domingo, 21 de novembro de 2010
Na cozinha com Gilberto Júnior
Poucos músicos no mundo tocam guitarra sem saber executar os acordes do instrumento e fazem música sem harmonia nem notas. Um deles é Gilberto Bastos Júnior, o cara da banda de um homem só. Esse fenômeno musical mostra aos que tem o privilégio de conviver com ele que também é bamba na cozinha. Prepara um caldo de feijão que é do outro mundo. Na foto, Gilberto dá os retoques finais no caldo.
“Eu sou a mosca que pousou em sua sopa”, berrava Raul Seixas nos anos 70, apoquentando o regime militar. A demência criadora do Raulzito misturava em sua sopa o experimentalismo poético-musical do verdadeiro rock brasileiro com a batida marcante dos terreiros de umbanda. Fora de qualquer conceituação, a música de Gilberto Bastos Júnior é um caldo difícil de digerir. O caldinho de feijão, esse é simplesmente primoroso pelo sabor requintado. O cara é fera no preparo desse caldo.
O caldo de Gilberto é algo assim como um choque de excelência em nosso paladar. Já a sua música não é fácil de perceber e assimilar. Digamos que seja uma arte agitada e transformadora. Mallarmé dizia que a arte seria convulsiva ou não seria arte.
Pesadelo de cozinha conheci em uma espelunca onde fui comer sopa, muito antes da famosa sopa do deputado Toinho. Ao dar a primeira colherada, notei uma coisa a se mexer na colher. Era uma larva, um tapuru. Larguei a iguaria e saí pensando nas duas alternativas: ou o cozinheiro era indiano e resolveu preparar aquele prato exótico ou o próprio diabo estava tomando conta da cozinha daquele bar. O rock conceitual de Gilberto é assim: uma iguaria excêntrica feita na cozinha do demônio. Só vai quem tem negócio.
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