Dizem que velho só conta o que foi, mas o passado é o que
interessa, mesmo porque não existe futuro. Na sua casa escura onde mora, meu
pai, cego de glaucoma, gosta de esvoaçar nas paredes da memória. Conta casos e
cumpre seu destino de sobrevivente de quase nove décadas, fiando seus pesadelos
e costurando suas pequenas alegrias, sendo uma delas ser ouvido pelo filho “moleque”.
No dia do seu aniversário, ele me pediu um presente: o disco de Luiz Gonzaga
onde o velho sanfoneiro toca e canta “Acácia amarela” em homenagem à Maçonaria.
Mestre maçom, meu pai é veterano dessa entidade, jubilado que foi há uns dois
anos.
Levei o disco de Luiz Gonzaga que ele ouviu com prazer. Essas
pequeninas oferendas tem a faculdade de interferir no mundo mental dos velhos,
tipo ter algum momento de conversa para quem passa o dia inteiro dentro de
casa, ouvindo rádio e ansiando por um diálogo ao vivo.
Meu pai demonstra sempre um certo paternalismo irritante.
Acho que todo pai é assim. Para ele, os seus filhos são o ó do borogodó. Ele
precisa de atenções especiais e tem os filhos. Amanhã, talvez eu me queixe de que
um dos meus bruguelos saiu pra tomar algumas providências na vida e não foi
mais visto. Pelo menos por mim.
Eu sempre apareço para o meu pai com o caderninho de notas na
mão que eu sei que vai sair historinha pra registrar. Hoje ele me falou do seu
padrinho, Zé Arcoverde, proprietário de um parque de diversões em Itabaiana de
Sivuca. Na véspera de Natal, minha vó Joaninha deu a pai uma gasosa para ele
presentear o padrasto. Zé Arcoverde agradeceu o regalo e ofereceu uma corrida
na canoa pela metade do preço. “Pra compensar a gasosa”, explicou o mercenário Arcoverde,
que por sinal era comunista e ateu, explorador sem culpa da tradição natalina. (Pra
quem não sabe, gasosa era um refrigerante à base de soda).
Meu avô Severino Benedito gostava de estremecer os alicerces
da Terra com dinamites. Era ferroviário cabo de turma da conserva, pioneiro na
abertura da estrada de ferro que cortava a Paraíba. Meu tio Luiz Gonzaga Costa
foi ferroviário torneiro mecânico em Jaboatão, Pernambuco. Eu fui telegrafista
da mesma Rede Ferroviária Federal, mas o pai foi gráfico. Trabalhou em oficinas
gráficas por mais de 40 anos. Lá aprendeu a ler, escrever e montar jornais.
Adoeceu com a tinta tóxica, quase morreu. Foi para o Recife na década de 50 para
trabalhar nas tipografias. Lá encontrou um antigo companheiro de Timbaúba,
ex-gráfico. Luquinha, era esse o nome do cara, havia mudado de profissão.
Exercia com insolência e presunção o cargo de investigador de polícia. Em nome
da antiga amizade, aconselhou:
--- Arnaud, quando você for preso aqui no Recife, diga que me
conhece. Em vez de levar doze bolos nas mãos, só leva seis.
AMIGOS PARA SEMPRE É O QUE NÓS IREMOS SER!... MINHA GRATIDÃO E RESPEITO POR ESSA FAMÍLIA LINDA QUE AMA OS ARTISTAS DE ITABAIANA. MUITO OBRIGADO PELA AMIZADE DE ONTEM, DE HOJE E SEMPRE. APLAUSOS SEM FIM!...
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