Não sou independente nem na cozinha de minha casa. Para fritar um ovo tenho que pedir à mulher, que é quem manda.
Meu censor sou eu mesmo. Diante de matérias que podem desagradar meus clientes, prefiro sacrificar o conteúdo. Melhor ter a informação possível do que nenhuma. Estou dizendo isso porque não sou jornalista nem hipócrita. Nem preciso forçar nenhum jornalista formado a escrever o que eu mandar. Sou o único redator do meu jornal.
O povo lê meu jornal, primeiro porque é de graça, cai na mesa do burocrata e na banca do estudante, está ao alcance do bodegueiro e do motorista de táxi, mas numa linguagem decente, sem apelação, que o povo merece ver respeitada sua dignidade de leitor. Segundo porque é o único com noventa por cento do noticiário composto por matérias de interesse local.
Meu jornal tem uma tendência oposta à imprensa tradicional: empenha-se em divulgar notícias boas preferencialmente. Prefiro destacar que determinado aluno de uma comunidade pobre ganhou um prêmio pela excelência de sua vida escolar do que dar visibilidade aos crimes do narcotráfico.
Minha rede de conivências é pequena, portanto não afeta os princípios básicos do meu jornal. Tenho poucos anunciantes e vendo espaço para alguns órgãos públicos. Não é um jornal crítico nem difamador, mas um impresso que contém cultura e opinião a serviço do progresso humano.
Como nunca freqüentei uma escola de jornalismo, em vez de técnicas de jornalismo comercialista e vendilhão, aprendi que não se deve trair o leitor, ou tentar manipular o sujeito que lê meu produto. Ao contrário, tenho sempre em mente que meu jornal só tem sentido se contribuir para o enriquecimento material ou espiritual da comunidade onde o leitor vive. De outra forma não será jornalismo e não terá nenhum valor. Seria uma “imprensa amestrada”, como diria Osvald de Andrade.
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