sábado, 26 de novembro de 2011

Samba no sítio


Um domingo qualquer de 1998 no sítio Entroncamento, do município de Cruz do Espírito Santo, onde eu trabalhei como telegrafista da Rede Ferroviária Federal S.A. na Estação de Paula Cavalcante, uma das cinco estações triangulares do Brasil, hoje desativada.

No cavaquinho, meu compadre Diga, irmão de Onecino de Itabaiana. Na sanfona, Agostinho de Aguiar e Silva, o pior sanfoneiro do mundo. Na marcação do atabaque, o craque de bola Batata, um jogador de futebol que seria grande ídolo do esporte se não morasse no mato e gostasse tanto de beber cachaça. Eu me defendia no pandeiro (sou o cara vestido de azul e amarelo). A farra se deu na casa do compadre Castor, uma espécie de prefeito do lugarejo.

A reunião aconteceu em caráter semiclandestino, porque eu estava de serviço. Minha equipe (manobradores Diga e Agostinho) também estava, mas eu abonei o ponto deles, fiz vista grossa para a nossa irresponsabilidade. Em compensação, os meus subordinados me glorificavam! Eu tinha orgulho de mim mesmo por não levar muito a sério os regulamentos.

Em Entroncamento conheci a brincadeira do Cavalo Marinho com mestre Ciço, o pastoril e a ciranda. Mestre Nino era um tocador de violão muito popular nas vendinhas e palhoças da região. Na escolinha do sítio, montei espetáculos de teatro. Enfim, vivi de beber na fonte pura da arte popular. Sobre o trabalho, não conto muita coisa. Era o de menos.

Notar que se trata de uma “latada” em casa de reboco, com aquela humildade e receptividade do caboclo rural. Na “latada” do compadre Castor era onde se dançava a lapinha, o Cavalo Marinho, a ciranda e o baião de viola. Bons tempos de Entroncamento. Depois veio a derrocada da estrada de ferro, a vilazinha dos ferroviários foi demolida e o plantio de cana tomou conta de tudo.

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