Marinheiro estiveram lá, abraçando a família Palhano nas pessoas de Romualdo, Beto, Palmira, Ecilio,Tânia e dona Hilda. Minha mãe Iraci deu um abraço saudoso na professora Nel Ananias. Meu pai Arnaud Costa encontrou o velho amigo Edílson Andrade, o professor Edmilson Jurema, Manoel Medeiros e outras pessoas de nosso tempo. Meus irmãos Vasti e Sósthenes reviveram esse encanto de estar na nossa terra com amigos comuns numa noite mágica de teatro e confraternização cultural. O Grupo Piollin apresentou um espetáculo magnífico, com texto de Altimar Pimentel e direção de Buda Lira: “Casamento de branco”. O professor Romualdo Palhano fez o lançamento oficial de dois livros, um de poesia e outro sobre a história do teatro na Paraíba.
A variada programação da noite agradou a todos, incluindo um grupo de alunos que foram levados ao Ponto de Cultura Cantiga de Ninar pelo seu professor. Se um daqueles jovens estudantes saiu dali pensando no que viu e ouviu, sentindo chegar no seu pensar o voo rasteiro da ave da intelectualidade, se ele ao deitar ficou raciocinando sobre o encanto da representação teatral que acabou de ver e as palavras candentes dos poetas, já valeu a pena o esforço de nossa equipe para organizar a festa.
sábado, 30 de janeiro de 2010
Jessier Quirino e Paulo Coelho
Quem fez a esdrúxula comparação foi o poeta Zanony, em mesa de cerveja no bar do Zé. O confronto é extravagante porque Jessier Quirino é um poeta e Paulo Coelho também escreveu letras de músicas no passado, mas a distância de um para outro é abissal no que se refere à produção de cada um nos dias que correm. Quirino faz versos saborosos com a faculdade que possui seu espírito de artista para pegar os mangaios da cultura popular e transformá-los em jóia rara. Paulo Coelho é um escritor medíocre que se tornou bestseller por obra e graça da mágica marqueteira.
Zanony garante que os dois, Jessier e Paulo Coelho, devem seu sucesso a um truque simples: pegam um monte de matérias de difícil digestão, passam numa peneira e servem ao público aquele xerém já diluído. Os dois são magos. Coelho transforma um monte de besteiras como viagens astrais, seres de outros planetas, almas gêmeas e terceiro olho em coisa séria. Jessier Quirino se apodera das imagens estereotipadas do matuto nordestino, criando personagens e imagens boas para o consumo do público médio. “O ‘bicho' de Paulo Coelho foi Raul Seixas, e o ‘bicho’ de Zé da Luz foi Catulo da Paixão Cearense. Jessier Quirino tem Zé da Luz como seu ‘bicho’”, argumenta ebriamente o poeta Zanony. “Bicho”, no caso, é a inspiração.
É tema para discussão entre letrados e críticos. Eu simplesmente não tolero o Paulo Coelho e sou admirador do trabalho do Jessier Quirino. Estando no banheiro, e sem nada para ler além de um livro do Coelho, prefiro me divertir lendo bula de xampu ou rótulo de sabonete. Nem para isso servem os livros de auto-ajuda do Paulo Coelho, no meu caso.
Sujeito pernóstico, Zanony garante que aprendeu algumas coisas com Paulo Coelho. As mais importantes: se você deu a bunda quando mais jovem, mesmo por curiosidade, isso faz de você um mago, pois aprendeu o feitiço de encantar serpentes e fazer sumir cobras. Se você, mesmo sendo um escritor banal, consegue entrar para a Academia Brasileira de Letras, você não é mago nenhum, porque Sarney também está lá com seu “Marimbondos de Fogo”. Falar de alma gêmea não vende só Sabrina, Samantha e outros livrinhos ruins. Vende também livros de Magos.
Se Paulo Coelho é um saco vazio ou não, desconheço porque só li duas ou três páginas do seu primeiro livro. Foi o bastante para esgotar minha paciência de leitor desacostumado com as profundidades do tesouro de conhecimentos exotéricos ali contidos. Jessier Quirino é um gênio da poesia popular, se é que existe poesia impopular. Na função de contador de causos, o cara é fera. Nunca um poeta exerceu tão bem os dois ofícios, de escritor e ator nas performances de sua própria obra. Por seu estilo original, vem se destacando. Que me desculpe Zanony, mas tu parece que bebe!
Em tempo: pessoalmente, Jessier Quirino é chato, não fala com as pessoas em Itabaiana, terra onde ele capta os personagens mais caricatos de seus versos engraçados. É de casa para o escritório, sem dar um bom dia a seu ninguém. Ele admite que é tímido. Ninguém acredita, vendo sua performance na TV e ao vivo. Esquisitices de artista...
sexta-feira, 29 de janeiro de 2010
Depressão e sexualidade
O tema “depressão” rendeu muitas mensagens de leitores interessados no mote, que esse problema psíquico é mais comum do que parece. Não sou estudioso do assunto nem vítima da doença. Minha depressão é mais ligada a fatores econômicos caracterizados por falta de capital, causando estado de desencorajamento consumista e atitudes de fuga de uma praga chamada cobrador.
Falando sério que a coisa não é brinquedo. Uma moça do Piauí escreveu para a Toca do Leão dizendo que é mulher de trinta e seis anos que passou por duas crises depressivas sérias, terminando com uma tal de síndrome do pânico. “Só quem sofreu sabe o que é”, garante minha comadre piauiense. Ela observa que “um dia a gente acorda e não quer mais levantar da cama, não vai trabalhar nem consegue conversar com ninguém”. As lágrimas afloram aos olhos sem qualquer motivo aparente. Não falta quem tente encorajar o pobre coitado depressivo: “Sai dessa”, “você tem que reagir”, e coisas do gênero.
Brasileiro é phoda com PH de farmácia, já dizia meu compadre Maciel Caju. Pois não é que uma brasileira da Paraíba se mandou para a Europa e lá inventou um método para combater a depressão daquele povo triste, recuperando o prazer de viver no paraíso do primeiro mundo? É um projeto que ela chama de social, para detonar com a síndrome depressiva, coisa que está na moda também no velho mundo. O método é simples: ela narra suas peripécias de moça pobre do interior da Paraíba, conta o estado de penúria muito grande em que viveu a maior parte do tempo, expõe com cores fortes e dramáticas o bê-a-bá do miserê nordestino, pra depois evidenciar sua alegria, afeto e carinho, criatividade, fantasia, fé, sonho, suingue e amor. A danada está ganhando os tubos ministrando workshops pela velha Europa.
Sim, a sexualidade do título foi só pra chamar sua atenção, porque com a autoestima baixa, o depressivo sequer se olha no espelho. Não se tem a menor excitação, garante minha confidente. Pessoal que estiver com problemas, libido em baixa, a cabeça cheia de caraminholas, é procurar os médicos.
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
Contos eróticos
Escrevi croniqueta falando de um trabalho meritória da Igreja Católica em apoio às mulheres “de vida fácil”, eufemismo cínico da sociedade mais do que hipócrita para suavizar o peso da palavra prostituta. Trata-se da Pastoral da Mulher Marginalizada, “dedicada ao atendimento das vítimas da prostituição”. Um leitor por nome Ednaldo achou o texto “interessante, mas deveria estar num editorial de jornal e não em um site de contos eróticos”. Errou duas vezes: meu blog não trata de literatura sexual e a matéria não tem nada de abordagem pornográfica.
Minha comadre Fátima Vieira saiu em defesa da crônica, porque nela eu cito a assistente social Maria de Lourdes Carvalho, que vem a ser sua tia. Ela aproveita para fazer breve relato da vida dessa grande paraibana que dedicou sua vida à defesa e amparo dos mais frágeis da sociedade, incluindo as prostitutas. “Era professora, mas, mesmo pobre e precisando do salário, pediu demissão da Escola do SESI para estudar Serviço Social, com uma bolsa conseguida pela Irmã Maria Franklin, diretora da Escola de Serviço Social da Paraíba porque a sua vocação era essa. Minha tia foi uma mulher extraordinária! Nunca casou nem teve filhos e sempre foi o esteio da família. Ajudou os pais, irmãos, irmãs, sobrinhos. No fim da vida vivia com uma mísera aposentadoria, mas a família esteve presente com ela até o fim. Morreu do Mal de Alzheimer em 2006 e deixou muitas saudades em todos nós”.
No fim, Fatita puxa as orelhas do leitor desatento: “o senhor está no local errado, pois deve prestar mais atenção onde navega e onde clica seu mouse”. O Ednaldo deve ter procurado algum conto erótico com prostitutas para seu prazer solitário virtual, e sem atentar para a temática e a proposta do blog, pensou que se tratava de lugar onde se publica obscenidades.
Para não decepcionar totalmente o leitor libidinoso, vai uma foto de casamento entre elefantes, um grande flagrante afinal.
www.fabiomozart.blogspot.com
Ai daquele que tocar no ungido do Senhor!
Este blogueiro ficou impressionado com a repercussão do texto sobre a religião do Haiti. Recebi dezenas de mensagens, a maioria me ameaçando com a fogueira do inferno por não acreditar que Deus pessoalmente comandou a destruição naquele pobre país. Alguns padres e pastores posicionam-se de forma até racional. Já os fiéis do naipe de um tal Marcos Bittencourt presumem que “Deus não quer dividir seus filhos com outro deus morto. Não importa se é o Vudu que predomina, nós vamos entrar e pregar sobre o único Deus que existe, e ai daquele que tocar no ungido do Senhor!”. Parece uma declaração de guerra.
Júlio Cezar Galli é professor em Jaboticabal, São Paulo. Contestando a informação de que os Estados Unidos foram os algozes do Haiti em passado recente, ele pergunta: “E qual país está prestando a maior ajuda?”.
O Pastor Elias Júnior declara que não quer atacar, julgar nem defender. Deixou alguns versículos da Bíblia “para minha meditação”. A ameaça do seu Deus é patente: “Quando aquilo que temem abater-se sobre vocês como uma tempestade, quando a desgraça como um vendaval, quando a angustia e a dor os dominarem, então vocês me chamarão, mas não responderei; procurarão por mim, mas não me encontrarão. Visto que desprezaram o conhecimento e recusaram o temor do Senhor”. (Provérbios 1.31-33).
Victor garante que é o fim do mundo, e que o Apocalipse está próximo. Pede que Deus me dê muitas vitórias e assegura que Ele é fiel. Uma moça por nome Nete Gal mandou textos sobre o Deus de Abraão, Isaque e Jacó. Aproveita para pedir que Deus tenha misericórdia de mim. Ana Carolina diz que pra ela “o Vudu não passa de bruxaria e feitiçaria”.
Heitor Dias tem 77 anos e mora na Austrália. Aproveita e mete o pau nos hindus: “Fábio, o Deus em quem, parece, você não crê, deu-nos o livre arbítrio para tudo fazer, inclusive a liberdade de seguir crenças de povos infelizes, paupérrimos, machistas e intelectualmente estagnados na idade da pedra, como são os indianos praticantes do Hinduísmo.
Sandra Moreira Araújo escreveu: “Caro Fábio, graças a Deus vivemos em um País onde podemos expressar nossas opiniões, então lá vai: não se trata apenas de credo, mas também de ponderação e bom senso. Como pode uma determinada crença levar à felicidade e o bem de uma nação quando seus membros unem-se a Satanás, fazendo alianças para conseguir seus objetivos? Será que o Deus da Bíblia, já não garante Salvação, vida eterna, paz verdadeira, através de Jesus? Será que esses povos, (não só Haitianos) não estão em rebelião, uma vez que a Bíblia nos mostra que só há um Deus e só a Ele prestarás culto?”.
Luma Araújo foi contundente: “Fábio Mozart, seu conhecimento e meus atos de bondade são trapos de imundície. Um dia, você e eu estaremos diante da morte. Eu sei o que dizer para ela. Pelo seu texto, nota-se que só terás a dizer o que dizem. Mas ainda assim, você terá que confessar que só há um único Deus, Jesus de Nazaré”.
Marcelo acredita que “o Haiti apartou-se de Deus e será assolado por suas culpas. Deus derrubará seus altares e arruinará seus ídolos (Oséias 10:2)”. Meu leitor nem se lembra que Zilda Arns morreu dentro de uma igreja católica. Não consta que ela estivesse adorando ídolos pagãos.
Tyna mora em Belém, tem 17 anos, mas sua opinião foi uma das mais razoáveis: “E quem disse que o inferno fica debaixo da terra? Vivemos no inferno e nem nos damos conta disso. Na realidade não há demônios de chifres medonhos, rabo e bafo de enxofre andando por aí. Há homens de terno e gravata lascando a humanidade”.
terça-feira, 26 de janeiro de 2010
DIA DO CARTEIRO
Dia 25 de janeiro é dia do carteiro e data da criação dos Correios e Telégrafos no Brasil. Em 1663 foi criado o Correio-Mor do Brasil, conforme leio no Google. Subindo ladeira e descendo rampa, recordo de um velho carteiro de minha Itabaiana de infância, seu Benjamim, um senhor baixinho e simpático. Na época não existiam os centros de triagens, que a correspondência era pouquinha, umas cartinhas minguadas, telegramas raros e encomendas idem.
Roberto Palhano, que também trabalhou nos Correios de Itabaiana, lembra que seu Benjamim não classificava a correspondência a entregar. Pegava a primeira carta do pacote do dia e saía pra entregar no fim da rua. Depois, outra carta era entregue no lado oposto da cidade. Só pelo gosto de andar pelas ruas de sua Itabaiana, cumprimentando os amigos.
Desconfio que seu Benjamim seja o pai do professor Benjamim, da Universidade Estadual da Paraíba, em Campina Grande. Sendo fato real, fica nossa cidade devendo mais um favor ao carteiro Benjamim, que foi o de ter educado seu filho para ser um homem de bem e benfeitor da humanidade.
Conheci outro carteiro na cidade de Mari por nome Nô. Esse carteiro era dado ao vício da embriaguez. Depois de inebriado pela branquinha, Nô jogava as cartas em uma fossa, encerrando o expediente nas ruas e começando no bar de Manoel do Bar. Outro carteiro sui generis, o Baratinha. Analfabeto, sua filha quem colecionava as cartas que ele decorava os endereços e entregava sem nenhum engano.
O melhor amigo do homem é o maior inimigo do carteiro. Mas quem desacredita mesmo o carteiro é sua própria empresa, que atrasa as correspondências por falta de pessoal e a gente desconta no pobre do carteiro pelas contas atrasadas. Entre as sacanagens que se diz sobre carteiro, suas principais funções: fugir do cachorro, entregar mensalão a deputado governista e fugir do cachorro, abarrotar sua caixa de correio com envelopes inúteis e, por fim, fugir do cachorro...
Esse profissional que faz parte da vida de todos nós tem sua rota passando pelas melhores emoções de nossas existências. Recebi o carteiro de minha rua com aplausos. O gaiato chacoteou: “diminui a cortesia e aumenta o salário”.
domingo, 24 de janeiro de 2010
Depressão
Amiga minha escreve no seu blog sobre tristeza, desencanto e desilusão com a vida. Encontra-se sem ânimo, cansada. Para ela, existe um vazio no seu coração que precisa ser preenchido. Pensa em viajar para outros países, talvez para o continente africano, numa dessas missões humanitárias, para ajudar pessoas, sentir-se útil, com sua mala cheia de amor, carinho, atenção e fé em seu Deus. Só assim, acha que poderá reencontrar a alegria de viver.
Peço vênia para arrumar essas coisas segundo um enfoque diferente, a partir das minhas próprias ânsias diante do engarrafamento psicológico que o mundo moderno criou para nós. Nossa amiga está atravessando uma crise existencial, à beira de uma depressão. Todos se sentem “pra baixo” de vez em quando. Precisa saber se esse é um evento psiquiátrico ou uma daquelas fases ruins pelas quais todos nós passamos. Aconselho um acompanhamento profissional.
O nosso interior é insondável. Mesmo a pessoa mais íntima não consegue vislumbrar o que se passa na mente do parceiro. Minha amiga, felizmente, tem tudo para superar sua angústia, porque o mais profundo dos medos no ser humano é o de não arranjar nada ou perder o que tem. E ela tem um particular indivisível, um forte caráter, perseverança, personalidade e absoluto desinteresse por bens materiais. Creio que essa sua apatia seja apenas um desequilíbrio bioquímico dos neurônios responsáveis pelo controle do estado de humor. Vai passar, ficando a esperança de que sua missão está apenas começando.
Publiquei essa preocupação em site da internet e recebi algumas mensagens em resposta. Uma leitora de Curitiba, Paraná, cujo pseudônimo é “Sonhar é tudo”, escreveu: “Parabéns Fábio, o seu texto com certeza está sendo muito útil para muita gente. Momentos de crise existencial acometem muitos de nós hoje em dia. Imagino que parte disso se deve ao fato de estarmos passando por cima de certos valores essênciais para darmos espaço aos tempos modernos. Gostei muito do seu texto, de grande valia para nossa compreensão interior”.
Marlene de Letícia tem 56 anos, mora em Itanhaém, São Paulo. Sua mensagem: “Fabio, gostei demais do seu texto. Eu, que sofro de depressão leve, que tenho um filho severamente castigado pela esquizofrenia e tenho os meus sentidos voltados para o entendimento das doenças psíquicas, entendi perfeitamente a sua mensagem. Parabéns!”.
Os caras da foto são uns gozadores. É assim mesmo, não se deve levar a sério as doenças sérias.
sábado, 23 de janeiro de 2010
Aposentado não tem sorte nem no seu hino
Hoje, 24 de janeiro, é o dia nacional dos aposentados. Recebi do meu companheiro Cleofas um CD com o hino dos aposentados, produzido pela Confederação Brasileira de Aposentados e Pensionistas. O hino oficial dos aposentados é um primor de besteira. Um rapaz por nome Marcelo Cassoni foi o autor da pérola. Estrofe do hino:
Com as mãos calejadas
Corpo já cansado
Foram anos de muito trabalho
Buscando direitos
Vencendo preconceitos
É a luta dos aposentados.
Sou aposentado ferroviário. Vou retribuir com disco de uma cantora chamada Eliana que canta uma música mandando pessoas chatas irem tomar nas entranhas. O disco não vai pra Cleofas, mas para o compositor do tal hino. É brincadeira, como diria aquele outro chato comentarista de futebol, um tal de Neto. No mesmo CD dos aposentados tem a música “Vida de gado”, de Zé Ramalho. Somos comparados a uma manada de bois mansos.
Eu queria ter nascido aposentado, como meu compadre Biu Penca Preta, que nunca enfiou um prego numa barra de sabão pra fela da puta nenhum e vive numa boa, tomando “água benta” no mercado público de Itabaiana. Aposentado não tem condições nem de pegar um ônibus para receber seu miserável dinheiro do INSS. Ainda dizem que os aposentados são os heróis nacionais. Aposentado quer dizer “recolhido ao aposento”, mas no nosso caso, a dura realidade é que passamos o restante da vida dependendo de parentes porque a merreca do “benefício” não dá pra nada. Ainda por cima me aparece um “compositor” pra compor esse hino idiota.
O presidente Lula lesa os aposentados. Não é justo o contribuinte pagar em cima de determinado número de salários e na hora da sua aposentadoria o governo reduzir progressivamente nossos proventos. Sou vítima de extorsão da Previdência, de um governo que se diz dos trabalhadores. Vai tomar no orifício também!
sexta-feira, 22 de janeiro de 2010
Costumes sexuais dos povos ameríndios
Acender a curiosidade dos meus eventuais leitores, essa a razão do título impactante desta croniqueta. Seguindo o raciocínio de um leitor, vou acreditando que sou bom em auto-promoção, por isso busco o maior número de leitores possível, usando até mesmo esse recurso um tanto desprezível e ordinário. Advertência em um desses blogs de desocupados: “Prostituir” o blog pode aumentar seu tráfego, mas gera consequências inesperadas.
É que li na internet que, se você pretende ser lido por um grande número de internautas, deve titular a matéria de forma um tanto sensacionalista. Minha experiência indica que religião e sexo são os dois assuntos que mais podem “bombar” um post na internet. Em meio à assustadora onda de informações no mundo da grande rede, cedo talvez à vaidade de só tratar do meu universo, da minha aldeia. Por isso os raros acessos, mas de leitores qualificados, a maioria meus conterrâneos.
Sobre os ameríndios, li que, por não terem a mais leve noção de culpa, os costumes sexuais daquele povo eram liberais. Para esquentar a relação, rolavam bacanais e outros “recursos” entre os índios. É só o que sei.
Meu blog é coisa séria. Não tenho o intuito de agradar aos leitores, é só onda. Postei uma matéria, toda citação, a respeito da religião Vudu do Haiti, país que está na crista da mídia por conta do terremoto. Recebi uma carrada de mensagens. Posteriormente publicarei as mais contundentes e inquietantes. Creiam: a maioria das pessoas acredita mesmo que Deus castigou aquele país por causa da religião dos haitianos. O tempo não modifica nossa essência, se é que temos alguma.
Uma senhora chamada Miriam Padilha Moraes escreveu: “Acredito no sofrimento como uma forma de libertação. Aqueles que se curvaram e viram os escombros, vislumbraram a força do poder de Deus, mostrando que não devemos nos aliar a Satanás nem a bruxarias. Os que não comungam com o Diabo se mantêm vivos no poder de Deus. Vou contribuir para salvar mais gente de lá, e para que os sobreviventes sirvam a um só Deus”. Não parece um fundamentalista islâmico falando sobre o atentado às Torres Gêmeas? Esses religiosos conservadores tornam o argumento impossível. Os senhores da Inquisição manejavam lógica semelhante.
No Haiti desabaram igrejas católicas, evangélicas, mesquitas, sinagogas e tendas de Vudu. A catástrofe é democrática. Desastres naturais ocorriam muito antes dos humanos habitarem o planeta, desde quando isso aqui era uma bola de fogo. As forças da natureza só não conseguem desobstruir as mentes dos extremistas, fanáticos e intolerantes.
Eu particularmente tenho meu próprio anticristo, causador dos males do Haiti. Os Estados Unidos invadiu o Haití en 1915 e governou o país até 1934. Justificando a feroz ocupação, o Secretário de Estado norte-americano Robert Lansing explicou que a raça negra é incapaz de governar-se a si mesma, que tem “uma tendência à vida selvagem e uma incapacidade física de civilização”. William Philips, um dos invasores ianques, afirmou: “É um povo inferior, incapaz de conservar a civilização herdada dos franceses”. Os racistas de toda espécie, essa escória colonialista é, para mim, o diabo que inferniza o mundo.
Bráulio Tavares escreveu que o Haiti fez mesmo o tal pacto com o diabo e esclarece: “o demônio foram as nações ocidentais, França e EUA, com quem foram feitos os acordos que espoliaram o país durante décadas”. Ou seja: o diabo somos nós...
quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
Religião do Haiti
Leio que o embaixador do Haiti no Brasil atribuiu o terremoto em seu país às práticas religiosas do seu povo. Um internauta por nome Tião Maia escreveu: “infelizmente, o Haiti tem uma acentuada prática de bruxaria, vuduismo e satanismo. Isso, inevitavelmente, leva às tragédias”.
Pensamentos como esses representam ignorância e preconceito. Fui pesquisar no livro “Do Vudu à macumba”, de Márcia Neves (Editora Ícone), e fiquei sabendo que “Vudu é uma religião oriunda da África, da região dos Yorubás e chegou ao Haiti, levada por escravos, em 157.
É uma religião politeísta e seus deuses são chamados "AS LOAS", no feminino. Como no monoteísmo, existe uma entidade suprema e todos os demais deuses estão abaixo dela.
Como a maioria das religiões ancestrais, suas crenças eram fundamentalmente animistas, cultuando as entidades representativas das forças da natureza, os espíritos dos mortos e alguns animais e plantas. Por isso foi considerada uma manifestação pagã, e o vuduismo se tornou proibido.
Sem outra opção, uma parte dos seguidores do Vudu, os da chamada parte branca, se fizeram ‘cristãos’ e por traz das imagens do cristianismo, faziam oferendas às suas Loas (Deuses).
Os da chamada parte negra do Vudu (correspondente à Quimbanda no Candomblé), foram perseguidos e tiveram que se manter escondidos, com cerimônias secretas e com sua cultura religiosa sendo passada de pai para filho.
Vudu é uma corruptela da palavra ‘Vaudoux’, dada a um deus serpente com poderes de oráculo. A maioria dos termos Vudu é em "Criolo", do idioma Haitiano, que combina o francês com o espanhol e o africano.
O Vudu nada tem a ver com os ‘Zumbis’, os mortos-vivos, mostrados de forma leviana pela indústria cinematográfica Holliwoodiana. O que acontece é que os escravos que se juntavam para praticar seus cultos e sacrifícios, aproveitavam para discutir sua libertação da condição de escravos e seus "amos", juntamente com o clero, atribuíam atividades demoníacas a esses cultos, como desculpa para coibi-los.
O Vuduismo é uma religião, em principio, voltada para o bem de seus praticantes, para a felicidade da comunidade e principalmente para a cura de males do espírito e doenças em geral”.
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
Não tente me salvar!
Meu amigo camarada Antonio Costta manda uma mensagem ao mesmo tempo lisonjeira e preocupante. Ele afirma que é leitor diário dos meus posts e que sou um dos melhores cronistas do Brasil. “Mas me preocupo com a salvação de sua alma”, confessa Costta, citando a Bíblia: “de que adianta o homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma para Deus?”
Ilustre e zeloso pregador, agradeço o elogio, mas garanto que não entro no rol dos grandes cronistas. Essa possibilidade é proporcional à salvação do rico na alegoria do camelo e da agulha, lembra?
Quanto à minha alma, não se preocupe, meu caro Costta. Uma vez no passado frequentei a Igreja Batista, levado pela minha mãe quando tinha dez anos de idade. Com os olhos da infância, nessa época comecei a descentralizar meus interesses, olhar em volta de mim, perceber as pessoas e a precariedade de sua fé. Tornei-me um homem de pouca fé, me desconstruí, achando que não precisava assim de tanta fé, porque “a fé não passa de um disfarce das dúvidas transidas de medo”, conforme sustentava Luiz Augusto Crispim, esse sim, um cronista dos grandes que a Paraíba criou e o Brasil reconheceu.
De acordo com Kant, o ser humano tem fugido da incerteza, sem desconfiar que a realidade verdadeira não nos é acessível. Por isso nossa inclinação para nos valer das doutrinas indiscutíveis. Isso é ruim na medida em que nos indispõe para conviver com as diferenças. Exemplo: por mais estúpido que possa parecer, muitos cristãos associam a tragédia do terremoto no Haiti às práticas religiosas daquele povo. Os que procuram salvar seus irmãos, como o amigo Costta, são repletos de boas intenções, mas muitas vezes movidos conforme a visão de mundo que considera seu grupo mais importante do que os demais.
Desviei-me do caminho, para desgosto de minha mãe que ainda hoje professa a fé cristã evangélica. Parei de me preocupar com o céu e o inferno. Nem por isso me julgo um perdido, combustível certo nas fornalhas do diabo. É como digo: da lista de seres invisíveis, só creio no juro embutido. Diabo, santo, alma penada, boitatá, comadre Fulôzinha ou qualquer outra entidade que não corresponda a uma realidade sensível não merecem minha crença. Isso não me fez bom nem mau. Esse desinteresse pela salvação de minha alma apenas me deu ferramentas ideológicas para ver o mundo em toda sua multiplicidade e complexidade, sem preconceito.
Portanto, por favor, não se esforce para me salvar. Não vale a pena.
terça-feira, 19 de janeiro de 2010
Entendendo sua própria divindade
Zé Ramos é advogado e empresário
Escrevi uma crônica bem humorada sobre a onda de abrir igrejas ditas evangélicas, que na realidade são arapucas para explorar a boa fé dos humildes. Um membro de igreja evangélica, meu amigo particular, enviou mensagem protestando contra a forma com que abordei o assunto. Acha que zombei do nome sagrado de Deus.
Há que saber a qual espécie de Deus ele se refere, porque são tantos! Falo da ideia de Deus, também do uso que a humanidade faz dessa ideia desde tempos imemoriais. Não sou bom nesse tema, confesso. É muita teoria, definições e “verdades absolutas”. Nem aqui é lugar para discorrer sobre assunto profundo e polêmico como esse. Eu pessoalmente acho que nós somos Deuses. Dentro de nós está o sentido de tudo, a chave do grande mistério da vida e da morte.
Pulando, entretanto, essas meditações filosóficas, minha imposição interna irresistível pelo mistério do homem enquanto salvador de si mesmo leva a falar de outros milagres, a tecer os destinos das pessoas. Cito aqui duas figuras que fizeram parte do meu caminhar, comigo cruzaram na aventura da vida, sendo que suas histórias remetem ao pensamento de Albert Einstein quando revelou: “A mente que se abre para uma nova ideia jamais voltará a ter o tamanho original”.
Um desses sujeitos chama-se Zé Ramos, cara que nasceu no mesmo dia, mês e ano que eu, portanto um escorpiano teimoso, emotivo e decidido. Escorpião é um signo com muito magnetismo. Sua energia emocional às vezes faz o que até o diabo duvida (perdão por ter introduzido outro ser fantástico e invisível neste lero-lero). Pois Zé Ramos saiu do mato, morava na roça, para estudar em Itabaiana nos anos 70. Por lá nos encontramos. Ele se envolveu com teatro amador e teve seus primeiros contatos com os livros na Sociedade Cultural Poeta Zé da Luz. Depois seguiu seu rumo, formou-se bacharel em Direito. Hoje é um advogado bem sucedido, evoluiu na profissão. Outro dia encontrei-me com ele no seu escritório. Apresentou-me ao seu sócio:
− Esse é o cara que me abriu os caminhos para a vida, depois de me apresentar aos livros.
O outro sujeito que teve uma caminhada fantástica vim a conhecer há uns três anos. Era um jovem ignorante, de família pobre e analfabeta, morador de uma comunidade super-carente de Itabaiana. Entrou para o grupo de teatro, começou a incursionar pelo mundo mágico da literatura e da arte, nunca mais parou de evoluir. Hoje esse camarada tem planos audaciosos para o futuro, mexe com maestria nas modernidades da informática, dá aulas de teatro, aprende novas habilidades, vê o mundo com outros olhares, despertou a necessidade de adquirir conhecimentos para se superar. Edglês Gonçalves é o nome da fera.
Uma oração hindu: "rogamos a Ti que ilumine nosso intelecto, dispersando nossa ignorância, assim como a esplendorosa luz do sol dispersa toda a escuridão". O hindu acredita que todos os nossos problemas são decorrentes de nossa ignorância. É nesse Deus e nessa religião em que acredito.
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
Vou fundar uma religião
É moda nos dias de hoje fundar uma religião. Conheço dois militares da briosa Polícia Militar da Paraíba que abriram suas igrejas e estão se dando bem. Não entendo a ligação que há entre militares e igrejas de resultado, como também deixo de compreender por que se joga sempre o adjetivo “briosa” quando se trata da polícia.
Mas o fato é que vou fundar minha igreja. Minha religião terá um nome bem sugestivo e cheio de marketing: “Igreja Mundial das Doze Mil Virgens”. (Tenho a sensação de que o nome ficou um tanto atrativo para pedófilos, acho que vou mudar...). Vejo-me como um sujeito carismático para vender preceitos e receber em moeda corrente, aceitando também vale-refeição, que a doutrina não tem preconceito econômico. Minha doutrina será esotérica, exótica e pentecostalmente barulhenta. Reunirei todas as ideias, garantindo cura pela imposição das mãos, notadamente nas partes pudendas das fiéis seguidoras. Venderei ervas milagrosas, terras santas, pau santo e fogueiras, tudo ao rito sagrado das antigas tradições pagãs misturado com severas surras no gênio do mal, o anjo rebelde Satanás.
Depois de abrir minha igreja, parto para escrever um livro e comprar espaço na mídia, vendendo a cura para todos os males. Serei honesto: só não serve para resolver conflitos de interesses entre políticos paraibanos do PSDB. Pelo que tenho visto nos empreendimentos similares, a coisa tem que ser suntuosa, para dar credibilidade. Consagro-me logo Papa, chefe supremo. Com base na isenção de impostos, fundo um banco no estrangeiro para mandar minha parte. A de Deus, eu jogo pra cima; se Ele agarrar, é Dele. O que cair no chão pertence ao seu Supremo Profeta, que sou eu mesmo. Excluirei dos bens (espirituais) os que falarem mal de minha igreja, eis que “toda língua que acusar esta Igreja cairá diante dela; porque esta é a herança que o Senhor nos dá”. Portanto não darei bola pra torcida contrária “porque estes conspiradores cairão como bananas maduras diante desta Igreja do Senhor”.
Eu e minha família sairemos do caos da pobreza devido à grande intimidade que terei com Deus e com alguns operadores do mercado financeiro. Pela minha sabedoria, conhecimento, profecia e interpretação do sagrado, logo terei assento em uma câmara de vereadores, assembléia legislativa, senado e onde tiver lugar para um homem de Deus ocupar espaço. Quem me chamar de falso pastor e mercenário, vai se haver com os tribunais em nome da liberdade de culto. O espírito do anticristo toma conta do resto.
domingo, 17 de janeiro de 2010
“Com governo ninguém pode”
Ruben Siqueira é um jornalista baiano que se bate contra o projeto de transposição do rio São Francisco, porta-voz da Frente Cearense Por Uma Nova Cultura de Água e Contra a Transposição, da Frente Paraibana em Defesa da Água, da Terra e do Povo do Nordeste, da Articulação Popular São Francisco Vivo, da CPT – Comissão Pastoral da Terra e da Diakonia no Rio Grande do Norte. Escreveu longo artigo na Folha de São Paulo descrevendo os martírios das populações do campo na região de Quixabinha, município de Mauriti, no Ceará. São 83 as famílias já removidas ou a serem removidas de suas casas e roças. As obras são da transposição de águas do Rio São Francisco para o chamado Nordeste Setentrional, que abrange os estados do Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco.
Na matéria, ele introduz os elementos críticos “sonegados pela propaganda oficial sobre a obra”. Sem entrar no mérito da questão, pra lá de polêmica, registro meu contentamento em ver uma estrofe do meu cordel “Biu de Pacatuba, um herói do nosso tempo” citado no intróito da matéria: “O sistema só tolera / Dois tipos de componentes:/ Os tiranos que exploram/
E os subservientes. / Os que lutam por justiça / Serão sempre dissidentes.”
(Fábio Mozart, Biu de Pacatuba - Um herói do nosso tempo ).
No folheto, ainda inédito em formato impresso, narro a saga de Biu de Pacatuba, apelido de Severino Alves Barbosa, um dos principais líderes das Ligas Camponesas na Paraíba. O cordel citado pode ser lido em http://www.fabiomozart.com/biu_pacatuba_26.html.
Sob o signo da internet, essa tradicional literatura popular nordestina encontra caminhos inusitados e reveladores. Mesmo sem ter sido impresso, meu folheto ganha o mundo, dando notícias de nossa vocação libertária, como preâmbulo de manifesto de luta das classes subalternas na guerra incessante para “"não se deixar cooptar, não se deixar esmagar, lutar sempre, conquistar na luta vitórias reais com o povo", conforme declarou com firmeza ideológica o pensador Florestan Fernandes.
“Com governo ninguém pode”, termina o jornalista sua reflexão sobre a política de Lula em relação aos problemas da terra, citando essa expressão “de antigas e angustiantes reminiscências e tantas vezes ouvida da boca de indefesas vítimas da transposição”. Para ele, soa como “escandaloso fracasso da nossa incipiente e débil democracia e um permanente desafio às consciências livres e à recriação permanente da luta social”.
Parafraseando, diria que com a cultura popular não tem quem possa, que ela vai se adaptando aos novos tempos, atraindo cada vez mais a atenção do público pelo mundo afora, atenuando a linha que divide a cultura dita popular e os meios de comunicação eletrônica, revelando raízes imprevistas entre as duas mídias, folheto e internet. O cordel vem mudando paulatinamente a sua forma de difusão, adaptando-se aos meios modernos, sumarizando a vocação multimídia do poeta popular.
sábado, 16 de janeiro de 2010
Uma bodega filosófica
Zé de Bica tem uma bodega na cidade de Itabaiana, terra do poeta Zé da Luz. Bodega você sabe o que é, né? Uma vendola de secos e molhados, onde o matuto também pode molhar a goela com a melhor “pau dentro” da região. “Pau dentro” você sabe o que é, né? Uma bebida fermentada misturada com mel de abelha e algumas raízes medicinais.
A bodega do Zé de Bica é palco de muitas cantorias de “pé de parede” de poetas repentistas. Eles chegam na segunda, véspera de feira, de tardezinha, e abrem a sessão com um prato no meio, dois ou três pinguços e muita imaginação. Desses, tem dois poetas que eu acho o máximo! Curió de Salgado e Antonio Xexéu. Esses dois passarinhos tem dia que estão inspirados como nunca. Cantam pela noite adentro no ritmo da viola, e haja toada, e haja poesia, e tome versos celestiais. E tome “pau dentro!”
Outro dia pedi um mote sobre o poeta Augusto dos Anjos. Augusto você sabe quem é, né? Aquele poeta de Sapé que escreveu uns versos da gota serena de científicos, cheios de nomes estrambóticos. Mas é como disse um escritor aqui da terra: quando o poeta está na boca do povo, é porque está consagrado pra “seculum seculorum”. Assim falou Zaratustra e Antonio Xexéu. Augusto é assim, um poeta que todo bebinho sabe de cor alguns versos. E cantador de viola sabe tudo! Aí eu botei dez reais no prato e pedi:
--- Cantem um trocado sobre Augusto dos Anjos.
Curió de Salgado largou o vozeirão:
Ele já foi decantado
Por todos os trovadores
E bons improvisadores
Do verso escrito e cantado.
Desde os vates do passado,
A arte desse poeta
Aponta como uma seta
O objetivo da vida:
O belo é a grande meta.
Mesmo falando da morte,
Esse poeta do “Eu”
Que lá em Sapé nasceu
Tinha a natureza forte
Pois a beleza era o norte
De sua obra imortal,
Criação original
Da mente do mestre Augusto
Por isso eu digo sem susto:
Excede o bem e o mal.
Curió é um poeta educado, estudioso e falante, fugindo do padrão do violeiro, que é conhecido por ter uma grande imaginação mas sem as luzes das letras. Xexéu é semi-analfabeto mas que poeta! Vejam o que ele cantou, e eu consegui anotar:
84 era o ano
E o século dezenove.
Lentamente já se move
Esse poeta troiano
De cuja obra eu me ufano
Sem medo da podridão
Arrastando o coração
Do homem com seu escarro
Pois somos feitos de barro
E o destino é o caixão.
No fim, Curió arrematou com esses versos geniais:
No dia 20 de abril
Comemoro o nascimento
Desse homem de talento
Que lá em Sapé surgiu
Pois o mundo nunca viu
Tanta arte e irreverência
Com a clara consciência
Da nua realidade:
A tragédia e a maldade
De nossa humana vivência.
No mais tudo é teoria,
Só lendo os versos do “EU”
Pra sentir como sofreu
Augusto em sua agonia
Descrevendo a anarquia
Que é a natureza humana
Com a crença soberana
De uma obra singular.
Augusto foi e será
O maior dessa porfia.
Cultura e humildade
Ontem estive com Dr. Pedro José da Silva, Secretário de Cultura, Esporte e Lazer da Prefeitura de Itabaiana, recém nomeado pela prefeita Eurídice Moreira. A própria secretaria também é novidade no Município, um dos primeiros a implantar esse departamento para cuidar da cultura. Fui cumprimentar o secretário, em nome da Sociedade Amigos da Rainha do Vale do Paraíba.
Pedro disse que está empenhado na identificação dos problemas, com vontade de resolvê-los. Foi humilde ao declarar que é neófito na área, não tem experiência, mas tem a maior convicção de que, “com a ajuda dos artistas e das pessoas de bem, poderei fazer um bom trabalho”.
Pedro José não sabe, mas vai saber brevemente que o artista não é pessoa fácil de se lidar. Tem que ter paciência e equilíbrio porque somos ao mesmo tempo argumentadores, zombeteiros, irreverentes, desnorteantes, enfim, espalhamos contradições.
Na conversa ligeira que tive com Pedro, senti que ele esforça-se para cumprir seu papel, a missão que lhe foi confiada. E notem que a coisa não é fácil, porque cultura em Itabaiana nunca mereceu a dedicação dos poderes públicos, tudo está por fazer, e ainda tem a politicagem atrapalhando as melhores ações e intenções. Está aí o Fundo Municipal de Cultura, lei saída de muita luta de alguns artistas e produtores culturais há mais de cinco anos e que não funciona. O Conselho de Cultura precisa buscar um consenso e sair do marasmo.
Enfim, política cultural é um desafio imposto pelas condições históricas (sociais e econômicas) e pelo imaginário político (fortemente conservador, na cidade de Itabaiana), exigindo mudanças na mentalidade dos servidores públicos municipais, a definição de prioridades voltadas para as carências e demandas das classes populares e a invenção de uma nova cultura política. Não sei se Pedro está preparado para esses desafios, porém tenho certeza de que está ao lado de quem sonha com cultura e tem boas intenções, que é o poeta Antonio Costta, seu subsecretário. Vamos ver no que vai dar.
A relação entre arte/cultura e poderes públicos sempre foi tumultuada. Produtores culturais sempre são vistos como mendigos. Falta respeito e seriedade. Precisamos mudar a forma de discutir e fazer política em Itabaiana. Para isto proponho a formação do Fórum Permanente dos Artistas e Produtores Culturais de Itabaiana, que deve estar se reunindo pela primeira vez em fevereiro próximo. A ideia é a gente se organizar de forma horizontal e sem hierarquia, onde todos têm direito a voz e voto, em regime aberto a toda e qualquer pessoa, ou a quem interessar, como artistas e a sociedade em geral. Sem vínculo nenhum com partido político, empresas ou religiões. Pedro José disse que aceita participar do encontro. Já é um bom começo.
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
O Haiti é aqui
Wellington Pereira
É sempre assim: homens e mulheres negras, orientais e sul-americanos chorando.
Corpos desnudos, a adolescente vietnamita fugindo da paz norte-americana; estudante chinês de braços abertos na Praça Vermelha enfrentando tanques de guerra.
É sempre assim: a mulher pobre violentada por não ter direito ao seu próprio corpo.
É sempre assim: 174 o itinerário da morte dos excluídos.
É sempre assim: meninas virgens grávidas esperando o retorno do anjo e a bênção do bispo.
É sempre assim: a blasfêmia do apresentador de TV diante da limpeza do ano velho pelos garis.
É sempre assim: a corrupção escondida nas meias como presente de Natal.
É sempre assim: o ódio burguês dos intelectuais derramado na incontinência das frustrações materiais.
É sempre assim: a chacina mental patrocinada pelas “elites- neo-socialistas”.
É sempre assim: observar, confortavelmente, a miséria em TVs LCD.
É sempre assim: Haiti!
Dia do enfermo
Hoje é dia do enfermo, conforme consta na folhinha. Sem assunto para tratar na Toca hoje, apelo para o dia do enfermo, começando por confessar que, em virtude da falta de estudo e experiência, não sei por que comemorar o dia do enfermo. Quando o suplicante cai doente, os amigos desaparecem, os parentes cuidam de má-vontade do pobre padecente. Algumas raras visitas de caridade, cumprindo etiqueta.
No dia do enfermo, penso que todos nós somos doentes, frágeis. Achando que estou em perfeita saúde, de repente descubro o desamparo de nossa condição humana.
Mas no dia do enfermo, devo mandar um bilhetinho de felicitações ao cara que está na cama, vítima de derrame cerebral? É de bom tom enviar flores para a moça que teve cólera e hepatite?
Leio que o motivo da data é para sensibilizar governantes e sociedade para uma atenção especial ao enfermo, possibilitando assistência mais adequada. Essa informação está no site do Hospital do Açúcar, em Alagoas. Não recomendo esse nosocômio para os pacientes com problemas de diabetes. Tenho minhas dúvidas se os governantes vão se comover com isso. Melhor a lei formulada por um vereador besta aí do interior, que obrigava o prefeito e seus familiares a se tratar no hospital da cidadezinha, mais conhecido como “matadouro”.
De todo modo, repasso mensagem de um tal Cristian Gump: “Assim, eu venho lhe desejar o pior nessa data. Que você possa comemorá-la padecendo de uma bela gripe, síndrome da redução genital, pneumonia, insuficiência cardíaca congestiva, leucemia linfóide crônica, maldição de ondina, hematocele, ou uma tiriça qualquer”.
Mas não exagere! Guarde-se um pouco para outra data comemorativa. Dia 11 de fevereiro é o dia mundial do enfermo.
Adoeça com moderação!
São meus votos sinceros.
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
A paixão segundo Caju
A Fundação de Cultura de João Pessoa publicou edital para escolher o texto da “Paixão de Cristo” a ser encenado no Ponto de Cem Réis. Para ser selecionado, o texto deverá observar alguns critérios, entre eles “estar contextualizado com as questões da contemporaneidade, ser original e não ferir nem denegrir a reputação ou imagem de pessoas ou instituições”.
Nosso compadre Maciel Caju, dramaturgo dos melhores, imaginou um texto dramático que reflete toda sua originalidade e genialidade. Descartou logo a personagem de Pilatos e outros prepostos do império romano, para não impressionar desagradavelmente à pátria italiana, cujo povo tem ligação profunda com os episódios narrados na Bíblia. Criou um ambiente neutro, para não “denegrir imagens de pessoas ou instituições”. Waldemar Solha queria botar o estandarte nazista na cena da “Paixão”, o que foi motivo de severa reprovação de Chico César e demais mandatários da cultura tabajarina. Pensando nisso, Maciel tirou logo a águia, símbolo do Império Romano, que poderia muito bem ser confundida com a outra águia imperial, do velho e temido Tio Sam. Diferente de Solha, que insistiu em fazer paralelo entre a saga do Cristo e o totalitarismo moderno, Maciel não quis passar a imagem de um povo indignado, por isso perdedor. Todo mundo na cena da Paixão de Maciel parece ter saído de uma fábula, com seres que habitam o reino da fantasia, sem nenhuma referência a pessoas ou instituições. A traição de Judas ficou de fora, porque poderia ensejar similitudes com fatos recentes da política local.
Em sendo assim, criou-se um espetáculo deveras original, onde situações que poderiam estimular interpretações desconfortáveis tiveram que ser adaptadas. Os personagens são seres imaginários, míticos, possuindo elementos atemporais. Exemplo: foi banida a cena da expulsão dos vendilhões do templo, que bem poderia lembrar as desavenças do alcaide pessoense com alguns cabeçudos vendedores ambulantes. O pai do Redentor teve que trocar de antropônimo, justamente para não lembrar outro José cujo nome constrange e embaraça a trupe amarela.
Renova-se a cena com essa versão nunca antes vista do espetáculo sobre os últimos dias de Jesus. O Ponto de Cem Réis, transformado em palco, será adaptado para a encenação inusitada, que certamente desagradará aos gregos, troianos e peemedebistas, extremistas salientes, veneradores das guerras e arengas inescrupulosas. A coisa toda será tão light que a trilha sonora foi desenvolvida para acalmar a ansiedade e o estresse da multidão, ao som de suave melodia.
Iludir e afastar o povo da realidade seria um sinal da era do anticristo? As profecias anunciam a morte dos “grandes príncipes”, que seriam os políticos, todos corrompidos. Essa passagem certamente não estará no texto de Maciel Caju, afinal um talentoso conciliador e adulador da nova corte.
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
Mestre da autopromoção
Alguém duvida que esse cara seja o Rei da Autopromoção?
Rafert é um cidadão português de 51 anos que lê meu blog e interage com as mensagens ali postadas. Meu leitor de além mar informa que é “saudável no casamento e tem vivido bem até agora”. Escreve contos e crônicas. Lendo a matéria sobre Fatinha, que criticou de maneira deselegante meu jornal “Tribuna do Vale”, ele comentou que meus textos são bons, mas sou mestre mesmo em autopromoção. “Perdoe-me pela sacada”, acrescenta o cidadão de Portugal.
Finalmente descubro que sou mestre em alguma coisa, pelo menos na visão de outra pessoa. Embora peça vênia para discordar do Rafert, no que concerne à crônica citada, porque não sei como alguém que publica opiniões negativas a seu respeito esteja procurando autopromoção. Seria autopromoção se alardeasse meus próprios méritos ou atributos. Mas acho que fui honesto ao divulgar uma opinião desfavorável.
Outro leitor, esse de Itabaiana, respondeu rudemente à dona Fatinha, a mulher que odeia o “Tribuna do Vale”. Zé Luiz, o leitor, sai em defesa do jornaleco itabaianense recomendando que Fatinha “guarde sua língua na boca” porque nunca leu o jornal e não deveria ter feito uma crítica destrutiva à publicação “tão considerada na região de Itabaiana”. Para meu leitor, a madame Fatinha “não tem conhecimento técnico nem bagagem cultural suficiente para julgar a qualidade de um jornal”.
Voltando ao português, talentoso na ciência da autopromoção, não acho que sua observação tenha um cunho ofensivo ou calunioso. Publico vez em quando mensagens elogiosas dos meus raros leitores porque o artista, por mais medíocre que seja, necessita de aplausos. Sabe quem era considerado verdadeiro mestre da autopromoção, além de um genial artista e homem sagaz? O escultor August Rodin. O mestre guardava um vício de caráter: não divulgava a colaboração da sua amante e aluna Camille na feitura de suas obras. Sendo mestre na autopromoção como considera meu amigo português, pelo menos esse pecado não cometo: divulgo todas as mensagens dos leitores que são a razão de ser do blog. Eles fazem comigo esse espaço cibernético.
Conhecedor da vida brasileira, Rafert cita frase do editor Mino Carta, dono da revista “Carta Capital”: “Diogo Mainard é um infeliz e digno de pena. Ter um filho deficiente dá mais pena ainda, porque isso faz dele uma pessoa amarga, invejosa e sem escrúpulos”. Mainard tem um filho com paralisia cerebral. Sem comentários...
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
QUERO SER ENTERRADO NU
Quando morto estiver meu corpo,
Evitem os inúteis disfarces,
Os disfarces com que os vivos,
Só por piedade consigo,
Procuram apagar no Morto
O grande castigo da Morte.
Não quero caixão de verniz
Nem os ramalhetes distintos,
Os superfinos candelabros
E as discretas decorações.
Quero a morte com mau-gosto!
(Pedro Nava)
Quando eu morrer, vou nu para meu próprio enterro. Na minha carta-testamento, estará explícito esse desejo: ser enterrado nu, conforme cheguei. Nasci pelado e espero ser enterrado peladão. Quando nada, para afrontar as convenções e afugentar as velhas carpideiras, prenhes de pruridos morais. Ninguém quer ver um defunto nu!
O danado é que muitas mulheres (e alguns homens) vão só espiar o tamanho da piroca do falecido. Aguentar risadinhas e comentários safados, é o fim! Atrairei muitos curiosos, escarnecedores do meu orgulho de macho.
Suzana Vieira disse que quer ser enterrada de mini-saia. Sem calcinha. Eu só vou usar um par de sapatos brancos e vermelhos, daqueles que era a moda nos anos 30. E uma gravata francesa.
Hundertwasser, artista multifacetário, acreditava tanto em reciclagem que pediu para ser enterrado nu, fora do caixão, e descansa em paz peladão na sombra de uma árvore na Nova Zelândia. Eu também dispenso o caixão.
Só não quero ser enterrado como deseja Rita Cadillac, de bruços. É que a dançarina do Chacrinha adora sentar numa manjuba.
O defunto naturista não quer, entretanto, ser enterrado nas areias de Tambaba. Nada contra os naturistas. Uma frase anti-naturista: “Ficar nu é perder toda a humanidade de ser mais do que um corpo, de ser uma idéia no azul cobalto da roupa, no vermelho carmim dos lábios; de ser maior sobre o salto, de ser mais largo e lânguido no tecido que voa na brisa do mar. Ninguém pode ser mais do que o animal castrado, que está nu e não se vê nu”. Discordo. Ficar desnudo é mais que uma prática subversiva, seria um simbolismo para recuperar nossa dignidade aviltada pelos padrões de consumo que regem, orientam e definem nosso comportamento, a começar pelas nossas próprias roupas, já definia Juca Fix, um maluco beleza de São Paulo.
Comerei a terra nua e ela me comerá também despido, numa suprema, inocente e última orgia fecundando a natureza, completando o ciclo vital. Deixado no tranquilo abandono de um terreno qualquer, poderei esticar minha velha ossadura e dormir esquecido do mundo que me viu passar vestido para, depois de morto, zombar de minha carne inerte e compassiva. A imagem horrível de um cadáver nu com mãos enclavinhadas e os pés hirtos será o pior pesadelo daquele canalha que foi para o velório, confirmar se realmente morreu um homem decente e idealista. Viveu como se nunca fosse morrer...e morreu como se nunca tivesse vivido.
domingo, 10 de janeiro de 2010
Prostitutas de Deus
No dia 18 de outubro de 1974, chegou a Itabaiana uma comitiva da Igreja Católica comandada pelo padre Alfredo Barbosa, de Cabedelo, com a missão de fundar aqui a Pastoral da Mulher Marginalizada, “dedicada ao atendimento das vítimas da prostituição”. Era um encontro de formação com a assistente social Maria de Lourdes Carvalho e as voluntárias Raquel de Vasconcelos e Teresa Neuma. A tentativa fracassou, porque não foi encontrado ninguém para assumir a pastoral das prostitutas. Itabaiana é uma cidade muito preconceituosa, e para se dedicar a esse tipo de serviço é preciso ter paciência, compreensão e atitude fraterna para com os marginalizados.
Esse padre Alfredo Barbosa foi um santo homem. Cuidou dos pobres e oprimidos, lutou pela cultura e deixou seu nome gravado no panteão dos vultos ilustres e generosos da Paraíba. Sua luta era contra a tradição e o preconceito com relação às chamadas “mulheres da vida”. Brandindo o livro das contradições, a Bíblia, os pastores protestantes citavam Provérbios 5: 3 para condenar o trabalho do padre: “Os lábios da mulher licenciosa destilam mel, mas o seu fim é amargo como o absinto; afasta-te dela antes que chegues à ruína completa”. Já padre Alfredo também citava a Bíblia em Mateus 21, 31, onde se lê que as raparigas chegarão ao céu primeiro do que os pastores. Hebreus 11,31 esclarece que Deus pessoalmente concedeu a salvação a uma prostituta por nome Raab.
A própria Igreja Católica sempre teve um sentimento de ódio e rancor contra as mulheres. Começa por proibir o casamento aos padres. A mulher não tinha direito à própria alma. Só ganhou por uma maioria de três votos no Concílio de Marcon. A Bíblia culpa a mulher pelo pecado de Adão. São João Crisóstomo bradava sua misoginia nos púlpitos, acusando a mulher de ser a causa do mal, “a pedra do túmulo, a porta do inferno”. Santo Antonio foi outro a difundir sua aversão ao sexo feminino. Para ele, a mulher “é a cabeça do crime, arma do diabo”.
O certo é que as prostitutas acreditavam em Deus e não em preservativo. Por isso as mães com muitos filhos de pais diferentes, filhos menores nos cabarés, desnutrição, doença, exploração, fome, violência, analfabetismo e carência de tudo. Essa era a realidade encontrada nas zonas do meretrício pelas freiras e voluntárias da Pastoral da Mulher Marginalizada.
Durante muito tempo, Itabaiana foi um dos maiores centros de prostituição do Nordeste. Os cabarés daqui eram famosos, atraindo prostitutas de muitas regiões. A Igreja Católica combatia esse negócio com vigor. O padre não aceitava as putas na igreja. Delegados de polícia proibiam-nas de andar pelas ruas depois das dez horas, raspavam as cabeças das pobres mulheres e causavam todo tipo de constrangimento às hoje chamadas “profissionais do sexo”. Com a decadência econômica, acabou a zona. Ficou o preconceito contra essas mulheres e cidadãs. Tanto que a própria Igreja até hoje não conseguiu formar sua Pastoral para cuidar dessas mulheres infelizes na antiga “capital da putaria”.
sexta-feira, 8 de janeiro de 2010
Pé-sujo no Geisel
Continuando minha série “os notáveis pés-sujos de João Pessoa”, hoje abordo o Bar do Domingos, no Conjunto Ernesto Geisel (com licença da palavra!). Esse “pé-sujo” é especialista em galinha torrada com macaxeira. Seu garçom, o Cícero, é uma figura descontraída e brincalhona. O dono, Domingos, simpático e bom de papo. A turma gosta de beber na calçada, jogando dominó. Uma das qualidades do bar: não tem som. O show é ao vivo quando Roberto da Sucan resolve cantar velhos sucesso da jovem guarda, acompanhando-se ao violão.
No bar do Domingos encontrei Geraldinho, itabaianense filho de Geraldo Auto Peças, um misto de mecânico e político, que se deu bem na primeira profissão, mas derrapou na segunda, conforme testemunha seu filho. Ficamos relembrando histórias de nossa terra com Palhano e outros itabaianenses que moram no Geisel, talvez o bairro de João Pessoa que tem mais moradores oriundos de Itabaiana por metro quadrado de João Pessoa. Por lá aparecem Roberto, Damião do táxi, Sari, Doca, Marcos Veloso e tantos outros filhos da velha “Rainha do Vale”, escondidos no vale do Cuiá.
O papo descambou para política, que é o prato de resistência de todo cabra de Itabaiana, cidade onde o povo gosta de uma fofoca politiqueira como macaco gosta de banana. Geraldinho se diz frustrado com as lideranças políticas de sua terra. Acha que os políticos caíram na descrença do povo por excesso de mentira e esperteza. Na frente de uma garrafa de cachaça, nenhum segredo está a salvo. Disse que ainda bota uma peinha de esperança no ex-vereador Manoel Medeiros. “Se ele for candidato a prefeito, muito provavelmente terá meu voto”, confessou Geraldinho.
O Bar de Domingos é um lugar cálido, na Rua Adauto Toledo, Box 37, perto do mercado do Geisel. Sopra um ventinho quente na calçada onde se bate um papo descontraído sem pressa nem hora, que quase todos dali são aposentados ou desempregados. Pela tranquilidade que oferece, é um oásis de paz no meio da violência dos subúrbios. E se a coisa pegar, chama-se “Justiça”, um mulato de quase dois metros de altura, segurança da rapaziada. Ele costuma dizer que o Geisel é o único bairro de João Pessoa onde tem “Justiça”.
O bar do Domingos é vizinho ao bar do Osvaldo. Lá, o relações públicas atende por Sílvio Lixo, um rapaz inteligente e conversador, comunicador do povão na Rádio Comunitária Zumbi dos Palmares. O Osvaldo fecha as portas na hora do almoço e só volta de tardezinha. É feito rádio comunitária: não vive preocupado com a concorrência.
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
Pé sujo e bunda de fora
Sou membro da confraria dos amigos e frequentadores de “pés-sujos”, os botecos maravilhosos e suas figuras ímpares. Tem até um blog dedicado a esses barzinhos. É o www.meupesujo.blogspot.com
Em Jaguaribe, João Pessoa, você tem o bar de Zé. Aliás, existem dois bares de Zé, sendo que um tem o nome na porta e o outro é anônimo. Mas seu dono também se chama Zé, que na Paraíba já viu: quem não é Zé, daqui não é. Sou sócio de carteirinha do bar de Zé que não tem cartaz. É lá que ouço pérolas como “só não tomo acetona porque tira o esmalte dos dentes”, ou “só bebo socialmente até cair”. Mais: "Cerveja e cachaça são os piores inimigos do homem. Mas homem que foge dos inimigos é um covarde"; "De tudo que ganhei na vida, 90% eu bebi, 10% dei pro garçom".
O dono do bar gosta de frases como "Bendito sejam os chatos, pela imensa alegria que nos dão, no exato momento em que se vão", ou "Para não haver transtorno aqui neste barracão, só vendo fiado a corno, filho da puta e ladrão".
É nesse ambiente de descontração e amizade que a gente conhece personagens iguais a Trindade, esse crioulo aí da foto, no lado direito do balcão de Zé. O velho Trindade morreu de câncer no pulmão, deixando uma legião de amigos. Era um homem educado, nunca pronunciou um palavrão na vida! Francisco Trindade de Luna trabalhava como gráfico na União Editora e funcionário da antiga Ancar, hoje Emater. Gostava de pimenta, virou especialista nessas bichinhas ardidas, fazia como ninguém um molho apimentado, famoso no bar de Zé e adjacências. Começou a beber depois de velho. Não comprava cigarros, que preferia filar dos amigos. Muito católico, foi da Ordem Franciscana Estrela do Mar na Igreja do Rosário. Jogou no Filipéia, antigo time amador de João Pessoa. Sabia fazer um camarão no coco sem camarão! Usava mamão verde na preparação do prato, que era uma delícia!
Hoje quem assume seu lugar no Bar de Zé é seu filho Maninho, gente boa também, sujeito simpático. Mora em apartamento sobreloja do bar de Zé, portanto reside praticamente dentro do bar. Já faz parte da paisagem. Maninho fora do bar é como tirar a freezer ou o balcão: fica faltando um objeto fundamental.
Não é só homem que gosta de boteco, mulher também. Lá em Zé, a figura de Mabel, enfermeira da Maternidade Cândida Vargas, é emblemática, representando a mulherada que gosta de bebericar nos “pés-sujos” da vida. Os marmanjos a têm como uma pessoa do time, já incorporada à fauna local. Verinha é outra companheirinha que bate ponto no Zé.
“Pé sujo” é isso: um lugar onde você encontra uma boa branquinha, uma cerveja gelada, gente simpática e comida suspeita. Sim, para esclarecer: “bunda de fora” é o barzinho pequeno, onde não cabem os frequentadores que ficam pela calçada mesmo, tomando suas biritas.
quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
Fatinha se explica
Fatinha Pereira, a que esculachou meu jornal “Tribuna do Vale”, remeteu outra mensagem explicando as suas razões. Ela conta que é professora aposentada e faz um trabalho voluntário de alfabetização de adultos em colônia de pescadores no litoral paraibano. Como método pedagógico, resolveu adotar o jornal sensacionalista JÁ como material de leitura dos seus alunos, pela forte atração popular daquela publicação. Acontece que “Zé Maria”, que deve ser seu esposo, encontrou crônica minha na internet onde falo mal do jornal editado por Walter Galvão, do Sistema Correio. Nessa crônica, comparo o JÁ paraibano com outro jornal do mesmo nome que circula no Rio Grande do Sul, ganhador do Prêmio Esso de jornalismo, vítima da pressão do governo de lá.
Realmente chamei de “lixo” o JÁ paraibano, chocando os alunos de dona Fatinha Pereira. Ela disse que ofendi àquelas pessoas simples, ao comparar com lixo seu material de estudo, sua cartilha de alfabetização. Por isso, resolveu meter o pau no meu jornal “Tribuna do Vale”, para esse velho jornalista idiota “sentir na própria carne o que é receber uma ofensa”. Acusei o golpe, pedi desculpas, ela também se justificou. Declarou que admirava o “Tribuna do Vale”. Admirando seu senso de ironia, espero que seus alunos não venham a absorver os conteúdos das “cartilhas” e feliz por saber que o JÁ tem assumido esta saudável função pedagógica.
Fuçando no Google, soube que Maria Aparecida Borelli, uma educadora de Brasília, também adota jornais sensacionalistas, escandalosos e até parciais nas salas de aula. A professora do Centro de Ensino Unificado de Brasília garante que “a precariedade da educação e as desigualdades social e econômica do Brasil fazem com que o jornal tenha um papel revolucionário na educação, pois o uso dele melhora o nível de competência dos professores e contribui para a formação do aluno”. Quem sou eu para discordar?
Promover o exercício da cidadania, a que todos têm direito, formar uma consciência crítica da realidade que cerca o aluno por meio de jornais escandalosos, é no mínimo polêmico. Por exemplo, você acha que exibir ao público mulher de corpo bonito é deseducar o povo? Em tempos de escândalos e roubalheiras nas câmaras e no Congresso Nacional, o que é realmente erro ou pecado?
terça-feira, 5 de janeiro de 2010
Fatinha esculachou o “Tribuna do Vale”
“Esgoto é pouco para esse lixo”. É com essa frase nada simpática que começa uma mensagem que recebi de leitora que se identifica como Fatinha Pereira (fatinhapereira@yahoo.com).
Ela se refere ao jornal Tribuna do Vale, mensário que circula na região do vale do Paraíba. Fiz menção ao jornal em crônica passada, afirmando que voltaria a ser publicado em 2010. A tal Fatinha tem uma bronca pesada do jornal, a ponto de chegar à agressão gratuita: “Chega a dar pena você considerar a Tribuna do Vale um jornal. Esgoto é pouco para esse lixo, porcaria de analfabetos, que nos ameaça em 2010. Vê se toma vergonha e deixa essa "coisa" que você chama de jornal enterrada para sempre. Nossos olhos não são latrina para ler semelhante agressão ao bom senso e ao jornalismo paraibanos. Vade retro, coisa ruim”.
Transcrevo a crítica peçonhenta da mulher para não ficar parecendo que recebo apenas elogios. Minha educação e paciência com o contraditório não me deixam responder à altura. Quando se dialoga com pessoas que possuem idéias opostas à sua, há de qualquer forma um acréscimo. Mas quando se pega pesado como a Fatinha, tenho apenas a curiosidade de saber em que ela se baseia para classificar oTribuna do Vale como abaixo de esgoto. O jornal já recebeu até diploma de melhor mídia da região. Nem sei se ela se refere ao Tribuna do Vale de Itabaiana, Paraíba. De repente, trata-se de outra publicação.
Ela fala em jornalismo paraibano, então é do nosso Estado. De qualquer modo, identifiquei seu computador, para o caso de sofrer mais ataques da leitora neurótica e violenta, além de mal educada. Quando você se dirige ao mundo virtual, é como estivesse entrando na casa das pessoas. Ninguém em sã consciência entra na casa dos outros xingando todo mundo e esculachando. A beleza da internet é justamente achar textos e opiniões de outras pessoas que fogem à nossa visão de mundo, mas dentro de padrões mínimos de civilidade.
Esse povinho semi-analfabeto a que ela se refere acaba de receber prêmio do Ministério da Cultura para publicar livro de crônicas e poemas. Peço humildemente desculpas por ter agredido sua inteligência ao publicar o jornal. Ignore o “lixo” a partir de agora, madame. Passar bem.
Leitor é como parente: a gente não escolhe.
Valeu, compadre!
Zenito e eu, seu antigo aluno de Física
Literatura humanística que realça os pequenos grandes fatos das cidadezinhas do interior, impedindo que nossas origens e tradições populares caiam no esquecimento. Faz o insubstancial aparecer na sua real dimensão humana. A vida é feita de posturas e ações aparentemente sem importância que só se engrandecem na transversalidade do olhar do poeta, valorizando as pequenas coisas que formam seu universo.
Assim vejo estas crônicas de Fábio Mozart reunidas no livro “A voz de Itabaiana e outras vozes” que em boa hora o Ministério da Cultura faz publicar. O livro é inspirado nas pessoas e fatos de sua cidade, sendo ele próprio personagem de muitos eventos carregados de dramaticidade e comicidade ao mesmo tempo.
O autor é uma das marcantes figuras da cultura itabaianense de todos os tempos. Sua produção diária na internet cujo foco é a cidade que o adotou enriquece a Historiografia paraibana de nossos dias.
Tributamos respeito e admiração por este escritor que se realiza na preservação da cultura de sua gente. Pessoa simples e trabalhadora, tem focado também sua arte conforme a consciência crítica diante do sistema de exploração e a violação dos direitos da cidadania.
Sobre isso, lembro um episódio ocorrido no final dos anos 70 em Itabaiana, por ocasião da primeira greve dos canavieiros na várzea do Paraíba, quando teve início o processo de “abertura gradual” da ditadura militar. Ele foi um dos jovens que “tomou” o sindicato dos trabalhadores rurais de Itabaiana e conduziu a greve, diante da vacilação dos “pelegos”.
Numa terra de tantos poetas e bons escritores, louvo a espontaneidade e sinceridade desse poeta-cronista, cuja profissão de fé tem sido a cultura do seu povo, capaz de perceber a beleza das coisas simples. Muito me honra ter sido seu professor no antigo Colégio Estadual de Itabaiana, hoje Colégio Dr. Antonio Batista Santiago. E mais expressiva é a distinção que me concede, escolhendo-me para fazer a apresentação do seu novo trabalho, composto de boa literatura com estilo jornalístico, além do cordel sobre a cidade-berço de Zé da Luz e Bastos de Andrade.
Fui ator no seu grupo de teatro, ele que é incansável trabalhador no campo da produção artística desde os anos 70. Adorei as reminiscências concretas e pitorescas de nossas aventuras políticas, etílicas e artísticas. Valeu, compadre!
Zenito de Oliveira
(Apresentação do livro "A voz de Itabaiana e outras vozes")
domingo, 3 de janeiro de 2010
Uma heroína de Itabaiana (Parte III)
Recebi mensagem de Vivian Pinto Guilhermino, neta de Leonilla Almeida e Ephifanio Guilhermino e filha de Antônio Félix Guilhermino, um dos quatro filhos do casal de combatentes que viraram personagens do livro “Memórias do cárcere”, de Graciliano Ramos. A saga de Leonilla foi tema de duas crônicas minhas, publicadas no livro “História de Itabaiana em versos e algumas crônicas reais”.
Na verdade, a História registra duas heroínas itabaianenses; uma delas é Maria Joaquina de Santana, mulher do Capitão Félix Antonio, símbolo da valentia da mulher paraibana na Confederação do Equador. Nessa revolução, deu-se a batalha do Riacho das Pedras em Itabaiana, no ano de 1824, entre brasileiros separatistas e republicanos contra os prepostos de Portugal. A outra é Leonilla Almeida, nascida no distrito de Campo Grande.
Estou aguardando mais informações da neta de Leonilla para esboçar roteiro de documentário que pretendo escrever, contando a história de Leonilla e seu marido. Merece pesquisa de fôlego, que não sei se terei ânimo e capacidade para realizar. “Leonilla saiu de Itabaiana para se tornar um personagem da literatura universal, com sua luta plena de entusiasmo pelos melhores ideais de justiça e igualdade”, escrevi no livro.
Vivian pesquisou na internet e chegou ao meu site, onde estão publicadas as duas crônicas. Ela informou que Leonilla e Ephifanio tiveram quatro filhos, três deles ainda vivos: Antonio Félix Guilhermino, Ephifanio Guilhermino Junior e Leonilla Félix Guilhermino. Luiz Carlos Guilhermino já faleceu. O nome de seu pai, Antônio Félix Guilhermino, foi em homenagem ao bisavô.
Arlen Cezar Tavares de Oliveira é outro parente de Leonilla que me passou informações sobre sua família. Ele mora em Juiz de Fora, Minas Gerais, e fez pesquisa genealógica para traçar o perfil dos antepassados oriundos do distrito de Campo Grande. Ele é primo de Vivian, portanto bisneto do pai de Leonilla, Antonio Cardoso Félix. A sorte juntou esses dois primos em torno de minhas pesquisas. Resgatar a história dessa heroína do povo é dever de nossa geração de itabaianenses. Sua memória merece realmente continuar viva.
Em março próximo, vamos receber a visita do documentarista Vladimir de Carvalho, filho de Itabaiana e um dos personagens mais ativos do cinema brasileiro. Vou falar com ele sobre Leonilla e meu projeto de perpetuar sua memória através de um documentário dirigido pelo mestre Vladimir, ele próprio ex-militante esquerdista.
O cara quer se espelhar em mim!
Um rapaz que assina com o estranho nome de Epimeteu diz que mora em Brasília, no Guará I. Eis o que escreveu: “Cara, curto rock and roll da raiz, Van Halen, Pink Floyd, mas como toco guitarra, comecei a estudar jazz e me apaixonei, é bom demais. Wes Montgomery, Joe Pass, o brasileiro Olmir Stocker (vulgo Alemão). Ah, o saudoso Miles Davis, outro monstro do jazz, e o John Coltrane, dois feras. Cara, estou realmente surpreso com seu currículo no jornalismo. Impressionante. Faço faculdade de jornalismo, e pesquisando na net, achei um jornalista em quem posso me espelhar: você. Cara, demais, bom trabalho o que você exerce nesse meio. Tenho planos assim também, e espero obter êxito (mas alcançar o seu currículo, amigo, é outra história, você é fera). Cara, abraços! E viva o jazz (que tal uma improvisação em escalas alteradas rsrsrsr!)”.
Ele se refere à minha crônica sobre Jazz. Cara, que cara mais exuberante no seu entusiasmo musical! Obrigado, cara, por me ter como espelho, mas lembre: todo espelho tem duas faces, uma delas é oculta. Dizem que espelho não mente, mas o cara que escreve mente feito cachorro de preá.
Ronaldo José de Almeida é de Montes Claros, Minas Gerais. Manda dizer que gostou muito do texto “Morri no ano passado, mas este ano não morro”. Garante que voltará mais vezes ao blog. Valeu, uai!
Chagoso envia sua opinião lá de Porto Velho, Roraima. Para ele, “pela objetividade do seu texto percebe-se que é um bom jornalista”. Sucesso pra você também, nobre amigo.
Outro elogio, de um tal “Infeto”, de Salvador, Bahia: “Sua forma de escrever e seus planos são fantásticos”. Raimundo Antonio de Souza é de Mossoró, Rio Grande do Norte. Leu a crônica “Minha galega dos olhos azuis”. Eis a mensagem: “Antes tarde do que nunca. Aqui, você demonstra todo o carinho que sente e, através da cartinha, desfila todos os predicativos bons e fortes de sua mãe. Agora, eu também me lembro de como éramos impedidos (por sermos homens) quando meninotes de expressarmos nossos sentimentos pelos mais velhos, especialmente por nossas mães. Babaquices! Valeu, Mozart. Talvez, com isso, você encoraje outros a fazerem a mesma coisa... Enquanto podem. Abraços, Raí”.
Duas leitoras de João Pessoa: Maria de Fátima transcreve poema que meu compadre Antonio Costta escreveu sobre este seu amigo. A outra leitora, Maria Macedo, diz que gostou das “Simpatias para 2010.”
Flávio Cavalcante é de Macapá, Amapá. Manda seu recado também. Enfim, obrigado a todos os leitores do blog e bola pra frente. Em 2010, vou continuar a legitimar a intromissão dessa gente na minha vida, pelo menos no mundo virtual. Mas longe de querer ser espelho pra ninguém! Para o bom andamento da vida em sociedade...
sexta-feira, 1 de janeiro de 2010
E assim caminha a humanidade virtual...
Os caminhos do texto cibernético são incomensuráveis. Você posta uma matéria e recebe respostas do Brasil todo, desde São Paulo até Porto Velho, em Rondônia, do Amapá à Bahia, passando por Minas e Rio Grande do Norte. Recolho-me ao silêncio do meu apertado escritório na nova morada onde me escondo e passo a ler as mensagens, nesse primeiro dia do ano de 2010, aliviado por não ter ido ver a pinóia da queima de fogos na praia, que dizem ter sido uma negação total. Muita desorganização, falta de ônibus, apagão, chuva e engarrafamentos de dimensões paulistas.
Mas voltemos às mensagens. Luiz Augusto Andrade é de São José dos Campos, em São Paulo. Tem 60 anos. Dono de um pitbull preto igual ao meu cachorro Miruca, que foi passar férias em Mari. Luiz leu a crônica “Livre-se do Papai Noel” e informou que na época de Natal costuma comungar o Evangelho segundo a mãe da leitoa, a senhora porca. “Parabéns pelo texto, muito verdadeiro”, finaliza.
Raziel Maceulevicius é uma moça de 22 anos que mora em São Paulo, capital, e também leu a matéria sobre o Papai Noel. O mesmo texto chamou a atenção de Moacyr de Lima e Silva, que disse concordar comigo sobre o cretino do Noel e assina embaixo. Moacyr é professor aposentado e filósofo. Tem 72 anos. Por aí se vê a heterogeneidade etária dos meus leitores, todos estreitamente ligados pela inteligência e refinamento.
Mariana Calçada, por exemplo, tem 24 anos, mora no Rio e diz que aprendeu a ler aos cinco anos de idade e aos oito já redigia contos e poemas. Confessa que adorou o texto “Previsões para 2010.” O Mike Kahowec, de São Paulo, tem apenas 17 anos e me convida a ler seus textos no site pessoal. Acha que sou um escritor experiente que pode orientar seus caminhos pelo mundo da literatura. Nem tanto, meu jovem compadre! Quando eu era adolescente igual a você, cheio de espinhas na cara e sonhos malucos na cabeça, já redigia um jornal na minha cidadezinha. Precisei de quase 40 anos para dominar um pouco a arte de escrever. É moleza não! Pau na máquina, como se dizia nos tempos idos e vividos.
Outro adolescente, Glauber Veríssimo, diz ter também 17 anos (essa rapaziada de internet lê mesmo!). Ele é de Suzano, São Paulo. Constata que uma simpatia difícil de realizar é a que pede penico de moça virgem, pela dificuldade de se encontrar donzela hoje em dia.
Lívia tem 23 anos, é de Londrina, Paraná. É cantora, compositora e poeta. Sandra Canassa mora em Aparecida de Goiânia, Goiás. Diz que sou muito talentoso e manda “beijos de luz.” Agradeço o elogio e retribuo com beijos de encantamento por ter tão delicadas leitoras. Ela gostou dos haikais.
(Continuo amanhã)
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