Na 29ª Bienal de São Paulo, o artista pernambucano Gil Vicente mata Lula, Fernando Henrique Cardoso, o papa Bento XVI, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, entre outros líderes políticos. Os autorretratos fazem parte da série de desenhos em carvão Inimigos, que já foi exposta em outras quatro cidades.
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) queria que as obras de Gil Vicente fossem retiradas da Bienal, sob o argumento de que faria apologia do crime. A Bienal manteve a série na mostra.
O homicídio artístico provocou polêmica, como não poderia deixar de ser. Eu fico aqui pensando: quando o locutor de programa “mundo cão” berra o chavão “bandido bom é bandido morto”, quando esse tipo de comunicador “popular” aplaude atos de tortura da polícia contra bandidinhos chinfrins, ao que nos consta a OAB não se intromete para denunciar suposta apologia ao crime.
Contra a criminalização da pobreza, da luta e das organizações dos trabalhadores, infelizmente a OAB é tímida. Na ditadura militar o presidente general, Ernesto Geisel, admitiu em conversas palacianas que matar era preciso, conforme registro no livro lançado pelo jornalista Elio Gaspari. No caso, matar era matar mesmo, não simbolicamente. Torturavam e matavam à vontade.
O pintor Gil Vicente “mata” personalidades com seus desenhos realistas. Atire a primeira pedra quem no íntimo não desejou matar alguém. Faça uma lista dos que você condenaria ao “paredón”. A pena de morte é a institucionalização do sentimento máximo de vingança da sociedade. Pesquisa mostra que 70% dos brasileiros admitem a pena de morte. Melhor “matar” simbolicamente, igual à alegoria pictórica do Gil Vicente.
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