A
primeira vez que vi Fofinha, não lembro, mas deve ter sido na sua janela que dava
para um mundo esquisito, frente a frente às paisagens de uma cidadezinha
mesquinha e pacata, cheia de nadas e sem muito charme. Só aquele refinamento
leve das coisas simples. Fofinha já decodificava aquele mundinho e desenhava
com lápis cera seus encantamentos e desencantamentos saídos de seu especial
talento para ver profundo.
Fofinha
botou o olho em mim e pensou: “lá vai um rapaz operário e criador.” Na minha bicicleta
monareta, eu nem desconfiava, mas um ser de luz andava me espionando com olhos
de apetência secreta. Foi quando conheci essa Fofinha. Pela naturalidade com
que se deu esse encontro, acho que esse anjinho encarnado já sabia a alguns
séculos que era irremissível essa confluência. Eu, meio que chocado porque a
Fofinha tímida e pura de espírito mostrava-se audaz e insubmissa aos padrões da
sociedade. Depois, soube que os anjos encarnados são livres,
independentes, não suportam se sentirem presos, tolhidos em suas ações. Seu
espírito, sua essência é livre, desapegada.
Foi assim, desprendida e generosa, que Fofinha incorporou seu
viver ao meu. Mesmo amadurecido, ainda não me sintonizei totalmente com seu
modo sensível de viver. Meus guias já me falaram que sou um cabra teimoso, insistente
e cabeçudo. Perseverei correndo atrás desse poder e majestade atrás da lágrima,
do sorriso, do aceno e da emoção desse querubim. Isso já se vai mais de meio
século. De vez em quando consigo perceber o que há além da banalidade da vida,
por vias da suscetibilidade dessa figura.
E nessa multiplicidade de olhares que ameniza a materialidade
do meu ser ateísta, ela é meu mentor espiritual. Li que os anjos são realmente
almas evoluídas, mas encarnados nesta vida terrena. Um tal Dr. Osvaldo
Shimoda garante: “os sensitivos são pessoas normais, com seus conflitos,
anseios e problemas como qualquer encarnado, sujeitos também às vibrações de
dor, medo e ira, próprios do planeta Terra. Sentem muito a
dor alheia e, por isso, sensibilizam-se com os problemas, dramas sociais,
talvez muito mais do que a maioria das pessoas.” São anjos encarnados e muitos
não conseguem lidar com os problemas terrenos.
Caríssimos irmãos, essas criaturas especiais existem. Sei por
meio das melhores fontes, de tanto ver aflorar a sensibilidade extranatural da Fofinha.
Acho até que ela veio ao mundo com o alto propósito de me salvar dos abismos.
Pode ser presunção de minha parte. Mas gosto de acreditar nisso.
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