Escultura: La feliz ceguera (S. Bustamante)
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Ensaio sobre minha cegueira
Precisei ensaiar
minha cegueira
Para poder enxergar melhor
Para poder enxergar melhor
Precisei
ensaiar minha cegueira
Para poder cantar a vida melhor
Para poder cantar a vida melhor
Precisei ficar cego
Para compreender a cegueira do outro
Para compreender a cegueira do outro
Precisei estar cego
Para ver minha própria cegueira
Para ver minha própria cegueira
Minha cegueira é
minha condição de visão
É quase gagueira
No parlamento imundo
É quase gagueira
No parlamento imundo
Minha cegueira é
minha condição de estar no mundo
É poder enxergar os limites do outro
É poder enxergar os limites do outro
Estou cego
nada sinto
E ao mesmo tempo compreendo a visão
E sei porque minto
nada sinto
E ao mesmo tempo compreendo a visão
E sei porque minto
Estou cego e corro
E todos que enxergam
param
Doentes de poliomielite
E todos que enxergam
param
Doentes de poliomielite
Estou cego
E tantos que enxergam
Vêem só o pensamento da elite
E tantos que enxergam
Vêem só o pensamento da elite
Minha cegueira é
como um parto
Ante o aborto das minhas convicções
Soterradas num pacto
Ante o aborto das minhas convicções
Soterradas num pacto
Estou
cego
surdo
mundo
cego
surdo
mundo
E a toda hora mudo o
canal
para nada ver além do ego
para nada ver além do ego
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