quinta-feira, 4 de março de 2010

Tirem esse déspota do caminho


Em João Pessoa, três ou quatro gatos pingados falam em mudar o nome de alguns conjuntos residenciais, ruas e escolas. Estou entre eles. Renomear para colocar os ditadores no seu devido lugar histórico, que não sirva de exemplo pra ninguém. Um vereador aloprado sugeriu o nome de Fidel Castro para trocar por outro ditador. Infeliz ideia do parlamentar, que é trocar seis por meia dúzia.

Uma escola estadual no Castelo Branco tem o nome de Presidente Médici. Para ser coerente, deveriam mudar os nomes dos logradouros do conjunto para Av. Psicopata Charles Manson, Av. Assassino Serial Richard Ramirez, Rua Poderoso Ditador Sanguinário Megalomaníaco Adolf Hitler, Alameda Conan, o Bárbaro, e por aí vai.

No Conjunto Ernesto Geisel, uma turma já falou em pedir para os vereadores mudarem o nome para Cuiá, antiga e tradicional denominação do território, nome de um rio que teima em sobreviver no mar da poluição suburbana. Mete medo é continuar oficialmente essas homenagens a próceres da ditadura, confundindo as novas gerações. As ruas, antes de serem passagens para carros e pessoas, traduzem a memória e a história da cidadania. Quem pisoteou a dignidade do cidadão e da pátria não merece dar nome de rua.

No auge da ditadura militar, os bajuladores dos milicos não perdiam oportunidade para demonstrar a subordinação e vassalagem ao poder dos generais. Aqui em João Pessoa, até a senhora mãe do General João Figueiredo virou nome de conjunto habitacional. Por pouco não botaram o nome do cavalo do General em praça pública. A solidificação da democracia no país não admite esse tipo de tributo. Os nostálgicos da ditadura vão ficar furibundos, mas acho mesmo que tirar os nomes de ditadores nas placas de ruas, avenidas, monumentos é uma assepsia moral necessária. Os nomes desses ditadores deveriam constar dos arquivos policiais. Talvez pudessem ser nomes para presídios. Governos ditatoriais devem ser esquecidos, jogados na lata de lixo da História.

Muitas ruas e praças no Brasil se chamam Getúlio Vargas. Esse ditador também deveria estar apenas nos compêndios de História. Leio que militares estão revoltados com o Plano de Direitos Humanos anunciado pelo Presidente Lula, propondo a criação de uma legislação nacional proibindo que ruas, praças, monumentos e estádios tenham nomes de pessoas que praticaram crimes nas ditaduras. Acham que se quer jogar a opinião pública contra as Forças Armadas. Não admitem o constrangimento de tirar os nomes dos seus antigos comandantes de ruas pelo país afora. Isso é ridículo, mas preocupante. Depois de quase 50 anos do golpe, os milicos ainda se acham no direito de se meter em assuntos civis. Em Portugal, uma das primeiras providências da Revolução dos Cravos foi trocar o nome da Ponte Salazar para Ponte 25 de Abril.

Será que os tais homens públicos ainda têm medo de mexer com esse vespeiro vestido de verde oliva? Pelo menos no imaginário de muita gente, não deu para olvidar o horror do autoritarismo. Após todos esses anos de redemocratização, as pessoas ainda temem a ameaça da opressão armada. Construir afinal a história de um Brasil livre de novo passa por derrubar os monumentos e tirar os nomes dos ditadores das ruas. Quando será que alguém vai ter coragem de começar?

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