Sonsinho tentando alcançar o "centro de operações" de Madame Preciosa. Adivinha quem manda nessa casa? |
Ele pertence ao lado mau da força. Delegado de polícia, maltratou os jornalistas na delegacia, exibiu arma, prometeu perseguir, humilhou, bateu no repórter. Isso na frente das câmeras. Imaginemos do que é capaz no seu gabinete, tendo à frente um pobre qualquer, desamparado. Falo do delegado do caso Marcelinho Paraíba. Foi afastado do cargo pelo Secretário de Segurança, a mando do governador. O delegadozinho fascistóide e brutal vai passar uns dias no vinagre para depois voltar mais furioso e prepotente.
Lendo a notícia, fiquei pensando: afinal, quem é que manda no pedaço? O delegado teve aquele comportamento desrespeitoso porque acreditava na sua força, no seu pequeno poder de intimidar pelas armas e pelo cargo. Mas havia alguém com mais poder que o fez retornar à sua insignificância moral e funcional.
Imaginemos a corrente do poder. O camponês olha pra casa grande e vê seu patrão, o que manda em sua vida. O fazendeiro, por sua vez, deve sua boa vida aos banqueiros donos do capital, que são ligados às grandes corporações que dependem dos políticos. Esses estão sujeitos ao povo que os elegem. Mas o povo toma suas resoluções através do mercado que dita as normas pelo mass media.
Finalmente, quem manda em quem? Quem, afinal, nos diz o que fazer e como viver nossa vida? Eu não sei, mas desconfio. No caso do meu amigo abilolado Sonsinho, esse pertence à Madame Preciosa e a ela deve submissão. Antes de ser escravos do sistema, somos servos de nós mesmos. Ou de alguém muito próximo.
Quando a gente despreza arrogantemente todos os nossos patrões na terra, simplesmente passa a ser vassalo de Deus ou de outra entidade similar. Muito boa a frase de Otto Lara Resende: “Não acredito em Deus, mas tenho muita fé em Nossa Senhora.” Perguntado se ainda acredita em Deus, Rubem Braga disse: “Acho que Deus é que não acredita mais em mim.” Eu acredito que somos incompletos, embora nos completemos permanentemente através daqueles que ajudam a formar os nossos valores de origem.
Aposentado só vai poder pegar empréstimo se parente deixar. É o que dizem as manchetes dos jornais de hoje. Quer dizer, a tendência é minha barriga expandir junto com o universo e minha autoestima baixar na mesma proporção da libido, ao mesmo tempo em que fico mais dependente. As taxas desaconselham os prazeres da carne e do álcool. Todo mundo manda em velho e criança. Eu que sempre tive orgulho de ser ímpar, solista de minha própria vida, um sujeito avulso, agora preciso me acostumar a ser dependente. Hierarquicamente inferior aos micro-poderes que o cercam, o velho fora da linha de produção é um estorvo para o Estado, os parentes e os médicos. Somos presas fáceis das mil fórmulas gerais de dominação. Só me resta a expressa obediência.
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