Nessas longas tardes, noites e
manhãs de apartação social, tenho pensando nos amigos e amigas que passaram
pela minha vida, alguns que já morreram e que são mais do que números, outras e
outros ainda presentes iluminando minha vivência com poesia, afeto, fraternidade,
companheirismo, ensinamento e boas lembranças.
Hoje vi um portal chamado “Inumeráveis”,
memorial dedicado a cada uma das vítimas do coronavírus no Brasil que já passam
de oito mil pessoas. A ideia é registrar em poucas linhas a personalidade das
vítimas da doença a partir de depoimentos das famílias, para que deixem de ser
apenas números na estatística dessa tragédia. (www.inumeráveis.com.br) Definições do
tipo “Adalberto, o carnaval em pessoa; Adélia generosa; Adriana dentista,
criadora de sorrisos”; Afrodísia, matriarca amorosa; Aldevan, um bravo doce...”;
Alexandra Popoff, imigrante russa que fazia a melhor bacalhoada; Ana que amou a
vida; Anisio que amava rock and roll; Arthur Martins que foi ao encontro do seu
cão amado; Augusto Octávio, o palhaço da família; Bernadete, tia Bebé tão
generosa; Carlilo, seu sonho era voltar a andar; Cícero Romão, enfermeiro que
cuidou de todos até seus últimos dias”, e vai por aí.
Pois eu gastei o juízo um pouquinho
e fiz micro biografias de algumas pessoas do meu círculo de amizade. Nunca,
entretanto, pensando em que venham a constar desse memorial das vítimas do coronavírus,
mas só para exercitar minha destreza no laconismo e reafirmar a simpatia e
apreço que sempre tive e terei por essas pessoas. Certos nomes ficaram de fora.
Alguns porque não toleram publicidade, outros porque são tão essenciais na
minha história de vida que a redundância chega a ser chocante. Meu pai, por exemplo,
o que diria dele em dez palavras? “Foi quem me deu a primeira papa, o primeiro
livro e o primeiro elogio”.
Da lista já constam mais de cem
nomes, pela ordem alfabética. Daqui para o final do isolamento terei uns trezentos
micro perfis. Eis os primeiros do inventário da dileção:
Adeildo Vieira
Cantador das benquerenças e um
coração enorme.
Adiel
Meu primeiro patrão. Fui ajudante
de aguadeiro, tangedor de burros do meu primo.
Agnaldo Barbosa
Ardiloso criador de estórias e um
herói do populário.
Adilson Adalberto
Um biólogo que quis ser poeta e
vive seu sonho.
Alves
Meu compadre maquinista de gigante
simpatia e trovador das estradas de ferro.
Alcion
Morreu datilografando carta para
a namorada. Primo e amigo de infância.
Albenor
Cândido menino comunista
oitentão.
Almiro
O mestre do babau, o ator
popular, o cantor de rua, um artista singular na sua simplicidade.
Aline
Primeira namoradinha, aos dez
anos. Cachinho, ternura e meiguice em retrato desbotado na memória.
Aniceto
Vizinho decente e discreto.
Antonio de Pádua El Gorrión
Professor que fez da escola um
lugar de interlocução e vivência, com seus folhetos e a força da simpatia.
Assis Firmino
Meu compadre é como bolacha: em
todo canto se acha. Pitoresco filho de Mari.
Avelino
Mistura da bonomia do Sargento
Garcia com a valentia do Zorro. Sargento Avelino, de quem fui escrivão
improvisado, professor de português e admirador.
Arnaud Costa
“Foi quem me deu a primeira papa,
o primeiro livro e o primeiro elogio”.
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