Esse moço da foto, com o apito na boca marcando o compasso da escola de samba, é o meu compadre Edriano, poeta filho do mestre Josa dos Índios “Assombrados da Floresta”. Seu pai já se aposentou dos folguedos carnavalescos. O velho cacique já não desfila na rua grande. Sua tribo cresceu na rua, viu a avenida parecendo muito larga, sem limites para sua sede de alegria e prazer selvagem. Pouco a pouco os índios foram vendo seus espaços diminuindo, e ao final a tribo ficou delimitada a um quarto escuro rodeado de lembranças e um cheiro acre de saudade.
O brincante Edriano tomou o lugar do pai, não na tribo indígena de carnaval, mas na escola de samba. Foi preparado para escapar da mediocridade juvenil dos novos tempos e mergulhar na genuína cultura do seu povo. Na melhor das hipóteses, vai ser um mestre brincante. Mesmo que isso não acrescente nada à sua vida, mesmo que não se sinta importante e poderoso como os antigos chefes indígenas, o poeta brincante, como bom folgazão, experimentará a alegria, a liberdade e o amor de ser brasileiro genuíno e itabaianense da clara e da gema, brincando seu carnaval exausto e esperançoso, porque a esperança a cada dia nasce de novo, refazendo nossa cultura mutilada.
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