Ao centro, o poeta cantador repentista Zé Hermínio Filho, genuíno representante negro da arte de improvisar. Ele estaria no programa de sábado, se eu fosse o produtor. |
Quando a Rádio Comunitária Zumbi dos Palmares começou a produzir o programa “Alô comunidade”, a gente pensava em trabalhar com o que se chama “lado B” da informação, tratando de temas e figuras ligadas a um mundo meio que desconhecido da mídia, que é a cultura da periferia, a vida conforme ela é, diferente do que se tem notícia no universo midiático tradicional.
Na reunião de pauta do programa do próximo sábado, dia 19 de novembro, quando se comemora nove anos de aniversário da rádio, os companheiros da produção sugeriram nomes de pessoas representativas do movimento negro, artistas como Escurinho e outras negras vozes inseridas em grupos de estudos/pesquisa, grupos de dança, música, religiosidade e formação política. Tem que ter alguém do rap, insisti. O rap levantou o orgulho do negro. Diz assim o Mano Brown: “O moleque lá na casa do caralho, que tinha vergonha de ser preto, hoje usa a camisa 100% negro. Isso se deve ao rap.” Não sei quem vai representar o rap no “Alô Comunidade” especial do próximo sábado, às 14h na Rádio Tabajara da Paraíba (AM 1.110), mas também gostaria de contar mais uma vez com a poesia doida e a anti-música do poeta Gilberto Bastos, e mais uns carinhas que não são conhecidos, não fazem parte de panelinhas nem grupinhos, mas são referências positivas nas suas comunidades, mexendo com o ciberespaço, tocando, cantando, dialogando nas rádios comunitárias, se transformando e transformando a sua realidade como estudantes universitários da cota racial, enfim, gente negra das diversas tribos que valoriza a comunidade.
Da Rádio Comunitária Voz Popular eu traria Daniel, um cara arretado como animador cultural da comunidade São Rafael no Castelo Branco III. Da comunidade Vieira Diniz, eu ouviria o jovem Macarrão, um cara que é viciado em ouvir rádio, o ouvinte número um da Rádio Comunitária Zumbi dos Palmares. É justo que ele passe de ouvinte a falante, talvez sem formulações geniais, mas representando aquela massa de anônimos que bravamente sobrevivem nas quebradas. Eu falaria com o mestre dramaturgo Geraldo Jorge, um negro que é o símbolo da resistência do teatro amador em João Pessoa. Conversaria com meu compadre Pedro Graciano, locutor do povão em Mari, e traria a experiência e história de vida de minha comadre Djanete Meneses, campeã de judô. Enfim, traria para os microfones da Rádio Tabajara da Paraíba o representante de quilombos, alguém das escolas de samba, gente das danças afro, pessoal da capoeira, pessoas da Pastoral Negra e das religiões dos Orixás, enfim, uma pá de personalidades para esse programa especial.
Em apenas uma hora de programa, o produtor Dalmo Oliveira vai ter muito trabalho para montar a estrutura e dar espaço a tantas vozes. Um pouquinho pra cada segmento, com justiça e com afeto, e a coisa se faz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário