O jornal O NORTE fechou as portas, causando tremendo desgosto na sociedade paraibana e desempregando dezenas de jornalistas. Acabou uma empresa histórica que ajudou a escrever o dia-a-dia da Paraíba por muitos anos. Foi lá onde tive minha primeira e única experiência como jornalista em um grande jornal, aos dezoito anos de idade, historinha que contei em crônica que agora republico como espécie de homenagem “post mortem” ao velho jornal que se foi.
Minha iniciação como jornalista
José Cecílio Batista (foto) notabilizou-se como um dos maiores jornalistas da história de Itabaiana, com grande projeção na imprensa da Paraíba. Cecílio marcou época como repórter e editor do jornal “O Norte”, de João Pessoa. Ele assinava coluna humorística diária com o nome de “Zé da Silva”, de grande apelo popular.
Fascinado pela política, José Cecílio Batista foi um combatente em sua cidade natal, Itabaiana, onde chegou a assumir o cargo de prefeito e vereador. Foi grande amigo e correligionário do meu pai Arnaud Costa. Quando completei 18 anos, pai me mandou para João Pessoa com uma carta de recomendação destinada a Cecílio, dizendo mais ou menos assim: “Esse é meu filho, gosta de escrever, tem boa redação. Confiante na velha amizade, autorizo arbitrar sobre a carreira do jovem. Se não for boa estratégia incentivá-lo a se profissionalizar nas pretinhas, seja franco e o mande para outros desafios”.
As “pretinhas” era como os jornalistas de então chamavam o teclado da máquina de datilografia, e por extensão o próprio equipamento. Tímido e inseguro, apresentei-me na redação do jornal “O Norte”. Cecílio me mandou para um tal de Juarez, chefe de redação, que por sua vez remeteu o “foca” para outro sujeito mal encarado, encarregado da página policial. Esse rapaz, acho que se chamava Souza, seria o cara que estragaria minha aventura jornalística n’O Norte”, em sua etapa decisiva.
O serviço não era complexo: sair para as delegacias e hospitais, levantar notícias policiais para uma coluna chamada “Sol quadrado”. Só que o tal Souza foi na frente e me queimou nas delegacias onde era conhecido: “tem um foca aí querendo tomar meu lugar. Não passem nada pra ele”. Foca era como chamavam o jornalista novato, bisonho. Na Central de Polícia e delegacias, onde eu chegava, os caras me pediam as credenciais de jornalista. Sem nenhum documento provando que eu trabalhava no jornal, passava em branco nos covis da Polícia.
Modéstia à parte, eu chegava no editor com a matéria pronta, sem necessitar nenhum reparo. O tal Juarez gostou do serviço, o que atiçou a inveja do outro repórter semi-analfabeto. Minha estratégia: sentava em um banco de praça e redigia notas com dados do livro de ocorrências do Pronto Socorro onde arrumei uma namorada que me passava as informações.
O que me mandou de volta para casa não foi o repórter medíocre, mas sim o ortóptero. Explico: sem ter onde dormir, passava as noites na rua Maciel Pinheiro, na gráfica de Nabor, velho amigo do meu pai. Só que na gráfica eu era recebido por um enxame de baratas. Tenho horror a esses bichinhos! Passei noites de terror enrolado na rede, com as baratas voando pra cima e pra baixo. O desmoronamento de meu sonho de ser repórter de jornal veio ao som horripilante de mil asinhas de insetinhos domésticos de hábitos noturnos.
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