quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

O jardineiro que era doutor




Hoje é dia do jardineiro. Meu espírito imisericordioso lembra um jardineiro que conheci na cidade de Mari. Existia um conteúdo de amor à vida natural e à beleza das flores no trabalho de Pedro, o jardineiro. Entretanto, ele estava no cargo mais por incúria, perseguição política e primarismo de um prefeito semi-analfabeto.

Pedro, o jardineiro, gostava de tomar uns gorós. Depois que engolia umas cabumbas, saía pelas ruas gritando:

- Mari, terra onde o prefeito é analfabeto e o jardineiro é doutor!

Na verdade, Pedro era apenas licenciado em letras por uma faculdade estadual. Mas, para todo mundo, o que importa é o canudo de ensino superior. Quem terminava a faculdade era doutor, e pronto.

Pedro Nunes, o doutor jardineiro
A energia cachacista compulsiva do jardineiro não impedia que lecionasse na escola. Professor Pedro de tarde, jardineiro pela manhã e bêbado à noite. Soube que meu compadre Pedro deixou de tomar cachaça. Agora é só doutor e professor. Também não exerce mais a função de jardineiro. Ainda planta sua mudinha de violeta ou murta no quintal. Abandonou suas rosas, dálias, manacás, lírios, margaridas, esporinha, veludo, brincos de princesa, beijos, violetas e jasmins na praça pública. Não suja mais as mãos na terra, com a intimidade que a natureza concede. Perdeu um pouco seu amor pela terrinha onde mora, desprezou o jardim onde podava galhos, replantava mudas e criava seu próprio paraíso.

A grama limpa e bem aparada de outros tempos deu lugar aos barracos, lanchonetes e botecos mal ajambrados, plantados nas praças do lugar. A cidade meio que desfigurada, sem um doutor para cuidar das flores. Mas, o prefeito continua analfabeto.

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