segunda-feira, 9 de maio de 2011

Noite insone


Nos dias 4 e 5 últimos, estava em Itabaiana. O Rio Paraíba enchendo, as pessoas apreensivas em sua margem, faziam circular as mais diversas notícias sobre barragens, chuvas, inundações.

Às 2 horas da manhã, fui acordada por delicado senhor que gritava na minha porta chamando o vizinho para informar que tirasse o carro da garagem e que ficasse pronto para qualquer emergência, pois “o rio tinha subido o dobro e a cidade estava em estado de alerta”. Levantei-me assustada e, diante de notícia tão catastrófica, peguei minha mochila, joguei-a no carro, fechei a casa e pensei: “adeus minha casinha, vou-me embora por Serrinha”.

Na Itabaiana que dormia tranquilamente, vi coisas que me tocaram. Vi cães sem lar, esquálidos, doentes, famintos, que saciavam suas sedes nas poças de água das chuvas, abandonados à própria sorte por pessoas irresponsáveis e desatentas aos cuidados que se deve ter com esses animais domésticos e, por assim o serem, tão dependentes da guarda dos humanos.

Vi bois, vacas e bezerros, confinados em minúsculos currais construídos na ribanceira do rio, soltarem urros estranhos e tristes, certamente prevendo o perigo que os ameaçava se as águas continuassem subindo.

Vi gente jogar saco de lixo na correnteza do rio. Vi alguém esvaziar, na ribanceira, depósito cheio de garrafas, pratos e copos descartáveis em tamanha quantidade, que deveriam ter vindo de um aniversário ou de um daqueles bares do meio das ruas de Itabaiana.

Todos esses atos são provenientes da indiferença e insensibilidade “humanas”. Não da ignorância. Todos hoje têm acesso às informações da mídia, mesmo a mais carente das famílias que, ao receberem sua primeira mensalidade do Bolsa Família, já encomendam o seu “kit bolsa” : rack, TV e antena parabólica.

O recado sobre o Rio Paraíba foi infundado, mas não consegui dormir. O que salvou minha madrugada insone foi o livro “A Voz de Itabaiana e outras vozes”, de Fábio Mozart, que comecei e não consegui parar. Gostoso de ler, é um livro divertido, ao tempo em que é um importante documento da história popular, política e cultural de Itabaiana, além de nos alertar sobre atitudes e decisões que devem ser tomadas, hoje, para a preservação dessa história.


Margaret Santiago Bandeira

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