Privatizaram a festa da Conceição em Itabaiana

Reginaldo Rossi aos pés do altar brega

Um mano das quebradas debochou: “O padre de Itabaiana convidou o próprio Jesus para a festa na frente da Igreja Matriz, porque, se faltar bebida, o fera dá um jeito.” O Diretor de Cultura da cidade de Mogeiro, Eudes Vidal, preocupado com o som do show de Reginaldo Rossi na frente da Igreja, farra patrocinada e devidamente lucrada pelo padre: “A estrutura da Igreja é antiga e é patrimônio do povo. O som do palco pode abalar os alicerces da centenária construção,” diz Eudes, preocupado.

O “Rei do brega” foi o artista escolhido pelo padre para homenagear Nossa Senhora da Conceição, no dia 8 de dezembro de 2011. O padre considerou que a atração seria conveniente para os padrões estéticos de uma cidade que tolera uma favela de barracos infectos e barulhentos na praça principal, com seus bêbados urinadores das portas alheias (incluindo as da Igreja) e suas caixas de som brega, dezenas de decibéis irresponsáveis e criminosos.

Até quem não mora em Itabaiana ficou abismado com a privatização de uma festa tradicional de rua e a agressão a um dos mais importantes monumentos históricos da cidade, terra de Mestre Pingolenço e do artista da madeira Luiz Martins de Carvalho, pai de Vladimir Carvalho. Pingolenço instalou o relógio da Igreja, Mestre Luiz Martins talhou em madeira de lei as portas e altares do templo. “Novos tempos” avacalharam a festa da Conceição e nossas mais caras tradições.

Minha cidade Itabaiana do Norte é pródiga em tolerância. Fazem gato e sapato de nossas vidas, das ruas, do patrimînio público, e ninguém protesta. Todo esforço civilizatório se esvai diante de uma estrutura de poder que corrompe, humilha, denigre e escarnece de nossa história, dos nossos valores e sentimentos mais nobres. Nossas defesas contra essa barbárie simplesmente parece que inexistem.

No futuro próximo, admitindo-se a continuidade do atual estado de coisas, os fiéis deverão comprar seus ingressos para as missas que poderão ser pagos em até 36 vezes no cartão de crédito, sem juros.