terça-feira, 23 de março de 2010

Nevinha dos dinossauros


O artesão é Tôta, que desde menino mexe com o barro, transformando a argila em panelas, caldeirões, quartinhas e jarras. É daqueles artistas que fizeram a fama de Itabaiana, como uma das cidades que mais produziram peças de cerâmica utilitária. Isso nos antigamentes, que hoje as louças de barro perderam terreno para as panelas de aço. Nas duas fotos que publicamos, se vê a feira de louças de barro em dois momentos; nos anos 80, ainda com certo movimento, e no final dos 90 já declinando para a decadência total. Hoje quase não se vê panelas de barro na feira de Itabaiana.

Mas quero falar é da mulher de Tôta, essa artista hoje consagrada no universo do artesanato da Paraíba e do mundo. Ela ficava só olhando e admirando o trabalho do esposo. Passou a ajudar no trabalho, descobrindo que tinha o dom de transformar o barro em peças, dedicando-se a fazer esculturas de animais pré-históricos, inspirada no Vale dos Dinossauros no município de Sousa, alto sertão da Paraíba. Essa itabaianense com sangue de índio e de negro despontou então para o mundo com um trabalho admirado hoje em exposições, feiras e congressos no Brasil e exterior.

As réplicas dos bichos já extintos deram fama a Nevinha. Ficou conhecida como “Nevinha dos Dinossauros”. Alguém a encorajou a divulgar sua arte e de outros artesãos em Itabaiana, transformando a cidade em um polo de artesanato de barro, criando um centro de comercialização e uma cooperativa para dar a devida projeção ao trabalho desses artistas. Esbarrou na burocracia, na má vontade dos gestores públicos e na falta de costume dos artistas para a união em torno de objetivos comuns.

Não posso esquecer de citar aqui as panelas pretas famosas dentro e fora do Brasil, produzidas por Nevinha Paiva e Tôta, seu esposo, com mais de 30 anos de experiência. As panelas não são pintadas. Nevinha não revela sua técnica, cujos produtos são peças de um negro reluzente e esteticamente belas. Também não é para esquecer o apoio que nossa artista recebeu do Programa de Artesanato Paraibano. Graças a esse programa, Nevinha ganhou mercado até foras do país, com sua arte rústica e elegante em cerâmica natural.

Nevinha será uma das artistas a depor no documentário que estamos projetando no Ponto de Cultura Cantiga de Ninar. As próximas gerações de itabaianenses ficarão então sabendo quem foi Nevinha e o valor do seu trabalho. O filme celebrará mais de um século de arte e cultura em Itabaiana. O sempre competente cineasta Jacinto Moreno fará a fotografia, com roteiro e direção deste repórter que vos fala.

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