Se você fosse convidado para ser imortal, recusaria? Eu não aceitei a distinção, por falta de míseros 400 paus. É que minha comadre Jô Alcoforado, sendo delegada brasileira da Academia de Letras y Artes de Valparaiso del Chile, indicou-me entre os dez nomes de escritores brasileiros para fazer parte dessa instituição. Fiquei honrado com o convite, mas esbarrei no quesito money. A Academia cobra 400 paus aos seus novos integrantes, e estou momentaneamente sem numerário porque investi toda minha fortuna num lance de alto risco, que depois eu revelo.
O camarada liso só presta pra ser transitório, efêmero, e não imortal. Sem padrinho que me favoreça, fico fora da imortalidade acadêmica. Além da jóia de admissão, ainda teria que comprar o pelerine, que é a capa godê, de fina renda e magnífica seda usada pelos acadêmicos. Sem falar na passagem ida e volta, com hospedagem, para o Chile, a fim de tomar posse na eternidade das letras e artes, com direito a me abancar junto aos maiores romancistas, poetas, prosadores, historiadores, ensaístas, cronistas, jornalistas e arte-educadores da América do Sul. É muita areia pro meu caminhãozinho, atolado até o semi-eixo na lama da inadimplência.
Porém, com esse meu jeito desmantelado, achacadiço e sem robustez financeira, estou mais para morto vivo do que para imortal. Agradeço o convite da poeta Jô Alcoforado, mas acho que vou me contentar em entrar sem-cerimoniosamente na Academia dos Pé Rapados do Bar de Zé, que é o lugar de falso intelectual e autêntico pé-de-cana, falador da vida alheia e filósofo de mesa de bar. Lá, pelo menos eu posso garantir um fiado.
Só a título de brincadeirinha, sem querer achincalhar, cito o humorista Grouxo Marx: “jamais entrarei para um clube que me aceite como sócio”.
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