Tenho um amigo que é uma figura popular na cidade de Sapé. Artista do povo, queixa-se que é compositor. Gravou um CD tão ruim que nem de graça conseguia passar pra frente o produto. Encalhou a edição e vivia implorando para que levassem o CD para casa. “Eu até gostaria, mas meu som quebrou”, desculpava-se um potencial ganhador do CD.
Encontrei o artista ressentido porque ouviu uma música sua tocando no carrinho de CD pirata. “Eles não respeitam nem meu trabalho, que sou da terra”, reclamava.
Acho que o pirata musical pirateia por prazer mesmo, por hábito. Custava nada pedir os CDs originais do cara? Ele doido pra desovar o produto de graça.
Isso lembra uma edição de livro que publiquei faz uns cinco ou seis anos. Até hoje tento me livrar do estoque. Deixo livros em bancos de praças, distribuo de graça onde chego, mas a quantidade da mercadoria não se abala. Faço contrato de consignação com livrarias, depois finjo que esqueço. Passo pela porta do livreiro olhando para o outro lado da rua. Tenho medo que ele me chame e diga: “leve seus livros, que não vendi e está tomando espaço aqui”.
É um livro sobre rádios comunitárias, assunto que interessa a um universo muito restrito. Mas o que eu quero registrar aqui é a antiguidade dessa prática de piratear a música dos outros.
Rigoletto é uma ópera em três atos do compositor italiano Giuseppe Verdi, com libreto de Francesco Maria Piave. Estreou no teatro La Fenice de Veneza em março de 1851. Todo mundo já ouviu aquela ária que começa assim: “La donna é móbile”. Dizem que o tenor que cantou na estréia somente conheceu a partitura da ópera poucas horas antes da primeira audição. O maestro tinha medo de que vazasse a obra, perdendo o ineditismo. O tenor ensaiava de manhã para apresentar à noite.
Portanto, 159 anos atrás o pirata já preocupava o artista.
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