quarta-feira, 4 de maio de 2011

Amemos a ociosidade

 

Não é só o macaco prego que está em extinção, o homem também vai ser exterminado. Não adianta ter a consciência do puro, adotar a alimentação natural, aprender a respirar, fazer exercícios físicos. O amor terá a forma do ócio. Amemos a preguiça e seremos devotos do ser, humano ou não. Minha teoria: não faça nada que nada vale a pena. E tem mais: nessa luta pelo ócio temos muitos inimigos, os quais combateremos à sombra, se possível deitados numa rede velha, comendo caqui e lendo o “Livro dos Prazeres Inúteis”. 


Os novos guerrilheiros contra a glorificação do capitalismo têm na folga, no repouso, sua arma letal. Comecemos por eleger uma bancada no Congresso para erradicar do Código Penal o crime de vadiagem, ou “a prática de entregar-se habitualmente à ociosidade”. Quem ousar adotar a indolência como filosofia de vida pode pegar uma pena que oscila entre quinze e noventa dias de prisão. O culto do ócio faz parte do modo de ser brasileiro, lição sabiamente aprendida dos índios.

Voltando ao J. Cristo nosso farol, o Mestre já dizia: “Pra que trabalhar, se o Pai nos dá tudo já pronto? Olhai as aves do céu e os lírios do campo: eles não dão um prego numa barra de sabão, no entanto, que vidão!” (Tradução livre). Entreguemo-nos à deliciosa prática do nada, sejamos desocupados e indolentes que o céu será da gente. E se o policial te pegar no flagrante, diga que não está fazendo nada.

Para atender a uma demanda crescente de gente interessada em não fazer nada, cria-se a Associação do Nadismo, uma congregação de pura vagabundagem, cujo patrono é o Macunaíma. Defenderemos nosso direito de nada fazer, sendo que se tu queres fumar um cigarrinho, estarás liberado. Mas o ideal é que não faças nada de forma ativa. Apenas deita e deixa acontecer. Ou não.

Libertação pela desocupação, eis a palavra de ordem.

Você acha que o sujeito que se passa pra escrever tanta besteira tem realmente o que fazer?

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