sábado, 25 de setembro de 2010
Pra não ficar vendo a banda passar...
Kiko Almeida é músico, toca saxofone tenor, aprendeu com o maestro Zezé de Itabaiana. Ele lastima que, “infelizmente, as condições de se trabalhar e de se aprender música são precárias na terra de Daciano Alves de Lima, por falta de apoio do poder maior da cidade. Espero que um dia eu possa tocar e ver a banda ‘Nova Euterpe’ como era antes.”
Meu caro Kiko, o poder maior de toda cidade é sua população. Os gestores são transitórios. Não perca a faculdade de se indignar, mas de vez em quando é bom ser privado de bom senso para fazer acontecer. Continue tocando seu sax e vez por outra siga a orientação que recomenda: “faça você mesmo”. Se não tem escola de música, faz como a Sociedade Amigos da Rainha: cria uma e bota a molecada pra aprender, com apoio do Ministério da Cultura. Se não tem banda, vamos formar a nossa orquestra com o que se tem, ou reforçar a “Nova Euterpe”.
Aprendi que temos que fazer o que tem que ser feito, mesmo sem esperar pelo cumprimento da legislação e pelas soluções do poder público. Na cidade de Mari, um grupo de cidadãos resolveu que a comunidade deveria ter sua voz, e criamos a rádio comunitária. Depois de muita luta, ganhamos a licença do Ministério das Comunicações e a rádio está lá, servindo à comunidade daquele simpático município paraibano. Se fosse esperar pelas tais instâncias oficiais, o projeto estaria na estaca zero até hoje.
Itabaiana foi onde nasceram dois cabras geniais e hoje muito famosos: Sivuca e o saxofonista Ratinho, que assinava Severino Rangel, autor do clássico “Saxofone por que choras”. Um e outro tiveram que sair de sua terra para buscar a fama no Recife e depois no sudeste, mas começaram na banda de música local, tocando em piqueniques e festas populares, nos pastoris e bailes, fazendo trilha sonora para comícios e outras manifestações coletivas. Sivuca tocou nos Taiobas, tradicional clube carnavalesco itabaianense, e Ratinho tocava nas ruas, na folia sem cordão de isolamento onde predominavam os ritmos pernambucanos.
Itabaiana vem nesse caminho de revelar grandes músicos, dignificando o nome de nossa terra. E isso se deve muito às orquestras, que jamais devem morrer. É uma pena que atualmente a “Nova Euterpe” esteja pouco valorizada, mas a arte é poderosa. Qualquer hora se revitaliza, fazendo improvisações inusitadas como um jazz do agreste, percorrendo as variantes da história. Quem viver verá e ouvirá.
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