segunda-feira, 29 de março de 2010
Sinceridade demais e amigos de menos
O maestro Vital Alves é meu amigo. Mostrei a ele uma música que outro amigo potiguar compôs para um poema de autoria deste poeta bissexto e bichado. Sete e meio foi a nota que o maestro deu para o conjunto música/letra. Tirando a boa vontade e consideração do amigo, acho que fiquei com uns cinco, e olhe lá!
Neste mesmo dia encontrei o compadre Geraldo Aguiar, jornalista notabilizado pela sua tenacidade em editar o jornal literário “Itabaiana Hoje”. Foi logo me abordando sobre uma crítica que fiz a respeito do hino de Itabaiana, de autoria do escritor Reginaldo Alves, que mora em Mato Grosso. Perguntou se poderia haver uma réplica do juízo de valor que fiz daquele hino. Claro que pode! Só não acho bom o sujeito ir logo me processando, sem antes pedir direito de resposta. Se eu soubesse que o hino é obra de Reginaldo, não falaria dele. Sejamos sinceros: às vezes não é mais adequado a gente deixar a sinceridade de lado? Tem gente que perde o amigo, mas não perde a oportunidade da crítica.
Um cara meio maluco lá pras bandas de São Paulo chamado Ferrez escreve certas “verdades” em livros, revistas e na internet. De vez em quando quebra a cara e leva um processo pelas fuças. É dele o que segue: “Uma pessoa que é sincera vive sozinha, numa sociedade em que ninguém quer ser posto diante da realidade. A pessoa sincera não tolera mentiras e não gosta de conviver com egos inflamados. Somos todos marionetes, mas acho que ainda vale a pena ser sincero”.
Sobre sinceridade, vejam o que um maluco sincero escreveu numa faixa: “Lu, eu te amo, mas prefiro tua irmã, Rô”. Para meu compadre Ivaldo Gomes, anti-voto de carteirinha, a sugestão de votar no Partido da Completa Sinceridade que tem como lema: “Confie-nos seu voto. É muito provável que se arrependa”.
Mas tem nada não. Vou me redimir com o escritor Reginaldo Alves, como exercício para compreender como a sociedade de fato funciona. Sua dimensão essencial é a aparência. Quase todos sabem disso como fato, eu às vezes me faço de desentendido e me meto a escrever sem intenção de enganar e mistificar. Ou perco o amigo ou respondo processo na Justiça. Pra aprender a ser dissimulado, hipócrita e falso. Em todo caso, prefiro as pessoas transparentes, embora eu próprio seja um mentiroso profissional. Os sinceros sabem que quem não é fiel à sua consciência tem uma dívida impagável consigo mesmo.
Outro dia me contaram uma piada a respeito do prefeito de Mari, meu amigo Antonio Gomes. Como também sou do tipo que perco o amigo, mas não perco a piada, lá vai: no aniversário de Antonio Gomes, os puxa-sacos discutiam que presente lhe dar. Relógio, paletó, lenço, isso ele tinha muitos. Alguém sugeriu um livro. Livro não, falou um dos caras, ele já tem um. De colorir.
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