O Promotor de Justiça Adelmo Pinho, de Araçatuba,
São Paulo, gosta da literatura de cordel, escreve seus versos, porque
cordelista nasce como capim nessas quebradas brasileiras, do sul ao norte, cada
qual com sua pegada. Ele garante que não é refratário à tecnologia, respeita a
Inteligência Artificial, mas “não venha botar gosto ruim de androide no meu
poema”. Para ele, um robô não se equipara ao ser humano, que possui cognição,
sentimento, relaciona-se com outras pessoas, animais e plantas. E de quebra
a autora ou autor de carne e osso aprecia muito bem o sabor de um caldo de
mocotó com cachaça de cabeça, coisa que o robô jamais conhecerá, sendo que essa
gustação e outros prazeres da carne, ou aperreios da vida, fazem muita
diferença na hora da onça beber água e do poeta poetar suas paixões e ardores
da vida real. Essa ferramenta serve pra ajudar a programar e potencializar os
negócios dos empresários, produzir textos jornalísticos e até imitar o estilo
de um Fernando Pessoa. Mas, para criar um produto artístico, terá que comer
muita farinha de dados e analytics.
Reconheço que sou ignorante até mesmo no trivial,
quando se trata de dialogar com o computador. Minha conversa com a máquina é
cheia de falta de intimidade. Por isso mesmo me nego a ser aquele palpiteiro
que diz tolices nas redes sociais, sem pesquisar nada e sem saber do que está
tratando. Enfrentar a eloquência e a sabedoria de uma máquina metida a pensar
como seres humanos está muito acima de minha capacidade. Não tenho maiores
restrições à IA. No entanto, surgem as primeiras reclamações sobre a falta de
gentileza e cortesia da Inteligência Artificial. O usuário perguntou porque não
existe bebida alcoólica sem calorias. “Porque o próprio álcool tem sete
calorias por grama, seu imbecil!”, respondeu sem adestramento de civilidade o
multisciente e mal educado equipamento.
Outro dia meu filho Erich Mozart me apresentou à
Inteligência Artificial. Nada mais é do que o software, uma
espécie de cérebro comandando feito um febrento mágico os tais algoritmos.
Depois do bicho sequenciar as instruções, operações e raciocínios que orientam
o funcionamento do software, o praga é capaz até de ganhar uma
partida de xadrez contra o Mestre Mundial.
Falando sério
e sem querer atemorizar, Yuval Harari, historiador, alerta que o uso da IA para
o mal pode formar governos de ditaduras digitais, com o controle absoluto das
pessoas. O risco, porém, está na intenção de quem controla a tecnologia
(governo e as grandes empresas do ramo). O próprio Elon Musk confessou que
a IA pode ser o instrumento de “destruição da civilização”. O Brasil quase teve
sua democracia atropelada não faz muito tempo, por causa do populismo digital
de certa personalidade muitíssimo controversa.
Meu filho
explicou que o ChatGPT foi programado para realizar diferentes atividades. Sua
capacidade vai desde criar respostas, produzir conteúdos e até entender a
linguagem humana. “Ele sabe escrever cordel?” “Claro que sim! É só dar a
ordem”. “Crie um cordel com estrofes em sextilha
sobre o Romance do Pavão Misterioso", ordenei. No instante imediato, a
Inteligência Artificial despejou a seguinte baboseira:
No sertão nordestino,
Há uma lenda tão antiga,
Do pavão misterioso,
Que deixa a todos intrigas.
E foi assim que José Américo,
Com sua pena de ouro em mãos,
Escreveu o Pavão Misterioso,
Uma história de amor e paixões.
Rosinha, a moça mais linda,
Do sertão onde a história se passa,
Encanta os corações dos homens,
Com sua beleza que não tem farsa.
Mandei a IA catar coquinho e fui dormir pensando
se, em algum momento do que me resta de vida, iria ver a Inteligência
Artificial chegar aos pés de Silvino Pirauá, gênio nascido em Patos e criador
do martelo agalopado.
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