terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Caricaturista de bar

Caricatura de Fábio Mozart, por Francelino



Como bom malandro, ele começa a circular pelos bares nos finais de semana, por volta das 13 horas, quando os frequentadores já estão com as cabeças cheias de álcool, todos vaidosos, generosos e ricos. É nessa fase em que os cabras já sofreram mutações importantes no meta-cérebro que ele chega e oferece seu produto: caricatura do freguês feita na hora, na mesa do bar. Antes, leva uma conversa inteligente sobre caricatura, pergunta o nome do cara, seu time do coração e suas preferências e explica as problemáticas da inconsciência da abordagem existencialista, isto é, conversa muita bosta até convencer o futuro caricaturado. Cobra cinco reais por retrato, aceitando um ou dois copos de cerveja e um pé de galinha ou alguns ovos de codorna.

Como qualquer pessoa mentalmente saudável, eu estava no sábado, por volta das 13 horas, mentalmente perturbado por causa de umas dez ou doze cervejas. Foi quando chegou o artista que se chama Francelino. Frequenta as ruas de João Pessoa durante a noite, abordando as pessoas nos bares após o expediente de trabalho ou aquelas que vão para a balada. Em Jaguaribe, baixa no Bar do Zé. Enquanto risca a caricatura, vai falando de sua técnica.  Diz que tem que treinar muito a mão direita e o olhar, desenhar rápido para produzir o máximo possível. O olhar é essencial para captar de relance os traços do rosto do cliente, seu jeito, forma de sorrir, características que possam render traços cômicos. O sujeito de orelhas grandes, por exemplo, é prato feito. Riscado o desenho na prancheta, feito ligeiro acabamento, Francelino agradece e já parte para outra mesa. Assim ganha a vida.

Admiro esses artistas de rua. São eles que fazem o contraponto da violência urbana de hoje em dia. Espalham arte a preços módicos em um meio nebuloso. Ele conta histórias de clientes que rasgaram o desenho e bateram no artista.

É como diz Black, outro caricaturista de rua, este de São Paulo: “A gente trabalha em meio a diferentes classes sociais ocupando, transitando, se intercalando nesses fragmentos territoriais, num jogo de forças com regras explicitamente ocultas e o mais das vezes perigosas”. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário