segunda-feira, 1 de março de 2010

Outras notas para a história do nosso rádio


Berto da União

No ano da graça de 1972, quando nem se falava em rádio comunitária, Berto da União e Manoel Leite de Melo, o popular Neco Frizo, ousaram botar no ar a Rádio União, uma comunitária que começou funcionando no prédio da União de Artistas e Operários e depois mudou-se para o campo do Náutico. Era uma emissora de amplitude modulada, com potência de uns 100 watts no velho transmissor caseiro de válvulas, o famoso “rabo quente”.

Antes, em 1967, foi inaugurada a Rádio Vitória, invenção de Monteiro, com apoio dos locutores Carlinhos Veloso, Cardoso e Getúlio Antunes. O professor e historiador Israel Elídio de Carvalho Filho lembra até da grade de programação da Rádio Vitória: noticiário pela manhã e à tarde; dezesseis horas, forró pé-de-serra, depois a resenha esportiva “Bola na Rede”, encerrando com o programa “Seresteiros da noite” às 20 horas, com apresentações ao vivo dos cantores Solon Almeida e Adones Gomes de França, que depois enveredou pelos caminhos empresariais do jogo do bicho, tornando-se um magnata desse negócio que mistura reino animal com loteria.

Mas a pioneira mesmo foi a Rádio Clube de Itabaiana, emissora que funcionou nos anos 50 na Avenida José Silveira. Seu mentor foi um misto de policial e artista plástico, Raul Geraldo de Oliveira, coronel da Polícia Militar, depois professor e dono de colégio. Naquela época, Itabaiana refletia a cultura pernambucana. A Rádio Clube de Itabaiana seguia a linha da sua congênere, pelo menos no desenho da grade de programação, a famosa e também pioneira Rádio Clube de Pernambuco, única emissora sintonizada pelos itabaianenses naquelas remotas eras.

A equipe da Rádio Clube de Itabaiana contava com Wellington Veloso, Ismar, Iolanda e Luluta, que animavam os programas de auditório com quadros de humor e números de calouros. Pessoas que, por assim dizer, eram 80 por cento fantasia. Caprichos da vontade, sem base alguma em realidade concreta, porque montar e operar uma rádio naqueles tempos fugia totalmente ao controle da razão, e só elementos guiados pela paixão e pelo gosto desmedido seriam capazes de fazer funcionar um empreendimento desse tipo.

Teve vida breve a Rádio Clube de Itabaiana, semelhante às sucessoras Rádio Difusora Nazaré, do Ivo Severo, e a Rádio Comunitária Vale do Paraíba, que funcionou apenas no período de um dia, sendo fechada pela Polícia Federal. A Vale do Paraíba foi a mais efêmera das emissoras itabaianenses. Antes, um grupo de picaretas de Pernambuco instalou a Rádio Itabaiana, também lacrada pela Agência Nacional de Telecomunicações.

Dessas aventuras sem nexo, ficou apenas o registro histórico. Procuro e não encontro fotos ou material fonográfico das nossas rádios, perdidos na obscuridade da pré-história da radiodifusão itabaianense. Sem licenciamento, regulamentação e registro, essas emissoras funcionavam no mais absoluto amadorismo. Quem tiver algum documento, foto ou gravação dessas rádios, pedimos para disponibilizar essas relíquias, como resgate de nossa história recente.

(Do livro A VOZ DE ITABAIANA E OUTRAS VOZES, de Fábio Mozart)

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