quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Revisitando Ferreira Gullar

A moça está plagiando texto de Tião Lucena na prova do ENEM

O poeta Leo Barbosa, de João Pessoa, é acusado de plagiar o poeta Ferreira Gullar no poema “Traduzir-se”. Eis as duas versões:

TRADUZIR-SE

Ferreira Gullar

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?

TRADUZIR-SE

Leo Barbosa

Uma parte de mim

É todo mundo

Outra parte é o mundo

Profundamente meu.

Uma parte de mim

É multidão

Outra parte é sensação

De um vazio tumultuado

Uma parte de mim

É poesia

Outra parte

Um versado neutro

Uma parte de mim

É pensamento

Outra parte ponderamento

Sonho o que é ser gente

Uma parte de mim

Alimenta-se

Outra parte

Passa fome de sanidade

Uma parte de mim

É permanente

Essa outra parte

Muda-se de repente!

Traduzir-se

Uma parte

Pela outra

É uma arte

Sempre em questão.

O poema de Leo barbosa está publicado no seu livro “Versos Versáteis”, com prefácio do escritor Carlos Aranha. Leo Barbosa escreveu outro poema muito inspirado em “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias. O poeta paraibano Linaldo Guedes registra que seu poema “Pintura” sugeriu o trabalho intitulado “Traçando sua nudez”, de Leo Barbosa.

Ferreira Gullar diz que Oswaldo Montenegro plagiou seu poema "Traduzir-se". "Metade" seria o plágio de "Traduzir-se". No frigir dos ovos, o poeta Leo Barbosa deve acreditar, como eu, que a originalidade nada mais é que uma maneira nova de dizer coisas velhas. É como já dizia o velho Salomão no Eclesiastes: “não há nada de novo sob o sol”. O problema todo é que o nosso Leo se inspira em poetas famosos. Eu, debaixo da minha humildade, só miro a criação literária de autores pouco divulgados, iguais ao meu poeta de Deus Antonio Costta, ao poeta da beira do rio Orlando Otávio, poeta biriteiro Eliel José e outros menos cotados ainda. Quando quero copiar frases, conceitos e imagens, aproveito a obra de Chiquinho do Banco, do meu compadre Erasmo Souto e de Neo Ananias, pessoas amigas que jamais irão me desautorizar ou mover processos contra o velho e desdentado Leão. Copiar servilmente obras de autores famosos é roubada, meu compadre!

Mas o plágio é diferente do “pastiche”, que é a imitação do estilo do outro. Eu, por exemplo, me esforço para imitar o jeito livre de escrever do meu compadre Tião Lucena, seus acentos pessoais, seu “tom” próprio de escrever gostoso como uma conversa na varanda, regada por umas bicadas de cana de cabeça, tirando o gosto com camarão no coco.

Ninguém nasce original. Todo grande autor começa a escrever imitando um ou vários modelos. Antonio Costta revelou que queria ser Carlos Drummond de Andrade, depois cismou em imitar Zé da Luz, acabou tocado pelas graças do céu e passou a se inspirar em poetas evangélicos. “O Deus que habita em mim em pão e vinho, também agora habita em arte e poesia”, declama o futuro Secretário de Cultura de Itabaiana, terra de Zé da Luz e Bastos de Andrade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário