Rua Padre Ibiapina |
A Rua Padre Ibiapina
Rua Padre Ibiapina, nº 155 que ficava no Bairro do Botafogo foi a primeira rua que morei em Itabaiana, com esgotos a céu aberto, pouca iluminação pública e sem pavimentação, situação que demonstrava a total ausência dos órgãos públicos naquela artéria. Nessa rua havia uma capelinha católica, conhecida por Capela do Mororó, que era o nome do senhor que a construiu em função de uma promessa. Nessa rua havia uma personagem muito interessante e que pedia comida nas casas. Era uma senhora conhecida por Noêmia, popularmente “Noeme”, deficiente que apresentava problemas mentais e dificuldade de locomoção. Noêmia era amiga de quem era amigo dela. Quando ela percebia que alguém estava zombando, sua atitude era jogar pedra naquele indivíduo. O ato de jogar pedras era complementado com a seguinte frase: - Sou cachorro não! Sou cachorro não! Sou cachorro não! Ao simpatizar com alguma pessoa ela dizia: - Amor assim, sururu, amor assim! Amor assim, sururu, amor assim! Sururu! E prosseguia com fortes gargalhadas: - Ah!... Ah!... Ah!... Ah!...
Foi na esquina da Rua Padre Ibiapina que me matricularam na Escola Municipal Monsenhor Francisco Coelho, que funcionava no bairro. Esta escola resumia-se a duas salas de aula, sendo primeira e segunda série do ensino fundamental. Seus móveis: duas filas de carteiras de madeira e um quadro negro. Na década de 1960 usava-se o giz e o quadro negro que era o didaticamente correto. Quando já estava no Colégio Estadual de Itabaiana percebi que o quadro havia se transformado em quadro verde e que num futuro bem próximo se tornaria quadro branco. Tínhamos como professoras Josefa Ribeiro Maciel, mais conhecida como Vera Baeta e Maria das Neves Silva, Nevinha Baeta. Como o estudo no Rio Grande do Norte era mais avançado e estávamos fazendo as tarefas em tempo recorde, as professores resolveram adiantar uma turma e nos passar para a segunda série do ensino fundamental, eu e minha irmã Tânia R. Palhano.
O período que residi na Rua Padre Ibiapina foi curto, mas foi o suficiente para conhecer algumas figuras importantes como: Seu José Dudú (Zé Dudú) que comandava a Sede do Botafogo; o time do mesmo nome e a Escola de Samba Última Hora. Zé Dudú era carnavalesco; folclorista e animador cultural naquele recanto. Era conhecido em toda a cidade. A Sede do Botafogo também fazia trabalhos filantrópicos. Foi lá que meu irmão Ecílio Rodrigues Palhano e meu compadre Aluízio Arruda realizaram o exame de admissão. Outra figura de monta no lugar era o José Henrique (Zé Henrique), pequeno comerciante que promovia grande festa no dia de São José. Havia também a presença de um artesão e inventor conhecido por Pedro do Parque que morava diante de uma pequena praça. Este último, inventava, projetava, construía e montava parque de diversões. Entre os brinquedos construía: carrossel, canoas, aviõezinhos, cadeirinhas entre outros. Seu parque geralmente era armado perto dali, na Sede dos Trabalhadores, principalmente na festa da primavera no mês de setembro. Em janeiro de 2011 encontrei na Rua Padre Ibiapina o carteiro Ari Pereira que foi grande jogador do Sport Clube de Caruarú e depois veio jogar em Itabaiana pelo Vila Nova. No meio da rua, em pleno meio dia ele me deu um depoimento me ensinando os nomes das ruas da redondeza. Depois falou do seu trabalho; Disse-me ele: - Isso aqui não cansa não, é que deixa a gente enfadado, num sabe...?!
(Do livro “Eu e a Rainha – de menino a rapazinho”, de Romualdo Palhano)
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