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domingo, 25 de setembro de 2016

POEMA DO DOMINGO

Escultura: La feliz ceguera (S. Bustamante)


Ensaio sobre minha cegueira

Precisei ensaiar minha cegueira
Para poder enxergar melhor
Precisei ensaiar minha cegueira
Para poder cantar a vida melhor
Precisei ficar cego
Para compreender a cegueira do outro
Precisei estar cego
Para ver minha própria cegueira
Minha cegueira é minha condição de visão
É quase gagueira
No parlamento imundo
Minha cegueira é minha condição de estar no mundo
É poder enxergar os limites do outro
Estou cego
nada sinto
E ao mesmo tempo compreendo a visão
E sei porque minto
Estou cego e corro
E todos que enxergam
param
Doentes de poliomielite
Estou cego
E tantos que enxergam
Vêem só o pensamento da elite
Minha cegueira é como um parto
Ante o aborto das minhas convicções
Soterradas num pacto
Estou
cego
surdo
mundo
E a toda hora mudo o canal
para nada ver além do ego


Lauro Pires Xavier Neto

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